Capítulo 30

      Meus colegas de classe se limitam a me dar parabéns pelas minhas conquistas na Argentina, e embora eu consiga ver entusiasmo em seus rostos, é nítido que nenhum deles sabe a diferença entre um salto e um pulo. A maioria nem sabia que eu faço balé.

      Jaqueline, por outro lado, embora não entenda nada de balé, me perguntou muita coisa sobre o festival. E disse que adorou minhas fotos.

      — Você é uma princesa negra de sapatilhas. Tenho orgulho de ter sua cor e de ser sua colega — ela segura minhas mãos enquanto paramos no meio do corredor do colégio.

      Sorrio agradecida.

      — Adoro a sua amizade — confesso.

      Depois de nos servirmos, nos dirigimos à nosso lugar preferido na mesa e nos sentamos. Pergunto se aconteceu algo nos dias em que estive fora. Acabamos falando sobre trivialidades.

      A loura bonita que só usa camisetas de bandas de rock passa diante de nós, ostentando seu olhar intimidador. Ela está usando uma coleira de tachas pontiagudas, e pelo menos hoje, exagerou na sombra em torno dos olhos azuis.

      — Até agora não sei o nome dela — confesso.

      — Nem eu. Ela não conversa com ninguém, a não ser com as amigas.

      — A única coisa que eu sei é que ela faz sexo oral com o namorado — rio.

      Jaqueline cai na risada junto comigo. 

      — Aquela garota é muito sem noção, cara. Tem coisa que não se deve falar num refeitório — Jaque faz alusão àquele dia em que a loura roqueira falou sobre suas intimidades com o namorado.

      Minha risada aos poucos some quando me dou conta de que estou solteira, e que, embora eu ache que certos assuntos devam ser evitados em alguns ambientes, no fundo eu queria ter alguém a quem dar exclusividade do meu corpo.

      — É… Sem noção mesmo — abaixo a cabeça.

      Antes que Jaque pergunte por que fiquei séria de repente, nossos olhares se direcionam ao mesmo tempo ao rapaz negro que se senta à minha esquerda.

      — Oi de novo, meninas — Léo dá um beijinho na minha bochecha.

      Ele põe um livro de literatura sobre a mesa e abre uma das páginas.

      — Não vai comer? — Jaque lhe pergunta, tão admirada quanto eu por ele não estar com um prato nas mãos.

      — Tô sem fome — ele responde. — Quero aproveitar cada minuto livre pra estudar essa merda e ver se alguma coisa entra na minha cabeça.

      Jaqueline e eu trocamos um olhar curioso.

      — Bom, vou deixar vocês sozinhos — franzo a testa em admiração, vendo minha amiga se levantando com o prato já vazio.

      — Jaque! — a chamo, mas ela já está longe.

      Solto um grunhido. Léo ri baixinho, noto uma expressão de malícia em seu rosto quando me viro.

      — Até sua amiga quer dar um empurrãozinho em nós dois — ele brinca.

      Faço uma careta.

      — Não seja presunçoso, Léo.

      — Tá legal — ele dá de ombros.

      Curiosa, olho para a página que ele está lendo. É a mesma matéria que estudamos há alguns dias. Classicismo.

      — Pensei que você tivesse entendido tudo o que te expliquei — falo com desapontamento.

      — Com uma professora tão gata como você explicando, queria que eu prestasse atenção na matéria como?

      — Para com isso, seu bobo — dou um safanão no braço dele. — Cara, você tem namorada. Aliás, por que não pede pra Rebeca te ajudar nos estudos? 

      — Porque ela é uma ótima namorada, mas uma péssima professora. Ela não tem paciência pra ensinar.

      Por algum motivo, acredito que Léo está sendo sincero. Uma garota com cara de bunda igual a Rebeca jamais seria paciente para ensinar alguém. Ouvi relatos de que ela fez uma garotinha do Baby Class chorar quando, durante a ausência de uma das professoras, foi escolhida para dar aula.

