Capítulo 34
Parece que tudo continua como antes: as pessoas passeando, casais de mãos dadas. O cara que faz cosplay de Jack Sparrow e tira seu sustento dessa atividade. O Baden Baden, sempre com as mesas ocupadas – embora hoje seja achar uma vaga, por ser início de semana e baixa temporada.
Ao mesmo tempo, eu sei que há algo diferente, e esse algo não tem nada a ver com as pessoas e os prédios elegantes em estilo alpino. Tem a ver comigo. Eu achei que, ao passear com minha melhor amiga em frente aos restaurantes e lojas, sensações familiares voltassem.
Talvez seja minha forma de enxergar que tenha mudado. Quando saí há algumas semanas, tudo parecia fora de alcance pra mim. Meu dinheiro era contado, eu passava vontade de comer aqueles fondues deliciosos vendidos no cruzamento da Djalma Forjaz com a rua Capivari.
Mesmo as pessoas parecem emanar uma energia diferente, e não é por terem substituídos seus trench coats, meias calça, gorros e botas de cano alto por blusas mais leves – impossível uma mulher usar esse tipo de roupa na primavera. Eu sei que há algo mais.
À medida em que Gigi e eu conversamos, mais aumenta minha curiosidade de saber quem é essa garota alegre e de cabelo curtinho e com franja caída nos olhos que exala um ar de confiança.
Enquanto como meu pastel de carne, reparo com discrição em seu rosto. O gloss labial, as unhas pintadas com estilo. De repente, ela para de comer seu pastel de queijo e me lança um olhar incisivo.
— O que você achou? — ela sorri.
— O quê? — me vejo surpreendida pela súbita pergunta.
— Do meu cabelo. Ficou bom?
— Ele tá lindo.
O sorriso de Gigi se expande.
— Estou pensando em fazer uma tatuagem na nuca. Uma borboleta. Que tal?
Balanço a cabeça, rio, revirando os olhos. É muita coincidência minha amiga querer fazer uma tatuagem minimamente igual ao da Alice.
— Acho que sua mãe vai querer te deserdar — observo a modo de alerta.
— Eu não ligo a mínima para o que a minha mãe pensa.
Meus olhos se comprimem nas órbitas.
— Desde quando? — pergunto, desconcertada.
A loura bebe um gole de refrigerante, insinuando um sorriso confiante.
— Desde que eu aprendi que eu não tenho obrigação alguma de agradar meus pais e que a única pessoa a quem me sinto no dever de fazer feliz sou eu mesma.
Tomo um gole do meu copo de coca cola, cada vez mais impressionada com a mudança da minha melhor amiga. Por mais que eu goste dela, não posso deixar de pontuar que ela sempre foi fraca, às vezes covarde, submissa às vontades de Hilda. E no entanto, hoje ela me parece capaz de mandar a mãe se foder.
Me pergunto como isso aconteceu.
Gigi me fita com curiosidade, fecha os olhos, agita levemente a superfície de seu copo de coca com o indicador e o põe na boca. Seu sorriso atrevido brinca com graciosidade em seus lábios.
— Pergunte — a loura me desafia.
Prensada contra a parede, vou pelo caminho mais óbvio:
— Como você chegou à essa conclusão?
Gigi dá de ombros.
— Não foi fácil. Mas valeu a pena.
— Bom, tô curiosa pra saber quem abriu seus olhos e te mostrou que mandar sua mãe se foder poderia ser uma experiência libertadora.
— Por que você acha que alguém abriu meus olhos? — Gigi descruza os braços e e se projeta para trás, encostando à cadeira, como se estivesse fugindo de um golpe meu.
Deixo escapar uma risada nasalada, balançando a cabeça em negação.
— Sempre tem alguém pra segurar nossa mão quando andamos por um caminho difícil — cito uma frase de Jordana. Minha colega de quarto a disse logo na primeira semana em que comecei a estudar na Letícia Ballet.
A loura passa os dedos na franja, fecha os olhos. Ela aparenta desconforto com minha abordagem e desvia seu olhar de mim para o seu colo.
— Eu tô namorando — responde sem rodeios.
Abro a boca em surpresa. Instintivamente lhe seguro a mão, apertando-a.
— Sério, amiga? Com quem? — não consigo conter minha alegria, que não é maior que minha curiosidade em saber quem cativou a garota que não queria ter um compromisso sério.
