Capítulo 17 - Uma Pequena Surpresa

Deitado na banheira quase submerso na água, Alec repassava todos os acontecimentos das últimas horas na cabeça. Lynx com febre por causa de seus poderes fracos. Lynx grudado nele a noite toda por causa de tal febre. O ataque de Amarantha. O beijo. Sua chegada na Cidade dos Mestiços e o cenário surreal daquele lugar. Luce e os Capitães. O outro beijo. A casa de Lynx equipada para agradar Alec. Era muito para processar, mas ele sabia que não era nem metade do que estava por vir.

Muita coisa ainda poderia acontecer. Ele conseguia sentir, só não sabia se estava preparado.

Ele submergiu a cabeça na água, ficando embaixo dela por alguns segundos, então emergiu novamente com os cabelos escuros colados na cabeça.

Pelo menos, teria muito com que se ocupar nos próximos dias e isso certamente ajudaria ele a distrair a mente. Alec queria conhecer mais a cidade e seus habitantes.

Após sair da água, ele se secou e colocou uma calça de moletom pronto para se deitar. Mas então seu estômago roncou e doeu, e só então ele percebeu o quanto estava faminto. Não querendo incomodar Lynx, ele vestiu uma camiseta e saiu do quarto com a cozinha em mente.

Apesar de a mansão ser grande, era difícil se perder, pois sua planta era simples. Alec pensou que ela pareceria fantasmagórica com ele andando sozinho pelos corredores, mas não foi assim que se sentiu. Era apenas silencioso, e depois de todo caos que ele vinha enfrentando, aquele silêncio era muito bem-vindo.

Chegando na cozinha, ele começou a remexer nos armários e geladeira, tinha de tudo. Ele pegou pão no armário, queijo, maionese e uma garrafa de suco de laranja na geladeira. Ele fez quatro sanduíches em cima da bancada perto da pia, e quando se virou para pegar um copo no armário quase o derrubou. Lynx estava encostado na soleira da porta da cozinha com os braços cruzados. Ele vestia um moletom e uma regata, ambos pretos, e estava descalço, os cabelos claros molhados. Os braços cruzados faziam os músculos dos braços saltarem e mesmo daquela distância ele conseguia sentir o cheiro vindo de Lynx. Alec engoliu em seco e desviou o olhar.

-Assombração. - Ele colocou o copo em cima da bancada tentando fingir que não tinha se assustado.

Mas Lynx percebeu e riu.

-Tem medo de fantasmas, pequeno Alec?

-Não acredito em fantasmas. - Alec achou irônico dizer isso para um anjo.

-Eu disse que você podia me chamar se quisesse algo. - Lynx apontou para o lanche dele. Ele encarou o anjo com um olhar entediado.

-Não sou um inválido, sabia? Posso fazer um sanduíche sozinho e muitas outras coisas também!

Alec apreciava a gentileza dele, mas não gostava muito de ser tratado como criança.

-Não quis insinuar nada disso, foi mal. - Ele pareceu preocupado de ter ofendido Alec, as sobrancelhas franzidas e os lábios curvados para baixo. -Eu...

-O que eu disse sobre você ficar falando desculpa?

O tom de Alec era brincalhão e provocativo, então aquela expressão de martírio deixou o rosto de Lynx sendo substituída por uma de divertimento.

-Tecnicamente, eu disse foi mal, não desculpa. - O anjo sorriu meio triunfante. -Então não quebrei nenhuma regra.

Alec mastigou um de seus sanduíches lentamente enquanto encarava ele.

-Mesma coisa. - Falou com a boca cheia. -Foi mal e desculpa da onde eu vim significa a mesma coisa.

-Não, são coisas completamente diferentes. - Lynx sorriu com seus caninos levemente afiados desafiando o humano a contradizer ele.

Alec revirou os olhos.

-Vou deixar você ganhar essa discussão porque estou muito cansado.

-Admita que você sabe que estou certo.

