Capítulo 32
É nosso terceiro ensaio hoje. Gabi se acostumou rápido ao meu corpo, razão pela qual anda pela sala me carregando em seus ombros sem fazer esforço algum.
Não que eu seja pesada, pelo contrário. Qualquer garoto que dança balé há mais de dois anos não tem dificuldade de suspender uma bailarina que pesa menos de cinquenta quilos. O que me deixa encantada é a capacidade do meu partner em fazer movimentos altamente técnicos parecerem fáceis.
Minha saia tutu quase nem resvala em seu ombro quando ele me desce em pescado, em cima do compasso da música. Fico em pé após Letícia pausar o som. Sua fisionomia está bastante séria. Acredito que essa seriedade não está relacionada ao nosso ensaio, mas ao fato dela estar ciente de que Odin e eu estamos namorando – noutro dia ela disse que garotos fazem mal para pernas de bailarinas.
— Vamos passar para a próxima dupla — a professora chama com a mão Bruno e Rebeca.
Todas as meninas usam saias tutus. É inevitável usá-las, já que tanto nós quanto os garotos precisam se habituar a fazer movimentos graciosos como se estivéssemos no palco, já caracterizados.
De repente, um relâmpago seguido de um trovão. Posso sentir meus pés captarem abaixo de mim ondas de tremor, duas garotas se abraçam, amedrontadas.
Se minha mãe fosse a professora, teria desligado o som e desconectado o fio da tomada. Ela quase morre de medo de tempestades.
A coisa toda começou de amanhã, quando eu estava quase chegando ao colégio. O céu tinha amanhecido cinzento, estava abafado, mas soprava um vento frio, e esses sinais são inequívocos. De repente as nuvens ficaram escuras e a chuva veio. Forte, com trovões, um pouco de granizo e muita enxurrada. Por pouco meu guarda chuva não se virou ao avesso devido o vento repentino, mas consegui transpor o portão antes que meus pés molhassem na água barrenta que descia.
Pensei que não duraria muito, mas depois de um espaço de duas horas de tempo bom, voltou a chover com força. Acontece com frequência na capital paulista. Aqui temos as quatro estações do ano no mesmo dia.
A luz acaba e volta. Acaba mais uma vez, voltando em seguida. Então, o imponderável acontece: todos nós estarrecemos quando um estrondo horrível, de algo que nunca escutei na vida – e nunca mais quero escutar –, vem lá de fora. Parece que algo pesado caiu.
De repente, tudo fica escuro. O som para de tocar abruptamente, as meninas soltam gritos, amedrontadas.
Junto com o barulho inconcebível, consigo distinguir sons de vidro se quebrando e caindo no asfalto. Letícia pede que fiquemos onde estamos e abre a janela.
— Ah, meu Deus! — ela leva a mão à boca.
A curiosidade é maior que meu senso de obediência. Rebeca, Pamela, Gabi e eu nos aproximamos da janela e um quadro estarrecedor se apresenta diante de nós.
…
Os funcionários da distribuidora de energia tiveram muito trabalho para serrar os galhos e o tronco da árvore que havia caído. Junto dela, o poste de luz e os fios jaziam no chão.
Já não chovia, porém um vento frio atípico soprava. Desolados, acompanhávamos o difícil trabalho dos homens de azul desembaraçando os muitos fios enroscados aos galhos, e não dizíamos nada.
Os estragos foram maiores do que havíamos imaginado. Dois carros que estavam estacionados haviam sido esmagados pela árvore e pelo poste (o que explica o barulho de vidro explodindo que ouvimos durante a aula), e além disso, toda a fiação do estúdio foi cortada. A placa do estúdio, com a imagem preta da bailarina fazendo arabesque, tinha se partido em duas ao cair.
Pelo menos ninguém se machucou. Os proprietários dos veículos, conforme se ficou sabendo, estavam na padaria aqui perto – aquela a que Jordana e eu sempre vamos. Supondo que Deus exista, Ele fez uma ótima intervenção.
