XIII- Devo recordar-lhe que o anel sobre seu peito é minha aliança de casamento?
- A festa está linda, Rodrigo. - Vicente estava ao lado do amigo, levantando a taça de champanhe para cumprimentar os convidados que passavam pela elegante festa de posse.
Todos de preto. Essa tinha sido a decisão unânime dos convidados quanto ao vestuário e às máscaras que seguiam o tema da festa, em respeito ao prefeito com mais mandatos na história da cidade.
- Não aguento mais essa hipocrisia. - Rodrigo arrumava a máscara preta e curta no rosto - Eu tenho certeza de que a maior parte dessas pessoas comemoraram a morte de meu pai, e agora aparecem aqui, seja em busca de privilégios, ou apenas de comida e bebida gratuitas.
- Creio que seria interessante que você alertasse os seus convidados quanto aos privilégios já no discurso de posse, assim os falsos enlutados sairão e restarão mais petiscos para nós.
- Mas não se esqueça de que essa atitude teria riscos que, talvez, não valham mais do que os petiscos extras. - Lilian sussurrou entre os dois.
- A vida é repleta de riscos, resta a nós saber se vale ou não a pena corrê-los. Não pelos petiscos, é claro, mas por minha ética.
- E nesse caso?
- Nesse caso vale, pois eu não quero ser como meu pai.
- Então saiba que eu vou te apoiar. - Vicente pegou a taça do amigo, que subiu no palco ovacionado pelos convidados, e Lilian apenas encarou o marido.
- Agradeço os aplausos - ele começou -, mas eu prefiro que batam palmas quando eu realmente merecê-las. Por agora, eu quero pedir que não esperem ver em mim um sucessor do pai, mas um novo prefeito, que tentará fazer o possível para dar o melhor para essa cidade. Serei breve com esse discurso porque, ao contrário de muitos, minha prioridade não será apenas prometer, mas realizar. Não esperem continuar comigo a ter todos os privilégios que tinham, muitas vezes indevidamente, com o meu pai. Aqueles que merecerem alcançarão o topo, e os que não se esforçarem, o fundo do poço, e me incluo nisso. Muito obrigado e aproveitem essa festa e a noite, e vamos dedicá-la ao meu pai que, mesmo com tantos defeitos que eu sei que teve, foi bom em algo pra cada um de vocês!
Os aplausos, agora claramente aparentando mera formalidade, ecoaram mais uma vez, e do meio da multidão, um brilho dourado destoou sob o mar de roupas pretas, se deslocando lentamente em direção ao palco. Conforme se aproximava, os olhares se dividiam entre espanto e admiração, da mesma forma que acontecera no velório de Armando. Foi então que Rodrigo pôde ver com clareza o vestido, cuja saia de tule levava detalhes folhados que cobriam todo o corpo de alças relativamente finas e um decote mediano, que deixava a mostra parte dos lindos seios da mulher que se escondia atrás da máscara curta, que parecia feita com mil fios de ouro.
Todos se perguntavam quem era a figura que, graças aos cabelos loiros e à pele reluzente, lembrava uma boneca de ouro. Mas Rodrigo não se perguntava quem era aquela figura misteriosa, pois a conhecia como a palma de sua mão. E ele estava seguro de que aquela chegada traria consigo a prosperidade que ele precisaria para se manter firme para os desafios que acompanhariam aquela nova etapa de sua vida.
...
Conforme o tempo passava, Pedro se desesperava mais e mais, em meio ao chacoalhar do carro pela estrada lamacenta. Quase dois dias de viagem tinham sido necessários para que seu motorista conseguisse leva-lo a seu destino, e ele finalmente conseguiria cumprir a promessa feita à esposa de acompanhá-la à posse do irmão.
O balanço ficava mais sutil conforme as ruas e luzes da cidade se aproximavam. Ele deveria apenas trocar rapidamente a roupa e ir ao encontro da amada. Só esperava que não fosse tarde demais para encontra-la e cumprir sua última promessa como marido, antes de contar a verdade. Mal sabia que aquela bomba já havia estourado sobre o coração novamente partido de Lena, e que agora, com a confiança estraçalhada, já não havia forma humanamente possível de que ele a ajudasse novamente a juntar os pedaços.
...
- E mais uma vez você aparece de surpresa. - Rodrigo abraçou a mulher - E roubando a cena em meu momento.
- Realmente pensou que eu perderia a oportunidade de prestigiar meu irmão preferido em sua posse?
- E muito menos perderia a oportunidade de demonstrar que não se importa nem um pouco com a homenagem pro nosso pai. - Ele riu e apontou, com a cabeça, para a multidão embasbacada.
