Capítulo 11 - Mais um sábado bolado pelo diabo

Já era de manhã.

Mamãe me sacudia para que eu acordasse imediatamente. Meu sono pesava cada vez mais. Eu de maneira alguma queria acordar cedo naquele dia. Queria dormir enquanto houvesse sono em mim, afinal de contas era manhã de sábado, eu não tinha a responsabilidade de ir à escola, podia ficar na cama o resto do dia se eu quisesse.

Mamãe insistia que eu deveria acordar, continuando a me sacudir e desta vez acrescentara o chamado também. Eu apenas emitia sons e fazia caretas sem querer abrir os olhos. Também retorci a boca, numa forma de mostrar que não estava interessado em levantar.

― Anda Charlie, acorda! ― disse mamãe mais uma vez.

Hum!

Virei meu corpo para o outro lado da cama. Mamãe deu a volta e voltou a me sacudir. Eu vendo que ela realmente estava disposta a mão desistir daquilo, abri um dos olhos e olhei para ela com a vista em adaptação da luz. Vi que ela estava toda arrumada. Estava com os cabelos soltos e escovados, usava seu blazer verde Oliva e saia que fazia parte do conjunto com o blazer. Era sábado de manhã, mamãe só saía aos domingos, portanto, para onde iria ela vestida daquele jeito? Meu sono dissipou-se e eu sentei na cama ainda me acostumando com a claridade.

― Meu amor, quero que se arrume! ― disse mamãe delicadamente.

― O quê? ― falei entropigaitado. ― Para onde vocês vão?

Mamãe não respondeu nada.

― Não estão tentando me levar à nenhum evento da igreja de vocês, não é? ― proferi me pondo na defensiva. ― Se for algo do tipo, eu fujo na mesma hora ouviram?

― Não Charlie! ― falou mamãe levantando e tomando rumo já para fora do meu quarto.

Eu levantei da cama e corri até a porta chamando por ela. Eu queria respostas. Não faria nada até que me dissessem o porquê das coisas ou que estava acontecendo ali.

Mamãe parou em seu percurso e voltou-se para mim. Papai colocou a cabeça para fora do quarto apenas.

― Ande Elly diga a ela! ― disse ele é logo em seguida tornou a entrar com sua cabeça.

Mamãe respirou fundo, antes de falar.

― Você não vai se arrumar se eu não falar, né?

Balancei a cabeça em um gesto negativo.

― Bem, uma amiga minha da época da faculdade sofreu um acidente e vamos ter que ir visitá-la em outra cidade. Recebemos a notícia hoje de manhã de que ela fora internada ontem à noite. Ligaram para o meu celular. Vamos agora e voltaremos amanhã de manhã.

Minha mente começou a funcionar no mesmo instante, então tive a brilhante idéia de pedir para ficar sozinho ali em casa. Seria o momento perfeito. Eu já estava grande, podia passar um final de semana sozinho sem que todos se preocupassem comigo, pois eu já era responsável o suficiente para tomar conta da casa, enquanto eles estivessem fora.

― E se eu ficasse sozinho esse fim de semana? ― sugeri fazendo uma careta com medo de levar um belo de um não na minha cara logo cedo naquela manhã de sábado.

― O quê? ― falou mamãe me encarando como se eu tivesse completamente orate.

― Você mesmo disse que iam hoje e voltariam amanhã de manhã!

Ela balançou a cabeça fazendo uma expressão de reprovação.

― É óbvio que não Charlie!

― Mãe, são apenas vinte e quatro horas sozinho, o que poderia dar errado nesse meio tempo?

― Muitas coisas Charlie e não vamos entrar numa discussão sobre isso!

― Se acha que eu não sou responsável o suficiente, eu sou mãe e eu posso provar!

― Não, não e não Charlie, você vai conosco!

― Mas ela é sua amiga, não vejo motivos para mim ir!

― Nós trouxemos o seu amigo para jantar aqui ontem, Charlie...

― Vocês trouxeram porque vocês quiseram, em momento algum apoiei esse jantar e isso não tem nada a ver com a situação aqui!

― Charlie não vou conseguir deixar você sozinho aqui, o que vai fazer, o que vai comer, como vai sobreviver?

― Mãe, é apenas uma noite e eu como comida congelada até amanhã, por favor!

― Mesmo assim Charlie, não vou conseguie ficar em paz lá sabendo que você está sozinho aqui!

