54. A vez em que um jovem lobo avistou um demônio milenar
O tempo estava passando, mas não tão rápido quanto eu gostaria. Eu não fazia ideia de quantas das doze horas ainda restavam, mas duvidava de que seríamos capazes de resistir às investidas dos morcegos por muito mais tempo. O exército do Vampiro Rei era temível por si só, mas, não bastasse isso, Babylon tinha acabado de aumentar ainda mais a intensidade de seu ataque ao invocar uma criatura tenebrosa, vinda direto das profundezas do inferno.
- Você reconhece esse nome, irmã? - ouvi Eleonora perguntar à Poliana, preocupada.
- Infelizmente sim - a bruxa mais jovem respondeu. - Estudei um pouco de demonologia após me iniciar na magia das trevas e esse é o nome de um demônio poderoso. Se não me falha a memória, ele se envolveu com Salomão milhares de anos atrás, então não me espanta nada o Babylon ter decidido trazer logo essa criatura para a confecção do novo selo. Tudo o que ele faz parece ter alguma simbologia ou significado oculto por trás, pelo visto...
- E como é que a gente se livra dele? - Tatianna quis saber, preocupada. - Não tinha mais nenhuma informação útil nesses estudos todos que você fez?
- Demônios ancestrais como Abezethibou não podem ser controlados, pelo menos não por um mortal como nós ou Babylon - explicou Poliana, séria. - Eles só agem caso seja muito proveitoso para eles. O Vampiro Rei deve ter feito algum tipo de pacto irrecusável para convencer essa criatura a lutar do lado dele.
- Espera um pouco... - interrompeu a tia de Davi. - Achei que Babylon tinha trazido o demônio para sacrificá-lo e utilizar sua essência na fabricação do selo... Por que esse monstro aceitaria lutar junto a alguém que planeja matá-lo muito em breve?
- Babylon deve ter feito alguma oferta tentadora - Poliana respondeu, pensativa. - Deve ter oferecido o sangue e a alma de todos nós, ou alguma coisa do tipo. Algo grande demais para um demônio simplesmente ignorar. Essas criaturas se alimentam de caos. A oportunidade de ser invocado nessa dimensão e ser deixado livre para agir como bem entender é muito atrativa. Muito provavelmente ele sequer considera o Vampiro Rei como uma ameaça de fato.
- Eu não sei o que vocês pretendem com essa conversa toda - interrompeu Eugene, esbaforido após estrangular mais uma Gárgula - mas acho bom se apressarem e pensarem numa solução, porque o tal demônio já está quase todo do lado de fora do portal!
Imediatamente voltei minha atenção para o local onde o pai de Leocaster seguia com sua invocação e constatei que Eugene estava mesmo certo. Faltava bem pouco para o demônio terminar a travessia e se lançar sobre nós. A criatura era gigantesca e, mesmo à distância, me causava arrepios. Ele devia ter pelo menos uns três metros de altura. Era a clássica representação de um demônio, com chifres imponentes e retorcidos, mas trazia ainda uma única asa de dragão vermelha, no lado direito das costas, que se arrastava no chão. Seu corpo estava úmido, cheio de musgos e algas, como se ele tivesse acabado de emergir das profundezas do oceano. E, para completar a visão macabra, o demônio trazia ainda uma grande espada em sua mão esquerda, envolta em energia das trevas, como se a arma estivesse ali para equilibrar a ausência de uma outra asa daquele lado do corpo.
- Só tem um jeito da gente se livrar de Abezethibou - suspirou Poliana. - Temos que provar que somos mais poderosos que Babylon. Cativá-lo com nossas habilidades para fazer com que ele abandone seu antigo mestre e passe para o nosso lado.
- Nossos aliados estão todos caindo aos pedaços... - Tatianna apontou, pessimista, enquanto a batalha sangrenta contra Gárgulas e vampiros continuava incessantemente ao nosso redor. - Não vejo motivos suficientes para essa criatura querer mudar de lado, pelo menos não na situação em que nos encontramos...