- Em minha defesa, os vestidos pretos estavam esgotados por toda a cidade.
- E por isso você escolheu uma cor tão discreta como o dourado?
- Lilian disse que a sugestão de vestimenta estaria no convite, porém não havia nada.
- Esse erro foi causado pelos responsáveis pelos convites. - Ela se defendeu - De qualquer forma, você está linda, e não há razão para prestar luto se você não o sente verdadeiramente.
-Ela está certa, irmã.
- Eu, por exemplo, vim de preto por culpa do protocolo, mas minha roupa íntima é vermelha. - Ela continuou - Mas é claro que meu marido jamais saberia dessa informação.
- Creio que esse não seja local ou momento para tais comentários. - Rodrigo reclamou e o clima da conversa se fechou de tal forma que até os convidados foram capazes de perceber.
- Ao menos sua roupa íntima está enlutada, Lena? - Lilian continuou, agindo como se o marido sequer tivesse falado algo.
- Bem, a roupa íntima estava marcando o vestido ou aparecendo no decote, portanto digamos que ela tem a mesma cor de minha pele. - Ela lançou uma risada e a cunhada retribuiu ao compreender que Lena não usava nada por baixo daquele lindo vestido.
- Já está de bom tamanho. - Vicente, incomodado com os rumos da conversa, interrompeu e se virou para Rodrigo - Estamos sobre um palco, na frente de todos os convidados, conversando sobre a roupa íntima de sua esposa e da falta dela em sua irmã.
- Meus amigos, eu sei que vocês estão curiosos pra saber quem é essa mulher misteriosa, não é? - Rodrigo rapidamente se voltou na direção do grande burburinho instaurado no salão.
- Entretanto esse é um baile de máscaras, portanto o desafio da noite será descobrir quem eu sou. - Lena interrompeu, e Vicente esteve a ponto de agarrá-la pelo pescoço.
- A senhora misteriosa está certa, portanto, aproveitem a noite e o conceito dessa festa, ao invés de se preocuparem com quem está por trás de cada máscara. Tenham uma boa noite.
Os quatro desceram do palco e Vicente acompanhou Rodrigo para o outro lado do salão, como um cão de guarda fiel. Lilian, por sua vez, permaneceu ao lado de Lena.
- Creio que, como esposa do prefeito, você deveria acompanha-lo em sua primeira festa.
- Rodrigo já não precisa de mim para muita coisa, menos ainda para atrapalhá-lo nesse momento tão importante de sua vida.
- O que quer dizer com isso?
- Não percebe que todos os olhares desse salão estão voltados para nós?
Lena olhou ao seu redor e percebeu que, realmente, elas haviam se tornado a atração principal daquela festa. Não pensara ao invadir um enterro para cuspir sobre o caixão do pai e muito menos ao vestir um vestido inteiramente dourado no baile, pois se tivesse pensado, jamais chamaria tanta atenção. Ela odiava ser o centro das atenções mas, desde que voltara à sua cidade natal, não fizera nada além de causar aquela impressão.
- Eu estou usando um vestido dourado, creio que seja normal que tantas pessoas olhem para mim.
- Lena, já chega de tentar fingir que a discriminação não existe. Eu sou a única mulher negra dentro desse salão. Eu sou a única esposa negra de um prefeito nessa região, quiçá no país inteiro.
- Isso não deveria importar. Você é a mulher que o prefeito dessa cidade, em quem as pessoas confiam suas vidas, suas casas, suas famílias, seu futuro, escolheu para amar. Espera-se que as pessoas daqui confiem nas decisões do prefeito, então por que fariam diferente com a decisão mais importante da vida dele?
- É fácil falar quando se está do lado de fora.
- É claro que é, e eu posso ter falado a maior burrice do mundo, porque eu não estou na sua pele e não vivo todos os dias o mesmo que você. O preconceito existe, e eu duvido que deixe de existir tão cedo, porque pessoas idiotas e ideias idiotas se espalham como vermes. Mas você é a esposa do prefeito dessa cidade. Você é a mulher com quem ele decidiu viver até o último dia de vida. Você é a mulher mais importante dessa cidade, então por mais difícil que seja, eu te paço que vá até lá, dê o braço ao meu irmão e se coloque em seu lugar de importância. Seja o centro das atenções ao lado do Rodrigo, porque esse é o seu lugar.
