Capítulo 22
Podia ser um dia qualquer. Adolescentes indo e vindo pelos corredores da escola, conversas sobre k-pop, animes, os filmes mais fodidos nas plataformas de streaming. Os flertes (coisa mais do que normal num ambiente jovem).
Seria um dia qualquer, se não fosse o dia da tão temida prova de Matemática. Ela deveria ter acontecido alguns dias antes, mas por algum motivo teve de ser adiada. Ninguém da minha sala quis saber o porquê e eu adorei. Porém, ao invés de estudar com afinco, só consegui pensar em ensaio, treino e alongamento, e nem me lembrei que tinha um livro de Matemática dentro da mochila.
Então, o temido dia chegou como um anjo da morte.
Estou andando apreensiva pelo corredor em direção à sala de aula do carrasco que dá nota vermelha sem dó. Afinal, ele é de exatas, não é? Tem raciocínio frio.
Não devo ser a única que não estudou. Enquanto caminho, escuto lamentos em forma de muxoxos, pessoas dizendo que levarão bomba.
Só quero que isso acabe logo. De qualquer forma, o balé estará me esperando depois do colégio. Vou conseguir me reinventar, me desligar de tudo.
Estranha mania que a gente tem de mostrar um espírito de derrota antes mesmo desta acontecer. Às vezes nos comportamos como gado que sabe que está indo para o abate.
Então, meus olhos o avistam. Hoje ele não se comportou como stalker, nem segurou minha cintura por trás dizendo boo - essa brincadeira um dia lhe rendeu merecidamente um belo tapa no ombro.
Léo vem ao meu encontro. Postura despreocupada, sem culpa na fisionomia, mostrando seus dentes brancos e iguaizinhos. É um típico garoto que se garante, seja numa briga, seja numa disputa esportiva ou seja com uma garota.
- E aí, bailarina? - deixo meu rosto num ângulo pra que ele possa beijá-lo. O beijo acaba causando um estalo.
- Oi - sorrio de volta.
- Andando devagar desse jeito, só vai chegar amanhã na sala de Matemática - ele brinca.
Dou um suspiro.
- Talvez seja isso que eu queira.
Ele revira os olhos e sou obrigada a rir.
- Ei, não fique assim. Você nem fez a prova e está com cara de quem tirou um 6.
- Deixa eu te contar um segredo, Léo. Aliás, nem é segredo, porque como sou bocuda, já te contei. Mesmo assim, vou reforçar: eu sou uma aluna medíocre em Matemática. Na primeira prova que fiz aqui nesse colégio, tirei um 6, e o professor me pediu, com seu jeito ácido igual limão, pra eu ficar esperta. E o que caiu nem era tão difícil. Mas a de hoje vai ser difícil, então já tô resignada com o pior.
- Com esse pessimismo, vai é levar bomba mesmo. Quem mandou não estudar?
- Estudar? - faço uma careta. - Léo, como vou estudar uma matéria que eu ODEIO?
- Que eu saiba, a gente não estuda porque gosta, mas porque precisa.
A observação irônica arranca de mim um grunhido colérico.
- Não vem dar lição de moral em mim - o fuzilo com o olhar.
- Só quis ajudar - Léo dá de ombros.
- Por que não para de me encher e vai pra sua sala? Você não tem aula de Literatura com a Irmã Verônica? - cruzo os braços ao fazer essa pergunta. - Ela não é muito amável com alunos que chegam atrasados.
- Ah, eu ainda tenho tempo.
- Pois eu não.
- Então tá. Boa sorte na sua prova de Matemática.
- Boa aula com a freira.
Chocamos nossos punhos fechados no ar, nos afastando um do outro. Ao olhar por sobre meu ombro, noto que ele não andou mais que cinco passos, e que continua me olhando.
- Quer ir logo para a sua aula de Literatura?