― Mãe, eu já tenho dezessete anos, eu vou ficar bem, eu sei me me cuidar, tá ok?

Papai apareceu novamente apenas com a cabeça na porta do quarto.

― Deixa ele ficar Elly!

― Não Cedric, não me contrarie na frente do Charlie, não vou ficar em paz sabendo que ele pode estar mal aqui, sozinho!

― Deixa ele mulher, ele já é um homem formado, sabe se cuidar sozinho!

― Olha mãe, o papai concorda comigo, me deixa ficar, é só por uma noite!

― Eu não sei...

A coisa poderia estar começando a se negociar. Antes mamãe me dera não bem explícito, agora havíamos evoluído para um eu não sei. Talvez estivéssemos começando a convencê-la de uma maneira ou de outra. Já víamos que ela poderia estar considerando aquela possibilidade no momento que ela respondera confusa.

― Por favor mãe! ― insisti mais um pouco, sabendo que se pressionasse um pouco mais, poderia obter a resposta que eu tanto queria. ― Eu juro que vou me comportar e não vou dar nenhuma festa enquanto vocês estiverem fora!

Mamãe horrorizou-se com a minha resposta.

― Viu Cedric porque eu não me sinto segura! ― mamãe buscou mais pretextos.

― Olha mãe, se te preocupa tanto assim, te ligo à noite para dizer que estou bem desde que isso possa te tranquilizar mais.

― É Elly! ― falou papai pondo a cabeça para fora do quarto novamente. ― E veja também que é mais barato pagar um quarto para dois do que para três!

Mamãe fez uma expressão preocupada com a sua mão sobre o local do coração.

― Por favor, mãe! ― implorei baixinho fazendo um biquinho e unindo minhas mãos como se estivesse fazendo uma prece.

― Tudo bem Charlie, você pode ficar! ― cedeu mamãe por fim.

Dei um sobressalto e bati palmas bem de leve em comemoração.

― Olha, mas espero que me ligue mesmo à noite e se pensar em fazer alguma balbúrdia enquanto tivermos fora, saiba que você estará frito mocinho!

― Tudo bem, mãe! ― falei exultante.

Mamãe se dirigiu ao quarto para terminar de arrumar suas coisas para a partida.

Mal podia esperar para avisar Roy que teríamos a casa só para nós naquele fim de semana. Já imaginava um dia inteiro com ele. Poderíamos passar um dia inteiro sendo nós mesmos. Seria o mais alto grau da minha paz absoluta. Não via a hora dos meus pais saírem logo. Faria tudo que eu quisesse sozinho em casa.

Não sei se era a minha ansiedade ou eles que realmente estavam demorando a sair. Em todo caso, fiquei ali impaciente para que eles me deixassem logo sozinho. Estava contando cada segundo minudenciadamente.

Finalmente meus pais saíram do quarto com as bolsas e tudo mais que necessitariam nesse ínterim que passariam fora. Levaram tudo para o carro e voltaram apenas para conferir algumas coisas mais, meramente para ver se não haviam se esquecido de nada mais. Fizeram a revisão e realmente não lhes faltava mais nada, então vieram se despedir de mim.

― Cuide bem de tudo meu filho, estamos contanto com você! ― disse papai dando alguns tapinhas no meu ombro e em seguida saindo para dar a partida no carro.

Mamãe ainda parecia relutante. À todo estante na sua expressão, parecia querer voltar atrás sempre.

― Não vá se esquecer de nada, ouviu bem? ― advertiu ela. ― Não se esqueça de ligar o aquecedor, verificar se o fogão está realmente desligado, já que não queremos explosões neste lar, está ouvindo?

― Sim mãe! ― respondi já em agonia porque eles ainda estavam ali ao invés de já terem partido à séculos atrás.

― Ah, e não esqueça de verificar as portas e as janelas quando for dormir, se estão realmente bem trancadas!

― Sim mãe!

Tradução: "vão logo embora!"

Ela já estava indo quando voltou de novo.

― Não estou esquecendo nada? ― ela perguntou.

― Não! ― retruquei.

― Tem certeza?

― Sim, mãe!

― Ah, meu beijo de despedida querido!

Ela aproximou-se de mim e me abraçou fortemente como se aquele pudesse ser o último abraço da sua vida e me deixou um beijo na cabeça. Ela saiu correndo e berrando, pois meu pai já tinha ligado o carro e dava ré para encaminhá-lo à rua. Ele parou e ela entrou, pondo o cinto e em seguida acenando para mim. Papai então acelerou o carro e se foram.