- Talvez não sejamos mesmo mais fortes que Babylon... Mas eu sei quem é - replicou Poliana, enigmática. - A deusa a quem sirvo, Hécate, rainha suprema das trevas. O demônio não terá escolha a não ser se dobrar perante o poder dela.
- E como você pretende convencê-lo a fazer isso? - Lia perguntou, aflita.
- Eu e meu campeão enfrentaremos Abezethibou - Poliana respondeu, sem pestanejar. - Fred, chegou a hora - continuou ela, se dirigindo ao nosso colega, que a encarava atentamente. - Não foi à toa que a deusa anciã fez nossos caminhos se cruzarem. Ela me usou como instrumento e trouxe sua alma de volta para esse mundo porque ainda havia um último trabalho a ser feito. Finalmente lutaremos lado a lado e cumpriremos a nossa missão.
- Estou pronto - Fred replicou, decidido.
- Isso me parece suicídio, irmã - Eleonora apontou, consternada. - Mas você me provou uma vez após a outra que eu nunca devo te subestimar. Se você acha mesmo que isso pode dar certo, eu e o círculo dos bruxos estaremos ao seu lado. Apenas me diga o que fazer para te apoiar.
- Meu campeão irá lutar contra o demônio e provar o nosso valor. Enquanto Fred faz isso, vou manipular a energia das trevas e enviar para ele como combustível - a bruxa mais jovem explicou. - Não poderei me concentrar em mais nada durante a batalha. Estarei completamente vulnerável.
- Não diga mais nada - interrompeu Eleonora. - Concentre-se em sua missão. Os bruxos irão garantir que ninguém encoste em um fio de cabelo seu.
- Obrigada, irmã - Poliana respondeu, visivelmente emocionada ao receber o apoio daquela com quem tanto rivalizara no passado, mas tentando se controlar ao máximo e não deixar suas emoções transparecerem, como de costume. - Isso significa muito para mim.
- Vão logo, por favor - pediu Tatianna, ansiosa. - Não sei quanto tempo mais conseguiremos resistir às investidas das Gárgulas e dos vampiros. Estamos contando com vocês para não precisar lidar também com um demônio!
- Boa sorte, rapaz - disse Eugene, apertando a mão de Fred, sem desgrudar os olhos do nosso colega. - Que a escuridão da noite te proteja e te dê forças.
Não houve tempo para que nossos aliados trocassem mais palavras, já que logo fomos surpreendidos por um rugido horripilante da criatura, que finalmente havia atravessado o portal aberto por Babylon. Fred a encarou e caminhou em direção a ela, decidido. Poliana, enquanto isso, se dedicou a manipular sua magia das trevas e a demarcar um grande círculo de fogo no chão, ao redor do demônio.
- Você deve ser muito ingênua se acha mesmo que um foguinho mequetrefe como esse será capaz de conter Abezethibou, garota - debochou Babylon.
- Eu não estou criando um círculo de contenção - respondeu Poliana, incrivelmente calma. - Eu estou demarcando a arena do nosso combate.
Ignorando o Vampiro Rei por completo, Poliana terminou de conjurar sua magia e se dirigiu ao demônio, que a estudava atentamente.
- Abezethibou! - a jovem bruxa finalmente bradou, com imponência. - Eu sou a representante de Hécate nesta dimensão. E exijo que você reconheça a superioridade da minha deusa e se curve perante a ela!
Tão logo compreendeu aquelas palavras, a expressão do demônio se encheu de fúria e ele soltou outro daqueles rugidos aterrorizantes, exibindo suas presas afiadas. Pelo visto, não seria tão fácil assim convencê-lo.
- Você teve a chance de se curvar pacificamente, mas a recusou - Poliana continuou, nada intimidada com a demonstração de furor do nosso inimigo. - Sendo assim, o campeão de Hécate irá batalhar contra você e não descansará enquanto não te fizer dobrar os joelhos diante da rainha da escuridão. Nós te desafiamos, Abezethibou, demônio milenar! Se você não for um covarde, duele contra nós e reconheça o nosso poder!