      Imagino como deve ser os dois transando. Rebeca deitada de costas na cama, pelada, com as pernas abertas feito um sapo morto e com cara de bunda, reclamando de tudo enquanto Léo a penetra.

      Tem coisas que nunca vou entender mesmo.

      — Você que lute — dou de ombros, terminando de comer meu prato de comida.

      De repente meu celular vibra sobre a mesa e destravo a tela num movimento instintivo. 

      É uma mensagem de áudio do Odin.

      Meus dedos tamborilam pela tela. Estou indecisa entre ouvir ou não, já que Léo está do meu lado e ele não nutre nenhuma simpatia pelo modelo.

      — Não vai ouvir?

      — Oi? — reajo em confusão.

      — A mensagem de áudio — os olhos dele se estreitam em desconfiança.

      Mordo o lábio inferior.

      — Mais tarde eu ouço.

      — É dele, não é?

      Odeio mentir na mesma proporção em que odeio que mintam pra mim. Acuada, meneio a cabeça em afirmação. O rosto de Léo se mantém inexpressivo por alguns segundos antes de um meio sorriso apagado surgir em seu rosto.

      — Você tem certeza que vale a pena?

      — Como vou saber se vale ou não se eu não tentar?

      — Ele é mais velho que você.

      — E a vida é minha.

      Léo faz menção de me contestar, mas suas palavras ficam em suspenso em seus lábios. Ele sabe que não tem direito de interferir na minha vida pessoal e que suas atitudes são de um garoto imaturo e egoísta.

      Ele é só um amigo. Eu jamais namoraria com um garoto que pode me trair, do mesmo jeito que ele trai a Rebeca. Não tenho vocação pra ser corna como ela é.

      — Claro — ele diz.

      Dou a ele um olhar terno, sorrindo. Seguro sua mão. Ele retribui ao meu sorriso, embora seus olhos negros mostrem uma pequena sombra de frustração.

      — Vou indo — me levanto. — A gente se vê no fim da aula.

      — Bombom…

      O olho por sobre o ombro.

      — Você melhorou em Matemática?

      Faço um leve movimento de negação.

      — Mais ou menos.

      — Se você topar, podemos marcar de estudar em casa de novo.

      Dou um sorriso.

      — Por mim, tudo bem. Próximo sábado? Depois do balé.

      — Você não vai ter ensaio?

      Respondo com a cabeça que não.

      — Fechou.

      Aceno com os dedos, me afasto sorrindo.

      Quando ponho o prato sujo no balcão de mármore e me certifico de estar longe o suficiente do Léo, destravo o celular e ouço a mensagem que Odin acabou de me enviar.

      Oi, Bombom? Tudo bem. Adorei suas fotos, minha mãe e eu ficamos orgulhosos por você ter vencido o festival em Posadas. Parabéns, princesa bailarina.

      Esta é a primeira mensagem. A segunda foi mandada só um minuto depois.

      E só pra avisar: hoje nós vamos ao estúdio cumprimentar vocês quatro.

      Desta vez meu sorriso vai de uma orelha a outra. Não acredito que ele vai estar lá no estúdio. Senti falta de implicar com ele, e além disso, estou curiosa para saber que surpresa ele me fará no fim de semana.

      Mas me ocorre que talvez eu não devesse ficar tão eufórica, me achando especial. Afinal, ele virá junto com a Tânia, os dois estarão representando a Promoarte, e embora eu tenha sido a estrela do nosso estúdio de balé em Posadas, eles também irão para cumprimentar Alice, Jordana e Angel.

      Não importa. Estou feliz só por poder ver de novo aqueles olhos azuis escuros, aquele sorriso provocador.

      Aperto o ícone do microfone, gravo uma mensagem.

      Ok. Vou estar te esperando. 