-Bela coleção de armas você tem, seria uma pena se sumissem misteriosamente. - Alec examinou o sanduíche em sua mão antes de dar uma mordida, então olhou despreocupadamente para ele.

Lynx se afastou da entrada da cozinha e caminhou lentamente até Alec, parando de frente para ele.

-Isso foi uma ameaça, Alexander?

-Me teste e você vai descobrir, Lynx.

Eles se encararam por longos segundos. Era como se pequenas faíscas de energia disparassem de um olhar para o outro, seja pela provocação ou algo mais. Lynx não respondeu, mas também não desviou o olhar. Um fato interessante sobre Lynx era que ele poderia parecer todo calmo e despreocupado por fora, mas seus olhos eram como a superfície turbulenta do sol, lançando explosões de calor que poderiam queimar com apenas um olhar. Alec se sentia muito quente nesse momento.

-Quais são nossos planos para amanhã? - Alec perguntou desistindo da competição de encarar e mudando de assunto antes que as coisas ficassem realmente perigosas. -Tour pela cidade?

-Primeiro, você vai dormir até tarde, depois vamos na reunião do esquadrão - ele listou. -, e então de noite vou levar você para conhecer o lado sombrio da cidade.

-Aquela tal Rua dos Pecadores? - Alec arregalou os olhos fingindo inocência. -Não sei não, acho que sou santo demais para isso.

-Realmente, tão santo que fica fazendo um anjo pensar em coisas que não deveria.

-Ah! - Alec exclamou indignado. -Seus pensamentos são problema seu. O que tenho a ver? Essa Rua dos Pecadores me parece o local adequado para você então Sr. Pensamentos Inapropriados.

Lynx mordeu o lábio para evitar sorrir.

-Você tirou o dia para me provocar ou o quê?

-Mas foi você quem começou! - ele se defendeu. -Fala um pouco dessa rua, tem muita coisa ilegal acontecendo lá?

Lynx riu.

-Nah. Pra ser sincero, o nome é mais impactante do que o lugar em si. - Lynx se afastou um pouco se apoiando na bancada. -Algumas casas de jogos, boates, e se tivermos sorte podemos ver alguém perdendo um braço ou uma perna em alguma luta.

-Mal posso esperar. - Alec pegou outro sanduíche. -Mas pensei que Luce não permitisse esse tipo de coisa.

-Ela não permite que os fortes pisem nos fracos, mas não pode fazer nada quando são eles que procuram a própria ruína.

-Bem liberal. - Alec comentou pensando em Luce. -Acho legal ela ter tanto poder, mas não controlar ninguém. Deu para reparar o quanto as pessoas aqui são livres. Se ela quisesse, podia fazer as pessoas lamberem o chão que ela pisa.

-Algumas lamberiam sem ela nem precisar pedir.

Alec lembrou das pessoas na festa bajulando Luce e riu concluindo que aquilo provavelmente era verdade.

-Tem um lugar lá que quero te levar. - disse Lynx depois de um breve silêncio. -Na Rua dos Pecadores, mas é surpresa.

Alec ficou curioso, mas não perguntou que lugar era esse. Adorava surpresas.

-Surpresa vai ser eu aparecer do nada nessa tal reunião. - Alec se perguntou se não era melhor ficar em casa. -Sou um forasteiro. Posso mesmo ouvir as coisas que vocês vão discutir lá?

-Você está comigo então Luce sabe que é de confiança. - Lynx descartou as preocupações dele. -Além disso, todos sabem que você pode aparecer, foram avisados. Mas a decisão é sua, se quiser ficar aqui ou explorar a cidade, faça o que quiser fazer.

-Ah... Mas sabe, não tenho certeza se Luce gostou de mim. - Alec pensou no olhar fixo dela ao olhar para ele. Como se visse algo ali que não tivesse certeza se era de seu agrado ou não.

-É o jeito dela. - Lynx se aproximou dele e a voz adquiriu um tom consolador. -Achei ela um pouco mais quieta do que de costume, mas seja o que for, não era com você, Luce tem muito com o que lidar.