Mas Gigi balança a cabeça em negação, sorri sem jeito.
— Logo você vai saber.
— Sua vaca! Vai dizer que não vai contar pra mim, que sou sua melhor amiga? Pôxa…!
— Bombom, é surpresa.
— Eu não gosto de surpresas. Conta, vai.
— Amanhã, tá bem? Amanhã eu conto. Você vai fazer aula com a gente na Fernanda Rossini, não vai? Então eu te conto lá.
— Por que tem que ser amanhã? — insisto com irritação flagrante.
A loura de franjinha volta a cruzar os braços e empina o queixo em desafio, deixando claro que não vai ceder à minha insistência.
Bufo irritada, termino de comer meu pastel e também finalizo meu copo de refrigerante.
— É alguém que eu conheço? — tento outro caminho.
— Bombom. Amanhã, tá bem?
— Por que amanhã?
Mas ela não responde.
— Eu nunca escondi nada de você, Gigi. Sempre te contei tudo, tudo, e agora você fica guardando segredo de mim. O que tem eu saber quem é teu crush?
— É que…
O celular da minha amiga vibra sobre a mesa, e a julgar pelo sorriso lindo que ela dá enquanto lê a mensagem recebida, posso apostar um dos meus rins que é o garoto por quem ela está tendo uma queda – ou com está tendo algo mais sério.
Tenho vontade de fazer algumas observações sarcásticas, tirar uma da cara da minha amiga, mas me seguro. No fundo, estou feliz pela menina tímida ter acordado para a vida.
— Vamos? — me convida para sairmos assim que trava seu celular. Aceno com a cabeça que sim.
Enquanto a gente anda, tomo cuidado para não atrapalhar casais que tiram selfies em frente ao Aspen Mall. Uma garota aparentando ter nossa idade pede a Gigi que tire uma foto dela, da irmãzinha e do namorado.
A efervescência do centro de Campos do Jordão sempre foi destaque nos jornais, todo mundo a conhece por causa do clima frio e dos prédios charmosos em estilo alpino. Não importa a época do ano: vir para cá é sempre sinônimo de bom gosto e sofisticação.
— Então você está namorando? — Gigi me pergunta, obviamente querendo saber mais detalhes – embora já não haja surpresa em seu tom de voz. Não depois de saber que já não sou virgem.
— Aham. Começamos a namorar domingo.
— Caramba. Bem que dizem que o mundo não gira, mas capota… Quando que eu imaginar que seria com aquele cara que você disse que te empurrou na padaria de seu Germano?
Sou obrigada a concordar.
— A vida tem dessas, né? — no último segundo desvio de um garotinho que vem correndo em minha direção.
— Você tem sorte. Ele é muito gato.
— Não foi a beleza dele que me atraiu.
— Aham. Tá.
— É sério. De que adianta uma pessoa ser linda por fora e ser horrível por dentro? Veja a Eva, por exemplo: a garota é uma modelo de tão linda, mas é invejosa, mentirosa…
— Puta que o pariu, Bombom! Pra que falar mal da Eva?
O tom enérgico da resposta de Gigi me pega de surpresa.
— Não tô falando mal, só a verdade — justifico. — Aquela garota é um cocô.
— Achei que você tinha deixado pra trás todas aquelas brigas entre vocês, mas pelo jeito você ainda gosta de jogar a Eva pra baixo, não é? Meu Deus, pra quê isso? — Gigi põe as mãos na cabeça ao verbalizar sua indignação. — Você ganhou o título de solista em cima dela, foi convidada pra estudar na melhor escola de balé de São Paulo, ganhou competição internacional… Cara, você não precisa disso.
Contrariada, acelero o passo e paro diante de Gigi. Encaro minha amiga com seriedade.
— Desde quando você virou advogada de garota invejosa? — a interpelo com uma pitada de sarcasmo.
Mas a loura de franja não responde, se limitando a um meneio negativo de cabeça.
Me ocorre que ela não está errada, porém; por mais que no passado Eva e eu tivéssemos protagonizado disputas acirradas (que venci todas), é inegável que hoje estou num patamar incomparavelmente mais alto que a ruiva que sempre esperneou, como uma bebê chorona, pela atenção de dona Fernanda.
