Capítulo 21 - O Primeiro Dia Sem Você
Lynx não se mexia. Sua respiração estava fraca e seu corpo muito quente. Alec sabia que um banho frio não ia ser de grande ajuda dessa vez. Ele tentou acordar o anjo, mas diferente da outra vez, ele não dava qualquer indício de que poderia estar minimamente consciente. Aquelas listras vermelhas esquisitas se espalhavam por seu corpo misturando-se as suas tatuagens, como se fogo líquido estivesse correndo por suas veias. Sua pele era como mármore rachando. Tomado pelo desespero, Alec simplesmente pegou Lynx nos braços e saiu com ele mansão afora. Era como se os instantes que antecederam esse momento de terror sequer tivessem acontecido. Alec, que antes estava tomado por desejo e euforia, agora só sentia pânico e medo.
Havia apenas um destino em mente. A primeira pessoa em quem pensou e a única pessoa naquele lugar que ele achava que poderia ajudar a fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Alec sentia um nó sufocar sua garganta. Deveria ter sido mais esperto, lido livros como Rebeca fez, assim saberia se Lynx estava realmente morrendo em seus braços ou não.
Os portões do castelo de Luce se abriram automaticamente para ele, como se já o reconhecesse como parte do grupo. Ele sequer havia parado para pensar se ela estaria lá, foi apenas guiado por intuição e o pavor de algo muito ruim estar acontecendo.
Empurrou as portas duplas de entrada com o pé. Qualquer um que o visse naquele estado pensaria que ele tinha enlouquecido, mas não havia nada além de sombras no recinto. Ao atravessar o salão, ajeitou Lynx nos braços, o pescoço dele tombou para o lado como se ele fosse um boneco de pano. Os cílios claros contra a face fazia parecer que ele estava apenas dormindo pacificamente... Se você ignorasse o fato de que ele estava brilhando como se fosse uma estrela prestes a explodir.
Sem prestar muita atenção no caminho, Alec simplesmente irrompeu na sala de reuniões chutando a porta.
Luce e Angela que estavam curvadas dobre a mesa observando o que parecia ser um mapa, olharam para ele sobressaltadas com a aparição brusca e repentina. A mão de Angela voou para o cabo da espada presa em sua cintura, mas ela relaxou ao ver Alec. Luce, no entanto, ficou tensa ao ver Lynx desmaiado em seus braços.
-Luce, me ajuda. - Alec não se importou com a emoção crua exposta na própria voz. -Ele... Eu não sei o que está acontecendo.
Luce se afastou da mesa rapidamente. Angela continuou parada, apenas assistindo a cena.
-Coloque ele aqui. - ela foi até o sofá no canto - que Alec nem tinha notado estar ali - ajeitando uma almofada no braço do móvel. Alec deitou Lynx com cuidado, e deu um passo para trás olhando para o anjo como se esperasse que ele fosse acordar a qualquer momento, mas isso não parecia muito provável.
-O que é acontecendo? Tem a ver com os poderes dele? - em seu estado, Alec sequer percebeu que as próprias mãos estavam cerradas em punhos ao lado do corpo, as unhas se enterrando na palma.
-O último estágio. - as palavras de Luce não esclareceram nada. Sua preocupação inicial ao ver Alec surgindo ali com Lynx se transformou em calma, mas com uma pontada de pesar. -Aconteceu antes do que eu esperava.
-Que último estágio? - a voz de Alec soou alta demais aos próprios ouvidos.
-Da transformação de anjo em anjo caído. - seus olhos brancos se voltaram para ele. -Ele não esta morrendo, se acalme, Alec.
Ele não está morrendo. O alívio que Alec sentiu com essas palavras foi tão grande que seus joelhos quase cederam. Com a sensação de pânico se esvaindo, ele conseguiu sair do estado de choque e se aproximou de Lynx, ajoelhando na beira do sofá. Pegou a mão dele que estava extremamente quente ao toque.
-Luce tem algo que não entendo. - ele ergueu o rosto para encontrar os olhos dela. -Se Azazel não é realmente um anjo, se a Cidade Fluorescente não é o céu... Lynx não poderia ser banido de verdade e seus poderes não deveriam ser afetados, pois tecnicamente Azazel não tem nenhum poder sobre ele.
-Você está certo. - inesperadamente, Luce se aproximou e ajoelhou de frente para Alec, olhando para Lynx com um carinho quase maternal. -Mas ainda não tenho uma resposta para isso.
-Mas o que acontece agora? Com Lynx? - ele indagou a Luce. A voz baixa e impotente.
-O corpo entra numa espécie de estado inerte enquanto a mudança acontece. - ela explicou de maneira mais suave do que Alec já tinha visto ela falar até agora. -O que ainda resta dos poderes angelicais dele estão sendo consumidos por outra coisa... Outros tipos de poderes. Quando ele acordar vai ter uma essência diferente, mas não vai morrer. Quando um anjo cai, primeiro ele enfraquece para depois voltar mais forte.
-E quanto tempo isso vai levar? - a voz dele continha uma pontada de ansiedade. -Ele vai acordar logo, né?
-Depende muito. - Luce respondeu com cautela, parecendo não querer piorar o estado de Alec. -Talvez seja apenas alguns dias... Talvez alguns meses. Talvez anos.