Talvez ele tivesse razão, pensou Alec deixando o assunto de lado.

-Aqui faz sol? - Alec perguntou de repente, olhando pela janela acima da pia para o céu quase violeta lá fora. Devia mudar de tom de roxo conforme ia escurecendo.

-Sim, mas você precisa ver por si mesmo, é muito bonito.

Alec tirou sua atenção da janela e terminou de comer o último sanduíche. Após terminar de beber o suco, ele lavou a louça e saiu da cozinha andando pelo corredor. Não era necessário se virar para saber que Lynx estava bem atrás dele. Quando chegou na porta do quarto, os dois pararam.

-Eu já tinha te dado boa noite, mas boa noite de novo.

Alec abriu a porta do quarto, não conseguia olhar direito para Lynx pois tinha medo do que poderia fazer ou dizer se o fizesse. As coisas estavam ambíguas entre eles agora. Alec não sabia mais o que fazer.

-Boa noite... Alec. - O nome dele na boca do anjo caído soou mais como uma súplica. O peito de Alec vibrou. Ele hesitou parado na porta.

-Dormir. - Alec abriu mais a porta. Estava se tornando o rei das decisões impulsivas guiadas pelas emoções.

-O quê? - Lynx perguntou não parecendo confuso, mas como se não acreditasse que Alec estava sugerindo o que ele achava que estava.

Alec reuniu coragem e olhou para ele. Lynx parecia contido, mas os olhos eram quentes.

-Você pode ficar pra dormir... Comigo. Quero dizer, sei que você não dorme, mas é que... - Alec se enrolou um pouco e sentiu o rosto esquentar. -Pode ficar aqui comigo se quiser, mas só ficar do meu lado, é isso que estou dizendo. Acho que você entendeu...

Lynx soltou um ruído abafado, era uma risada.

-Eu entendi.

Alec entrou no quarto e deixou a porta aberta para ele entrar. Ouviu o clique da porta fechando. Foi até o banheiro e levou mais tempo que o necessário escovando os dentes. Depois voltou para o quarto e apagou as luzes como se o escuro pudesse impedir ele de pensar no que estava fazendo. Mas não era nada demais, afinal. Eles só iam dormir. Ele ia dormir. E Lynx ia ficar ali do seu lado. Nada mais.

Alec deitou na cama de costas para Lynx. Sentiu quando a cama afundou ao seu lado, e mesmo não encostando nele, conseguia sentir o calor do anjo muito próximo. A cama se mexeu quando ele se inclinou em sua direção. Alec começou a tremer, mas não era de frio ou medo.

-Boa noite, Alec. - Lynx sussurrou em seu ouvido antes de voltar para seu lugar em uma distância respeitável.

O silêncio era tão profundo que seria possível ouvir uma agulha cair. Através de um vão na cortina, o luar triplo invadia o quarto e o céu violeta deixava o ambiente com um tom de roxo azulado cheio de mistérios. De repente, Alec ficou ciente demais. Ciente demais das respirações de ambos cortando o silêncio. Ciente do cheiro de Lynx que era tão bom que lhe dava água na boca.

E ciente do fato de que ele só precisava se virar, e com apenas um olhar, Lynx daria o que ele queria. Mas Alec não se virou. Depois do que pareceram horas, ele finalmente conseguiu acalmar o corpo e a mente, então adormeceu.

~•☆•~

No dia seguinte, ele acordou com a claridade cutucando seu rosto. Ele estendeu o braço e descobriu que o espaço ao seu lado estava vazio. Levantando-se preguiçosamente, Alec foi até as janelas e abriu as cortinas, revelando uma sacada. Então ele ergueu o rosto para o céu. O sol era comum, igual ao do mundo mortal, mas o céu... Era lilás durante o dia, com nuvens azul pastel bem clarinhas. Era como o sonho de uma criança visualizando uma terra mágica imaginária, exceto que ele não era criança e a realidade estava bem diante de seus olhos. Era tão lindo quanto de noite, mas a noite tinha um apelo maior para ele. Uma leve brisa morna agitou os cabelos de Alec, ele balançou a cabeça perplexo mais um vez com aquele lugar e voltou para dentro do quarto.

