Capítulo 13 - A Espadachim
A porta frontal da fortaleza Toca do Lobo rangeu ao ser aberta. Os dois guardas que a abriram caminharam para dentro e permaneceram em guarda até a recém-chegada pisar no tapete vermelho que se estendia até o trono. Os guardas então se retiraram e fecharam a porta.
A garota sobre o tapete vermelho vestia um conjunto de couro preto sobreposto por uma couraça fina de prata. Ela ostentava uma espada embainhada na cintura, o cabo da arma e sua bainha reluziam como a couraça.
Ela caminhou em linha reta, seus cabelos negros, longos e ondulados na ponta roçavam sobre as ombreiras da armadura. Ela parou ao ficar a poucos passos do trono de pedra onde um homem de expressão séria a aguardava.
— Tenente Havoc? — foi só o que ele disse.
Ela respirou fundo antes de responder:
— Não conseguimos localizá-los.
As sobrancelhas do homem quase se uniram com a raiva que se apoderou dele. Ele se ergueu do trono, a armadura de ferro negro chacoalhou no processo. Em pé sua musculatura ficava à mostra dos braços grossos até a panturrilha bem definida, exatamente como se esperaria de um guerreiro de nível 50.
A visão do líder da guilda em fúria deixou Havoc apreensiva. Mas ele relaxou a postura e falou em tom calmo, mas categórico:
— Vou lhe dar mais uma chance. Você terá mais esse fim de semana para encontrar o druida e os cúmplices que estragaram um dos nossos estabelecimentos. Se você não cumprir essa ordem nós teremos de rebaixá-la para sargento.
Ela tomou coragem para rebater:
— Mas Zed, eu estou dando tudo de mim para encontrar esse cara. Não é justo eu ser rebaixada porque não consegui achar um mísero druida.
Zed exibiu um sorriso provocador:
— Caberá a mim decidir se é justo ou não. É bom também lembrá-la que essa espada em sua cintura foi um presente meu de quando você foi promovida para tenente.
Havoc apertou o cabo da espada com a mão esquerda.
— Não, por favor... — implorou por medo do pior.
Zed caminhou até ficar em frente a ela. Um feixe de luz trespassou o vidro de uma das janelas e iluminou sua a face, quando disse:
— A Lâmina de Salazar é preciosa demais para ficar com alguém que não consegue achar um druida numa cidadezinha como Bremer.
— Ele pode nem estar mais lá. Ele pode ter ido para Salem ou, quem sabe, ele simplesmente desistiu do jogo.
Zed repousou a mão direita sobre o ombro dela. Havoc estremeceu, suando frio.
— Havoc, ninguém decide simplesmente parar de jogar. E, se ele de fato não está mais em Bremer..., então eu recomendaria você se empenhar ainda mais. — Ele retirou a mão do ombro dela e recuou para trás.
— Tudo bem — Havoc se conformou, porém, um surto súbito de ousadia a fez questionar: — A Lâmina de Salazar, e seu eu falhar?
— Você terá duas escolhas: entrega-la pacificamente como a boa garota que é, ou ser marcada para sempre como alvo da Pata Negra.
Havoc curvou-se para Zed em respeito, e falou:
— Entendido, prometo encontrar o druida ainda neste fim de semana.
Zed voltou a sentar no trono. Ao ouvir as palavras da espadachim, ele respondeu com um sorriso no rosto:
— Nós confiamos em você, Havoc, boa sorte. E não nos decepcione.
***
Ragnar permanecia de olhos fechados, deitado sobre a grama fofa, apreciando o frescor e o som reconfortante de vento, até Skiff gemer ao efetuar uma sequência de três disparos. Ragnar abriu os olhos e sentou de pernas cruzadas. As três flechas disparadas pelo caçador erraram a testa do touro e terminaram cravando na terra.
— Droga — Skiff resmungou.
O touro continuou pastando como se nada tivesse acontecido. Skiff fechou os olhos, ajustou a postura, puxou três flechas da aljava, abaixou o arco. Então abriu os olhos, encaixou a flecha, levantou o arco e disparou sem mirar. A flecha voou à poucos centímetros do chifre. Skiff repetiu o processo, atingindo de raspão a mandíbula do animal, então repetiu o processo com a última flecha na mão direita, errando o alvo.
— Está melhorando — Ragnar comentou enquanto admirava o caçador correndo do touro, esquivando da chifrada e atirando flechas quando a oportunidade surgia.
O arquidruida contemplou o céu azul. Eles estavam no nível 10, a missão Curtindo um Couro Adoidado os recompensou com uma quantia absurda de experiência. Desde então, a dupla se concentrou em fazer missões urgentes e em adquirir couro em bom estado. Esse tipo de couro é obtido quando o animal é abatido sem que seu couro seja danificado: como acertando uma flecha na testa, e não o fritando com descargas elétricas até virar uma pasta preta.
Com o couro coletado, Skiff confeccionou um novo traje de druida chamado Conjunto das Sete Folhas, uma veste de couro marrom com camadas verdes por cima em formato de folhas. Quanto a arma, Ragnar aprimorou sua lança cinco vezes, elevando o nível dela para 10.