Alec ergueu a cabeça bruscamente.
-Anos? - ele virou o rosto, olhando para Lynx e evitando o olhar de pena de Luce. Ele engoliu um gosto salgado enquanto sentia as lágrimas queimarem atrás dos olhos.
-Mas ele vai acordar. - quem falou foi Angela, tentando tranquilizá-lo. Alec tinha até se esquecido de que ela estava ali. -Temos que colocar ele em algum lugar confortável e esperar. Tem alguns quartos aqui...
-Não. - Alec se levantou com um movimento rápido. -Vou levá-lo de volta para a mansão.
-É o melhor. - concordou Luce. -E Alec, ele vai ficar bem, não tem com o que se preocupar.
-Tá bom. - foi tudo que Alec conseguiu responder. Sua voz não tinha um pingo de emoção, como se ele fosse um robô repetindo uma frase.
Seu humor tinha ido de desespero sufocante para apatia dormente. A situação tinha causado algum efeito nele, seu corpo inteiro tremia e uma sensação de formigamento se espalhava por sua pele.
Acompanhado de Luce e Angela, ele levou Lynx de volta para a mansão e o acomodou na cama da suíte em que ele dormia, decidindo que ele dormiria em outro quarto.
-Se precisar de algo, não hesite em nos procurar. - Luce apertou a mão dele antes de sair pela porta da frente. Angela lhe lançou um olhar solidário e foi atrás dela. Elas não falaram muito durante todo tempo, como se soubessem que Alec não queria ouvir nada. E que nada do que dissessem poderia aplacar a tristeza que ele estava sentindo.
Sentado nos pés da cama observando a forma inerte de Lynx, ele não conseguia deixar de pensar o quanto tudo em sua vida era frágil como uma folha de papel se desintegrando em uma poça d'água. Quando era criança pensava que sua vida era perfeita com seus pais amorosos, quando cresceu descobriu que não era verdade. Saiu de casa decidido a realizar um sonho, porém, não tinha feito progresso nenhum em todo esse tempo, dizendo a si mesmo que não era o momento certo, mas sabia bem que a verdade era que nunca tinha feito nenhum esforço para esse sonho acontecer. E mesmo agora nessa sua nova fase de sua vida, sempre que ele achava que estava tudo bem, algo acontecia como se fosse um lembrete de que ele nunca teria paz de verdade ou se sentiria pleno com nada.
Por mais que ele tentasse se enganar dizendo que sim.
Era verdade que ele tentava não se deixar abalar pelos obstáculos, mas as vezes era tão cansativo. Diziam que reclamar da vida não adiantava nada, mas aparentemente, aguentar os tombos com um sorriso no rosto, também não. Sua paciência também estava se esgotando, ela sentia como se estivesse andando sobre gelo fino e o próximo passo em falso o faria cair em um mar quente de fúria.
Obviamente, ele não estava se sentindo assim só porque sua sessão de amassos com Lynx tinha sido interrompida por um coma. O fato era que ter achado que Lynx estava a beira da morte tinha lhe causado um desespero que ele nunca sentiu antes, um gatilho que trouxe todos esses sentimentos e pensamentos à tona.
Alec suspirou tentando bloquear a torrente de caos em sua mente. Se levantou e ajeitou as cobertas ao redor de Lynx. Com uma última olhada no anjo adormecido, saiu do quarto.
Um silêncio sufocante parecia ter se assentado na mansão. Os corredores pela primeira vez pareceram sombrios enquanto Alec vagava por eles. Ou talvez fosse ele que se sentisse assim. Sem pensar muito ele entrou na biblioteca. Sempre tinha achado o cheiro de papel reconfortante. As lâmpadas estavam acessas, deixando o ambiente banhado em luz artificial. Alec se aproximou das prateleiras andando entre elas até achar as que procurava.
A sessão sobre anjos.
Talvez houvesse algo naqueles livros, alguma forma de acelerar o processo e fazer Lynx acordar logo. Ele sabia que era pouco provável, mas tinha que procurar mesmo que fosse só para ter algo com que se ocupar e não pensar em mais nada. Quando se deu conta, uma das mesas estava lotada de pilha de livros, e embora ele tenha passado os olhos por muitos trechos interessantes, não achou o que realmente procurava.
Alec parou no meio do corredor da biblioteca reavaliando seu comportamento. Então largou o livro que estava prestes a pegar e sentou-se no chão encostado na estante.
Lynx não estava morrendo. Repetiu a si mesmo várias vezes. Ele estava sendo exagerado ficando todo desesperado e depressivo desse jeito. Era só que a ideia de Lynx morrer causava nele um pânico tão grande que ele sentia como se ele próprio fosse morrer também, e isso o assustava. Por que esse sentimento era tão intenso?
No entanto, mesmo que Lynx não estivesse a beira da morte, havia algo sobre a situação que era muito perturbador. Ele poderia levar anos para acordar. Anos.
-Até lá eu posso estar morto. - Alec sucumbiu a loucura falando sozinho. -Mesmo se não estiver morto, ele pode acordar quando eu estiver todo velho acabado. Duvido que ele vá me querer todo velho acabado.