O guarda-roupa era assustadoramente do seu gosto. Também haviam algumas gavetas cheias de acessórios. Ele acabou vestindo uma calça preta justa e uma camisa preta de mangas compridas, mas de um tecido leve que era ligeiramente translúcido. Calçou seus coturnos - feliz porque ao menos eles tinha conseguido levar - e desceu em busca de Lynx. Obviamente, o encontrou na cozinha preparando seu café da manhã. Alec não gostava de ser tratado como criança, mas ser cuidado por alguém as vezes não era tão ruim assim.

-Bom dia, Alec. - Ele sorriu. Vestia a mesma regata preta do dia anterior, mas a calça embora fosse preta também era de um material tipo couro, e nos pés ele calçava botas pesadas.

-Bom dia. - Alec sentou-se no banco alto na ilha que ocupava o meio da cozinha. Ele inspirou o cheiro no ar que fez o estômago se contrair. -Você vai me fazer engordar desse jeito.

Lynx entregou a ele uma caneca de café e colocou um prato de ovos com bacon a sua frente, também tinha pão e outras coisas ao redor.

-Você precisa se alimentar melhor, teve dias que você nem comeu nada direito. - Acusou o anjo colocando um pote de geleia perto do prato.

-Sabe como é, não sobra tempo pra comer quando tem anjos e demônios tentando matar a gente. - Alec brincou, mas Lynx não riu.

O clima entre eles estava meio tenso depois da noite anterior. Contudo, Alec decidiu parar de pensar em tudo que fazia a respeito de Lynx como um erro. Ele viu o quanto Lynx ficou chateado quando Alec disse isso sobre o beijo. Além disso, ele ficava toda hora lembrando do anjo dizendo que ele deveria pensar menos e deixar as coisas acontecerem. Então Alec decidiu que era o que faria.

No fundo, ele sabia que isso era apenas uma desculpa para libertar as próprias vontades.

No entanto, Alec pensava muito sobre isso o tempo todo, e começou a achar que desde que fizesse tudo com calma, ninguém sairia machucado. Ele não precisava correr para descobrir o que realmente sentia por Lynx, até mesmo porque havia algo lá, uma sementinha florescendo em seu coração. Alec estava apenas ansioso antes, porque os sentimentos repentinos de Lynx tinham assustado ele e ainda assustavam um pouco, mas conforme o tempo passava ele percebia que seria muito fácil se apaixonar por Lynx... Talvez inevitável.

Depois do café da manhã, eles saíram de casa e o destino era o castelo de Luce, ela estava esperando eles para uma reunião, e Alec estava muito curioso para saber como seria isso. Também estava nervoso porque conheceria os amigos de Lynx e figuras importantes da cidade.

-Quem vai estar lá? - Ele perguntou para Lynx enquanto eles andavam sem pressa pelas ruas. Estavam adiantados.

O movimento era bem menor do que o da noite anterior, mas, ainda assim, pessoas transitavam, crianças brincavam nas ruas e muitos comércios estavam funcionando.

-Todos os Capitães e seus vices. - Lynx respondeu franzindo o rosto quando o sol bateu nele. -O braço direito de Luce, Gabriel e provavelmente os Irmãos Sombra também... Não, acho que eles estão em missão, então talvez não.

-Irmãos Sombra?

-Os espiões de Luce. - ele explicou. -Eles são gêmeos, metade anjo e metade demônio. Eles conseguem se transformar em sombras, literalmente, por isso passam despercebidos em qualquer lugar. Não falam muito, mas são muito fiéis a Luce. Assim como Gabriel, ele é tipo o conselheiro dela.

-Parece muita gente. - A voz de Alec continha receio.

-Está nervoso? - Lynx afagou os dedos dele levemente como se pretendesse pegar sua mão, mas tivesse desistido.