Léo balança a cabeça e ri, ao mesmo tempo em que ergue as mãos, se rendendo. Gira nos calcanhares e finalmente sai do alcance da minha visão.
- Mais dez segundos e você ficaria lá fora, Sofia - o professor Tales me fuzila com os olhos após fechar a porta atrás de mim. - Sente-se, vou distribuir as folhas das provas.
Jaqueline só nota que cheguei quando me sento ao seu lado. Diferente de mim, seu semblante é tranquilo. Ela não tem problema algum com cálculos e fórmulas.
- Por que demorou? - me pergunta num tom de voz baixo e carregado de censura.
- Saí dez minutos atrasada do estúdio e adivinha? O Léo me segurou no corredor.
Jaque balança a cabeça em incredulidade, obviamente querendo estender a conversa. Porém o professor começou a distribuir as provas e um silêncio opressivo mergulha sobre a classe.
- Só comecem a resolver as questões depois que o último aluno receber sua folha - ele determina.
A garota ruiva (aquela que nunca usa a camiseta do colégio, sempre usa uma coleira com tachas pontiagudas e fala de sexo sem nenhum pudor) ri baixinho, com deboche. Não está nem aí pra nada.
Ao ver a folha de questões diante de mim, fico com a impressão de que estou vendo grego e respiro fundo. Pelo menos tem algumas questões fáceis, então vou começar por estas.
- Vou reforçar - o professor ocupa a posição central, em frente ao quadro negro. - Celulares debaixo da carteira e DESLIGADOS. Em cima da carteira, apenas a folha de questões e a folha branca de sulfite, lápis, caneta e borracha - se ele não dissesse, eu teria me esquecido. - E... se eu desconfiar, se eu SÓ desconfiar que vocês estão colando, é GAME OVER.
Rio de nervoso.
- Boa sorte - ele nos deseja enquanto se senta em sua mesa de professor, entrelaçando os dedos sobre a tampa branca.
Os minutos passam. Uma hora. Os alunos mais inteligentes começam a entregar suas provas e saem da sala de aula. A ruiva roqueira é um deles.
Minha angústia chega a um nível extremo quando só restam oito alunos. Jaque não está do meu lado faz tempo: ela é uma das mais inteligentes da nossa turma.
Enquanto o lápis descreve trajetórias tortuosas na folha de sulfite, me pergunto que utilidade essas fórmulas e contas terão na minha carreira.
Entrego a prova quando faltam apenas dez minutos para o fim da aula. Se eu tirar um 6, estou no lucro.
Mas o lado racional do meu cérebro me pede para não me iludir.
Quase nem me lembro das duas horas de tensão que passei quando vamos para a aula de Educação Física. Não sou de remoer o que passou.
Quando saio da escola acompanhada da Jaqueline, percebo uma moto encostada na calçada, e meus olhos passeiam pelo corpo do homem sentado sobre ela. Ele usa All Star preto, calça jeans e jaqueta preta.
À medida em que nos aproximamos dele, sinto o delicioso e inconfundível cheiro de seu perfume amadeirado. Ele me direciona um sorriso atrevido, arrogante, ao que respondo com um meio sorriso.
- Oi - apoia a mão na garupa da moto, inclinando seu corpo para trás.
- Oi - respondo.
- Até amanhã, amiga - fico estupefata ao ver Jaqueline sorrindo com um jeito arteiro e acenando em despedida enquanto se afasta.
Não acredito que ela me deixou sozinha com ele.
- O que está fazendo aqui? - empino o queixo.
- Estava passando, e como lembrei que você estuda nessa escola, resolvi te esperar pra te fazer um convite.
- Convite?
- Um passeio. Nesta garota aqui - os dedos de Odin tamborilam no tanque da moto.
Mordo o lábio inferior, hesitante. De repente meu corpo começa a tensionar. Uma parte de mim quer recusar. Mas a outra, a parte passional (e burra) me encoraja a ir com ele, já que não tem nada de mais, e além disso, andar de moto é excitante.