Esperei alguns segundos na segurança deles voltarem, então fechei a porta com tudo e fiz a minha dancinha de comemoração por estar sozinho em casa finalmente.

Alegria maior, naquele momento, não havia para mim. Eu estava muito contente e queria simplesmente desfrutar de tudo que eu podia fazer enquanto eles não estivessem em casa. Poderia até dar uma festa se eu quisesse, mas acontece que eu não queria. Não queria todas àquelas pessoas populares altamente aproveitadoras e mesquinhas na minha casa, ainda mais que após à festa, eu ia ter que limpar tudo. Seria muito trabalho em à toa para pessoas que provavelmente só iriam por comida e bebidas grátis. Não mesmo! Tudo o que eu queria, era ter apenas Roy ali comigo e sentir a liberdade do tempo com ele num dia agradável e despreocupado.

Não esperei muito tempo para ir até o meu quarto e enviar uma mensagem à Roy, dizendo que eu estava sozinho em casa e que se ele fosse até ali, poderíamos ficar juntos o dia inteiro, sem incômodo algum.

Pronto! Mensagem enviada! Agora era só esperar...

Deitado totalmente despojado na minha cama, encarando o teto, num grau mastodôntico de felicidade, aguardava o apitar do meu celular com a resposta de Roy à minha mensagem. Imaginava um dia intenso ao lado dele. Me sentiria finalmente um adolescente desprendido, tendo finalmente um tempo de verdade com seu namorado, sem ter que estar se escondendo o tempo todo de tudo e de todos.

Para mim era muito chato ficar se escondendo o tempo todo. Isso fazia com que nosso tempo juntos reduzisse a medos e paranóia durante os nossos encontros, isso, quando tínhamos algum encontro que desse certo, já que nossas vidas seculares às vezes nos atrapalhavam um pouco. O único momento verdadeiramente certo, era o de quando Roy batia em minha janela e ficávamos juntos na madrugada dos dias.

Ainda esperando a mensagem de Roy, ali deitado, achei que ele ainda poderia estar dormindo já que era sábado e aquilo estava presente na cultura dos jovens da atualidade, dormir até mais tarde no sábado. Aquilo passara a ser sagrado já. Era quase como uma religião biológica que o os jovens adotavam com a puberdade.

O celular apitou e eu peguei-o rapidamente sedento por ver a resposta de Roy. Ele dissera que não poderia ir naquela manhã, pois Sarah tinha ido passar o dia lá e já que ela era a sua namorada oficial, assumidamente, Roy tinha que passar algum tempo com ela também ou acabariam por terminar e Roy ainda preferia manter as aparências com tudo.

Respondi apenas com um "ok", totalmente frustrado com aquilo. Já tinha imaginado um dia inteiro de coisas para fazer com ele, ver um filme, namorarmos um pouco e experimentar várias outras coisas que podíamos se surgissem mais idéias. Agora, fora tudo bolado.

Eu não me incomodava mais tanto com o fato de Roy ficar com a namorada, já que eu sabia que ele fazia isso apenas para manter as aparências. O que me incomodava de verdade, era a namorada dele ser a Sarah Parker. Ela era o tipo de garota periguete e totalmente forçada. Uma mimada que sempre tinha tudo o que queria na hora que queria e quando queria, sem se importar como isso viria. Ela era uma garota desalmada e seca. Não via nada de bom nela e nada que realmente fizesse ela ser real. A pessoa que quisesse namorar com ela, seria apenas para ter algo bonito para atracar, meramente por status.

Bem, os planos que eu tinha com Roy, teria de cumprir sozinho, então passei a manhã assistindo filme e me entupindo de salgadinhos. Agora era a minha lei ali e eu poderia me entupir de besteiras o dia todo se eu quisesse, café, almoço e janta.

Na parte da tarde, chamei Lisa para ficar ali comigo, já que Roy não fora e talvez nem fosse mais àquela altura, já que passaria o fim de semana com a sua namorada de apresentação. Ela aceitou na hora em ir para lá e fazermos maluquices que só dois amigos com uma casa toda para si poderiam fazer. Cantar Karaoke, provar as roupas dos pais e imitá-los, dançar com a música no último volume, escorregar de meia no chão de madeira e várias outras atividades lúdicas. No fim poderia ser tão bom quanto eu imaginara que seria o meu dia com Roy.