                         …

      — Olha quem chegou. Finalmente — Letícia brada assim que entro na classe, já vestida de collant, meia calça e sapatilhas. 

      Quase todos os meus colegas estão presentes. Muitos estão com sorrisos nos rostos, e sou cumprimentada por todos com abraços e beijos.

      — Amiga, que incrível. Você foi perfeita — Pamela me balança de um lado para o outro num abraço cheio de carinho. — Tenho muito orgulho de você, sabia?

      Minha amiga e eu trocamos duas ou três palavras. É impossível dar atenção a alguém em especial, já que todo mundo quer saber detalhes da minha viagem, de como eram os bailarinos que dançaram em Posadas. 

      Tânia e Odin, que estavam parados num canto conversando com Letícia quando entrei, se aproximam de mim. A dona da Promoarte é a primeira a me cumprimentar.

      — Estou muito orgulhosa de você, Bombom. Representou com graciosidade nosso balé e mereceu vencer. E é só o começo de uma carreira maravilhosa, eu estou profetizando. 

      Enquanto meu olhar permanece sustentado pelo de Tânia, me ocorre que é a primeira vez que enxergo neles afeto e humanidade, o que me deixa desestruturada. Estou mais acostumada ao seu jeito exigente, duro.

      — Obrigada, Tânia.

      Ela põe a mão no meu ombro, sorrindo. Meus olhos encontram os de Odin, que na linguagem muda de seu sorriso, corrobora as palavras da mãe.

      — Essa garota veio há poucas semanas de uma cidade pequena para dançar na melhor escola de balé de São Paulo — Tânia chama para si a atenção das bailarinas da minha turma —, e foi a única entre vocês, meninas de dezesseis anos, que foi aprovada para dançar na Argentina junto com os três bailarinos profissionais do estúdio. E ela foi a única entre os quatro que conquistou medalha de ouro. A mais jovem do grupo deu uma lição nos três bailarinos adultos, e isso é um motivo de orgulho para todos nós. Para todas vocês, meninas. A Bombom mostrou que, se vocês se dedicarem, se vocês treinarem mais e estabelecerem essa meta de serem as melhores bailarinas, e trabalharem para isso, também podem alcançar o sucesso dela. Que o sucesso da Bombom sirva de incentivo para todas vocês.

      Olhando para as meninas, noto que elas estão inclinando levemente a cabeça em concordância com as palavras de Tânia. Rebeca, lá no fundo, de braços cruzados, bufa e olha para o teto. Sei que deve estar sendo uma tortura para ela ouvir Tânia me elogiando.

      Por outro lado, Jordana tem um sorriso lindo no rosto. Alice e Angel também, mas nada comparado à empatia que minha amiga ruiva sente incondicionalmente por mim.

      — Não suporto mais ouvir isso — escuto Rebeca resmungando junto à invejosa Tamires, andando de braços cruzados até seu lugar na barra.

      Odin troca comigo algumas palavras. Faz alguns minutos que ele e a mãe estão aqui, e depois de todo o cerimonial improvisado de homenagens aos quatro bailarinos que competiram na Argentina, ela o convida para irem embora – pois não quer tomar mais tempo da nossa aula.

      Odin se aproxima de mim, dá um beijo de despedida em minha bochecha. Estudo seus olhos azuis escuros.

      — Não esqueça, bailarina. É no próximo domingo.

      — Você não vai mesmo dizer que surpresa é essa?

      — Se eu disser, não será surpresa.

      Faço um beicinho, a que o modelo responde com uma risada silenciosa. Ele se afasta e sai pela porta, me deixando parada e entregue às minhas indagações e rubores nas bochechas – que espero que ninguém esteja vendo.

      As duas bailarinas e o bailarino da Companhias Principal vem caminhando em minha direção.

      — Bom, agora que fomos homenageados pela toda poderosa da Promoarte, estamos indo nessa — a careca Alice passa por mim, pondo seus dedos em meu ombro. — Boa aula, pequena.