Não tenho palavras para expressar o quanto me sinto desolada. A última vez que um sentimento parecido se apossou de mim aconteceu quando vi pelos canais de streaming as grandes inundações no Rio Grande do Sul. E pensar que isso nem se compara àqueles desastres.
— Letícia, eles não vão embora? — Ricardo aponta o queixo para nós enquanto abraça a esposa. Um garoto, que aparenta ter oito, ou nove anos de idade, e com camiseta do Metallica, está próximo aos dois. É o filho deles.
Letícia primeiro leva as pontas dos dedos às têmporas, massageando-as, tentando se acalmar. Como estou perto o suficiente deles, ouço um suspiro sair de sua boca.
— Garotos, não há mais nada para vocês verem aqui. Vão para suas casas — ela ordena e sei o quanto lhe dói dar essa ordem.
— Vamos ter aula amanhã? — Juliana pergunta.
A professora responde que não com a cabeça.
— Enquanto o poste e a fiação não forem recolocados, não haverá balé — explica.
Os grupos de alunos se dispersam. Jordana me segura pela mão e me conduz para dentro do estúdio, enquanto Letícia, Ricardo, o filho deles e alguns bailarinos da companhia principal permanecem lá fora.
Como não há luz aqui dentro e já está escuro, nos guiamos pela lanterna dos nossos celulares pelo corredor que leva ao nosso quarto. Uma outra preocupação me assalta: não temos eletricidade para carregar nossos aparelhos.
Enquanto me sento sobre a cama, Jordana vai à cozinha e volta com velas e uma caixa de fósforos.
— Bem melhor — ela sorri após acendê-las.
Amuada, olho para minhas mensagens de celular e vejo que ainda tenho 85% de carga. Se não fossem os tantos aplicativos – muitos dos quais não uso faz um tempão –, eu não teria que me preocupar em ficar desconectada.
— Cacete! — murmuro.
Jordana me fuzila com uma expressão reprovadora. Ela nunca diz palavrões. Mas não acredito em Deus, nem em castigo divino, por isso falo o que quiser. E estou puta por termos ficado sem balé, sem luz.
Sem o wi-fi da escola, tenho que usar a internet 5G da minha operadora, e as notícias que leio são aterradoras.
Vários bairros de São Paulo estão sem luz, vítimas do mesmo problema da rua Caiowáa. No grupo da escola Vitória Spoladore, o diretor postou uma mensagem avisando que não teremos aula por tempo indeterminado, por talvez uma semana. Acredito que a Letícia Ballet também irá adotar essa medida.
O cenário é tão desanimador que só a mensagem de áudio de Odin (que me perguntou se tô bem) devolve ao meu rosto um sorriso de esperança.
Te adoro, pretinha.
Temos saído à noite nos últimos dias. Ao contrário do que pensei, Tânia aprovou nosso namoro e até me convidou para tomar banho de piscina em sua casa. Mas acho cedo pra que haja uma intimidade maior entre nós duas. Odin e eu ainda estamos nos conhecendo, por enquanto queremos viver num mundo só nosso, sem ninguém se metendo.
Também te adoro.
— Quando você acha que vão religar a energia? — indago a Jordana, que também está zapeando pelo celular.
— Não dá pra fazer uma previsão — ela me olha. Por causa da penumbra e da luz bruxuleante no nosso pequeno cômodo, seu rosto é indecifrável.
Faço com os dedos a figura de um lobo e o aproximo da vela. Olho para a parede. Rio com a sombra do monstro que criei.
— O que vai ser de nós? — pergunto com voz angustiada. — Sem luz, sem celulares...
— Sem banho quente — Jordana acrescenta.
Levo as mãos à testa.
— Caramba, eu nem havia pensado nisso. Que merda!
Jordana suspira.
— Vamos ter que esquentar água na chaleira e tomar banho de canequinha — ela determina. — Ou isso ou a gente dorme fedidas — brinca.
Estalo os lábios, resignada.
— A aula estava tão gostosa. Não podia ter acontecido — lamento. — O Gabi e eu estamos ensaiando para o festival em Limeira. Se a gente mantivesse uma constância de bons ensaios, tínhamos chance de criar algo lindo de ser assistido.
