Capítulo 5
Setembro de 1995
Julia queria muito ter parto normal e Lucas concordava com a vontade da esposa, mas os nove meses estavam completos e ela não tinha contrações e nem sinais de dilatação, foi então que o doutor Fernando a aconselhou a fazer a cesariana.
— Sei que o parto normal é muito mais saudável para a mulher e os dois correm menos risco, mas no seu caso eu não aconselho esperar. O tempo da sua gravidez já está completo, por isso eu recomendo que faça uma cesárea.
— Tudo bem doutor. Não queremos correr o risco de passar da hora do nascimento.
Julia foi encaminhada para a o quarto e depois de aproximadamente uma hora foi levada para a sala de cirurgia. Lucas gostaria de assistir o nascimento da filha. Até tinha prometido isso a Julia, mas apenas se fosse através de parto normal. Ver o médico cortando sua barriga e todo aquele sangue o deixaria incomodado. Por isso ele preferiu ficar na sala de espera.
Os minutos se passaram e enquanto isso, Lucas folheava uma revista sobre saúde até que uma matéria chamou sua atenção. Falava sobre a possibilidade de recém-nascidos desenvolverem o diabetes tipo 1. Que o diagnóstico era muito difícil e que os pais deveriam estar atentos a alguns comportamentos do bebê. Como o excesso de urina, sede excessiva e dificuldade para ganhar peso. Certamente que a possibilidade do bebê desenvolver a doença o preocupava, ele sabia como estava sendo difícil a convivência de sua mãe com a doença. Imagina então como seria ser diagnosticado com a doença logo nos primeiros meses de vida.
Lucas já estava ficando aflito com a demora, aproximadamente cinquenta minutos depois a porta da sala de cirurgia se abriu. Saiu uma enfermeira segurando o embrulho nos braços e veio até ele.
— Senhor Lucas, quer ver a sua bebê? — disse a enfermeira mostrando o rostinho da criança ainda todo esbranquiçado.
Uma lágrima escorreu dos olhos de Lucas emocionado em ver sua filha pela primeira vez. Queria pegá-la nos braços, mas ainda precisava esperar até que a levassem para dar banho e realizar outros procedimentos que descartassem qualquer problema que a criança pudesse apresentar.
Algum tempo depois trouxeram Julia para o quarto novamente. Ela já estava acordada, mas imóvel da cintura para baixo devido à anestesia.
— Como está se sentindo meu amor?
— Tudo bem. Só esta sensação terrível de não sentir as pernas que é um pouco incômoda.
— Isso vai passar daqui a pouco — disse ele.
— Como está a bebê, você já viu ela?
— Está bem. Estão terminando de trocá-la. Daqui a pouco a enfermeira irá trazê-la no quarto para que possamos pegá-la no colo e você possa amamentá-la. Querida! Precisamos dar o nome da criança para que preencham a ficha dela.
— Aquele nome que você escolheu está ótimo.
— Emanuelle? — perguntou ele.
— Sim. É um nome bonito e também tem um significado lindo. Pode confirmar, ou você pensou em algum outro nome?
— Não. É esse o nome que escolhi e assim vai ser.
Lucas saiu do quarto e depois de passar os dados foi até a entrada do hospital no orelhão mais próximo e avisou Marisa sobre o nascimento de Emanuelle, também ligou para sua mãe e ninguém atendeu. Isso o deixou preocupado, mas rapidamente Lucas retornou para o quarto. Queria estar lá quando Emanuelle fosse levada ao quarto.
Alguns minutos depois a enfermeira abriu a porta trazendo a bebê, entregou-a nos braços de Lucas que transbordava de alegria. Depois foi fazer a higienização dos seios de Julia para que pudesse amamentar Emanuelle pela primeira vez.
A enfermeira então pegou a criança novamente a colocou nos braços de Julia. Rapidamente a bebê começou a sugar o primeiro seio, uma lágrima de emoção escorreu pela face de Julia. Agora eles eram uma família. Tudo estava perfeito.