A essa altura ele parecia um doido resmungando para os livros, mas não se importava. Alec encolheu as pernas abraçando-as contra o peito e apoiou a testa nos joelhos. Não conseguia chorar, embora a garganta doesse muito com as lágrimas não derramadas. Ele tentou se recompor e se levantou, deixando a bagunça para trás.
Entrou no quarto ao lado da suíte, o que supostamente era o quarto de Lynx. Era menor, mas ainda assim confortável, tinha um banheiro no qual Alec perdeu a noção de quanto tempo ficou embaixo do chuveiro deixando a água cair no corpo. Quando saiu os dedos estavam enrugados. Ele se vestiu com as roupas que tinha trazido do outro quarto, moletom e camiseta, e deitou na cama encarando o teto insone até ser vencido pela exaustão.
~•☆•~
Um barulho ressonante o despertou, mas ele não se mexeu. Alec abriu os olhos e viu a claridade do dia entrar através das cortinas. Teve um breve momento de confusão por ter acordado em um quarto diferente, então a noite passada inundou sua mente com uma enchente de memórias. Lynx estava em coma, e ninguém sabia quando ele iria acordar. O barulho ecoou novamente. Alec moveu os olhos para a porta do quarto enquanto os ouvidos tentavam processar que som era aquele. Foi só na quinta vez que ele percebeu que se tratava de uma campainha. Empurrou as cobertas e se levantou vagarosamente sentindo uma dor irritante de pescoço.
Ao abrir a porta de entrada se deparou com Castiel parado lá fora. Os cachos ruivos dele voavam com o vento, e ele estava curvado com as mãos nos bolsos da jaqueta parecendo infeliz. Alec reparou que ele tinha uma mochila nas costas como um adolescente indo para a escola. Seria uma cena engraçada se Alec tivesse energia para usar o senso de humor naquele momento.
O dia em estava mais frio e Alec tremeu quando o vento entrou pela fresta que ele tinha aberto na porta.
-Soube o que aconteceu com Lynx. - Castiel disse como cumprimento. -Eu esperava que fosse acontecer, mas não agora...
Alec abriu mais a porta e deu um passo para o lado para deixá-lo entrar. Sem responder, Alec seguiu para cozinha. Não estava com um pingo de fome, mas achava que café puro e amargo o seria necessário para fazê-lo funcionar melhor naquele dia.
-Luce disse que ele pode demorar anos para acordar. - a voz de Alec ainda estava rouca de sono.
-Na maioria das vezes, mas nem sempre, Lynx vai acordar logo. Eu sinto. - apesar de suas palavras, ele não parecia nada confiante.
Quando Alec se virou, com a caneca de café na mão, Castiel observava ele atentamente. Como se esperasse que Alec fosse dar um chilique ou se afogar em lágrimas. Contudo, não era do feitio de Alec ser tão emotivo na frente dos outros. A última vez que chorou na frente de alguém foi quando saiu de casa e seus pais disseram que se ele não parasse de frescura e voltasse podia esquecer que tinha família.
-Vamos para sala de estar. - Alec seguiu pelo corredor sem prestar atenção se Castiel o seguia ou não. Ele sentia como se ainda estivesse dormindo, ou como se fosse um fantasma vagando pela mansão assombrada.
-Descobriu algo sobre Azazel? - Alec perguntou se encolhendo no sofá, enquanto bebia o café. Por pior que se sentisse, ele não queria ficar choramingando sobre o estado de Lynx.
-Nada. - Castiel parecia irritado e frustrado ao sentar no sofá de frente para ele. -Acho que ele não confia mais em mim. Deve ter descoberto que tenho ligação com Luce e os mestiços. O que torna meu trabalho muito mais difícil.
-Tente descobrir algo com Amarantha então, deve ser mais fácil chegar nela. - Alec sugeriu, mas não tinha muita certeza de que seria fácil. Amarantha não parecia alguém fácil de conseguir qualquer coisa.
-Vim por outro motivo também, queria te dar algo. - ele tirou a mochila das costas e tirou algo de dentro. Era um celular. Ele o estendeu para Alec. -É o primeiro protótipo de um celular movido a magia.
Castiel parecia muito orgulhoso disso. Ele continuou:
-Aparelhos comuns não funcionam aqui dentro da cidade, mas tenho conversado com Luce e outras pessoas para desenvolver uma tecnologia que funcione tipo TV e Internet.
Alec estendeu a mão para pegar o aparelho e o virou na mão, parecia um celular comum. Ele teve uma vaga noção de que tinha perdido o próprio celular em algum lugar, mas não era útil ali dentro de qualquer jeito, então ele não se importou muito.
-Isso é muito legal. - Alec tentou parecer animado, mas soou muito forçado. Em outras circunstâncias, ele teria ficado genuinamente empolgado com isso, mas no momento isso era tudo o que conseguia dizer.
-No momento só existem dois, esse é o meu. - ele tirou um aparelho igual do bolso da jaqueta e sorriu chacoalhando ele para Alec. -Estou trabalhando em melhorias, então quis que você ficasse com um para me ajudar no feedback.
-Ah sim. - Alec bebeu outro gole de café olhando cegamente para o objeto na mão de Castiel. Pensando bem, Lynx também havia perdido seu celular, Alec tinha quase certeza de que ele tinha esquecido no apartamento. Não que isso importasse agora, pessoas em coma não usavam celulares.