Mesmo estando longe de sentir saudade da minha antiga desafeta, sei que vou ser capaz de mostrar um comportamento maduro quando eu fizer aula amanhã na escola de dona Fernanda.
…
Sou despertada pelo rangido metálico da maçaneta da porta da sala. Me levanto sem acender a luz, espero o vulto escuro passar pela fresta da porta do quarto, e então, abro a porta sem fazer barulho.
A luz da cozinha se acende. Escorregando a mão pela parede, ando em passos cautelosos. Ele está de costas pra mim e o vejo depositando duas sacolas plásticas na mesa. Mordo o lábio inferior, cruzando os braços.
Ele usa uma calça de moletom azul com listras laterais brancas e uma camiseta branca. É seu uniforme de trabalho. Estou deliberando se prego ou não um susto nele. Ando em passos miudinhos de gueixa, aproveitando que ele está segurando a garrafa térmica e despejando café num copo, e quando estou a um metro de distância, Cadu se vira.
— Bombom? — meu irmão diz admirado, um vinco surgindo em sua testa.
— Ah, Cadu! Seu chato! Eu queria te dar um susto.
— O que você está fazendo aqui? — ele deixa o copo de café na pia e me dá um abraço, balançando meu corpo de um lado para o outro. — A tal de Letícia se cansou de você e te deu um pé na bunda?
Cruzo os braços assim que nosso ínfimo momento de carinho termino, e cruzando os braços em atitude de despeito, fuzilo Carlos Eduardo com um olhar flamejante.
— Lógico que não, seu bocó. Por causa da tempestade de ontem, várias árvores caíram em São Paulo. Estamos sem luz e sem água. E já que não dá pra fazer aula, vim passar alguns dias com vocês.
Um sorriso animado surge nos lábios carnudos do meu irmão.
— Puxa, legal.
Cadu dá uma risadinha, me segurando pelos ombros. Me olha da cabeça aos pés.
— É impressão minha ou você está mais magra?
Estou usando um short lycra branco e uma camiseta velha branca.
— O método de aula da Letícia é bem rigoroso. Além disso, tô fazendo Educação Física na escola.
— Sério? Puxa, que vida dura, hem, baixinha?
— Não me chame de baixinha — dou um safanão no ombro dele, bufando irritada.
— De chatonilda, posso te chamar? — Cadu dá uma volta pela mesa, mas consigo atingir suas costas com uma mexerica que peguei na fruteira.
Confesso que sentia falta desse jeito debochado dele. Precisa vê-lo rindo, ver seu jeito moleque, mesmo sabendo que sua muda não será mais a mesma.
— Você continua o bebezão da mamãe, Cadu. Aliás, que ideia foi essa de esconder de mim que você vai ser pai?
— Não me diga que a mãe já te contou? — o semblante dele ganha seriedade.
— E não era pra contar?
— Saco. A gente não pode dar um peido nessa casa que todo mundo fica sabendo.
— Eu precisei vir de São Paulo pra saber que vou ser tia. Quando você ia me contar? Quando o bebê nascesse?
Cadu bufa, fecha os olhos e passa a mão na nuca, me olhando com um semblante de vergonha.
— Foi vacilo, né? — não é bem uma pergunta que ele faz.
Concordo com um movimento de cabeça, cruzando os braços.
— Desculpa.
— Por que não contou pra mim?
— Sei lá, achei que você ia tirar com a minha cara… Você é chata quando quer ser e achei que não ia perder a chance de jogar na minha cara que eu sou otário, irresponsável…
— E você não é?
Meu irmão franze o cenho, seu queixo endurece. Para descontrair o clima tenso, o puxo para um abraço.
— Não precisa ficar com vergonha, seu bobo. Vou adorar ter um sobrinho. Tudo bem, eu não imaginava que seria tia com dezesseis anos, mas tô adorando.
— Por ser seu primeiro sobrinho, ou sobrinha, sei lá, vai ter que dar muitos presentes, viu?
— Não me diga que pretende fazer mais? — me espanto com essa possibilidade.
— Claro que não. Nada a ver. Só usei uma força de expressão.
Me aproximo, deixo meu olhar no mesmo ângulo ao dele. Dou um sorriso acolhedor.
— Você é um crianção, mas tenho certeza que vai ser um ótimo pai.
Cadu sorri sem mostrar os dentes. Noto sinais de cansaço em seu rosto, sei que tudo o que ele quer é tomar um banho revigorante e se deitar.