-Sinceramente, um pouco, e nem sei porquê.

-Fique tranquilo, eles vão adorar você... - Lynx pensou um pouco. -Bem, Cain talvez não, mas daí ele não gosta de ninguém mesmo. Angela pode até não demonstrar, mas ela tem coração. Lilith é o contrário de Cain, ela gosta de todo mundo. E Levi é um babaca, mas realmente não é má pessoa. Gabriel não conheço muito, ele é bem tímido e reservado, mas parece um bom garoto também.

-Você fala deles com bastante carinho. - Alec observou.

-Eles meio que se tornaram uma família para mim. - ele parecia maravilhado com a ideia de ter uma família. Alec sentiu um aperto no peito por ele.

-Você chamou esse tal de Gabriel de garoto, pareceu Luce falando. - Alec achou graça porque apesar de ter setecentos anos, Lynx não parecia velho, nem Luce, e ela tinha mais de mil.

-Comparado a nós, ele é realmente um garoto.

-Híbridos tem um tempo de vida diferente dos humanos?

-Depende do nível de parentesco que eles tem com o anjo ou demônio que deu origem a linhagem deles. - Lynx explicou. -Gabriel por exemplo, o bisavô dele era um anjo. Gabriel completou duzentos anos no ano passado. Levi tem a mesma idade que ele.

-Nossa, eu não daria mais que vinte e sete pro Levi.

-Quantos anos você daria para mim? - Lynx perguntou sem tentar esconder a curiosidade em saber a resposta.

-Vinte e sete no máximo também.

-Eu tinha vinte e seis...

-Quando era humano?

Lynx fez que sim com a cabeça.

Alec quase perguntou a ele como havia morrido, qual era seu passado, e porque ele parecia tão deprimido a respeito disso, mas se conteve. Não era a hora e nem o lugar.

-Mas isso meio que não causa uma superpopulação não? - Alec perguntou com curiosidade genuína. -Pelo fato de as pessoas viverem mais que o normal?

-Não, porque híbridos com sangue mais puro são meio raros. - Lynx respondeu. -A maioria tem o sangue bem diluído então vivem o tempo de vida mais próximo das pessoas comuns.

-Entendi... E essa reunião, sobre o que vai ser exatamente? - Alec perguntou mudando de assunto.

-Coisas de rotina, relatórios sobre tentativas de invasão, e Luce também vai anunciar oficialmente quem é o novo capitão da terceira divisão.

-O que aconteceu com o antigo?

-Morreu em uma missão. - Lynx adotou uma expressão triste. -Era uma cara legal, eu gostava muito dele. Era o capitão de quem eu era mais próximo, treinávamos juntos as vezes.

-Sinto muito. - Alec falou com sinceridade.

Eles estavam atravessando a ponte enquanto Lynx dava mais detalhes sobre seus amigos. Foi então que Alec avistou duas pessoas. Estavam paradas em frente aos portões do castelo. Alec sentiu uma onda de familiaridade tão grande que seu coração deu um salto no peito. Mas não podia ser. Não, não podia ser mesmo. Ele parou de ouvir Lynx e apertou o passo indo em direção aquelas duas pessoas. Quando estava apenas alguns passos dos dois indivíduos ele parou boquiaberto. Reconheceria aquela pessoa em qualquer lugar do mundo, aqueles cabelos eram inconfundíveis.

-Rebeca?

A garota se virou bruscamente para ele com os olhos claros arregalados.

-Alec?

-O que você está fazendo aqui? - perguntaram os dois em uníssono, com as vozes cheias de incredulidade.

-E aí, Lynx? - Disse Cadu para o anjo que tinha diminuído o passo.

-Oi, Cadu. - Lynx imediatamente lançou um olhar de desculpas para Alec.

-Vocês se conhecem? O que está acontecendo aqui? Rebeca? - O pescoço de Alec disparava entre os três tentando entender o que estava acontecendo.

-Eu estou tão confusa quanto você! - Rebeca colocou as mãos na cintura encarando Cadu.