Mais uma vez Lucas foi ao orelhão e tentou ligar para sua mãe e não conseguiu.
— O que foi que aconteceu? — Parece preocupado.
— Já avisei a Marisa, mas não consegui falar com mamãe, liguei duas vezes em casa e ninguém atendeu. Será que ela está bem?
— Ela deve ter saído de casa para resolver algo, ir ao supermercado talvez. Notícias ruins se espalham rapidamente, certamente mais tarde você conseguirá falar com ela. Não fique preocupado à toa. Não aconteceu nada, você vai ver.
— É difícil, mas vou tentar. Também fiquei preocupado com um artigo que estava lendo em uma revista um pouco mais cedo.
— Era sobre o que?
— Sobre a possibilidade de crianças recém-nascidas desenvolverem diabetes. Sei que ninguém nasce com a doença, mas existe a predisposição genética e pode ser desencadeado depois de algum processo infeccioso.
— Lucas. Acho que você ficou um tanto paranoico depois que descobriu que sua mãe tem diabetes. Você vê a possibilidade da doença em quase tudo. Eu sei que a possibilidade existe, mas é apenas uma possibilidade, não quer dizer que você ou a Emanuelle vão desenvolver a doença. A mesma coisa acontece com o câncer. Todos nós temos células que podem sofrer mutações e se transformarem em tumores, mas nem todos vão desenvolver a doença. Acho que você está exagerando um pouco.
— Desculpa querida. Acho que você tem razão, mas não vou deixar de cuidar da minha saúde. Vou cortar todos os excessos que eu cometia e manter hábitos de vida saudáveis.
— Tudo bem. Não quero que descuide de sua saúde, mas também não quero que fique paranoico.
Algumas horas depois...
— Vou tentar ligar para mamãe novamente, se não conseguir vou falar com a Marisa para ver se ela sabe de alguma coisa.
Lucas discou o número e logo seu pai atendeu.
— Olá papai.
— Olá Lucas.
— Por que a mamãe não atendeu as outras duas vezes que eu liguei?
— Sua mãe não está em casa.
— Como assim? — perguntou ele preocupado.
— Ela passou mal novamente e a levei ao hospital. Ela ficou internada, provavelmente amanhã terá alta.
— O que foi que aconteceu dessa vez?
— O mesmo de sempre. Ela passou mal, o doutor disse que são os excessos que ela cometeu na alimentação.
— Mas ela não estava fazendo regime?
— Acredito que não, pois ela continua com a glicemia muito alta e agora também está com a pressão alta. Vai precisar tomar remédio todos os dias.
— Isso não é nada bom. Pensei que ela estava se cuidando, mas pelo visto me enganei.
— Sua mãe é muito teimosa.
— Papai, eu queria contar uma novidade a vocês.
— Sim. Qual é filho?
— Nossa filha nasceu hoje. Já está no quarto, nasceu de cesariana e está tudo bem com ela. Colocamos o nome de Emanuelle.
— Parabéns meu filho. Se sua mãe estiver melhor vamos visitar vocês neste fim de semana.
— Assim que possível conte a novidade à mamãe. Tenho certeza que ela vai ficar muito feliz com a notícia. Diga que não avisei antes porque não consegui entrar em contato.
— Pode deixar que eu contarei a ela.
— Também diga que estou preocupado com ela, e qualquer coisa me ligue aqui no hospital até amanhã neste número que vou lhe passar. Acredito que depois de amanhã já estaremos em casa.
— Pode deixar. Eu tentei avisar antes, mas liguei em sua casa e ninguém atendeu. Também fiquei preocupado.
— Foi tudo um tanto inesperado, o médico resolveu marcar a cirurgia e já ficamos lá no hospital, mas o importante é que ocorreu tudo bem. Até o fim de semana então.
— Até mais meu filho.
Lucas retornou para o quarto.
— Não era apenas pressentimento — disse ele a Julia.
— O que foi que aconteceu?