Realmente fizemos tudo o que eu listei quando Lisa chegou até ali. Apesar de tudo eu estava me divertindo. Só fora uma pena que aquilo só aconteceu porque meu dia com Roy babou, senão seria um ótimo dia com a minha melhor amiga, pensado justamente para nós.

Já estava quase escurecendo e agora já estávamos mais calmos depois de gastar toda a energia fazendo coisas eletrizantes por toda a tarde e rindo bastante. Agora víamos um filme de romance. Um amor para recordar, pela quinta vez em um ano. Era o filme favorito de Lisa. Eu assistia ali com ela e confesso que já me acostumara com aquele filme à ponto de gostar dele minimamente, mas a que odeio filmes de romance com um final triste. É por isso que eu opto mais por assistir comédias românticas, pois os finais tendem a ser feliz. Ainda não vi nenhuma comédia com um final infeliz, mas apesar de tudo, um amor para recordar, título que já diz que o filme vai acabar com os personagens separados no final depois de viverem uma grande história de amor, eu começara a me afeiçoar pelo filme e achar uma história de amor bonita.

Depois que o filme acabou, eu estava deprimido e declarei isso à Lisa. Foi então que tive uma idéia. Meus pais tinham alguns sucos de uva dentro do armário que doavam para a Santa Ceia da igreja, já que eram os anciãos lá, então eu pegaria uma garrafa daquela e colocaria em taças para fingir que era vinho e estávamos bebendo para esquecer os problemas.

Fui até a cozinha sem contar a minha idéia para Lisa e em instantes voltei com a garrafa de suco de uva e duas taças de vidro que mamãe me mataria se eu quebrasse alguma delas, já que fora um presente refinado de sua época de casamento ainda que ela usava apenas em ocasiões especiais.

― Charlie o que é isso? ― perguntou Lisa desentendida.

― É uma garrafa de suco de uva do estoque dos meus pais!

― Credo Charlie! ― Lisa riu. ― Não vai ser como beber da Santa Ceia do Senhor?

Eu ri.

― Não mesmo! ― respondi.

― Ai que errado Charlie!

― Segura a taça e entra na brincadeira! ― falei dando uma das taças para ela e me sentando no chão logo em seguida.

― Tá bem! ― ela falou pegando a taça e se juntando a mim no chão da sala.

Abri a garrafa de suco de uva e despejei na minha taça, depois na taça dela e fiz um brinde.

― À nós! ― falei num sotaque irlandês e levantando o dedo mindinho, fazendo uma expressão de soberania.

― A nós! ― devolveu Lisa também fazendo o mesmo, entrando na brincadeira finalmente.

Rimos e demos um gole juntos no suco de uva na taça, imitando bem os requintes dos ricaços e vendo graça naquilo tudo. Depois começamos a fingir que estávamos bêbados, o que foi ainda mais engraçado. Me diverti muito fazendo aquilo e depois comecei a apontar a besteira que estávamos fazendo ali, me perguntando quem se embriagaria com suco de uva não fermentado. Apenas nós mesmo.

― Por favor senhor, coloque mais um pouco de sucah na meu copa! ― brincou Lisa, estendendo a sua taça já vazia para que eu realmente colocasse mais suco de uva ali no recipiente.

Despejei mais um pouco e ela fez uma pose abusada para poder tomar dar um mínimo gole no seu "vinho". Eu ri e logo em seguida ela me acompanhou.

― Ai como essa vida de socialite é difícil! ― comentou ainda mais Lisa em seu tom de brincadeira. ― Tantas plásticas atrasadas...

Aquilo me fez gargalhar ainda mais.

― Ai mulher, falar nisso, tenho que arranjar mais tempo para comprar a minha água oxigenada, também tenho que ir fazer a manutenção do meu cilicone!

Minha casquinada se intensificou bem mais. Minha barriga já estava dolorida de tanto rir. Minhas bochechas estavam firmes e algias, mal conseguia mexê-las sem que doesssem. Respirei fundo e tentei findar o riso, até que consegui. Nunca pensei que riria tanto com algumas imitações baratas de ricos extravagantes em suas reclamações cotidianas. Lisa era muito boa com isso, visando que eu não ria tão facilmente assim se algo não fosse realmente bom o bastante para me arrancar uma gargalhada.

