21 | VOCÊ É UMA PÉSSIMA INFLUÊNCIA, SRTA. BESSA


Eu sei que é loucura acreditar em coisas bobas, mas não é tão fácil assim. — Kodaline (High Hopes). 



— Eu não acredito! — Sally gritou com sua imensa felicidade enquanto corria entre as ruas do cenário paradisíaco da ilha. O sol plainava mais escondido, pois já estava entardecendo, e a garota havia bebido alguns coquetéis em um barzinho. — Estamos fugidos! Aloha, Havaí!

Muitos dos que estavam nos arredores eram turistas. Alguns riam da jovem por sua alegria excessiva, outros, no entanto, a estranhavam. Mas, para ela, o que importava era que Arthur a seguia e parecia não se importar com sua agitação.

Pelo contrário, mantinha um sorriso como se a sua acompanhante fosse uma obra de arte. Como se tivesse aguentando tantas situações adversas para que, no fim, pudesse conhecê-la.

A dupla usava roupas leves e colares de flores, totalmente adepta à cultura do lugar. Os dois se sentiam em paz, pois era como finalmente ter um descanso em meio ao turbilhão de emoções que os respaldavam nos últimos tempos.

Sally parou de repente e girou o corpo, olhando para trás, na verdade, para os olhos cor de âmbar que tanto a hipnotizava. Ela soltou uma risada capaz de iluminá-la ainda mais sob a vista do rapaz, principalmente pela leveza que sua euforia trazia.

— Quem é o papa-léguas correndo perto de você, pedaço do céu — ele a caçoou assim que conseguiu alcançá-la. Ela simulou uma careta nada confiável e o empurrou levemente pelo ombro. — Podemos aproveitar um pouco o fim do dia, que tal uma praia?

— Só vou pela praia! — Ally se fez de difícil, mas, em seguida, estendeu sua mão para pegar a dele e entrelaçou seus dedos carinhosamente.

Ao se aproximarem da costa, os pensamentos logo se dissiparam ao molharem os pés na água aquecida do mar. Observaram as sombras dos rochedos nas proximidades que formavam o arquipélago, coqueiros dispersados em algumas áreas e, além disso, apreciaram barulho do chocar de ondas contra as pedras voluptuosas.

A morena reparou na presença de vários quiosques e se maravilhou, porque algumas pessoas saíam deles com tatuagens de henna.

— Vamos fazer uma? — ela deu a ideia para Arthur que, prontamente, aceitou. — Acho que podemos cometer algumas loucuras.

— Você é uma péssima influência, Srta. Bessa! — Arthur franziu o cenho em tom de deboche e a mordeu suavemente no queixo.

Os dois seguiram apressados até o espaço de madeira e decidiram o que fazer. Ela ficou com uma lua no pulso e ele com um sol. Encostaram os punhos e sorriram, pois, de certa forma, sentiam-se completos juntos, como o dia e a noite.

Mais tarde, sentaram-se sob um toldo de palha para assistirem as apresentações de dança típica. As mulheres usavam saias coloridas, tops de concha e arranjos de flores nos pulsos, pescoço e no cabelo. O ruivo aproveitou para circundar o braço no tronco de Ally e, como reflexo, a jovem descansou a cabeça no ombro dele.

A música havaiana dominou o local e, após mais bebidas alcóolicas, ambos tiveram coragem de levantar e remexer a cintura ao lado dos dançarinos.

Os movimentos eram interrompidos somente com as gargalhadas e com selinhos desajustados.

— Obrigada — Ally sussurrou em meio à barulheira de sons e de conversas. — Eu amo você.

O filho mais velho de Lourenço, porém, conseguiu ouvi-la, mesmo com os ruídos. Ele correu em direção a ela e agarrou pela cintura, erguendo-a em seus braços resistentes e seguros. Os corações agitados e a respiração ofegante não foram suficientes para impedir que suas bocas se encontrassem. Os dedos dela acariciaram o rosto dele e, com ternura, seus lábios o beijaram com todo amor e desejo que nutria.

— Quero ir para um lugar mais afastado com você — ele cochichou para a filha de Fátima, descendo-a gradualmente. — Só você e eu.

— Vai ter comida? — retrucou-o enquanto o mirava. Por trás dele alguns homens faziam coreografias utilizando tochas com fogo. O brilho delas parecia intensificar o tom dos cabelos de Arthur, trazendo matizes de um laranja vívido.

— Eu sempre me preocupo com suas lombrigas famintas — o rapaz anunciou.