- Eu farei isso, por mais difícil que seja, porque eu mereço muito mais do que os olhares maldosos desses imbecis. E vamos lá, eu já passei por coisas muito piores tendo o seu pai como sogro, e ainda assim me mantive firme pelo amor que tenho por mim mesma e pelo seu irmão.
- E agora você também tem sua filha, que seguramente tem muitos motivos para se orgulhar da mãe que tem.
- Sabe, você é uma pessoa muito mais legal do que eu imaginava.
- Pois eu me considero uma pessoa perturbadoramente entediante.
- Creio que seremos boas amigas.
- Eu creio que já somos boas amigas.
- Para que você saiba, como minha primeira iniciativa amigável, eu decidi que esse baile teria como obrigatoriedade o uso de máscaras. Essa iniciativa foi pensada por mim e por Rodrigo para proteger sua identidade e, acima de tudo, sua integridade física. O rosto da morte é uma lenda urbana muito temida nessa cidade: assusta crianças, jovens, idosos e talvez até os mortos. Você já chamou muito a atenção cuspindo no caixão do velho e aparecendo aqui nesses trajes, agora lhe peço que, por favor, busque ser o mais discreta possível, para que possamos abafar os boatos de que você é você mesma.
- Me perdoe, eu realmente não sabia dessa iniciativa.
- Eu não imaginava que os convidados viriam todos de preto, muito menos que você viria de DOURADO.
- Desculpe a minha extravagância, tentarei ser mais discreta da próxima vez, mas dourado combina muito com a minha pele, não é minha culpa.
- Boa noite senhoras. - Um mascarado se aproximou das duas e fez uma reverência.
Seu rosto era praticamente todo tampado pelo conjunto do adereço com a barba cheia e o cabelo crescido, mas Lena podia ver com clareza aqueles olhos azuis que tanto a tinham perseguido nos últimos dias. Ela não sabia com certeza se ele era quem pensava, mas aquela medalha caída na chuva parecia uma conveniente coincidência - e ela não acreditava em coincidências.
...
Pedro se arrumou o mais rápido que pôde, mas cuidou de estar apresentável para aquele evento - desejava deixar o passado e a capital para trás, e recomeçar a vida naquela pequena cidade de interior junto a Milena caso ela desejasse, mas para isso, precisava conseguir emprego na delegacia da cidade. Ela já não estava na casa e não havia sinal de que o carteiro passara antes da saída de todos, assim acreditava que conseguira se adiantar e salvar seu casamento, e aquela mentirosa convicção o tranquilizou enquanto ele saía, agora calmamente, da casa.
...
- Tem um isqueiro? - Lena sentiu o calor do hálito do mascarado em seu pescoço, que se misturava com o ar já um pouco frio no jardim do clube, ao ouvir sua voz.
- O quê? - Ela se virou para ele, que segurava um cigarro na mão direita e, ao subir o olhar, se deparou com aqueles olhos azuis, que reluziam até sob a luz do luar - Não, eu não fumo.
- Sendo assim não fumarei essa noite, e lhe agradeço por isso.
- Não há de quê. - Ela tentou se manter o mais indiferente possível.
- E o que uma bela dama, que chamou a atenção de todos dentro daquele salão, faz sozinha no frio desse jardim?
- Eu não gosto de ser o centro das atenções, e não teria vindo com esse vestido se soubesse que o seria.
- Pois eu sou da opinião de que a beleza deve ser admirada.
- Você sequer conhece o meu rosto, esse é um baile de máscaras.
- Tenho a sensação de já tê-la visto antes.
- E eu tenho a mesma sensação.
- É uma pena que esse seja um baile de máscaras, pois eu adoraria revelar minha completa identidade para você. - Ele sorriu maliciosamente e seus olhares se cruzaram.
Foi então que o som do bolero ecoou do salão principal e invadiu o jardim: Bésame Mucho. Aquela música romântica e sensual envolvia a troca de olhares entre ambos, mas eles sequer pareciam se importar. Talvez o destino tivesse visto naquela canção o momento perfeito para que aqueles dois estranhos, não tão estranhos assim, se aproximassem - ou melhor, se reaproximassem.
- Me concede a honra dessa dança? - Ele perguntou.
- O quê? - Ela pareceu acordada de um transe.
- Perguntei se me concede a honra dessa dança.
- Está convidando uma desconhecida para dançar com você no gazebo de um jardim mal iluminado?
- Creio que sim.
- E não considera essa situação um pouco embaraçosa?
- Não, visto que já estamos conversando no gazebo de um jardim mal iluminado.
- Eu não vim até aqui com você.
- Mas está aqui comigo, e creio que isso seja o que realmente importa.