-Alec, você não pode ficar assim, - as sobrancelhas de Castiel estavam franzidas de preocupação. Ele ajeitou os óculos. - sei que está mal, mas Lynx não gostaria de te ver desse jeito.
-Pare de falar como se ele estivesse morto. - Alec disparou com ignorância. -Além disso, acabei de acordar depois de uma péssima noite de sono, como você quer que eu fique?
Castiel parecia ter levado um tapa. Ele abriu a boca para responder, mas as palavras não saíram. Alec pareceu ter acordado de um cochilo, ele arregalou os olhos percebendo o quanto tinha sido rude. A culpa caiu sobre ele como um balde de água fria.
-Castiel, me desculpa. - ele esticou as pernas e pousou a caneca e o celular na mesa de centro. -Eu não devia ter falado assim, e sei que você tem as melhores das intenções. Eu só... Não queria falar com ninguém hoje.
-Tudo bem. - Castiel deu um sorriso compreensivo que fez Alec se sentir ainda pior. -Eu já estou de saída mesmo, só queria ver como você estava, e trazer o celular.
-Não precisa ir embora. Sério. - Alec assegurou se sentindo extremamente culpado. -Quer ir ver Lynx?
-Não. - Castiel balançou a cabeça. -Mesmo sabendo que tudo vai ficar bem, não sei se aguento ver ele assim.
Eles ficaram em silêncio por um tempo. Alec olhou para Castiel um pouco e um outro pensamento lhe surgiu.
-Quanto mais penso no que Azazel fez, mais as coisas fazem sentido. - ele disse. Em parte porque queria dizer algo para quebrar o silêncio estranho, mas também porque era algo que ele realmente queria dizer a Castiel.
-Como assim? - o anjo, que tinha os cotovelos apoiados nos joelhos parecendo distraído, olhou de volta para ele.
-As regras que vocês seguiam, não faziam o menor sentido. - Alec começou. -Tipo, tudo bem, vocês tinham funções diferentes, mas porque você podia ter acesso ao mundo mortal sem restrições e o Lynx não? Era como se Azazel estivesse restringindo ele de propósito. Acho que ele queria controlar Lynx.
-Sim, também acho. - Castiel concordou franzindo o rosto. -Também penso muito nessas coisas, sabe... Azazel me mandava em muitas missões no inferno, e a maioria não fazia sentido. Acho que ele só queria que eu ficasse de olho nas coisas para ele, já que ele próprio não podia voltar para casa.
-Eu tenho uma teoria. - Alec pegou de volta seu café amargo e de ajeitou um pouco no sofá. -Sobre como vocês podem ter ido parar lá na Cidade Fluorescente.
Castiel se inclinou para frente com interesse.
-Acho que de alguma forma ele conseguiu, por falta de palavra melhor, sequestrar vocês quando se tornaram anjos, sei lá. - Alec fez uma pausa pensando em como explicar. -Seria como roubar um bebê no hospital. O que acha disso?
-Alec, na verdade isso faz muito sentido. - disse Castiel espantado. -Quando nos tornamos anjos, passamos por um período de confusão, seria muito fácil sermos enganados. Mas se ele realmente fez isso, não foi sozinho, alguém do céu deve ter ajudado ele. Alguém com acesso ao céu de verdade.
Ambos ficaram imersos nos próprios pensamentos, em silêncio. Alec olhou para o anjo de cabeça abaixada e sentiu culpa de novo, pelo ataque de antes.
-Castiel, me desculpe, pela forma que falei com você. - Alec sentia como se estivesse areia nos olhos. Castiel ergueu a cabeça saindo de seu estado reflexivo e foi até onde ele estava sentado no sofá, e deu um aperto em seu ombro.
-Luce disse que o coma de Lynx é igual a um coma de uma pessoa normal, tente conversar com ele, talvez ele possa ouvir. - Castiel começou a se afastar para sair, mas parou na entrada da sala. -Pode ser bom para vocês dois.
-O que você vai fazer agora? - Alec ignorou o entendimento que parecia haver nos olhos de Castiel, como se ele soubesse dos sentimentos entre os dois.
-Seguir seu conselho e tentar descobrir algo através de Amarantha. - o sorriso dele era travesso. -Não acho que vai dar em algo, mas não custa tentar.
E então ele se foi.
Alec pegou o celular em cima da mesa e ligou a tela. Era como qualquer outro aparelho comum, mas a interface era um pouco diferente, e tinha um mapa da Cidade dos Mestiços nos aplicativos. Ele gostava muito de Castiel, mesmo não estando presente o tempo todo ele sempre estava ali quando Lynx e ele precisavam. Ele era muito gentil e havia ajudado de muitas maneiras. Alec se sentia horrível pela patada que dera nele. No entanto, antes que pudesse continuar remoendo a culpa, a campainha tocou novamente. Ele pensou seriamente em ignorar, mas a visita de Castiel lhe deu algum ânimo então ele foi atender.
-Oi, amigo. - disse Rebeca com uma cara de choro como se fosse o namorado dela que estivesse em coma.
Não que Lynx seja meu namorado. Alec se corrigiu.
-Oi, entra. - ele fechou a porta depois de ela entrar no hall e os dois foram para a sala de estar. -Já tomou café?
Rebeca ignorou a pergunta.
-Cadu me contou sobre Lynx e vim aqui ver como você estava.