Ele a segurou pela mão e se distanciaram o máximo possível do tumulto. As vozes irrefreáveis se tornaram mero eco e tudo o que tinham era um ao outro e o espetáculo da natureza.

— Aqui está — ele entregou a ela um pacote de salgadinhos que encontrou em uma vendinha próxima. Os dois, descalços e com seus sapatos em mãos, iniciaram uma caminhada à medida que contemplavam o horizonte.

A noite sobressaia-se sobre o dia e, gradualmente, a luz se enfraquecia dando lugar àquela chama que despenca sobre o mar e este simplesmente a aceita, sem sequer pestanejar. O brilho tímido do sol sendo engolido pelas águas serenas do Havaí enchia de esperança e de sentimentos bons o coração de Sally. Seus cabelos, soltos, balançavam ritmados, enquanto seus pés enfiavam-se sob os grãos finos de areia.

Nem mesmo uma palavra foi dita, uma vez que, naquele ápice de clareza, as sensações os encharcavam de calmaria. Assemelhava-se ao ato de nós desatados, como se os problemas se tornassem minúsculos perto daquele instante.

Pela chance de um novo amanhecer.

Como se no encontro do céu e do mar, eles também se sentissem completamente encaixados.

Se nada desse certo, eles teriam uma nova chance para recomeçar enquanto o sol ardesse em chamas. E quando a lua se ascendesse, o sol haveria de ainda estar brilhando em algum lugar.

Sally se sentou ao lado de Arthur e, logo após, inclinou a cabeça sobre o peito dele. Um dos braços dele a envolveu para que ela ficasse confortável. Com a mão do braço livre, o rapaz começou a desenhar no ar os possíveis contornos que conjuntos de estrelas poderiam sustentar.

— Quando você as observa, pensa sobre o quê? — Arthur indagou-a.

— Penso sobre nada. E é exatamente o que faz com que as estrelas sejam tão especiais para mim. Ter tanto a pensar, mas ser poupada disso — declarou. Visualizou-o em seguida: — E você?

— Na minha mãe — disse simplesmente. — Viemos aqui quando eu era bem novinho. Não me lembro de muita coisa, momentos vagos, mas me recordo das estrelas do Havaí. Silvia me contou que, na época, Lourenço comprou uma prancha de surf para mim e Ângela enlouqueceu. — Ele desviou o olhar para uma Ally que prestava atenção em cada detalhe de sua fisionomia. — Fico me perguntando a razão de tudo mudar... Meu pai... Nada faz sentido...

— Ei, deixe as dúvidas para depois, tá bem? — a morena o interpelou e o segurou pelo rosto, forçando-o a encará-la. O olhar dele era frágil e, ao mesmo tempo, curioso. — Ângela ficaria feliz pelo homem que você se tornou. — Suspirou, fitando-o. — E eu também estou.

Em um estalo de segundo, ambos se aproximaram e se abraçaram como um só. O forte sentimento de amparo ardeu em seus corpos debilitados. De maneira natural ele encostou os lábios na testa de Ally, sentindo o leve roçar causar um choque minúsculo. O som do mar fazia-se trilha sonora, sobressaindo-se quando necessário e embalando-os. 

— Estou em paz — o rapaz confidenciou. — Sua presença tem esse poder.

A noite ainda era uma criança para o casal. Seguiram o caminho da praia até o hotel e conversaram aleatoriedades, desde os tamanhos das conchas que haviam encontrado até o abacaxi servido no café da manhã. Encurtaram os passos para que, quem sabe, o tempo corresse mais devagar.

No instante em que o clarão das lâmpadas acopladas nas extremidades do hotel a cegou, Arthur decidiu fingir que eram recém-casados em lua de mel e a tirou do chão, carregando-a no colo e correndo até a recepção.

— Boa noite, Sr. e Sra. Ferraz — o funcionário os recepcionou alheio à verdade e entregou a chave. Os dois riram baixinho e devolveram a gentileza.

Subiram até o quarto que compartilhavam e ele foi o primeiro a tomar um banho. Ela foi a segunda e demorou um pouco por ter aproveitado para lavar os cabelos negros. No minuto em que saiu do banheiro, surpreendeu-se ao se deparar com a escuridão do lugar. Arthur acendeu algumas velas e, em seguida, pôs um toque de chamada de celular aleatório. A porta e as cortinas da varanda estavam abertas, deixando expostas a visão do mar e das estrelas.

— Dança comigo mais uma vez? — pediu. Ela conseguia ver apenas focos de luz sobre a superfície do rapaz, deixando-o ainda mais atraente e o clima mais envolvente.