- Você está certo, eu sequer deveria ter continuado aqui quando um desconhecido se aproximou - Ela se virou e começou a caminhar de volta para o salão - Boa noite.
- Estou seguro de que isso não é o que você deseja. - Ele sussurrou no ouvido de Lena assim que se colocou frente a ela, interrompendo seu caminho.
- Eu sou casada. - Foi o único que ela conseguiu dizer, mas mal sabia que aquelas três palavras tinham acertado como um punhal no coração do homem a sua frente.
E ele só conseguiu responder:
- Eu não a vi acompanhada por toda a noite.
- Ele não pôde vir, pois tinha compromissos.
- Ou porque você não seja a prioridade desse estúpido felizardo.
- O que está insinuando? - Ela sentiu o homem se aproximar mais.
- Que se eu fosse casado com você, jamais me permitiria deixa-la sem um par estando linda dessa forma. Eu a valorizaria, a chamaria para dançar e me sentiria orgulhoso de ser o esposo da mulher mais deslumbrante dessa festa.
- Mas você não é ele e sequer o conhece.
- Tem razão. Mas eu vou lhe perguntar uma última vez: me concede a honra dessa dança, antes que a música acabe?
Ela fez o movimento para se afastar, mas seu coração a traiu. Estava magoada com Pedro como nunca estivera em toda sua vida e aquele homem em sua frente parecia enxergar isso no fundo de seu coração - ou talvez ela apenas não estivesse conseguindo disfarçar tão bem quanto imaginava.
Lena precisava daquela dança. Precisava saber se sua intuição lhe falava a verdade quanto às coincidências inexistentes. Precisava saber se o que via naquele homem era o que imaginava. Precisava saber se o desconhecido realmente era desconhecido. Mas sabia que tomar aquela decisão, naquele momento de crise no casamento teria um preço desastroso a ser pago. Mas ela precisava pagá-lo e, por isso, sorriu, segurou com firmeza uma das mãos do mascarado e deixou que ele tocasse sua cintura com a outra.
Ela o conduziu e ele a conduziu de volta. E naquele momento ela teve certeza de que conhecia o desconhecido. Aqueles olhos incrivelmente azuis já davam pistas, mas o toque do homem que um dia Lena amara com todo o seu coração era inconfundível, e não permitia que ela continuasse com dúvidas. De fato as coincidências não existiam, mas o destino sim e, naquele momento, lhe pregava a maior das peças reunindo-a com o antigo amor, exatamente ao mesmo tempo em que seu casamento desmoronava.
Ao fim da música, Henrique fez com que Lena deslizasse suavemente por seus braços, até que precisasse segurá-lo pela nuca para não cair. Se olharam tão fixamente que o verde e o azul de seus olhos se fundiram no reflexo um do outro. Ele então decidiu ir além, e se atreveu a curvar-se em direção ao pescoço exposto de seu antigo amor e depositar ali um beijo suave. Ela sentiu cada poro de seu corpo arrepiar quando a barba grossa arranhou delicadamente sua pele e não conseguiu conter o gemido que insistiu em escapar de sua boca.
Mas, da mesma forma que as doze badaladas do sino quebraram o encanto da Cinderela em pleno baile, Lena se sentiu despertar de um transe profundo quando uma gota gelada de chuva pingou no local ainda quente onde acabara de receber o beijo. O entorno, que pelos últimos 2 minutos deixara de existir se abriu novamente para ela, que pôde ouvir o anúncio vindo do salão, mas que mais parecia saído do mais profundo e perturbado lugar de sua consciência:
- Como ele não está mascarado, creio que não haja problema em apresenta-lo - A voz animada era de Rodrigo - Aqui ao meu lado está o delegado Montenegro, um grande amigo que trabalha na capital, mas que pretende se mudar para cá e, certamente, colaborar muito com a segurança de nossa cidade a partir de agora. Gostaria de pedir que o recebam com uma calorosa salva de palmas e também avisar às solteiras mais emocionadas da cidade que, apesar de muito bonito, charmoso e educado, ele é um homem casado e infelizmente não está disponível.
Em meio aos barulhos de palmas, Lena se levantou com um pulo dos braços de Henrique e se afastou, ainda desnorteada, sob os pingos que se intensificavam mais e mais.
- O que está acontecendo? - Ele perguntou.
- Não se faça de desentendido. Você sabe muito bem quem eu sou, eu sei muito bem quem é você e nós sabemos muito bem quem é o delegado Montenegro.
- É um baile de máscaras, portanto pretendo continuar seguindo a proposta até que a noite acabe. - Eles então ouviram o badalar do sino da igreja.
