PERGUNTAS

"O Arrependimento é uma poderosa arma de dois gumes. Ele, não somente nos faz enxergar onde erramos, mas também chicoteia nossa mente com a dor, se ela ainda não foi cauterizada. "

J.I.jr

         Rafael, estaciona seu Mercedes-Benz na frente da casa de Júlio. Com um suspiro pesado, ele encosta sua cabeça no acolchoado do banco preto. Acende um cigarro, e com a face voltada para o teto do carro, traga o veneno como se fosse um antídoto. Depois, solta a fumaça branca e cinza.

Uma tosse megalomaníaca toma conta do seu momento de prazer. Você já bebeu ou comeu algo tão quente, que desceu queimando goela a baixo? Que mesmo tomando água gelada, a dor não arreda o pé para ceder?

Rafael, sente seu pulmão queimar. Seria a escassez do ar ou a abundancia dele? A verdade é que com as mãos em seu pescoço e tórax, Rafael procura parar aquele incêndio que toma conta dos seus pulmões.

Parece que o ar, está segurando uma esponja de aço e a cada inalação, raspa-lhe os alvéolos... tirando-os das paredes dos pulmões.

— Meu Deus... meu, Deus. — Saindo do carro, Rafael cospe uma farta bolha de sangue e pus. Com uma rapidez efêmera, ele pega sua 9MM PARABELLUM e a coloca dentro da sua boca esperando outra chuva de tosse com sangue. Como se fosse uma maldição do destino, ele para de tossir.

Limpando a boca com as costas da mão direita, Rafael fecha a porta do carro e segue para o portão da casa de Júlio. Como sempre faz, toca a cigarra.

— Entra aí! — Fala Júlio pela janela da sala. Quando Rafael chega na sala, tem um homem idoso, cabeleira branca e farta, com as pernas cruzadas. Ao ver Rafael chegando, o estranho levanta-se e estende a mão para apertarem.

— Meu nome é Glauco Azevedo. — Rafael, estende a mão e com cautela senta-se no sofá de único lugar. — Eu sou um grande fã do seu trabalho.

— Como... alguém pode ser fã do meu trabalho? — Júlio, chega na sala no momento que a pergunta foi feita.

— O sr. Glauco, é dono da GA Construtora e Filhos. — Rafael, ainda sem entender nada, olha para Júlio franzindo a testa. — Os últimos seis contratos dados a você, foram solicitados e pagos pelo sr. Glauco.

— Entendi..., mas, por que estou o conhecendo? O nosso trato... sempre foi "zero contato pessoal".

— Sr. Rafael, eu sou muito grato por toda sua dedicação. — Sr. Glauco reverencia o homem sentado de frente, ao terminar a frase.

— Não teve... dedicação alguma, para com você. Eu matei... por dinheiro... não por empatia com sua causa ou por destetar o contrato. Nunca matei por emoção. A sorte é quem define a vida ou a morte.

— Irmão, ele ficou sabendo do seu estado. — Rafael cruza as pernas mostrando surpresa, arqueando o corpo para frente, chega bem perto de Júlio e pergunta:

— Como ele ficou sabendo?

— Eu contei.

— O Júlio me falou que você não estava mais disponível. Eu até entendo, que queira passar seus últimos dias de vida com sua família...

— Eu sou sozinho.

— Ops, me perdoe. — Sr. Glauco olha para Júlio, mostrando surpresa — Ninguém, nunca me disse nada.

— Não precisa se desculpar. Não foi nada.

— Sr. Rafael, o senhor nunca quis construir uma família?

— Não mais... teve uma época que sim, porém, o senhor a de convir que nenhuma família, aceitaria um assassino profissional em seu seio.

— Não subestime as famílias.

— O que vai ser dessa vez? — Rafael, pergunta mudando o assunto. É lógico que ele queria ter chegado em casa, beijado a mulher e os quatro filhos. Ele poderia ser um tremendo de um filho da puta, mas, um que desejou ter mulher e filhos e nunca teve.

         Sr. Glauco pega uma bolsa executiva preta, que estava no chão, e a coloca no colo. Enfiando a mão dentro dela, tira um envelope pardo, e o entrega para Júlio, que puxa o dossiê da pessoa de dentro do contrato.

— Luciana Aroucha Vilela? É uma mulher.

— E o que tem? Pensava que vocês matassem culpados, independente do gênero. — Rafael, ajeita sua cabeça, olhando para o lado.

— Eu já matei mulheres... e sim, eram criminosas. Mas não quero que meu último trabalho seja uma mulher.

         Júlio, passa o dossiê para Rafael. Ele vai lendo com calma, página por página. O amigo e seu Glauco, percebem o olhar espantado de Rafael, lendo os documentos.

— É então vai aceitar?

— Só um minuto. — Rafael, coloca sua mão direita dentro do bolso esquerdo do terno cinza grafite. Ele puxa as quatro cartas de ases. Uma de cada naipe.

— É assim que ele decide, se faz ou não. — Júlio respondeu para sr. Glauco, que surpreso, fez a pergunta jogando o queixo para frente. — Segundo ele, é a sorte do contrato que vai julga-lo.

         Rafael, fecha seus olhos. E sem ver, vai embaralhando os quatro ases, enquanto faz sua prece. Depois da oração, desce um As de cada vez, colocando-as na mesinha que se encontra na sua frente, viradas para baixo.

         Olhando fixamente para as quatro cartas, escolhe uma. Ao virar, a carta que se mostra é o As de paus.

— E então? — Sr. Glauco pergunta.

— Sim. Vou pegar o contrato. O valor vai ser o do último contrato?

— Que notícia maravilhosa! — Rafael fica desconcertado com a festa que o sr. Glauco está fazendo. — Não! Esse tem a bagatela de um milhão de reais.

— Hum milhão de reais é muito.

— Você merece. Mas, em todos os contratos você faz assim?

— Sim. Em todos eles.

— E qual a sensação de matar?

— Não tenho nenhuma, apenas mato.

— Você nunca teve dúvidas? Se iria matar ou não?

— Não. Nunca. — Sr. Glauco está abismado com a frieza nas respostas do assassino de aluguel.

— Desculpe-me a insistência, é que nunca fiquei frente a frente com um matador de aluguel. — Rafael olhando para Júlio, responde para sr. Glauco:

— E eu nunca estive frente a frente com o mandante. É a primeira vez para ambos.

— Só mais uma pergunta? Na verdade, são duas.

— Pode fazê-las.

— Sr. Glauco, que sejam somente mais duas. Rafael precisa descansar. — Pede Júlio ajeitando-se no sofá.

— O que você vai fazer com todo dinheiro que ganhou? Todos esses anos?

— Depois que morrer? — Sr. Glauco balança a cabeça positivamente.

— Sim. Exato.

— Vou doar cinquenta por cento para uma instituição filantrópica, e a outra metade, deixarei para Júlio. — O rapaz ao ouvir seu nome se engasga.

— Você nunca se arrependeu? Digo, as pessoas que você matou... tinham famílias.

— É por isso que nunca queimei os corpos, explodi ou decapitei. Eu sempre deixei os mortos chorarem seus mortos.

— Fantástico.

— Sr. Glauco, muito obrigado por mais esse trabalho, e como falei, o Rafael precisa descansar.

— Claro. Lógico que sim! Eu preciso do meu anjo da morte inteiro. Novinho da silva. Só mais uma coisa... é um pedido.

— Pode dizer. Eu e Rafael estamos escutando.

— Eu quero o corpo queimado. — Sr. Glauco, recebe um franzido de testa como resposta dada por Rafael.

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