— Não fique preocupada. Um ou dois dias sem aula não vão fazer diferença.
— Bailarinas não podem ficar um dia sem fazer aula — lembro minha amiga. — Nossos músculos viram gesso.
— É o que os professores de balé dizem. Mas eles são emotivos demais, exageram em tudo.
Reflito por um instante nas palavras da ruiva. Talvez ela esteja certa.
— Você toma banho primeiro? — mudo de assunto.
Jordana sinaliza que não.
— Fica à vontade — se deita de costas.
Fico em pé e me dirijo à cozinha com uma das velas. Não tenho medo do escuro, mas é impossível andar por esse estúdio sem luz, sem vida, e não lembrar de uma casa mal assombrada.
Ponho água numa chaleira e a levo ao fogão, e enquanto ela esquenta, passo o tempo olhando para meu celular.
— Cuidado! — alerto minha amiga enquanto atravesso o pequeno espaço entre nossas camas, me projetando para o banheiro.
A temperatura da água está absurdamente quente, mas a fervi de propósito. Ponho a tina de madeira sob o chuveiro, abro o registro e deixo cair uma boa quantidade de água fria, que misturo com a água quente da chaleira.
Fico pelada, atiro minha roupa num canto, e me acomodo da melhor maneira possível na tina. A temperatura da água do banho ficou ótima.
Não é o banho que eu queria tomar, mas é o que tenho para hoje. Enxugo com calma com uma toalha que estava dependurada na parede, e como esqueci de trazer uma muda de roupa, volto pelada para o quarto. Jordana me olha com um semblante desaprovador, mas se mantém calada, voltando a se concentrar em seu celular.
— Vou esquentar a água pra mim agora — ela se põe em pé.
Me visto com um short largo e uma camiseta largona, desbotada e me deito, puxando sobre mim um cobertor grosso. Como não há outro coisa a fazer senão dormir, assopro a vela e aguardo que o sono venha.
…
Como havíamos imaginado, Letícia avisou no grupo de whatsapp dos alunos que as aulas estão suspensas por uma semana. O estúdio ficará fechado até para ensaios e treinos.
Os bailarinos reagiram com tristeza.
Que pena, Rebeca postou junto com o emoji da carinha derramando uma lágrima.
Não há nada o que nossa professora possa fazer, a não ser cobrar providências da distribuidora de energia. Mas esta também está afundando num atoleiro. A tempestade de ontem foi tão forte que muitas ruas estão sem luz, e os homens da companhia elétrica não estão dando conta de tanto trabalho.
— É isso aí — Letícia se deixa cair na cadeira, o ar fugindo por entre seus lábios. Jordana e eu também nos sentamos. — O jeito é esperar que dentro desses sete dias tudo volte ao normal e a gente possa retomar nosso cronograma.
— Mas eles não deram nenhuma previsão? — Jordana insiste. — O que eles disseram?
— Disseram que farão o possível, a resposta vaga que sempre se dá quando cobramos por um serviço.
Enquanto professora e primeira bailarina conversam, me levanto sem que percebam. Margeio a mesa, ando até a geladeira, e abrindo-a, tiro uma maçã. Dou uma mordida.
— Letícia — encosto meu corpo à pia.
A professora me olha, atenta.
— Já que vamos ficar uma semana sem aula no estúdio, e já que eu também não vou ter aula no colégio…, quero visitar meus pais. Tem algum problema pra você?
Letícia e Jordana trocam entre si um breve olhar, e me encaram. Minha amiga delineia um sorriso, enquanto nossa professora reflete.
— Não, não vejo problema — ela cede. — Na verdade, acho até bom que você passe uns dias em Campos do Jordão, te fará bem.
Agradeço com um sorriso e me disponho a dar a notícia para minha mãe. Todavia, Letícia ergue o indicador.
— Mas eu a quero de volta em seis dias, está bem?
— Pode deixar.
…
O motorista põe com cuidado minha mochila no compartimento de carga do ônibus, e pegando a cópia da etiqueta, subo os degraus e avanço pelo corredor à procura do meu assento.
