3°|Revelações

  Sinto o corpo entorpecido por um frio repentino. Abro os olhos assustada e tudo o que eu vejo é gelo subindo pelas paredes do meu quarto, logo tudo fica branco, coberto de neve. Apertei os olhos com força, tentando acordar desse sonho maluco, mas assim que os abro novamente, me vejo em um corredor iluminado por uma luz azulada em seu fim. Caminho temerosa até lá e vejo uma mulher, de pele alva e cabelos azuis, assim como seus olhos. Ela sorri. 

   _ Como está linda... - disse melancólica. Sua voz era reconfortante. 

   _ Quem é você? - pergunto. Cristais de gelo começaram a surgir do chão e pareciam crescer sincronizados com o meu medo. Ou seja, eles não estavam nem um pouco pequenos.

  _ Não sinta! - a mulher gritou. Um cristal cresceu e espetou minha coxa. O susto me fez pular e bater com as costas na parede, me agachei e escorreguei a cabeça entre minhas pernas, chorando. - Elleonor! Não sinta!

  Os cristais começaram a tremer e então quebraram-se em milhões de pedaços. Tudo ficou escuro novamente. 

  Acordei sobressaltada. Que raios de sonho foi esse?

  Respirei fundo, recobrando os meus sentidos e então olhei em volta. O quarto estava completamente branco, congelado... Igual no sonho.

  Peguei o celular alarmada e disquei o número de Nanda. O celular chamou duas vezes e então a voz de Nanda apareceu sonolenta.

   _ Nanda, eu to com medo. Eu estou com muito medo! - comecei a chorar.

  _ Medo? O que foi, as monstrinhas estão te perturbando? - Nanda riu do outro lado da linha. - Volte a dormir, provavelmente elas irão colocar uma aranha de borracha na sua escrivaninha e só. Elas não são muito inteligentes e mesmo assim... Vamos lá, só dorme!

  _ Nanda... Eu acho que congelei meu quarto! 

  A linha ficou silenciosa.

  _ Estou indo.

  Nanda fez um caminho de vinte minutos virar um caminho de doze. Ela entrou pela janela e arregalou os olhos quando viu todo aquele gelo. Ela estava com um casaco grosso e se eu não estivesse tão assustada eu teria rido imaginando o quão ridícula ela estava andando desse jeito pelas ruas da Califórnia em uma semana tão quente. 

  _ Me ajuda... - pedi com a voz embargada.

  _ O socorro está chegando, Elle. - ela disse digitando no celular.

  _ O que está acontecendo comigo?! 

  Minha pergunta não teve chance de ser respondida. O ignorante de olhos verdes com quem esbarrei na escola entra no quarto da mesma forma que Nanda. Ele me dá um sorriso cínico e passa a última parte do seu corpo para dentro do quarto. Ele não se assustou com o estado em que meu quarto estava.

  _ Como resolvemos isso? - Nanda perguntou calmamente, para ele.

  _ Não é você a melhor amiga dela? - diz em tom sarcástico. Nanda manda um olhar de alerta para ele, como se eles já tivessem tido essa conversa. O garoto revirou os olhos. - Essas fadinhas!

  Nanda deu um soco em seu braço e ele deu um uivo. De repente o rosto dela se iluminou. Ela teve uma ideia.

  _ Precisamos tirar ela daqui. - Nanda deu a solução.

  _ É mesmo, gênio? - o garoto ironiza. - Mas como vamos levar alguém que congela quartos inteiros quando estão se borrando nas calças? 

  _ Ei! - gritei ofendida.

  _ Fica na sua...

  _ Peter! - Nanda o repreendeu. - Vamos levar ela pra floresta, tem uma estufa antiga lá que está abandonada. 

  Peter se aproximou de mim, querendo me tirar de cima da cama, mas eu não conseguia me desagarrar da cabeceira. Eu tremia, mas não de frio porque, embora estivesse amedrontada, o frio me deixava forte, revigorada. 

  _ Elle, você precisa confiar em mim. - Peter diz. Em seus olhos eu vi novamente o brilho lilás. Assenti receosa e envolvi meus braços em volta de seu pescoço. Peter me ergueu da cama e me levou até a janela, mas congelou quando ouviu batidas na porta.