De repente o silêncio decaiu sobre o local e de repente a graça daquele momento caiu junto. Ficou tudo bem mais calmo. Dei um último gole no resto de suco de uva que ainda restava na taça e Lisa fez o mesmo, limpando a boca depois só último gole.

― Bem, o que faremos agora? ― perguntou ela.

― Não sei! ― respondi. ― Acho que vou lavar essas coisas e depois volto aqui para decidirmos o que fazer.

― Cuidado para não sujar o carpete! ― recomendou ela. ― Sua mãe te mataria se isso acontecesse!

― Sim, ela mataria! ― confirmei com um leve sorriso no rosto.

Recolhi tudo e levei para à cozinha, enquanto Lisa ficava na sala. Lavei as taças, as enxuguei bem e as guardei no mesmo lugar e do mesmo jeito que encontrei, não queria que mamãe percebesse nada. Enquanto a garrafa, me livrei dela, simplesmente. Destrua sempre a prova do crime após o crime, fica a dica.

Voltei para a sala e Lisa mexia em algumas revistas que tinham na estante. Assim que me viu, largou-as e dirigiu toda a sua atenção à mim. Sentei no sofá e ela fez o mesmo. Acho que eu não estava escondendo tão bem que estava bolado com o fato de Roy não ter ido para lá, pois Lisa logo notou e me perguntou:

― O que foi Charlie? Aconteceu alguma coisa?

Eu não queria falar ainda para ela o que estava acontecendo, então o único jeito era mentir ou desviar a conversa.

― Olha Lisa, eu falo sério, esse filme me deixou em depressão! ― falei tentando dar uma melhorada na minha expressão abatida com um sorrisinho.

― É, realmente é um final muito triste para uma história de amor tão linda! ― ela declarou.

― É! ― concordei. ― É por isso que eu prefiro muito mais assistir à comédias românticas com finais clichés!

― Alguns são muito bons mesmo, mas o que me realmente me conquista nesse filme, é o fato dele lutar por ela no final, de dar a ela uma prévia de como seria uma vida inteira ao lado dele dentro dos últimos dias dela. Não me canso de ver isso me sentir realizada vendi isso, sabe, um sentimento muito forte!

Apesar de tudo, eu entendia bem o que ela falava. Muitas vezes ali na solidão do meu quarto, eu via alguns filmes clichés e ficava desejando que algo do tipo acontecesse comigo. Que a minha história de amor não terminasse de uma maneira trágica, que só venha existir depois na minha memória. Queria viver algo constantemente vivo e intenso. Sentia aquela vontade toda e por isso já havia assistido à alguns filmes milhares de vezes e sempre que assistia, sentia o mesmo sentimento florescente dentro de mim.

O silêncio voltou a reinar por ali. Ficamos por alguns minutos calados olhando para uma linha inexistente bem na nossa frente totalmente concentrados. O momento parecia bem constrangedor para mim.

― Você nunca quis algo assim? ― indagou Lisa quebrando o silêncio.

― Ter o quê? ― perguntei desentendido.

― Um amor assim, que você vai caindo gradativamente nele e que quando já vê, está vivendo uma linda história de amor?

Eu bem que queria contar a ela o momento que eu estava vivendo, mas o medo voltou a se manifestar dentro do meu peito e aquele momento de coragem que quase se firmou ali, fora extinguido permanentemente.

― Claro! ― concordei então.

Lisa balançou a cabeça parecendo ter uma discussão interna consigo mesma, onde estava claro que ela estava perdendo. Ela logo ergueu a cabeça firmemente e perguntou:

― Você já gostou de alguém em segredo, onde tinha que ver ela todos os dias e se contentar com a distância entre vocês?

Automaticamente a minha lembrança me trouxe algo a pensar. Parece que tudo que ela falara se encaixava exatamente no que eu tinha com Roy. Me veio a recordação, todas as vezes que eu o via passar por mim e nunca pudera falar diretamente com ele, tendo que me contentar com o abismo que havia entre nós naquela escola, todos os nossos encontros às escondidas para não sermos descobertos, amando ele em segredo. Parecia até que ela falava de num, mas de qualquer forma, sabia que aquilo se referia a ela, portanto tinha que pensar como ela.