- Pois bem, já é meia noite, portanto acabou.
- Na realidade o relógio irá parar agora com dez badaladas, então creio que ainda temos tempo com nossos disfarces.
- Eu preciso ir embora daqui.
- Pensei que não gostasse de fugir de festas. Vamos lá, anime-se! Vamos ao encontro do belo delegado que acaba de chegar, estou seguro de que você adorará vê-lo.
Lena então entendeu que Henrique se referia ao seu impulso de voltar à festa de casamento em meio ao massacre e precisou de um autocontrole que jamais imaginou ter para evitar esbofeteá-lo ali mesmo. Respirou fundo, controlou suas lágrimas para que não escorressem pelos olhos e apenas disse:
- Da última vez em que eu voltei a um baile, impulsivamente, em meio ao caos, perdi muito, e hoje não desejo perder.
- Não vejo caos.
- Porque ele está em minha mente. - A chuva se intensificou e, em poucos segundos, ela estava completamente ensopada - Agora se me permite, desejo voltar para a casa onde estou hospedada.
- Eu a levarei em meu carro.
- Não creio que seja correto.
- Eu jamais permitiria que fosse embora sozinha em meio a essa chuva. Por favor, venha até o meu carro e eu a levarei.
Ela assentiu com a cabeça e os dois correram em direção ao estacionamento.
...
- Não sabe onde está a Milena? - Pedro perguntou a Rodrigo, assim que eles desceram do palco.
- Ela conseguiu desaparecer algum tempo atrás, o que é surpreendente. Fez uma entrada triunfal, conversamos um pouco e depois ela evaporou, como se fosse possível não ser vista com aquela roupa.
- O que quer dizer?
- Que até mesmo você, que não veio mascarado, está vestido com as mesmas cores de roupas que os outros convidados, já sua esposa... Bem, ela está parecendo uma estátua de ouro, vestida inteiramente de dourado. Se ainda estiver aqui, você a encontrará facilmente, caso contrário, creio que talvez ela já tenha voltado para casa.
- Muito obrigado e me desculpe por não conseguir dar mais atenção aos convidados com você. Estou seguro de que muitos deles gostariam de conversar comigo depois do anúncio feito, mas realmente preciso encontrar a Milena.
- Você está nervoso. Está com algum problema?
- Estou tentando evitar um e salvar meu casamento.
Sem dar mais detalhes, Pedro se virou e caminhou pelo salão à procura de sua dama de ouro.
...
- Já chegamos e você está segura, ainda que infelizmente não haja forma de que entre seca na casa.
- Isso já foi o suficiente, muito obrigada. - Ela se virou para a porta e fez o movimento para abrir, mas sentiu a mão de Henrique impedi-la. Quando se virou para olhá-lo, percebeu que seu corpo estava preso entre o banco e os braços fortes do homem.
- Por favor, espere alguns instantes para que eu abra a porta, como bom cavalheiro que sou.
Ele se afastou, abriu sua porta, saiu em meio à chuva e abriu a porta de Lena. Ela agradeceu com um sorriso e saiu, parando entre Henrique e o veículo enquanto ele batia a porta.
- Eu agradeço a atenção e o cavalheirismo. - Ela fez novamente o movimento para se afastar, mas Henrique a prendeu, com uma mão em cada lado da cintura, entre ele e o carro.
O calor de suas respirações se misturava com o ar gelado da noite e a chuva, conforme se aproximavam mais e mais, até que seus lábios se tocaram e eles se beijaram. Lena tinha se deixado seduzir uma vez mais pela lembrança daquele amor juvenil e, ainda que seu coração gritasse por Pedro, seu corpo clamava pelo toque de Henrique. Mas então, novamente, o encanto acabou quando ela sentiu a aliança ao roçar os dedos pelos cabelos do homem, e ela se afastou, apoiando as mãos sobre o peito dele para que também se afastasse.
- Pensei que era nesse momento que nós entraríamos na casa e nos amaríamos como no passado.
- Devo recordar-lhe que o anel que você está sentindo sobre o peito é minha aliança de casamento?
- Não é necessário, ela já está queimando meu coração como brasa.
- Sendo assim, eu lhe peço que, por favor, não me procure mais.
Ela se soltou dos braços de Henrique e correu até a casa, não olhando para trás ao fechar o portão. Ele entrou no carro e se manteve parado, esperando que a mulher voltasse, mas desistiu ao olhar para o lado e ver que, sobre o porta-luvas, ela tinha deixado a medalha que ele lhe dera como sinal no encontro anterior.
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