  _ Que barulheira é essa aí, pestinha? - Catarina gritou do outro lado. 

  _ Ela não pode entrar! - digo obviamente. 

  _ Vão! Eu dou jeito! - Nanda sussurrou. Peter continuou me levando para fora, mas antes de ter fechado meu campo de visão, eu vi fios de cipó saírem dos dedos de Nanda e ocuparem todo o espaço da porta. 

  _ O que foi aquilo? - pergunto assustada para Peter. Ele não respondeu, apenas continuou andando com sua cara emburrada como se estivesse levando um saco de penas. Pendi minha cabeça para trás e visualizei as folhas verdes em cima de mim, então virei o meu rosto pro lado e encontrei o de Peter. Ele realmente era bonito. Lindo na verdade. Ele era tão irreal quanto toda essa loucura. As folhas davam contraste em seus olhos, deixando-os mais intensos. Peter também tinha cheiro de shampoo e... inverno.

  Chegamos na estufa. Não era muito grande e tinha vários vidros quebrados ou pichados. Peter me colocou em um canto mais limpo e ficou em pé, andando de um lado pro outro. Aproveitei o momento para colocar a cabeça em ordem. 

  Era loucura. Uma pessoa normal não congela um quarto com as próprias mãos. Ou cria cipó através dos dedos. Insano de mais, até mesmo para alguém que conviveu tantos anos com Catrina... Ah, Catrina! Ela me punirá! Ela com certeza me punirá quando ver todo o caos!

  Nanda apareceu na estufa. Me levantei até ela, pronta pra pedir explicação.

  _ O que está acontecendo?! - grito. Pequenos flocos de neve começam a me rodear. 

Todas as suas ações, a forma como não ficou assustada, o jeito que lidou com a situação... Ela sabia exatamente o que fazer, como se tivesse preparada para isso. Para ela, parecia normal. 

  _ Fique calma, Elle. Não sinta! - Peter se aproxima com a mão estendida em posição de alerta como se eu fosse congelar Nanda a qualquer momento.

  _ Que saco! - grito - Cansei de me mandarem não sentir! O que está acontecendo!?

  Nanda e Peter se entreolharam, eles eram cúmplices e sabiam de muito mais coisa que aparentavam saber.

  _ É complicado... - a frase de Nanda me veio como um soco de realidade. Ela realmente sabia o que estava acontecendo. 

  _ Nanda, ela merece a verdade. Uma hora ou outra ela irá descobrir! - Peter se manifestou.

  _ Certo! - Nanda bate palma e respira fundo antes de jogar a bomba. - Kelra não foi sua mãe biológica. Ela é uma protetora, foi melhor amiga de sua mãe e dama real. - ergui a sobrancelha, querendo rir de nervoso. - A monarquia no nosso mundo não é muito diferente da monarquia daqui...

  _ Não estou para brincadeiras, Fernanda! - digo irritada. 

  _ Você congelou o próprio quarto, achei que nessa altura do campeonato você estivesse com a mente aberta para acreditar nas coisas que vou te dizer... Que eu ia te dizer, já que eu estou vendo que você não está pronta.

  _ Não, me desculpa. - digo a contragosto.

  _ Tem uma mulher, chamada Brand, com quem sua mãe biológica fez um acordo. Não sabemos muito, mas você era uma espécie de troca, na qual quando completasse seus dois anos, você iria ser propriedade de Brand. Mas sua mãe quebrou o contrato e te enviou para a Terra, onde Kelra e James estavam, ambos foram exilados do reino por serem acusados injustamente de traição contra a coroa, mas sua mãe sempre soube a verdade e, apesar de ter entercedido por eles, não conseguiu muita coisa sem que tenha sido o exílio. Seus poderes aqui na Terra ficaram adormecido e o plano era te levar para o castelo quando eles fossem despertados. Você é muito poderosa, Elle! 

  _ Mas... Mesmo que seja verdade, como você e Peter sabem de tudo isso? - questiono ainda abalada pela notícia.

  _ Conheça o seu guardião. - Peter diz sorrindo.

  _ E a sua dama real, Princesa Elleanor.
 

Obrigado por ler até aqui. Não se esqueça de votar e comentar.

 Vocês são incríveis!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top