Me acomodo numa poltrona junto à janela. Afivelo o cinto e ponho os fones nos ouvidos. Escolho uma playlist de músicas dos anos 90. De tanto Jordana falar que a Danny curtia The Cranberries, fiquei curiosa para saber como era o som dessa banda, e adivinhe? Acabei me apaixonando.
Quase não presto atenção às instruções que o motorista dá sobre procedimentos obrigatórios dos passageiros e outras informações. Só quero ouvir música e ficar em companhia dos meus pensamentos.
Quando sai de Campos do Jordão, eu era só uma garota sonhadora, um peixe de aquário que nunca viu o oceano. Tudo era novidade pra mim. Os costumes mais ousados de pessoas que moram em cidade grande, os prédios altos e envidraçados. Em pouco mais de dois meses, eu deixei de margear aquela realidade tão distante pra passar a fazer parte dela.
Enquanto o ônibus da Viação Pássaro Marrom corre pela rodovia Dutra, pensamentos aleatórios se revezam com lembranças não tão distantes da minha cidade natal. Espero que todos estejam bem e espero também que eu não me sinta uma estranha.
Uma playlist acaba e ponho outra. E também mais outra. Acabo pegando no sono, e quando acordo, o ônibus já está quase no final da Serra da Mantiqueira. Estou quase em casa.
Um sorriso inevitável surge no meu rosto quando encosto a cabeça no vidro e vejo lá a frente o Portal de Campos do Jordão. É como se eu já pudesse sentir o cheiro de ar puro, fresco e limpo da Suíça Brasileira.
— Pare ali pra mim, por favor — peço ao motorista.
Agradeço a ele quando me devolve a mochila e me despeço com um tchau. Permaneço por alguns instantes parada em frente ao ponto de ônibus e dou uma olhada para os lados. Estou feliz. Que bom que nada mudou. As araucárias por trás das casas, os plátanos.
Mas o que podia ter mudado em dois meses?
— Boa tarde — um rapaz me olha ao passar por mim. É nesse instante que me sinto de volta às minhas origens. Não tem nada mais acolhedor do que ouvir um bom dia de alguém que você não conhece. Em São Paulo isso é incomum.
Ponho a mochila nas costas, respiro e subo pela calçada que leva à rua da igreja Santa Terezinha do Menino Jesus, e ao parar diante da porta da casinha de cinco cômodos, uma emoção indescritível me arrebata. Parece que meu coração vai pular para fora do meu peito.
Daqui de fora consigo escutar mamãe cantando um pagode, alegre. Sei que ela está sozinha, já que meu pai está trabalhando na Vila Capivari, e meu irmão, em Santo Antônio do Pinhal.
Tomo coragem, bato três vezes na porta.
— Só um momento!
O chinelinho de dedo dona Marina se arrasta pelo chão da sala enquanto ela vem até a porta de madeira. A maçaneta se mexe.
Ao me ver, os olhos de minha mãe se abrem em surpresa e seus lábios se estremecem.
— Filha! — ela dá um grito de felicidade.
— Mãe! — abro os braços, deixando que minha emoção transborde em forma de um ganido.
Mamãe envolve meu pequeno corpo num abraço apertado, e como em tantas vezes em que isso acontecia com frequência depois que eu voltava triste de uma competição, percebo que esta é uma das melhores sensações que existe. O amor de mãe é o único amor de verdade.
— Como tô feliz de te ver, minha pretinha — a voz dela é embargada. — Por que não disse que vinha? — ela me segura pelos ombros e escaneia meu corpo com seus olhos sempre atentos. — Meu Deus, como você está linda, parece que ficou mais alta.
As lágrimas querem brotar dos meus olhos. Não quero me afastar do abraço amaoroso da minha mãe, é aqui que me sinto em chão firme.
— Como você está, mãe? — indago.
— Tô bem, minha filha. E muito feliz por você estar aqui. Meu Deus, não imagina a saudade que seu pai e eu sentimos de você todos os dias. Parece que faz um ano que você foi para aquela cidade de gente doida.
Concordo com um balanço de cabeça.
— Mas eu voltei. Vou ficar com vocês alguns dias.