— E você, como tá, baixinha?
— Tô bem. Também tô namorando.
— Uau. Achei que você queria ficar pra tia.
— Idiota!
— Você sempre falou que namoro e balé não combinam.
— Eu só não tinha conhecido um garoto legal.
— Sei. E como ele se chama?
— Odin. Ele trabalha como modelo e é filho da dona da Promoarte.
— Já contou pro papai?
Ao invés de dar uma resposta direta, engulo em seco e balanço a cabeça negando. Meu irmão estala os lábios, passa a me olhar de um jeito estranho, como se pressentisse uma tempestade. Essa mudança brusca de semblante, é claro, faz minha insegurança aumentar.
— Você que lute — ele ri.
Enquanto meu irmão termina de tomar seu copo de café, me olhando com a expectativa de poder se divertir com minha inevitável conversa com papai, meu rosto se contrai numa careta de irritação.
Cadu lava o copo sujo, passa por mim bagunçando meu cabelo armado e vai ao nosso quarto, voltando a seguir com uma toalha, uma cueca, camiseta e short.
— Boa noite, Bombonzinha — ele se despede de mim.
— Boa noite — respondo mecanicamente.
…
Seu Germano e dona Cidinha ficaram felizes em me ver. Alguns clientes me reconheceram através dos vídeos em Posadas e me parabenizaram, mas felizmente ninguém pediu para tirar uma foto comigo. Conversamos por quase meia hora, embora eu quisesse permanecer na padaria por mais tempo. Mas eu tinha que voltar pra casa com os pães quentinhos.
Apesar de ter voltado tarde, papai se levantou cedo. O único que ainda está dormindo é o Cadu. Ele não muda. Mas não tiro sua razão, afinal vai trabalhar só depois do almoço.
Enquanto meus pais e eu conversamos alegremente sobre vários assuntos, me mantenho sempre atenta ao celular ao lado do meu prato com pão com manteiga. O grupo da Letícia Ballet está morto, por assim dizer: nenhuma mensagem, nenhum recado.
A verdade é que Odin ainda não me mandou nada, mas tudo bem. Depois de várias mensagens de áudio que trocamos ontem à tarde e à noite, é normal que ele queira me dar espaço.
De repente o aparelho vibra e o agarro num bote impulsivo.
Odin:
Oi, gata. Dormiu bem?
Meu pai e minha mãe estão tão entretidos em meio à conversa que nem notam minha cara de boba apaixonada.
Bombom:
Dormi sim. E você?
Queria que você tivesse dormido comigo.
Odin transou com muitas mulhere. Deve conhecer todos os caminhos pra deixá-las de boceta ensopada e loucas, e eu quero experimentar de tudo com ele. Mas tenho que dar um passo de cada vez. E dando uma olhada discreta para o meu pai, para seu sorriso espontâneo e jovial, tenho medo do que ele pode dizer quando souber que estou num relacionamento sério com um cara três anos mais velho que eu.
Odin:
Já contou pra sua família que estamos namorando?
Espreitando meu pai, mordo o lábio inferior.
Bombom:
Só contei pra minha mãe e pro meu irmão.
Odin:
Então é melhor contar logo. Quero ir até aí conhecer meus sogros.
— Quê? — meus pais me olham ao mesmo tempo.
— O que foi? — minha mãe mostra curiosidade em sua expressão.
— Nada — rio nervosa, tentando disfarçar.
Bombom:
Que ideia é essa? Vir pra cá?
Odin:
Quero que eles saibam que minhas intenções com você são boas.
Logo abaixo dessa mensagem, uma outra surge: Um rssrssss e vários emojis que remetem à safadezas.
Odin:
Dá seu jeito aí, amor. Eu não quero fazer nada escondido com você. E acho que nem você.
Suspiro, a angústia crescendo em meu peito.
Bombom:
Vou contar hoje pra ele.
Trocamos mais duas ou três frases, então travo o celular após nos despedirmos. Começo a me preparar emocionalmente para o inevitável.
— Vamos então, filha?
Me recolho à cadeira, como que me defendendo de um golpe. Demoro alguns segundos para lembrar do convite que meu pai me fez ontem à tarde, de andarmos de bicicleta pela Vila Inglesa.
— Só vou vestir uma calça legging — me levanto da mesa.