- Não me faça perder tempo com esses disparates, garota iludida! - Babylon interrompeu, irritado. - Homens, deem um fim nesses pirralhos de uma vez por todas - continuou ele, se dirigindo às suas mãos direita e esquerda. - Abezethibou tem coisas mais importantes para fazer. Ele irá abrir caminho até a portadora da magia de luz. Não temos tempo a perder com esses insetos insignificantes!
- Sem interrupções! - Poliana gritou, enérgica. - Um duelo astral foi convocado em nome de Hécate e não pode ser interrompido enquanto não tivermos um vencedor. Não se atrevam a nos atrapalhar. Eleonora, agora!
Atendendo ao chamado de sua irmã, a Grã Sacerdotisa lançou sua magia em direção ao círculo de fogo traçado no chão, fazendo uma grande redoma de energia cobrir aquele perímetro. Do lado de dentro, havia apenas Fred e o demônio. Um soldado vampiro mais incauto avançou na barreira com a intenção de chegar até nosso colega, mas, tão logo seu corpo entrou em contato com a parede mágica, foi repelido com violência e lançado a metros de distância.
- Eu já avisei e vou repetir - Poliana bradou, irada. - Um duelo astral está em progresso. Ai daqueles que ousarem interferir! Que a mão negra da rainha das feiticeiras caia sobre a cabeça de vocês!
- Você deve estar se achando muito esperta com todo esse teatrinho, menina, mas a única coisa que você conseguirá com isso é uma morte ainda mais rápida para o seu capacho! - zombou o Vampiro Rei. - Se a sua intenção era me atrasar, sinto dizer que não dará certo. Esse moleque não vai durar um minuto sequer e ainda poderemos assistir a toda essa carnificina de camarote! Vampiros, não interfiram! - ele continuou, se dirigindo aos morcegos que observavam aquela cena com atenção. - Deixem que Abezethibou mostre seu poder e faça o que veio fazer. Siga em frente, demônio! Mate todos! Não me deixe esperando!
Atendendo ao comando daquele que o convocara, Abezethibou finalmente caminhou em direção a Fred. Nosso colega se manteve imóvel, concentrado, com os olhos fixos em seu inimigo, enquanto a magia das trevas manipulada por Poliana irradiava ao redor do seu corpo. Assim que chegou a menos de dois metros de distância de Fred, o demônio finalmente empunhou sua espada com as duas mãos e a ergueu ao alto de sua própria cabeça.
Não demorou muito até a lâmina descer com uma velocidade absurda em direção à Fred. Tive vontade de fechar os olhos já prevendo a cena grotesca que veria a seguir, com os miolos do meu colega sendo espalhados por todos os lados. Mas, surpreendendo a todos nós, Fred cruzou seus punhos em frente ao rosto no momento exato, aparando o golpe da espada sem sofrer um mísero corte sequer.
A cena que se desenrolava diante de mim não fazia o menor sentido. Um golpe de lâmina naquela potência seria o suficiente para decepar os braços de Fred de uma vez só, mas, contrariando toda a lógica, meu colega permanecia firme, com os dentes cerrados, sem se mover um centímetro de lugar.
O demônio arregalou os olhos em surpresa ao notar que seu ataque não surtira efeito. Porém, a demonstração de força de Fred não foi o suficiente para fazer a criatura se distanciar. Abezethibou estendeu sua única asa, que trazia um esporo afiado em sua ponta, e se lançou com violência para cima de Fred, revezando ataques com a espada, com o esporo da asa, com seus chifres, ou com sua cauda longa e escamosa.
Fred, a princípio, apenas se esquivava ou bloqueava os ataques. Porém, após alguns minutos estudando com atenção a movimentação de seu adversário, nosso colega finalmente passou a revidar, dando socos e chutes potentes, carregados de magia das trevas.
- Poliana! - ele gritou, num dos raros momentos em que conseguiu se afastar do demônio por alguns segundos. - Preciso de mais potência!
Sem discutir, a jovem bruxa passou a manipular uma grande massa de energia preta, que ela retirava da própria escuridão espalhada pelo Véu. Após modelar aquela matéria, Poliana a irradiava na forma de ondas, que atravessavam a redoma e chegavam até Fred, envolvendo e fortalecendo o corpo dele.