Lynx suspirou.

-Eu explico. - Ele olhou para Alec. -Cadu é nephilim, eu já o conhecia, mas somos impedidos por um juramento de contar a outras pessoas sobre as identidades um do outro. Por isso aquela noite do bar não contei nada.

-E Rebeca não te falou nada porque ela também não sabia que você tinha alguma relação com anjos e a Cidade dos Mestiços. Fiquei surpreso ao ver Lynx lá, não esperava. - Completou Cadu. Ele se virou para ela. -Também não pude mencionar nada para você, desculpa gata.

-Tá mas, por que Rebeca está aqui agora então? - Alec teve um pressentimento ruim.

-Por que eu descobri acidentalmente que Cadu era nephilim. - A menina se pronunciou. -Juro pra você Alec, eu quase me internei quando vi as asas dele, e ai e me contou que tudo isso era real. Mas o verdadeiro motivo de eu estar aqui é porque parece que tinha uns demônios atrás de mim, e aí como eu já sabia sobre o mundo sobrenatural mesmo, Cadu me trouxe pra cá.

-Eles foram atrás de Rebeca porque sabiam que ela é sua amiga. - Cadu falou, o tom dele não era acusatório nem nada do tipo, mas Alec sentiu culpa mesmo assim.

-Sinto muito por ter envolvido você nisso, Rebeca...

-Tá brincando? - Ela deu um tapa no ombro dele. -Isso é incrível! Eu namoro um anjo! E esse lugar é muito aesthetic, eu amo isso aqui! Pena que não posso postar as fotos que tiro.

Alec encarou ela sem resposta então riu, porque isso era tão a cara dela.

-Mas achei que todos os híbridos não saíssem daqui, como vocês se conheceram? - Perguntou Alec.

-Isso não é exatamente verdade. Muitos híbridos se arriscam no mundo mortal. - Respondeu Cadu. -E eu vivi metade da minha vida nele com a minha mãe humana, até descobrir que meu pai era metade anjo e então vir para cá. Minha mãe acabou me contando tudo. Eu moro aqui agora, mas visito ela com frequência, assim conheci Rebeca.

-Mas e você ein, Alec? - Rebeca deu uma olhada para Lynx. -Qual a sua história?

Então ele fez um resumo para ela.
Contou sobre como Lynx era um anjo da morte enviado para matar Alec, mas acabou não fazendo, e sobre como ele havia sido banido do céu por salvar ele de um demônio que realmente queria sua morte e agora ambos estavam fugindo de anjos e demônios. No fim do relato, Rebeca estava com os olhos marejados.

-Meu Deus amigo, você passando por tudo isso e eu nem fazia ideia! - Ela deu um abraço forte em Alec, enquanto soluçava, ele acariciou as costas dela tentando reconfortá-la. -Eu vou aprender a lutar e chutar a bunda desses nojentos perseguindo você!

Alec soltou um risada.

-Eu estou bem agora, não precisa chorar. Estou feliz que você esteja bem também, mas confesso que a última coisa que eu esperava hoje era ver sua cara.

Rebeca pareceu se animar e suas lágrimas pararam de fluir imediatamente. Lynx e Cadu ficaram parados ali como se fossem duas árvores, parecendo não saber o que fazer diante de um reencontro tão inesperado.

-Mas isso é meio incrível! - Ela juntou as mãos. -Agora nós dois estamos juntos aqui e temos namorados anjos muito gostosos!

Alec engasgou e não teve coragem de olhar para Lynx.

-Ele não é meu namorado.

Rebeca olhou para Lynx e depois encarou Alec.

-E aposto que a culpa é sua.

-Como assim, garota? - Alec riu sem graça. -Não sei do que você tá falando, hahaha...

-Então gente, o papo tá bom, mas a reunião já vai começar. Vamos subir?

Alec agradeceu Cadu mentalmente por intervir. Enquanto ele e Lynx iam na frente Rebeca puxou Alec para perto.