-Eu estou bem. - Alec sorriu.
-Não parece.
-Talvez seja porque não tive nem tempo de escovar os dentes e jogar uma água na cara ainda. - ele disse meio irritado.
Rebeca se sentou no sofá como uma princesa paciente. Ela usava um vestido rosa claro mais comportado do que a maioria de suas roupas, e uma sandália combinando. O cabelo loiro geralmente liso estava ondulado e sua maquiagem era leve, do tipo "Estou maquiada, mas homens idiotas acham que acordei assim". Ela encarou Alec.
-Vai lá então, e troca de roupa porque vamos sair. - seu sorriso era suave, mas sua voz era decisiva.
-Não estou no clima.
-Não te perguntei! - outro sorriso doce. -Vai logo. Vamos almoçar em um lugar que eu gosto com o dinheiro que meu namorado anjo rico me deu. - ela fez um gesto como se estivesse espantando um cachorro vendo que Alec não se mexeu. -Se não for, eu vou fazer o seu dia muito insuportável.
Ele revirou os olhos e subiu para se trocar. Escovou os dentes, lavou o rosto e colocou uma roupa simples jeans e camiseta pretos, coturnos, e desceu de volta. Rebeca esperava no hall.
-Esse lugar é incrível. - ela admirava os quadros nas paredes. -E sim, eu bisbilhotei um pouco enquanto você se arrumava.
-Lynx tem bom gosto. - Alec sorriu um pouco. -Ele também é meio exagerado, montou uma biblioteca só porque gosto de ler. Também tem uma sala de música.
Rebeca olhou para ele de boca aberta.
-Sério, pega esse cara e não larga nunca mais.
-Será que é uma boa ideia deixá-lo sozinho? - Alec olhou para o topo das escadas como se pudesse visualizar Lynx lá em cima deitado.
-Ele vai ficar bem amigo, está seguro aqui. - Rebeca deu um leve aperto na mão dele.
-Então vamos. - Alec retribuiu o aperto.
Tudo parecia meio distante para Alec conforme ele e Rebeca caminhavam pelas ruas da cidade. Apesar do vento mais frio, o dia estava bonito, as ruas cheias e vividas, mas Alec olhava para tudo meio entorpecido. Ele não queria se sentir assim, mas não conseguia evitar. Pela primeira vez em sua vida, estava tendo dificuldade em fingir que estava tudo bem.
Tentou deixar um pouco dessa sensação ruim de lado pensando no quanto ele se sentia grato por todas as pessoas a sua volta. Angela e Luce surpreenderam ele no dia anterior, com a solidariedade silenciosa. Castiel fora até ali não só pelo melhor amigo, Lynx, mas porque se preocupou com Alec também. E Rebeca, ele percebeu que ela era uma amiga mais preciosa do que ele imaginava e se sentia muito agradecido por ela estar com ele, também sentia que devia valorizar mais ela. A jovem estava disposta a arrastá-lo emburrado para fora de casa correndo o risco de levar xingo dele, só para não vê-lo afundando em auto piedade.
No entanto, nem mesmo toda essa onda de compaixão de seus amigos estava sendo o suficiente para fazer ele se sentir melhor, e isso de certa forma fazia ele se sentir pior, justamente por não ser o suficiente.
-Alec? Alô? Tá me ouvindo? - a mão de Rebeca dançava na frente de seu rosto.
Ele piscou acordando do devaneio depressivo e olhou para a amiga se sentindo culpado.
-Desculpa, fiquei distraído.
-Amigo... - a pena no olhar dela fez ele desviar o olhar. -Ele vai voltar logo, não fica assim.
Alec se sentiu meio exasperado, mas não queria ser grosso com Rebeca também então respirou fundo.
-Não quero falar sobre isso, ok? Eu sei que vai ficar tudo bem. - ele próprio não acreditava nisso. -Onde vamos comer?
Rebeca não pressionou, conhecia Alec o suficiente para saber que ele não gostava de demonstrar quando estava mal e muito menos falar sobre o que o deixava assim.
-Logo ali. - ela apontou para um pequeno estabelecimento de tijolos vermelhos desbotados e portas de madeira escura. O prédio ficava em uma esquina, quase no finalzinho da Rua Mil Alegrias. Havia uma placa de madeira acima da entrada escrito "Caminho de Casa". Um restaurante de comida caseira. O melhor da cidade dizia uma placa na vitrine.
-Parece aconchegante. - Alec comentou só para preencher o silêncio.
O lado de dentro do lugar era de fato aconchegante, e o cheiro de comida caseira preenchia o ar. Alec tentou conjurar uma lembrança de sua infância, de sua mãe cozinhando, mas na conseguia se lembrar se ela fazia a comida ou não. Provavelmente não, deixava tudo na mão dos empregados.
Rebeca escolheu uma mesa próxima a janela que dava para ver bem o movimento da rua. Alec se sentou de frente para ela na mesa arredondada. Os dois jovens foram atendidos por uma garçonete sorridente que tinha uma trança de cada lado da cabeça. A moça anotou o pedido deles e saiu para a cozinha.