— Mamãe foi internada. Estava com a glicemia muito elevada e com pressão alta. Agora terá que tomar remédio para as duas coisas.
— Nossa! Isso é horrível.
— Sim. E o diabetes ainda pode causar muitos outros problemas, como os cardíacos, renais, problemas de visão e dificuldade para cicatrizar feridas. Acho que mamãe ainda não entendeu o quanto esta doença é terrível. Será que ela não enxerga todos os problemas que a doença está causando?
— Certamente ela irá colocar a culpa em outra coisa, só assim ela pode continuar exagerando e ainda manter a consciência limpa. Mas a culpa não é dela, sua mãe viveu cinquenta anos com uma alimentação totalmente errada, não é assim de uma hora para outra que irá mudar — disse Julia.
— Sim. Imagino como tem sido difícil para ela, mas tenho medo que quando mamãe se der conta da gravidade da doença já seja tarde de mais.
No fim de semana...
No domingo pela manhã Lucas estava sentado no sofá enquanto observava Julia amamentando a pequena Emanuelle. Aquela cena era a maior demonstração de amor entre a mãe e seu bebê. Neste momento Lucas ouviu a campainha tocar.
— Devem ser o papai e a mamãe.
Lucas foi atendê-los.
— Olá filho. Como vai? — disse seu pai.
Sua mãe o abraçou e ao mesmo tempo lhe parabenizou pelo nascimento de sua filha, que também era sua primeira neta.
— Vamos. Venham conhecer sua neta. Julia está a amamentando.
Quando eles entraram na sala Julia já estava com a bebê fora do peito e ela havia acabado de arrotar.
— Nossa que coisa mais linda, que fofa — disse a mãe de Lucas. Parabéns Julia. Ela é linda. Com quem essa menina se parece?
— Ainda é cedo para dizer isso, quando as crianças nascem são quase todas iguais, mesmo assim acredito que ela se parece um pouco mais com o Lucas— respondeu Julia.
— Posso pegá-la um pouco? — perguntou dona Maria.
— Claro! Isso descansa um pouco os meus braços. Enquanto a senhora fica babando em cima de sua neta eu vou comer alguma coisa. Amamentar deixa a gente com uma fome absurda.
— Claro. Alimente-se bem para ter bastante leite para a pequena e tome cuidado com certos tipos de alimentos, pois podem dar cólicas na bebê.
— E a senhora como está? — perguntou Lucas.
— Estou ótima.
— Mas a senhora estava internada, papai me contou.
— Foi só uma ruindade, um mal-estar.
— Não foi isso que ele me disse. Papai me contou que a senhora não está fazendo o regime corretamente e agora também está com a pressão alta.
— Filho. Eu não sei o que eu faço. Eu tento fazer regime, mas não consigo. Quase tudo eu não posso comer e agora com a pressão alta é pior ainda.
— Por isso mesmo que a senhora precisa se cuidar, existem várias outras complicações que o diabetes pode causar. A senhora precisa se cuidar, ninguém pode fazer isso pela senhora.
— Eu sei filho, prometo que vou tentar.
— Emanuelle é linda, você não acha? — disse ela mudando de assunto.
— Sim. É uma gracinha — respondeu Lucas.
— Vocês pretendem ter quantos filhos?
— Acredito que dois está de bom tamanho. Quando Emanuelle tiver uns três anos no máximo, quero que Julia engravide novamente. Essa história de passar muitos anos para depois ter outro filho não me agrada, se é para ter dois então que seja logo.
— Isso mesmo meu filho. Os anos vão passando e nossa paciência não é mais a mesma. Essa história de ter filhos depois dos quarenta anos não é uma boa ideia, também existem os riscos de a criança nascer com má formação. Então se podemos evitar é melhor ter os filhos ainda enquanto somos jovens.
— Marisa também precisa me dar um neto logo — disse dona Maria.
— Eles já estão planejando, acho que isso não irá demorar muito, Felipe me disse outro dia.
— Espero que sim Lucas, e que aconteça logo para que eu possa ver meus netos brincando juntos.
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