- Eu não sei, não acho uma boa ideia - nem eu estou convicta das minhas palavras.
- Qual é, Bombom? É só um passeio de moto. Eu te trago a tempo de fazer balé.
Como quem não aceita uma recusa, Odin desce da moto e tira o capacete da garupa, me estendendo. O outro está dependurado no guidão.
- Por que quer me levar pra passear?
- Porque você veio de uma cidade pequena e tenho certeza que não conhece nada de São Paulo, o que é bem inglório para uma bailarina que logo vai ganhar o mundo.
Mexo para cima minha sobrancelha esquerda, desconfiada com um convite tão inesperado e por trás do qual eu sinto que deve haver algo mais. Por outro lado, gostei das palavras dele.
- É só um passeio mesmo, né? Eu entro às duas e não posso atrasar.
- Sobe. Vou cuidar muito bem de você - ele ri, posso sentir um teor de malícia em seu tom de voz.
- Odin...
- Sobe, Bombom.
Os olhos dele se mantém fixos nos meus sem piscar, mostrando uma autoridade e uma força que aos poucos fazem minhas defesas ruirem.
Sei que é errado. Ele é maior de idade, tem malícia com garotas e nenhum homem te dirige a palavra sem que por trás disso existam segundas intenções. Mas e se meus medos forem infundados? Não quero que ele pense que sou uma menina assustada.
- Se tentar alguma gracinha comigo, eu chuto as suas bolas - ponho o capacete e subo na garupa.
Ele ri e acena a cabeça enquanto afivela seu próprio capacete.
- Bombom!
Já me segurando à moto, ao olhar por sobre o ombro, vejo Léo lá atrás, parado. Seus braços estão colados ao corpo, e seu rosto, inexpressivo.
Viro a cabeça pra frente e Odin arranca com a moto.
Ele entra na Avenida Sumaré, se infiltrando entre os carros, às vezes quase resvalando nos veículos só para mostrar perícia com a moto. Tenho vontade de dar um soco em sua costa pra que pare de tentar me impressionar, porém não tenho coragem de tirar a mão do apoio traseiro.
Em alguns minutos já estamos no centro nevrálgico de São Paulo. O coração financeiro do Brasil.
A icônica Avenida Paulista. Prédios altos e modernos, bancos, shoppings e lojas. Nas calçadas, pessoas de diferentes estilos, casais de gays e lésbicas andando de mãos dadas, sem medo de serem julgadas, e jovens de cabelos coloridos.
A diversidade pulsa. Em cada rosto, cada olhar, há um anseio por liberdade. É bonito.
Odin converge para uma rua em descida, a Peixoto Gomide. Ele estaciona em frente a uma padaria e eu desço, prontamente tirando o capacete.
- Você corre muito - observo, dardejando um olhar carregado de reprovação.
- Eu corro dentro do limite - o louro ri com desdém.
- Que limite?
- O meu, é claro.
Reviro os olhos.
A agilidade com que sua perna passa esticada por sobre o assento da moto não deixa parar dúvidas de que sua flexibilidade está em dia.
Odin circunda a moto, para diante de mim.
- Vamos comer alguma coisa?
Sinalizo que sim e entro na lanchonete. Odin dispensa cavalheirismos anacrônicos, se senta ao mesmo tempo que eu. Tensa, fujo ao seu olhar, abrindo um cardápio de folhas plastificadas.
- Um cheeseburger. Que tal? - ele sugere.
- Ok.
- Coca-Cola?
- Zero açúcar, com gelo e limão - ponho o cardápio ao lado do galheteiro.
A atendente já está parada ao lado dele anotando no celular o pedido. Espero ela sair pra começar um diálogo.
- Como foi sua viagem em Londres?