Devido ao estado de espírito de Alec, a jovem não tentou mais iniciar uma conversa. O que fez ele sentir culpa pela milésima vez no dia e não fazia nem duas horas que ele tinha acordado. Parecia que depressão e culpa eram os pratos do dia. Então ele decidiu se esforçar. Era assim que sempre fazia. Seguir em frente como se não estivesse sentindo nada, mesmo quando sentia tudo.
-Como está o Cadu? Muito ocupado? - ele perguntou a ela.
-Ah sim. - Rebeca que estava com o queixo apoiado na mão olhando cabisbaixa pela janela, ergueu a cabeça. -Você sabe, com toda essa coisa de tentativas de invasão e o traidor, ele vive em reuniões com os outros do esquadrão.
-Se você se sentir sozinha pode aparecer lá na casa quando quiser, sabe disso, não é? - Alec falou ao ver a expressão chateada dela.
-Não é só isso...
-Então o que é?
Ela suspirou e ergueu uma sobrancelha.
-Bem, como você se sentiria se o Lynx trabalhasse com algum ou alguma ex dele?
-Lilith?
-Rá! Você percebeu, né? O jeito que ela olha para mim, se um olhar matasse eu já estaria morta e enterrada.
-Percebi... Mas ela não parece má pessoa.
-Ninguém parece no começo.
-Acho que você está exagerando um pouco.
-Sei lá, Alec... Tem algo nela que me incomoda.
-Você só está com ciúmes.
-Pode ser, mas acho bom ela ficar bem longe dele.
-Isso é muito engraçado considerando que você nem queria reconhecer que namorava o cara.
Ela pareceu envergonhada.
-Eu sei, fui tão boba, né? Achando que tudo se resumia a aparência e status...
-Você se apaixonou antes ou depois de descobrir que ele tem sangue de anjo? - Alec perguntou apenas por curiosidade.
-Foi antes. - ela respondeu. -Não teria feito diferença. Me apaixonaria por ele de qualquer forma.
-Fico feliz que esteja feliz.
Nesse momento a garçonete chegou com os pratos deles, colocando-os na mesa. Alec pediu um prato simples de arroz, feijão e bife, com batata frita. Rebeca não comia carne e pediu só salada. Alec sempre ficava preocupado com o quão pouco ela comia e não ficava com fome depois.
-Mas e sobre seus outros problemas, alguma novidade? - ela começou a comer sua salada.
-Stalker e Azazel? - Alec começou a comer também, mas meio a contragosto. Estava bom, mas ele se sentia meio nauseado.
-Aham. - ela respondeu enquanto mastigava.
-Nada novo, só que os dois aparentemente são obcecados por mim, mas ninguém consegue entender o motivo.
-Será que não são a mesma pessoa? - sugeriu Rebeca pensativa. -Cadu me contou um pouco sobre Azazel, que ele é um Príncipe do Inferno... Vai ver e é o demônio que tem te perseguido também.
-Talvez. - Alec manteve o olhar fixo na mesa como se estivesse pensando. -Ele pode ter usado aquela máscara para esconder a verdadeira identidade, mas por quê?
-Também não sei... Mas sinto que que breve vamos descobrir. - Alec pensou que ela estava brincando a princípio, mas então viu sua expressão séria olhando distraída pela janela e sentiu um tremor.
Após o almoço eles decidiram dar uma volta pelas ruas. Rebeca apontava lugares que já tinha ido e que queria levar Alec algum dia.
-E seus pais, Rebeca? Eles não estão procurando por você ou questionando seu sumiço?
-Meus pais? Ah, eles pensam que eu estou em Paris. - ela riu. -Disse a eles que Cadu é um empresário e que me chamou para viajar com ele.
De repente ela arregalou os olhos animada.
-Aaah! Vamos entrar ali? - ela sugeriu sorrindo e apontando.
Alec seguiu com o olhar a direção de sua mão estendida e viu uma pequena loja com a fachada pintava de um roxo forte. Ao lado da entrada havia uma pequena fonte com peixes coloridos nadando. Ele se virou para a amiga.
-Uma vidente? Sério?
-Não é só uma vidente. É a... - Rebeca apertou os olhos lendo a placa enorme acima da entrada. -Incrível Madame Lara.
Alec riu do deboche da amiga, a primeira risada genuína daquele dia.
-Isso é besteira. - Alec não acreditava em videntes. Para ele, todas essas pessoas que prometiam adivinhar o futuro ou ler a sorte não passavam de charlatães muito bem instruídos na arte de enganar os mais ingênuos.
-Então videntes é o seu limite? - Rebeca colocou as mãos na cintura. -Anjos, demônios, uma cidade mágica é aceitável, mas videntes não?
-É diferente... - ele colocou as mãos no bolso de trás da calça. -Me parece bobo acreditar que alguém possa prever o futuro. Muitos deles apenas sabem ler as pessoas e dão alguns chutes de sorte.
-É isso mesmo ou você só está com medo de ela revelar os desejos obscuros do seu coração? - ela ergueu uma sobrancelha desafiadora.
Alec revirou os olhos.
-Pelo amor, já que você quer tanto, vamos lá então. - Não era como se ele tivesse algo melhor para fazer, além de remoer as próprias tristezas. E Rebeca parecia querer muito isso, não por acreditar em videntes em si, mas pela experiência.