Mamãe passa o dorso da mão nos olhos, secando as lágrimas. Inclina a cabeça, deposita um beijo na minha testa.
— O que aconteceu para você ter vindo tão repentinamente? Você está bem? Não se machucou, nem brigou com sua professora, né?
Dou risada.
— Não mãe, eu não tô machucada. E nem briguei com a Lê. É que aconteceu uma coisa muito chata com o estúdio, mas só conto lá dentro.
Ela concorda, sorridente. Estende o braço, empurra a porta para dentro para que entremos.
…
— Que coisa chata! — meu pai balança a cabeça em consternação quando o coloco a par do ocorrido ontem à tarde. — Nós assistimos o jornal e vimos a tempestade em São Paulo, mas não imaginei que os estragos tivessem sido tão grandes.
— Pois é, pai — encho meu copo com chocolate quente e como um pedaço de pão caseiro com manteiga. — O pior é que a distribuidora não estimou nenhum prazo para ligarem a energia.
— Eu assisti hoje de manhã no jornal. Disseram que mais de mil casas e estabelecimentos estão sem luz — mamãe acrescenta. — Numa cidade como São Paulo, quando chove é um terror.
— Só vivendo lá pra saber que é pior do que a tv mostra — respondo com ar de lamento.
Depois de um instante em silêncio, meu pai se levanta e afaga minha cabeça, despenteado meu cabelo não muito fácil de arrumar.
— Mas esse transtorno tem um lado bom: te trouxe de volta pra nós — o sorriso que ele desfolha consolida a certeza que eu sempre tive de que sou sua filha querida.
— É só uma semana, papai. Letícia exigiu que eu voltasse daqui a sete dias.
— Ah, por que não fica com a gente pra sempre? — Marcelo brinca, fingindo se ressentir por minha estada aqui ser breve. Ele se acocora para que nossos olhos fiquem no mesmo ângulo.
Meu sorriso entristece.
— O caminho que eu escolhi não tem volta — abro o coração.
Meu pai balança a cabeça em concordância. Ele sabe melhor que ninguém que somos responsáveis por nossas decisões. Também precisou renunciar a muita coisa que amava fazer e ao que queria ser em prol de seus pais e da família que formou. Por esse motivo, me entende.
— Então, vamos aproveitar essa semana com nossa filhota bailarina, não é, vida? — ele direciona o olhar para minha mãe, que anui em silêncio, se levantando e dando a volta para se juntar a nós.
Fico em pé, recebendo o carinho dos dois.
Meu pai propõe que passeemos de bicicleta de manhã, uma vez que todos os dias ele precisa estar no restaurante às dez horas, e volta tarde. Acho a ideia ótima.
Conversamos por quase uma hora. Meu pai precisa subir à Vila Capivari, pois os patrões só lhe deram uma hora e meia para conversar comigo. Ele explicou que tem sorte, pois eles assistiram num canal a transmissão do festival em Posadas e se tornaram meus fãs. Sem falar que – nunca imaginei que um dia isso aconteceria – me tornei uma celebridade em Campos do Jordão.
— Todo mundo agora aponta pra mim de longe e comenta: aquele é o pai da bailarina Bombom. Também fiquei famoso — ele brinca.
Papai conta que o que o deixa mesmo feliz é quando um cliente o aborda e o cumprimenta, parabenizando-o por ter criado tão bem uma filha e por ter investido no meu sonho.
— É nessas horas que eu digo: fiz algo certo na vida.
Meus lábios tremem de emoção. Meus olhos vão de papai à mamãe, o coração se aquecendo de novo.
— Ah, que se foda quem disse que homem não chora! — Marcelo me puxa para si num abraço desajeitado, de pai mesmo. — Deixa eu abraçar minha Bombonzinha, minha bailarina linda que foi a estrela do festival na Argentina, e vai ser estrela nos Estados Unidos, se Deus quiser.
Segurada por ele pelos ombros, nos olhamos com amor. Mamãe acaricia meu rosto. Nosso momento à três é tão singelo, tão emotivo, que tenho medo que isso acabe quando eu contar que estou namorando com um cara maior de idade.
3,3k de palavras
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