Talvez ela estivesse gostando do Franklin também. Será? Eu não queria dar bandeiras demais perguntando a ela se ela estava gostando dele, pois prometera ao próprio Franklin, que não contaria nada a ninguém, principalmente a Lisa que ele estava à fim dela, portanto não o faria, mas enquanto ela estivesse falando, eu estaria ali captando cada coisa.

Lisa e eu nunca fomos de falar muito sobre relacionamentos um com o outro. Ela nunca me dissera uma vez sequer que estava gostando de algum menino, assim como eu nunca dissera nada também, então talvez depois de muito tempo, ela tivesse tentando me falar que estava gostando de alguém.

― Já! ― respondi por fim depois de viajar altas distâncias pelos meus pensamentos.

Ela me fitou com os olhos tomados por surpresa. Os olhos dela estavam acesos com um brilho novo que eu nunca vira antes. Ela realmente só poderia estar apaixonada por alguém. Eu torcia para que fosse Franklin, pois achava os dois muito fofos juntos e também torcia para um final feliz dos dois porque eu adorava Franklin e tinha certeza de que as coisas poderiam não ser mais as mesmas entre eles caso ele se declarasse para ela e ela dissesse que estava gostando de outra pessoa simplesmente.

― Então é por isso que ultimamente você estava se arrumando tanto, não é mesmo? ― ressaltei. ― Está apaixonada!

― Então você notou! ― ela disse com um "Q" de vergonha.

― Sim! ― afirmei. ― Estava tão na cara o tempo todo!

― Estava? ― perguntou ela meio nervosa.

― Claro! ― reafirmei.

― Charlie eu... ah... eu... bem...

O telefone fixo toca em cima da banca, interrompendo o que quer que fosse que Lisa ia dizer. Lavantei-me rapidamente do sofá e corri até lá. Atendi e ouvi a voz preocupada da mamãe, que não conseguira esperar eu mesmo ligar para ela.

― Oi mãe! ― falei em um tom de voz alto e fiz uma careta para Lisa que ficou bastante desconfiada olhando para mim com um ar de culpa.

Mamãe me fazia uma pergunta atrás da outra, não escondendo a sua preocupação é a sua insatisfação em eu estar aquela noite sozinho em casa. Eu continuava tentando convencê-la de que estava tudo em ordem e que eu continuaria bem. Ela ainda sim insistia em seu receio. Tentei cortar a conversa ou ela ficaria se lamentando o resto da noite o quanto não deveria ter me deixado sozinho, mesmo eu dizendo que ficaria tudo bem.

Quando mamãe finalmente desligou, voltei para perto de Lisa, pedindo desculpas pelo quanto minha mãe havia me prendido no telefone. Ela aceitou as desculpas, porém ela parecia mais irrequieta com a minha volta.

― O que você estava dizendo mesmo? ― retomei.

― Ah, bem, nada de mais! ― ela cortou. ― É melhor eu ir agora!

― Mas já? ― perguntei realmente surpreso. ― Dessa forma?

― É, não quero que fique muito tarde para eu ir para casa, sabe...

Ela não completou, apenas se levantou e se conduziu a porta. Eu pelo menos a abri para ela, já que estava com tanta pressa e me despedi então.

Eu não tinha entendido muito bem o que se passara ali, mas foi depois que Lisa quase me contou alguma coisa. Será que ela já sabia que eu e Roy tínhamos um relacionamento escondido e tentava achar uma maneira de dizer que havia descoberto? Ou será que estava apenas com medo de admitir que estava apaixonada por Franklin? Das duas uma. Não sabia ao certo o que estava se passando ali, mas era somente esperar para ver.

Cozinhei alguma coisa para mim comer. Eu não era o melhor cozinheiro do mundo, mas sabia preparar um congelado que desse para comer sem vomitar. Digamos que dava para engolir se tapasse o nariz.

Era estranho jantar ali sozinho. Não que eu estivesse achando ruim, já que odiava a hora do jantar porque tinha que ouvir os tantos comentários absurdos que meus pais faziam quando estavam reunidos. Por mim todo dia eu jantaria daquela forma, na frente da televisão sem me intoxicar com as babaquices que meus pais falavam.

Depois que finalmente terminei de jantar, lavei todas as vasilhas e talheres que eu tinha sujado, enxugando depois e guardando todos em seus devidos lugares.

As vezes pensava em morar sozinho. Achava que poderia ser legal. Eu poderia fazer tudo na hora que eu quisesse, de acordo com a minha disponibilidade de tempo e de coragem. Eu sempre fui um garoto organizado com as minhas coisas, portanto acho que me daria bem ao morar sozinho.