Há dias não nos vemos. Nesse período, olhei algumas das fotos que ele postou no Instagram, tiradas sozinho ou na companhia dos amigos, sempre perto de um ponto turístico da capital do Reino Unido. Obviamente ele tirou uma encenando uma ligação telefônica numa daquelas cabines vermelhas, com um ônibus de dois andares ao fundo.
- Foi legal. Curti bastante com o pessoal, fui ao Spaniard's Inn, o pub que Lord Byron frequentava. A gente comeu fish e potatoes, tomou cerveja irlandesa... Enfim, me diverti bastante.
- Suas fotos ficaram legais.
- É porque sou bonito, deve ser por isso. Posso usar trapos, que qualquer foto minha fica legal.
Reviro os olhos.
- Que convencido - observo com sarcasmo.
- Se um modelo de passarela não se achar bonito, então tem alguma coisa errada com ele.
Isso quer dizer que todo modelo ou toda modelo é narcisista por natureza? Que patético.
- Você também postou umas fotos bem legais.
- Os fotógrafos da Promoarte são bons. Eles conseguem captar a beleza de cada movimento que a gente faz.
- Principalmente quando a bailarina é muito bonita.
O elogio inesperado de Odin me deixa, por um instante, emudecida. Fico de boca semiaberta, com as bochechas irradiando calor, tentando entender o porquê desse cara me deixar sempre com os pelinhos dos braços eriçados.
Acho isso tão errado. Tento dizer a mim mesma que é só um devaneio, que é só atração física, mas minha calcinha úmida não deixa pairar nenhuma incerteza quanto à explosão de emoções que ele causa dentro de mim só me olhando desse jeito invasivo e sorrindo.
Merda! Odeio esse sentimento de ter minhas defesas destruídas. Odeio me sentir suscetível ao poder sedutor de Odin Dressler e odeio ter fraquezas de uma adolescente comum.
Se ao menos esse babaca me desse um motivo, por menor de fosse, de dar um murro em seu nariz. Mas duvido que eu seja capaz disso.
Por que fui aceitar seu convite? Estou tão fascinada pelos olhos azuis dele me esquadrinhando, que quando a moça volta com nossos pedidos e para ao meu lado, minha cabeça se vira pra ela com um movimento abrupto.
- Bom apetite - ela dirige um olhar cheio de significado para o louro, o que causa uma coisa estranha dentro de mim.
Odin parece perceber. Seu sorriso assume uma conotação de quem está se divertindo.
- O que foi? - pergunta, já segurando seu lanche com ambas as mãos.
- Você chama bastante a atenção das pessoas - respondo.
Ele dá de ombros.
- Normal.
Meus dedos tamborilam pelo sanduíche, embora não consiga tirar os olhos do homem à minha frente.
- Deve ser prazeroso causar impressão nas mulheres, não é? - o provoco.
- O que elas pensam de mim não é da minha conta - ao proferir essa resposta seca, ele morde o lanche, fechando os olhos.
Olho ao meu redor. Como era de esperar, a maioria das garotas lança ao modelo olhares furtivos, porém cheios de significados, e não preciso ser uma leitora de mentes pra saber que os pensamentos delas não são nada inocentes.
- Não vai comer? - ele aponta com o queixo para o lanche nas minhas mãos.
Faço um meneio positivo de cabeça e dou a primeira mordida no lanche, já sentindo a textura macia do hambúrguer. Está delicioso.
Depois de comer uma pequena parte do lanche, de repente paro e chamo pra mim sua atenção.
- Isso é tão errado - minha frase sai solta, reticente.
- O que é errado? - ele estreita os olhos.
- Eu danço pela produtora da sua mãe e tô aqui, comendo lanche com você. Não tá certo.
- Não vejo nada de mais.
- Mas é que...
- Você vê algum problema em uma pessoa convidar outra pra comer cheeseburger e conversar um pouco, como amigos?
A resposta fica em suspenso nos meus lábios.
Como amigos, repito mentalmente.
Então a mão dele desliza pela mesa e segura a minha; ela irradia um calor que faz minha temperatura subir e meu coração bater mais forte.