Instantaneamente, ambos dançavam — sem se preocupar com o mundo externo, contemplados pela infinitude do oceano, que peculiarmente havia se acalmado para ajudá-los a manter o volume da melodia. O vento soprava a folhagem das árvores do lado de fora, que parecia compartilhar o movimentar de silhuetas da dupla.

As mãos dele, descansadas nas costas dela, permaneciam a cuidá-la, enquanto os braços dela envolviam-no pelo pescoço. Os pés dos dois, sintonizados, os maneavam para cá e para lá como se flutuassem.

Talvez, por genuína opinião, as estrelas poderiam conservá-los, de modo que se reorganizassem desenhando-os no céu imensurável.

— Eu amo a sua pele — ele sussurrou próximo do ouvido da jovem enquanto deslizava a ponta do indicador sobre a superfície do braço dela. Ela se arrepiou de imediato. — Amo o negrume dos seus cabelos. — Movimentou os fios pretos para o lado e a beijou no pescoço, estremecendo-a. — Amo a proximidade dos nossos corpos e o que você faz comigo. — Apertou-a contra si, fazendo-a ofegar inesperadamente. — Até mesmo as suas pintinhas. — Deslizou os lábios nas bolinhas pretas que ela possuía no ombro. — Amo você. Inteira. Do avesso. Completa. Até mesmo os detalhes. Na realidade, principalmente pelos detalhes.

Não conseguindo se conter, Sally aproveitou para empurrá-lo em direção à cama. Ele se deixou cair no colchão e acompanhou uma Ally determinada e segura de si subir sobre seu corpo. As mãos dele, urgentes, agarram-na pelas nádegas, trazendo-a mais para perto. Deslizou os dedos pela pele macia e chamativa da jovem, desvendando todas as suas curvas.

— Você quer? — ele se direcionou a ela.

— Quero. — As pupilas dilatadas revelavam toda sua excitação. — E muito.

As roupas começaram a ser espalhadas pelo chão à medida que ficavam desnudos. De repente, ele a girou, dominando-a. Não pesou o corpo no dela, mas se colocou entre as pernas da interiorana e manteve-se colado, acendendo cada célula. O contato os aquecia a ponto de inflamá-los. Ele beijou-a nas partes mais sensíveis, descendo gradualmente, fazendo-a apertar os olhos e os lençóis.

Céus, ela pensou ao senti-lo estimulá-la, eu não quero que isso acabe.

Ela se contorcia e ofegava. Sua mente parecia interditada, apenas conseguia se inundar com a satisfação de sentir-se em chamas. As mãos delicadas dela foram até as mechas ruivas e, de forma inconsciente, forçou-o a intensificar as carícias.

Precisava dele.

Ao vê-la totalmente receptiva e extasiada pelo prazer que a havia dado, Arthur puxou-a pelo quadril e colocou um travesseiro abaixo dela. Segurou-a pelas pernas trêmulas e, conforme a adentrava, descobrindo-a mais intimamente, admirou-a desde os fios mais rebeldes espalhados no lençol branco até a íris inundada de luxúria.

Ele a beijou enquanto investia contra a garota. Às vezes, Sally cessava os movimentos para libertar gemidos de prazer. Segurou-o pela nuca e pressionou os dedos nas costas nuas do rapaz, desmanchando-se em seus braços.

✈︎

— Vai se fazer de difícil para mim agora, é? — Ally o confrontou enquanto erguia uma sobrancelha.

— Claro! — Arthur argumentou enquanto segurava uma risada. — Agora não quer mais sair do quarto, quer apenas meu corpinho nu!

Sally revirou os olhos enquanto soltava uma gargalhada.

— Você é inacreditável, Arthur Ferraz! — Ela apontou o dedo, tenaz. De imediato, aproveitando-se da proximidade, o ruivo a puxou para si e a segurou pela cintura. Quase como uma tortura, acariciou e mordiscou os lábios da morena. Suas mãos foram para dentro da camiseta feminina e, sorrateiramente, deslizou os dedos até os seios já enrijecidos e os incitou mais ainda. — Não precisamos sair da cama.

— Podemos descobrir novos lugares mais tarde, o que acha? — sugeriu com má intenção.

Ally arregalou os olhos, porém, em seu íntimo, estava disposta a cometer novas loucuras.

— Está bem.