Um sino soou na porta quando eles adentraram a loja e o cheiro de incenso os atingiu fortemente. Alec sentia como se tivesse entrado em um antiquário misturado com o casa de um acumulador. Eles estavam em um espaço pequeno com duas mesas em paredes opostas entulhadas de coisas. Havia uma tapeçaria na parede, tão desbotada que era impossível distinguir a imagem que retratava. A única iluminação provinha de velas pretas em candelabros nas paredes. De frente para a porta havia uma outra entrada com uma cortina de miçangas, de onde uma mulher saiu apressada.
-Olá! Sejam bem-vindos! - ela parecia muito contente em vê-los, como se fizesse muito tempo que pessoas não entrassem ali. -Me chamo Madame Lara. Fiquem à vontade!
Era uma mulher bem magra. Os cabelos de um vermelho artificial estavam presos de um jeito meio bagunçado e ela tinha uma estrela tatuada na testa. Vestia uma saia roxa longa com uma blusa verde de babados, bem extravagante, e estava descalça, suas unhas das mãos e dos pés pintadas de um azul metálico. Sua expressão era animada de um jeito meio psicótico e ela esfregava as mãos como uma mosca gigante.
Rebeca deu um passo a frente e disse:
-Oi, estávamos só passando e...
-Ah! Sim, claro. - ela interrompeu Rebeca com um sorriso. -A curiosidade! A curiosidade é uma mão de via dupla, nunca sabemos o que ela nos reserva. Venham, venham... Vamos nos sentar. Tenho certeza que podemos tirar bom proveito dessa situação. As vezes é o destino simplesmente nos guiando...
As palavras dela se perderam conforme ela se afastou, atravessando a cortina de miçangas que fez um barulho de pedrinhas caindo quando a mulher desapareceu por ela indo para o outro cômodo.
-Meu pai amado... - Alec tampou a boca para reprimir a risada.
-Para amigo! - Rebeca repreendeu ele, mas ria também. -Temos que ter um pouco de respeito, fomos nós entramos aqui.
-Venham! Estão esperando o quê? O destino não espera! - gritou a mulher enfiando a cabeça através das miçangas, e então desaparecendo de novo.
Alec deu uma cotovelada em Rebeca e apontou com a cabeça em direção a saída. A mulher parecia meio doida. Rebeca apenas riu entretida e puxou Alec na direção em que a vidente tinha ido.
O outro cômodo era pior ainda, as paredes sumiam atrás de pilhas e pilhas de livros e bugigangas. Madame Lara estava sentada atrás de uma mesa redonda, esperando por eles com as mãos cruzadas sobre a mesa. Alec e Rebeca se acomodaram desconfortavelmente nas cadeiras de frente para ela. A mulher fechou os olhos respirando fundo e agitou as mãos no ar, em um movimento circular como se estivesse chamando algo para si mesma.
-Então, como devo me referir aos dois jovens? - ela olhou para eles com seus olhos verdes, mas eram de um verde estranho, tão artificial quanto seu cabelo, como lentes de contato. O estranho era que mesmo com sua vibe esquisita, a voz da mulher era suave e acolhedora, talvez fosse assim que enganava as pessoas.
-Eu sou Rebeca, e esse é meu amigo Alec. - Rebeca os apresentou com um sorriso educado, mas Alec tinha certeza de que ela estava mesmo era julgando o senso de moda da vidente.
Os olhos inquietantes da vidente se fixaram em Alec.
-Jovem Alec, vejo que esta passando por um momento de conflito e tristeza.
Ele resistiu ao impulso de revirar os olhos. Não era como se ele estivesse conseguindo esconder que se sentia péssimo, qualquer um que olhasse em sua cara conseguiria notar.
-É mesmo? E por que exatamente a senhora acha isso? - ele rebateu cruzando os braços.
Ela riu.
-Vejo que não acredita em mim, provavelmente só entrou porque sua amiga o persuadiu. - a voz dela tinha se tornado suave e aquela animação inicial se tornou uma calma enigmática. Sua expressão agora era de avaliação.
-Isso é fácil de perceber. - Alec ergueu uma sobrancelha.
-Bem, e que tal isso... - Madame Lara se inclinou para frente apoiando os cotovelos na mesa. -Você está apaixonado, mas não consegue admitir seus sentimentos porque não conhece inteiramente a pessoa que ama e sente que existe algo sobre ele que o impede de aceitar tais sentimentos... Um segredo talvez?
Alec encarou a mulher paralisado, mas se esforçou a não deixar nada transparecer. Principalmente porque ela estava certa. Mais ou menos. Alec sentia que Lynx ainda escondia algo dele, mas ele estava aos poucos se abrindo e logo Alec descobriria o que era. No entanto, estava errada sobre a parte de estar apaixonado. Alec gostava de Lynx e se sentia fortemente atraído por ele fisicamente, mas era só isso.
Pelo menos, era o que ele fingia acreditar.
-Isso é uma previsão muito vaga. - a risada dele saiu tremida. -Qualquer pessoa que entrasse aqui poderia estar em uma situação como essa.
Madame Lara deu de ombros.
-Talvez, mas no fundo você sabe que é verdade.
-Se você diz. - o tom de Alec era de ironia. -Vamos supor que é verdade, então agora porque você não me conta algo que não sei.
-Bem... - ela deu outro olhar fixo em Alec, que lhe causou arrepios dessa vez. -Em breve, você terá uma reunião de família, mas vai ter uma briga feia com seu pai.