-Tem alguma coisa rolando sim, né? - Ela insistiu curiosa e sorridente. -Dá para notar o maior clima entre vocês.

-Não é bem assim, Rebeca...

-Ele está claramente apaixonado. - ela continuou como se ele não tivesse dito nada. -Eu percebi isso desde quando ele apareceu no cybercafé.

Alec virou o rosto para os arbustos do quintal. Rebeca deu a volta para analisar a expressão dele.

-Entendi. - Ela continuou andando com um sorrisinho no rosto.

-Entendeu o quê? - Alec se virou para ela irritado.

-Naaada. - Rebeca cantarolou e depois largou ele para trás se agarrando no braço de Cadu que virou a cabeça para ela sorrindo.

Eles entraram no castelo com Lynx na frente sendo o guia. Aquele era o cenário mais absurdo possível para Alec. Jamais achou que Rebeca, logo Rebeca, fosse fazer parte dessa bagunça sobrenatural. Ele olhou de soslaio para ela enquanto andavam, quando ela notou sorriu para ele. Parecia muito a vontade e feliz.

-Cara, eu ainda não acredito que você está aqui. - Alec disse a ela enquanto atravessavam o salão da entrada. A menina se afastou novamente do namorado, ficando para trás para conversar com Alec.

-Digo o mesmo pra você. - Ela abaixou a voz. -Sinceramente, amo ficar com Cadu, e adoro esse lugar, mas me sinto meio sozinha quando ele está ocupado. Sinto que algumas pessoas não gostam de mim, vou me sentir melhor agora que você está aqui.

-Amiga... - Alec estendeu a mão apertando a dela. -Também vou me sentir melhor com você aqui.

Eles entraram em um corredor que levava a um pequeno hall, e lá havia uma escada em espiral. Subindo ela, eles se viram diante de três corredores em cada direção. Lynx entrou no do meio. No final de tal corredor, uma porta entreaberta vazava luz e vozes conversando. Quando eles chegaram perto, Alec ouviu a voz alta de Luce se sobrepondo as outras. Lynx abriu a porta e eles entraram.

-Finalmente chegaram! - Luce com as mãos na cintura, repreendeu com irritação. -Vocês não tem relógio em casa? Vou dar um para cada um de vocês de presente de Natal.

O tom dela era o de uma mãe repreendendo os filhos. Era uma cena cômica, mas perdia um pouco a graça quando se voltava a atenção para os olhos brancos ilegíveis dela.

-Estamos no horário. - Cadu apontou para um relógio gigante de aparência velha no canto da parede. -Essa sua coisa velha é que está atrasada, deve ter parado de funcionar três séculos atrás, Luce.

Alec congelou com o tom de voz dele, o jeito informal de falar com ela, mas Levi riu alto.

-Ele tem razão, Lulu. - O híbrido tinha os cabelos longos meio bagunçados, como se tivesse acabado de sair da cama... De alguém. -Essa coisa é mais velha que minha tataravó, que Deus a tenha.

-Me chame de Lulu de novo e vou fazer o favor de raspar o outro lado da sua cabeça, mas não vai ser flores que vou tatuar...

As outras quatro pessoas presentes, incluindo Luce, começaram a rir e a zombar de Levi, que rebatia as provocações rindo também. Eles ocupavam uma mesa longa e pesada de carvalho, no centro da sala espaçosa. As janelas de vidro forneciam luz, mas as lâmpadas também estavam acesas. Parecia mais um encontro de amigos antes do jantar do que uma reunião. Alec se sentiu meio deslocado.

-Você está xingando a gente, mas ainda falta um. - Cadu disse. -O novo capitão da terceira divisão também está atrasado. Seja lá quem for ele.

-Na verdade, ele já chegou. - Todos olharam para Luce como se ela tivesse perdido um parafuso.

Mas Luce, com seus olhos pálidos deu um sorriso brilhante para o anjo ao lado de Alec.

-Bem-vindo ao Esquadrão de Ataque, Capitão Lynx.

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