Assistir àquela cena me fez lembrar de Davi, da forma como ele fortalecia meus poderes por meio do nosso laço lunar, e eu suspeitava que Poliana fazia algo semelhante agora, para fortalecer não apenas um aliado, mas um dos poucos que compartilhavam com ela a crença naquela misteriosa deusa das sombras.
- Ignorem o garoto por enquanto - escutei Babylon dizer aos vampiros que estavam mais próximos a ele. - Aproveitem para acabar com esses outros imprestáveis que estão do lado de fora da redoma. Vão!
Corri em direção à Tatianna e os demais para alertá-los. Tão logo cheguei junto a eles, fomos surpreendidos por mais uma investida dos morcegos, que tentavam a todo custo passar por nós e chegar até Poliana.
- Eu prometi não deixar ninguém atrapalhar minha irmã - informou Eleonora, séria. - E vou cumprir o que disse! - completou, erguendo seu cajado. - Veneficium!
Um após o outro, Eleonora foi incendiando os soldados vampiros que se aproximavam de sua irmã caçula, usando o feitiço da mãe de Davi. Próximos a ela estavam também Tatianna e seus dois filhos restantes, lutando ferozmente para conter o avanço dos nossos inimigos. Enquanto tudo isso acontecia, Babylon continuava focado no embate entre Fred e Abezethibou, que parecia longe de acabar, já que nenhum dos lados demonstrava sinais de cansaço.
Refleti por alguns instantes e cheguei à conclusão de que aquele seria o momento perfeito para eu tentar me aproximar sorrateiramente do local onde Davi estava aprisionado. Enquanto todos estavam distraídos com o demônio, eu poderia libertar meu namorado. E, sem dúvidas, os poderes do cernuno seriam um grande trunfo para virar aquela batalha a nosso favor.
Desfiz a transformação em lobisomem e retornei à minha forma normal de lobo, que era mais fraca, porém menor em estatura, o que me ajudaria a ter mais chances de passar despercebido. Fui me esgueirando por entre os arbustos e os corpos caídos daqueles que pereceram na batalha, tentando imitar a postura que Benjamin assumia sempre que precisava se camuflar em meio ao ambiente. Eu não tinha nem de longe as mesmas habilidades que ele, mas torcia para que aquilo fosse o suficiente.
Após me mover por alguns metros, consegui me esconder atrás de um pequeno barranco, de onde era possível ver o Vampiro Rei com clareza. Para minha infelicidade, porém, notei que as mãos direita e esquerda estavam protegendo a retaguarda de Babylon e vigiando atentamente os dois prisioneiros ajoelhados no chão. Daquela distância, já era possível afirmar com certeza que era mesmo Davi que ali estava, acompanhado de Leocaster.
Eu sabia que seria impossível encarar sozinho aqueles dois vampiros centenários e ainda conseguir resgatar Davi. Só me restava torcer para que a batalha entre Fred e o demônio pudesse criar uma distração ainda maior para que aqueles dois fossem forçados a abandonar suas posições e eu tivesse uma chance de chegar até meu namorado sem ser detectado. Permaneci imóvel, assistindo ao duelo com atenção e aguardando o momento certo para agir.
- Por que está demorando tanto? - gritou Babylon, irritado. - Acabe com esse moleque de uma vez, demônio!
Atendendo ao pedido de seu mestre, Abezethibou avançou sobre Fred com ainda mais furor. Porém, mantendo o sangue frio, nosso colega conseguiu se jogar no chão, por entre as pernas do demônio, e deslizar por baixo dele, numa manobra impressionante. Ao se levantar atrás de seu inimigo, Fred finalmente teve uma abertura e pode desferir um poderoso chute bem no cotovelo do monstro, fazendo com que ele derrubasse sua espada no chão. A criatura se virou depressa e ainda tentou acertar nosso colega com sua asa, mas Fred foi mais rápido, aproveitando para coletar a arma caída. Em questão de segundos, ele empunhou a enorme espada e investiu mais uma vez contra seu adversário, porém, desta vez, armado.