…
Sempre gostei da paisagem vista das partes altas da serra. Mesmo não havendo nenhuma nuvem no céu, o vento sopra forte, fustigando meu corpo, e mesmo usando uma blusa de moletom grossa, estou sentindo um pouco de frio. E olha que subi pedalando.
Papai ainda demonstra muito vigor e tenho dificuldade de acompanhar seu ritmo. Ao perceber minha gana de tentar alcançá-lo e sabendo melhor que ninguém que não gosto de ficar pra trás em nada, ele me deixa alcançá-lo e passamos a pedalar emparelhados.
— Desaprendeu, pretinha? — ele zomba.
Reviro os olhos, sem nada responder.
Passamos diante de várias casas que lembram palácios de tão grandes e majestosos. Mesmo que eu me torne a melhor bailarina de todos os tempos, nem em sonhos vou ter dinheiro para comprar um desses palácios. Pelo menos, sempre que eu vinha aqui – com papai, Gigi ou Cadu –, aprendia a valiosa lição de que existem mundos que não podemos explorar porque não fomos feitos para eles.
Marcelo faz sinal para que a gente pare em frente à portaria de um grande hotel. Tanto a portaria quanto a construção lembram um palácio alemão, há árvores frondosas na calçada que tornam o lugar ainda mais lindo.
— Trouxe seu celular? — papai pergunta.
Respondo que sim, e ajustando minhas polainas pretas por cima da legging branca, vou ao encontro do meu pai. Como os braços dele são mais compridos que os meus, é ele quem se encarrega de tirar várias selfies nossas, abraçados como pai e filha, registrando uma cumplicidade é verdadeira.
Papai também tira várias fotos minhas em poses de bailarina, fazendo arabasque e atittude, e também em poses mais descontraídas. Mas apesar de eu sorrir, nada consegue acalmar a tensão crescendo dentro de mim.
Sentada ao lado de papai num banco de mogno à beira de um desfiladeiro, olho para Marcelo. A leve brisa nas árvores e o perfume das flores cria o clima perfeito para uma conversa.
— Pai, eu preciso te contar algo — comecei, com a voz um pouco tremida. — Algo importante.
Ele crava em mim um olhar de curiosidade.
— O que foi, Bombom?
Sinto um nó no estômago, mas não há como voltar:
— Eu estou namorando alguém.
Um sorriso se desenha no rosto dele. Num primeiro momento, era pra eu me sentir relaxada.
— Que legal, filha — papai me puxa com um dos braços para si.
— O nome dele é Odin. Ele tem dezenove anos.
Um silêncio opressivo se segue às minhas palavras, e o semblante de papai, tranquilo há um segundo, de repente fica sério.
— Dezenove anos... — ele repete, o tom de voz refletindo uma mistura de surpresa e preocupação. — E você acabou de completar dezesseis.
— Eu entendo que a diferença pode parecer grande, pai, mas Odin é uma pessoa incrível. Ele me respeita muito e me apoia em tudo. Eu só queria que você soubesse e que me apoiasse nisso.
Ele permanece em silêncio por um momento, olhando para o horizonte como se estivesse ponderando a situação. Como todo pai extremoso, ele faz várias perguntas a respeito do meu namorado e de como estamos vivendo, às quais respondo sem mentir. Ele se mostra contrariado, às vezes põe as mãos na cabeça, mas em momento algum eleva o tom de voz.
Finalmente, ele se vira pra mim com um suspiro de resignação. Põe uma mecha do meu cabelo crespo atrás da minha orelha.
— Bombom, você é uma jovem inteligente e eu confio em você. Se você acredita que esse rapaz é alguém que te respeita e te faz feliz, então eu vou dar o benefício da dúvida. Mas tenha juízo.
Sorrio aliviada, sentindo como se uma tonelada tivesse sido retirada dos meus ombros.
— Obrigada, pai.
Ele me dá um abraço, o calor do seu carinho me fazendo sentir protegida.
— Quero que você seja feliz. Mas — Marcelo me segura pelos ombros, esticando seus braços — ele terá que vir na nossa casa pra que sua mãe e eu o conheçamos. Estamos entendidos?
Concordo com um meneio afirmativo.
Me sinto mais leve, sabendo que meu pai está do meu lado, mesmo que com alguma preocupação.
3,4k de palavras
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