- Bombom, eu gosto de estar com você - suas orbes azuis escuras ganham um brilho que até então eu nunca havia reparado. - Você é uma garota especial, que não tem medo de falar a verdade. Te admiro muito.
Meu cérebro fica fora de sistema. De repente fico alheia à tudo, exceto ao efeito que esse cara causa em mim e no meu corpo. Tenho tanta coisa pra falar, e no entanto não consigo articular nada.
Mas quanto menos palavras escolhemos, melhor, então falo a primeira coisa que meus instintos me pedem:
- Eu também gosto de estar com você, Odin.
Ainda entregue ao poder sedutor de seu olhar, observo, impassível, sua mão se soltar da minha e subir sutilmente, até que o dorso de seu indicador toca meu rosto e desce até meu queixo. A sensação é tão estranha e gostosa, que faz com que eu corresponda com um sorriso sem culpa.
Ficamos durante quase uma hora jogando conversa fora, falando sobre aleatoriedades, coisas triviais. Às vezes ríamos. Noutras, usávamos um tom mais sério quando de repente começávamos a falar de coisas sérias. E os olhos azuis dele sempre nos meus, insistindo em buscar dentro de mim um ponto fraco. Se bem que isso fosse um esforço em vão; eu já estava sem defesas.
A verdade é que, ao conhecer outras camadas de Odin Dressler, ao conhecer parte de suas fraquezas e medos, na verdade eu é que me coloquei numa corda bamba. E sou quem corre todos os riscos.
Ele não corre tanto com a moto no trajeto de volta para Perdizes. Ao invés de medo, desta vez experimento a sensação da adrenalina do vento vindo de encontro ao meu corpo.
A moto para diante do estúdio e eu desço com sofreguidão, retirando o capacete depois de me embananar com a trava, que não queria desprender. Ele, claro, ri da garota que nunca tinha andado na garupa de um veículo de duas rodas.
- Obrigada pelo passeio - lhe devolvo o capacete.
Odin o pega de minhas mãos, propositalmente tocando e deslizando meus dedos.
- Podemos fazer isso mais vezes, se você quiser - o canto esquerdo de sua boca se levanta de maneira sutil.
Cruzo os braços em gesto de provocação.
- Desde que você prometa não colocar minha vida em risco - imponho essa condição.
O filho de Tânia Dressler dá de ombros, faz uma careta.
- Eu nunca colocaria em risco a integridade física da bailarina mais promissora da Promoarte - sua voz tem uma conotação de protesto.
Algumas alunas começam a chegar, trazidas pelos pais ou mães em seus carros novos. Juliana veio de carona no carro da mãe da Tamires. Ambas acenam pra mim com os dedos, não sem antes avaliarem Odin como quem vê o último homem do mundo.
Pamela chega em seguida. Joyce abaixa um pouco os óculos de sol, também admirando o rapaz louro.
- Devia parar de deixar as mulheres tontas desse jeito - cruzo os braços. Tento me convencer que não estou com ciúme.
- Você tá imaginando coisas, Bombom. Vá pra sua aula, que é melhor.
- Tá me dispensando? - faço um beicinho.
Ele ri de novo, adiantando um passo e parando a poucos centímetros de mim. O toque do dorso de seu indicador na minha face esquerda faz eu sentir borboletas no estômago.
Dona Fernanda sempre dizia que devemos deixar nossas emoções do lado de fora da sala e nos entregar por completo à dança. Não sei se vou conseguir.
A verdade é que, mesmo eu sabendo que isso pode causar minha ruína, eu estou apaixonada por Odin Dressler. E também angustiada, porque não tenho certeza que esse sentimento é recíproco.
- Tchau, bailarina - sua boca quase se aproxima da minha.
Antes que eu consiga articular uma resposta, ele sobe na moto e arranca depois de afivelar o capacete.
3,1k de palavras
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