- Continue assim, Fred! - escutei Lia gritar. - Não desanime, você vai conseguir! Você também, prima! - ela continuou, se dirigindo agora à Poliana. - Estamos contando com vocês!
As palavras de Lia pareciam ser o incentivo que faltava para que Fred fizesse uma última investida, ainda mais intensa. Poliana estava trêmula e já dava sinais de cansaço, mas, mesmo assim, continuava irradiando um grande feixe de magia das trevas, volumoso e constante. O campeão de Hécate prosseguiu em sua marcha decidida na direção do demônio, e, após se aproveitar de mais uma das aberturas da criatura, finalmente conseguiu acertar o primeiro golpe da lâmina, movimentando a espada com violência e decepando a cauda de Abezethibou de uma vez só, fazendo o demônio urrar de dor.
Fred tomou distância do demônio e empunhou a espada outra vez.
- Se você não se render agora, a próxima coisa que eu vou cortar será a sua asa! - ele ameaçou, decidido.
Pegando a todos nós de surpresa, o demônio respondeu usando palavras em nosso idioma.
- Não precisa fazer isso, campeão de Hécate. Eu reconheço o seu valor. Você foi capaz de me desarmar e usar a minha própria espada para me ferir. A sua deusa realmente é poderosa e só me resta admitir a minha derrota.
Tão logo disse aquilo, Abezethibou ajoelhou-se diante de Fred.
- Não tenho interesse em tomar partido nessa guerra de vocês - continuou o demônio. - Já me diverti o suficiente por hoje. Apenas me mande de volta para casa.
- Eu não sei fazer isso... - Fred admitiu, coçando a cabeça. - Quem cuida das magias é a Poli, eu só sei lutar...
- Vai até lá, irmã... - pediu Eleonora, ainda tensa. - Vamos aproveitar enquanto ele está cooperando. Não precisamos de mais esse problema. Mande esse demônio embora de uma vez por todas, rápido!
Poliana assentiu e caminhou em direção a Fred. Porém, assim que tentou entrar na redoma, houve um estalo, seguido de faíscas, como uma descarga elétrica.
- Que estranho... A redoma está me repelindo - disse ela. - Não era para continuar ativa, agora que um dos lados foi derrotado e o duelo astral foi concluído...
- GAROTO, CUIDADO! - ouvi Eugene gritar, desesperado. - ATRÁS DE VOCÊ!
Sem que pudesse fazer nada para impedir, Fred foi surpreendido pela cauda pontiaguda do demônio, que levantou do chão com velocidade, como se tivesse vida própria, e o atravessou violentamente pelas costas, rompendo sua carne e saindo do outro lado, pelo meio do seu peito.
- Não, não, não, NÃO! - Poliana gritou, desesperada, em meio às lágrimas, tentando inutilmente atravessar a redoma de magia para chegar até Fred.
- Você achou mesmo que um demônio milenar, que conheceu o lendário rei Salomão, seria derrotado tão facilmente por um mero adolescente? - Abezethibou declarou, frio, ficando de pé e encarando Fred, que segurava a cauda atravessando seu peito e cuspia sangue pela boca.
Babylon foi até à redoma e a fez desaparecer com um simples estalar de dedos. Depois disso, se aproximou do demônio.
- Estou prestes a cumprir a minha parte do acordo - disse Abezethibou. - Depois disso, vou embora. Não se esqueça de dar o que me prometeu depois que conseguir forjar o selo.
- Não se preocupe, demônio - o Vampiro Rei respondeu. - Apenas termine o que veio fazer e deixe o resto comigo.
Sem dizer mais nada, Abezethibou ergueu Fred pelos cabelos com sua mão direita e, com a mão esquerda, foi extraindo uma essência negra, que vinha de dentro da ferida aberta no peito do garoto.
- Parem com isso! - Poliana gritou, desesperada. - O que vocês estão fazendo com o Fred?