A dupla de fugitivos aproveitou cada segundo em que se desligaram do mundo real. No dia seguinte, montaram um castelo de areia que mais parecia um palito de fósforo. O pior é que, logo após construído, o destruíram com chutes e pulos. Dançaram uma música do Michael Jackson no salão de jogos, pois Ally o colocou para assistir ao filme De repente, 30 e queria realizar o desejo de imitar a cena em que o casal movimentava-se ao som de Thriller

Aproveitaram para se aventurar na vida marinha também. Mergulharam com tartarugas e peixinhos coloridos e de olhos esbugalhados, passaram por raias e até mesmo avistaram uma cobra de mar, mas, para Ally, o mais impressionante foi assistir pequenas criaturinhas nas fendas do recife de coral.

Ao encontrarem uma caverna submersa, por um momento, a dupla se encarou sem a interferência de nada além dos cardumes que, vez ou outra, os atravessava.

— Estava enganado — Arthur contou a acompanhante enquanto saíam do mar, após se despedirem do guia turístico. — Pensei que não tinha como você ser mais perfeita, mas com esses pés de pato você fica uma patinha irresistível.

Sally ao escutá-lo fingiu estar aborrecida, mas logo depois riu da implicância do namorado. Ela o empurrou pelo ombro como sempre fazia, porém, dessa vez, ele a segurou e, por terem se desequilibrado, ambos caíram na areia.

— Obrigada por me sujar — ela murmurou fingindo descontentamento. Estava sobre ele e perigosamente próxima de sua boca.

— Obrigado por estar aqui comigo — replicou-a enquanto descia o olhar até os lábios carnudos da morena. Os dois encostaram os rostos assim que uma centelha de excitação queimou.

Levou a mão até a mandíbula da garota interiorana e a atacou, beijando-a intensamente, incapaz de resistir ao impulso de tê-la.

No jantar, os dois retornaram para a hospedaria e, após se limparem e se arrumarem, desceram até o restaurante. O lugar possuía uma decoração bem selvagem, com paredes com folhagens e baquetas feitas de bambu. O teto trazia desenhos coloridos e luzes nas extremidades. Era tudo muito rústico e especial.

— O que irá querer, pedaço do céu? — Ele se sentou à mesa e pegou um dos cardápios disponíveis.

— Me surpreenda, gogoboy — o desafiou.

Assim o ruivo fez. Relatou o pedido para a garçonete, que usava trajes despojados, e não tardou para que a escolha chegasse. Era o famoso leitão kalua, acompanhado por uma pasta feita de raiz de taro. Ao experimentar, Ally resmungou pelo fato dele ter conseguido acertar. Estava uma delícia e mal conseguiu disfarçar seu apetite.

— Imaginei que fosse gostar — ele confessou enquanto se alimentava também. — O interessante é como é feito. Cozinham o porco em um forno de pedras vulcânicas.

— Você conhece bastante a culinária daqui — ela observou.

— Já viajei bastante, ia principalmente para Las Vegas, mas aqui também tem seu charme. Gostava principalmente para fotografar, capturar os lugares e a energia de cada canto do mundo... Sei lá... Me fazia sentir útil.

Sally sorriu e concordou, pois gostava desse detalhe no ruivo. A sensibilidade que ele possuía com as lentes apenas o tornava ainda mais... extraordinário. Mas, ao mesmo tempo, sentia-se em uma contradição. Tinha medo do lado obscuro da vida de Arthur. Tinha conhecimento que ainda não sabia de tudo sobre ele e, embora tivesse curiosidade, algo ainda a assustava.

Apesar de ter gostado da refeição, o paladar da garota não estava acostumado, por isso ela precisou urgentemente ir ao banheiro e avisou ao acompanhante.

— Quer que eu suba com você?

— Não precisa, meu bem, eu já volto. — Levantou-se e o beijou rapidamente antes de subir as escadas até o quarto em que estava hospedada.

Ela fez suas necessidades e, sentindo-se melhor, retornou à porta no intuito de ir para Arthur. Porém, um barulho a chamou atenção.

Receosa e tensa, ela girou lentamente o rosto até enxergar uma pessoa encapuzada atrás de si. Nem mesmo o breu do ambiente a impediu de visualizá-lo. 

— Quietinha — ele sussurrou. Em resposta, ela engasgou nas próprias palavras e tentou se aproximar da maçaneta, entretanto, foi impedida, pois a figura desconhecida a segurou e a amordaçou. Ela sentiu algo gelado em sua cabeça e seu coração se alarmou ainda mais. — Não piore as coisas, está ouvindo, garota? Não quero ter que te matar agora.

Ela concordou com a cabeça enquanto o pânico a acometia. Uma coronhada a fez imediatamente perder os sentidos, de maneira que o homem somente a segurou nos braços para levá-la embora. 

Antes de ir, porém, ele deixou para trás um chaveiro com o símbolo de um escorpião.


✈︎

E agora? haha  

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