      — Tchau, Bombom — Angel dá um beijo em meu rosto, saindo logo atrás da bailarina sem cabelo.

      Jordana se detém por mais tempo. Nos damos as mãos, olhamos com ternura uma para a outra.

      — Nos vemos hoje a noite — ela toca meu brinco de bolinha.

      — Tchau, Jô.

      Mal os três deixam nossa sala, Letícia se aproxima de mim com dois envelopes que me são familiares. São as notas que obtive nas duas modalidades que disputei.

      — Quer ver as notas que os jurados lhe deram?

      A expressão dela é provocadora.

      — Não sei — sou sincera.

      — Ora, como não sabe? Todo mundo quer saber quais são seus pontos fortes, em quais pontos precisa melhorar.

      Mordo o lábio inferior.

      — Te adianto que eu já li. Sou curiosa — Letícia revela.

      A curiosidade é mais forte que meu receio. Pego das mãos da professora os dois envelopes, a abro o primeiro, que é o da modalidade Clássico de Repertório. Obtive nota 9,8. Uma nota ótima.

      A seguir, abro com cuidado o segundo envelope, que é o da modalidade Contemporâneo, e leio algumas das impressões dos jurados.

      Técnica perfeita, limpa e expressão artística cativante.

      Saltos arrojados e giros precisos, sempre dentro do compasso musical.

      A bailarina demonstra se sentir à vontade no palco, dançando com elegância e graciosidade, além de irradiar uma aura de grandeza.

      Logo abaixo das avaliações, está a nota. Obtive 10. A nota máxima. A prova inequívoca de que eu fui perfeita.

      — Entre todos os vencedores em Posadas, você foi a única bailarina a obter uma nota 10 — Letícia corrobora o que a ficha atesta. Seu rosto mostra um sorriso de orgulho.

      Alterno o olhar entre o semblante alegre da minha professora e a minha nota. 

      — Tem ideia do que isso significa? — ela insiste.

      Faço um movimento quase imperceptível de cabeça, nem afirmativo, nem negativo.

      Se na minha primeira competição realmente importante eu tive em mim todas as atenções, se eu fui perfeita, significa que, se eu me manter focada nos estudos, posso conquistar muito mais.

      Agora eu acredito de verdade que posso vencer Simone Brooks.

                            …

      Quase não vi a semana passar. Talvez por ela ter começado na terça, tudo foi muito corrido. Os cronogramas de aulas e ensaios foram mantidos, dei aula para as meninas do Baby Class e ensaiei pas de deux com o Gabriel. Letícia quer que dancemos no próximo festival.

      No Vitória Spoladore, as coisas estão bem monótonas. Não sei o que seria de mim naquele hospício se não fosse a amizade da Jaque e do Léo. Parece que os professores estão ligados no piloto automático e contam os dias para o fim das aulas.

      Um dos assuntos que mais se falou nessa semana foi sobre a MC Lara. Não de suas performances polêmicas nos shows ou de suas músicas, mas sobre a tatuagem que ela fez no ânus. Uma estrela preta.

      Quando perguntada sobre o porquê desse desenho, a cantora carioca de vinte e três anos respondeu que é torcedora do Botafogo e quer ter o símbolo do seu clube do coração gravado para sempre em seu corpo.

      Os alunos se dividiram, e até houve discussões acaloradas . Os que se identificam com a direita a criticaram, dizendo que garota que tatua o cu não tem o direito de dar opinião em nada – é fato que MC Lara não cala a boca diante de injustiças, por isso tem muitos desafetos. Mas as pessoas inteligentes saíram em sua defesa, dizendo que o corpo é dela, e portanto, faz dele o que quiser.

      Não fosse esse acontecimento, essa seria uma das semanas mais chatas no hospício. Felizmente, tenho a dança para me dar oxigênio e para me ajudar a me sentir viva.