- Eu chamei Abezethibou até aqui porque só alguém versado na magia das trevas seria capaz de me dar o que preciso - Babylon explicou. - O que vocês fizeram com esse garoto é algo assombroso, até mesmo para mim, que já vivi séculos e séculos. Vocês conseguiram prender o espírito de um mortal num corpo já sem vida, tudo isso usando o poder inigualável de uma deusa ancestral. Eu não preciso de nenhuma outra amostra de energia das trevas para confeccionar o selo. Não quando tenho a meu dispor uma das criaturas mais raras desse tipo a já existir nessa dimensão.
- Então era tudo mentira? - perguntou Poliana, atordoada. - Você nunca planejou matar o demônio?
A resposta de Babylon veio na forma de uma gargalhada exagerada.
- Como vocês pretendem vencer uma guerra nessas proporções sendo tão inocentes? - ele questionou. - Jogando sempre limpo e acreditando em tudo o que sai da boca do seu maior inimigo? Vocês ainda não entenderam que todo esse circo que vocês armaram não é nada para mim? Todas as estratégias, as artimanhas, o trabalho árduo... Isso não é nada! Nada! É apenas digno de pena. Vocês não fazem ideia da diferença colossal de poder que há entre nós. Desistam de uma vez por todas! Sejam espertos, como Abezethibou foi. Ele reconheceu o meu potencial e apostou nisso. E, quando a hora chegar, ele será recompensado. Saiam do meu caminho de uma vez por todas e, quem sabe, eu demonstre um pouco de misericórdia!
- Você acabou de dizer que não era para acreditarmos em nenhuma das suas palavras, por que motivo faríamos isso agora? - foi só o que Poliana conseguiu dizer, completamente derrotada.
- Finalmente você está aprendendo, garota! - Babylon ironizou. - Pena que agora é um pouco tarde demais...
- Está pronto, mestre - o demônio o interrompeu, entregando uma esfera de magia negra, que repousava na palma de sua mão. - Extraí toda a essência da magia das trevas que havia dentro daquele garoto. Ele voltou a ser só uma casca vazia.
Olhei para o corpo de Fred e percebi que ele de fato jazia sem vida no chão, ainda com a cauda do demônio atravessando seu tórax, enquanto Poliana chorava copiosamente ao lado dele, sendo consolada por Lia e Eleonora.
Eu achava que aquela situação não tinha como piorar, mas percebi estar enganado assim que Babylon abriu a boca outra vez.
- Já tenho as essências das magias de sangue, animal e das trevas - ele declarou. - Faltam duas. Já que vocês estão tentando a todo custo me impedir de pegar a essência de luz, vou extrair logo a outra, que está bem aqui, ao meu alcance.
Tão logo ouvi aquilo, senti um arrepio subir pela minha espinha.
- Chegou a hora de pegar a essência da magia natural! - disse o Vampiro Rei, empolgado. - Finalmente chegou o momento de extrair a alma do cernuno!
Sem pensar duas vezes, ele caminhou em direção a onde Davi estava aprisionado. E, se eu não fizesse nada para impedir, meu namorado muito em breve seria o próximo a ter o mesmo destino que Fred.
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E finalmente pudemos conferir o duelo contra o demônio milenar Abezethibou! Infelizmente, o resultado não foi tão favorável para os nossos heróis. E esse nem é o maior dos problemas deles, como vocês já devem imaginar...
Será que o Clube da Lua e seus aliados irão conseguir impedir a confecção do lendário selo de Salomão? A resposta para essa e para outras perguntas chega ano que vem, não se preocupem!
Conforme eu havia avisado anteriormente, o capítulo de hoje é o último de 2023. Estou saindo de férias muito em breve e vou ficar um tempo offline, para recarregar as energias. A previsão de retorno das postagens é entre o final de janeiro e o começo de fevereiro de 2024, ainda não defini exatamente o dia porque depende de alguns outros compromissos meus. Fiquem atentos às notificações para saberem quando os novos capítulos forem publicados, ok?
Aproveito esse espaço para agradecer mais uma vez a todos vocês que acompanham o Clube da Lua e desejar boas festas e um ótimo ano novo. Que o ano que vem seja melhor do que esse e nos presenteie com muitas coisas boas e sonhos realizados. E uma pitada de magia, é claro!
Até ano que vem! Um forte abraço em cada um de vocês! 🖤
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