Ela inclinou a cabeça como um pássaro e franziu o rosto.
-Minha nossa, muito feia. - disse alarmada.
-Meus pais? Eles vão descobrir sobre esse lugar? Sobre tudo? - Alec tinha sido pego de surpresa demais pela menção aos pais, para se importar em zombar da mulher.
-Talvez já tenham descoberto nesse exato momento. - disse Lara. -E tome cuidado com seus inimigos, eles estão cada vez mais próximos de conseguir o que querem de você.
Alec ficou parado encarando a mulher, então olhou para Rebeca que parecia assustada e com um leve olhar de desculpas. Entrar ali tinha sido um jeito de animar Alec com algo que no fundo ela também considerava bobo, mas o efeito tinha sido contrário. Alec estava ainda mais inquieto.
-Já chega, vamos embora. - Rebeca se levantou puxando Alec pelo braço.
-Não quer que eu preveja nada para você mocinha? - a vidente sorriu satisfeita como uma cobra.
-Não, obrigada, não preciso saber o que já sei. - o tom de Rebeca era direto.
-E o que seria isso?
-Que sou muito sortuda.
Então ela arrastou Alec para fora do estabelecimento. Os dois ficaram parados na calçada por um momento então Rebeca quebrou o silêncio com um suspiro.
-Amigo, me desculpa.
-Ah... não, não foi nada. - Alec saiu do estado de torpor.
-Eu não sabia que ela ia ser tão certeira. No fundo, também achei que era bobeira.
-Mas é. - Alec falou convicto. -Percebi que todo mundo na cidade meio que sabe quem Lynx e eu somos, não seria difícil para ela descobrir sobre nossas vidas e fazer previsões baseadas nisso. O resto ela simplesmente chutou Vamos esquecer isso.
No entanto, Alec não parou de pensar nisso mesmo depois de se despedir de Rebeca e ir embora para casa.
Ainda no gramado que levava a mansão, ele viu uma pequena figura parada próxima às pilastras que sustentavam a entrada. Ela vestia um casaco longo por cima do uniforme do esquadrão. Era Luce. Ao que parecia, todo mundo queria ver ele hoje.
-Olá, Alec. - ela o cumprimentou quando ele se aproximou e parou silenciosamente ao lado dela.
-Oi, Luce. Veio ver Lynx?
-Não, vim ver você. Se está bem...
-Vou ficar se ninguém ficar me perguntando toda hora. - ele se repreendeu imediatamente pelo jeito de falar. -Desculpa. Nem sei por que estou agindo assim.
-Eu acho bem óbvio, mas você não está pronto para admitir isso ainda.
Alec rangeu os dentes com a segunda pessoa no dia achando saber mais sobre os sentimentos dele do que ele próprio. Além disso, desde quando tinha esse tipo de conversa com Luce? Por mais gentil que ela fosse, era uma figura distante de autoridade e não uma amiga próxima. Exceto que ao olhar para ela, Alec percebeu que não era verdade, ela parecia genuinamente preocupada com ele.
-Sei o que está pensando. - ela disse. -Que não somos próximos o suficiente para eu vir aqui lhe oferecer um ombro amigo, mas ouça isso, menino. Todos dentro das barreiras dessa cidade são minha família. Especialmente os mais próximos de mim, como Lynx. Tenho muito carinho por ele, e sei o quanto estar com você deixa ele feliz.
-Eu...
-Além disso, - ela tinha um sorrisinho astuto no rosto. - fui com a sua cara, e sei que vai se dar muito bem aqui.
Até eu ir embora, pensou Alec, mas não disse em voz alta.
-Obrigado, Luce. - ele estava sendo sincero. -Se não se importa, vou subir agora. Me sinto meio cansado.
-Certo. Se precisar de algo, sabe onde me encontrar. - e com isso ela abriu as asas e simplesmente saiu voando. Suas asas eram brancas mas tinham um brilho arroxeado. Alec ficou admirando ela se afastar, depois entrou para dentro.
Ainda era o meio da tarde, mas ele pretendia tomar um banho e tentar dormir um pouco. Porém, assim que colocou a mão na maçaneta da porta do quarto que ele tinha ocupado, desistiu e entrou no quarto ao lado.
Lynx estava do mesmo jeito que ele deixara na noite anterior. Com as cobertas até a cintura, de barriga para cima. As veias vermelhas tinham sumido, e sua respiração tinha se estabilizado. Era como se ele estivesse apenas dormindo, mas um sono bem profundo. Um príncipe esperando o beijo que iria despertá-lo, exceto que Alec jamais beijaria uma pessoa desacordada. Além disso, de acordo com os contos de fada tinha que ser um beijo de amor verdadeiro. Alec não o amava.
Ele observou o anjo adormecido por um tempo, como se ele fosse um fantasma parado no pé da cama. Alec suspirou fundo e tentou sorrir. Estava tudo bem.
Ele sentia que tinha punho ao redor de seu coração apertando sem piedade. Mas estava tudo bem. Também sentia que seus pulmões estavam sendo pressionados por um bocado de pedras. Mas estava tudo bem. Alec deu as costas para a cama e saiu do quarto sem notar a lágrima que escorreu pelo canto de seu olho.
Estava tudo bem.
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