Acho que cogitava a idéia mais pelo fato de um dia correr o risco de ficar desabrigado, caso meus pais me joguem na rua ou quando um dia eu for sair dali por minha própria vontade própria para viver a minha vida em paz, caso eu consiga levar a vida sem que meus pais descubram sobre mim até a minha independência pessoal.

Fui para o meu quarto depois de tudo e conferi meu celular. Havia uma mensagem de Roy. Abri para ver do que se tratava. Ele apenas estava pedindo desculpas por ter mais uma vez me deixado na mão, apesar de que não vivemos nenhum plano concreto, portanto qualquer contratempo poderia acontecer.

Resolvi que era a hora de dormir. Eu estava um pouco cansado por ter acordado cedo naquela manhã com a mamãe me chamando para ir à lugar nenhum. Bem, pelo menos eu não havia acordado em vão, fiz o que eu queria de manhã. Em partes na verdade, mas assistira a alguns filmes que eu realmente queria assistir, enquanto me entupia do meu salgadinho preferido.

Tomei um longo banho para desestressar e poder dormir bem leve. Minha cabeça estava doída de tanto eu martelar paranóias durante o decorrer do dia. Eu precisava sossegar minha mente de vez em quando e curtir a vibe da tranquilidade e maresia para só assim deixar de sofrer antecipadamente por cada fato que minha cabeça jogava em meio aos meus tantos pensamentos. Eu nunca mais tivera um momento de tranquilidade absoluta em minha mente e acho que estava realmente precisando ficar assim por mais tempo, evitando mais possíveis surtos.

Saindo do banho completamente envolto na minha toalha, caminhei em direção à minha cama, onde jazia minha roupa de dormir completamente limpa e cheirosa. Ela podia ser um pouco velhinha, mas era muito confortável ainda sim. Era uma camisa estampada de cor azul RAF e uma calça de pijama xadrez vermelha. Vesti-me e voltei ao banheiro apenas para escovar os dentes e pôr a toalha de volta no toalheiro.

Voltei para cama, mas desta vez para deitar de fato deitar nela e enfim dormir. Deitei olhando para o teto, completamente perdido. Eu nunca dormira sozinho em casa efetivamente. Seria como dormir todos os dias normalmente ali, no entanto com a pequena diferença de que meus pais não estariam ali naquela noite.

Fiz tudo o que mamãe me orientara tanto antes de sair quanto pelo telefone. Liguei o aquecedor, verifiquei se todas as portas e janelas estavam de fato fechadas antes de me deitar, então ali estava eu, deitado, pensativo e imaginário.

Confesso que poderia ser difícil dormir naquela noite. Apesar de dormir sozinho no meu quarto, mas de alguma maneira achava a casa bem mais quieta do o de costume, apesar que à partir das dez horas lá em casa, as luzes se apagavam e o silêncio ascendia como o rei pelo resto da noite. Era um pouco estranho ficar à noite naquela casa sozinho. Dava a sensação de que algo faltava. Acho que eu estava sentindo a falta da presença dos meus pais naquela casa no fim das contas.

Lembro-me que eu falei para a minha mãe "Mas é só uma noite, mãe!", porém agora aquelas palavras me pareciam tão densas e incômodas. Uma noite poderia não ser apenas uma noite. Talvez eu estivesse com medo, completamente inseguro de estar sozinho e com aquela casa todinha só para mim. Me trazia ao peito uma sensação de vazio tanto na casa, quanto dentro de mim.

Decidi que já não era mais tempo de ficar ali remoendo mais nada. Era a hora de começar a tentar dormir, visto que eu poderia demorar, já que me sentia tão estranho com o clima novo que sucedia-se ali. Eu poderia passar muito tempo ali tentando puxar o sono para mim e é em muitas das vezes, com sucessos galhos.

Eu estava deitado sobre a cama, com os olhos fechados, enquanto uma algazarra acontecia no meu subconsciente, quando ouvi um barulho. Alguém batia na janela. Me levantei depressa. Eu sabia que era ele.

Corri aceleradamente até a janela e a abri-a, contemplando o rosto de Roy sob a luz do luar.

― Roy, o que você está fazendo aqui? ― perguntei.

Roy me encarava como um cão na chuva, me implorando um abrigo com o olhar.

― Será que eu posso dormir aqui hoje?

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