                               …

      Optei por usar um look bem despojado pra ir à casa do Léo: um short lycra preto, uma camiseta branca e um boné branco, com o bico virado para trás. Como faz calor e não tenho nenhum problema em mostrar meus pés feios – pés machucados de bailarina –, estou calçando um par de rasteirinhas.

      Bato palmas diante do portão. Léo não demora a abrir a porta, vem ao meu encontro exibindo seu sorriso cativante e atrevido.

      — Oi, gata. Entra — ele abre espaço para que eu passe depois de depositar um beijo em meu rosto.

       Léo está usando uma bermuda branca e uma camiseta de uma banda de rap. Está descalço. O temor de que ele pise numa pedrinha pontuda me oprime, mas felizmente entramos logo na casa.

      — Fica à vontade, você sabe que a casa é sua, né? — ele faz, de brincadeira,uma reverência.

      Reviro os olhos, ando até a cozinha. Os livros dele estão na mesa, junto com o caderno, lápis e canetas. Pelo visto, estudou um pouco antes de eu chegar.

      — Você aceita um café? Um suco, talvez? — faz sinal para que eu me sente à mesa.

      — Um suco — dou um sorriso, puxo a cadeira.

      Ele anda até a geladeira, volta com uma caixa de suco de uva integral. Despejo no copo diante de mim.

      — Vamos começar então? — vou direto ao assunto.

      — Me deixa olhar um pouco pra você. Tá muito gata, bailarina.

      — Léo…

      Ele ergue as mãos em rendição, o sorriso atrevido insistindo em ficar no seu rosto mesmo quando minha expressão se fecha. 

      Léo aproxima sua cadeira da minha, o que permite que eu sinta o cheiro agradável de seu desodorante. Nossos olhos se encontram, sinto um pouco de tensão ao de repente me perder em suas orbes escuras como a noite.

      Meus lábios se abrem um pouco, as batidas do meu coração se aceleram.

      O dorso de seu indicador se aproxima do meu rosto, devagarinho, e aceito com docilidade seu toque suave.

      Quando volto ao estúdio, já são sete da noite. Jordana está vestida para ir ao culto, sentada em sua cama e calçando um sapato social, e ao me ver, estreita os olhos.

      — O que foi? — pergunto.

      — Você parece contente — ela deduz.

      — Tive uma tarde muito legal na casa do Léo.

      — Estou vendo. Você demorou bastante. Veio de carro de aplicativo? Sabe que não é seguro andar à noite.

      — Vim à pé. Ele me trouxe até aqui.

       — Vocês, adolescentes…!

      — Ele só foi gentil comigo. E antes que você me pergunte se aconteceu alguma coisa entre nós, eu…

      Mas o gesto da ruiva, com as mãos levantadas, faz com que minha frase seja abortada.

      — Calma, Bombom. Não perguntei nada.

      Minha amiga se levanta, anda até a estante e borrifa um pouco de perfume em seu corpo. A seguir pega sua bíblia.

      — Samuel vai me levar para uma igreja no Brás e pode ser que a gente demore um pouco a voltar. Você não tem medo de ficar sozinha?

      Balanço a cabeça em negação. Não é a primeira vez que fico em companhia de mim mesma.

      — Reze por mim — peço com humildade.

      — Você mesma pode fazer isso — Jordana retruca.

      Solto um suspiro.

      — Mas você tem amizade com o cara lá de cima.

      Jordana me avalia com curiosidade, porém em silêncio. Logo, o conhecido som de uma buzina de carro se faz ouvir lá fora, e minha amiga se despede de mim com um beijo.

      — Se ficar com fome e for cozinhar, por favor: não ponha fogo na cozinha.

      Assim dizendo, ela acena com os dedos e sai apressadamente.

      Sozinha no estúdio, tiro o boné e o jogo na cama, me atirando de costas. Olho para o teto, fecho os olhos. Um sorriso se desenha em meus lábios.

                           3k de palavras




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