Perdição das Víboras +5
[Categoria: Lança] [Nível: 10] [Raridade: Épico]
[Dano Físico: 42] [Dano Mágico: 30]
[Descrição: arma criada pelos artesões najas durante a guerra contra os dragões]
[Efeito Especial: ataques dessa arma causam envenenamento]
Decidido de que havia descansado o bastante, Ragnar se levantou do chão e restaurou a vida de Skiff conjurando um feitiço. O touro caiu no chão, o corpo cravejado de flechas.
O caçador se aproximou do corpo da presa e puxou as flechas uma por uma. Enquanto isso, Ragnar desceu a pequena depressão que o distanciava do amigo, mas uma explosão o pegou de surpresa.
Uma onda de calor se alastrou pelas costas de Ragnar enquanto era arremessado cinco metros para frente. Ele cuspiu grama, percebeu que estava caído no chão. No local da explosão o gramado ficou chamuscado, a área de impacto tinha um diâmetro de cinco metros.
— B-bola de fogo — balbuciou para Skiff enquanto tateava o chão em busca de apoio para se levantar.
Pelo ruído ritmado de algo se arrastando sobre a grama, Ragnar percebeu que mais de um oponente vinha em sua direção. E para sua felicidade, conseguiu se erguer a tempo de se armar com a Perdição das Víboras e de invocar Lady Plissken para defendê-lo.
De relance Ragnar captou a silhueta de uma pessoa com um chapéu grande, capa longa e um cajado maior que sua estatura. Mas não era o mago que o preocupava, eram as duas pessoas vindo por trás.
Ele virou para trás, usou o movimento do corpo para guiar a lança em um arco horizontal. Um tinir metálico ressoou em seus ouvidos. O cabo da lança foi aparado pela lâmina de uma espada prateada.
— Te encontrei, finalmente — disse a garota empunhando a arma com as duas mãos.
O segundo agressor, no entanto, foi ao chão quando a lança raspou em seu rosto. Ragnar analisou a espadachim para entender por que ela o atacou, se arriscando a sofrer as penalidades por matar um jogador que não lhe fez nada. Ragnar correu o olho sobre as informações mais importantes: ela chamava-se Havoc, estava no nível 17 e pertencia a guilda Pata Negra.
— Então é você... O que vocês querem de mim? — falou com menosprezo.
— Queremos 5.000 rubros pelos danos causados — ela falou guiando a lâmina da espada sobre o cabo da lança.
— Nunca!
Ragnar retraiu a lança e golpeou com uma estocada contra o peitoral dela. Porém, Havoc mudou de postura, levou a lâmina até a altura dos olhos e repeliu a lança atingindo-a na lateral com um corte de cima para baixo.
Ela veio na sua direção, a espada preparada para o próximo golpe. Ragnar puxou a lança para si e deixou a espadachim vir para cima. Enquanto isso, Skiff cravejava o guerreiro de flechas e Lady Plissken mordia as pernas de mais um assassino que tentou se aproximar pelas costas.
Havoc partiu para o ataque, começou usando a habilidade Investida para se colocar de frente a Ragnar, mas ao tentar estocá-lo com a ponta da espada, suas mãos ficaram presas por raízes verdes e espinhentas.
Ragnar aproveitou para acertá-la três vezes com a lança. Mas graças a diferença de nível, cada golpe tirou apenas 20 dos 460 pontos de vida dela. Então parou, pois o mago ergueu uma parede de gelo entre Ragnar e Havoc, mas isso abria uma janela para o arquidruida.
Ragnar deu as costas para o bloco de gelo e disparou na forma de urso contra o assassino ainda engajado em duelo contra Lady Plissken. Somado à ajuda de Skiff, que havia eliminado o guerreiro fazia pouco tempo, o assassino foi derrotado em questão de segundos, mesmo recebendo as curas conjuradas por um clérigo próximo à Havoc.
O arquidruida voltou sua atenção para o mago, mas era tarde demais, uma esfera flamejante se aproximava do grupo. Ela engoliu Skiff e estourou. Desta vez Ragnar não foi derrubado pela onda de choque, pois previu o efeito e conjurou as Raízes Espinhentas em si mesmo.
Skiff estava morto. O dano da bola de fogo era alto por natureza. Além do mais, o mago era nível 15. Ragnar sentiu pena ao ver Lady Plissken se debatendo no chão, tentando apagar as chamas em seu corpo.
Apesar da situação desesperadora que se encontrava, Ragnar permaneceu calmo e estudou o campo de batalha, esta seria uma batalha de três contra um (e meio, caso Plissken fosse somado à conta).
O ideal seria eliminar o clérigo primeiro, assim os seus colegas não receberiam suas curas, porém, ele estava posicionado atrás da espadachim, portanto, não seria fácil chegar até ele. Eliminar Havoc estava fora de questão. Ela era forte, então enfrentá-la demandaria tempo demais, além de deixar o mago livre para conjurar seus feitiços.
A estratégia era clara. Ragnar empunhou a lança e disparou contra seus oponentes, sem desacelerar o passo ele se abaixou e agarrou a cauda da serpente, então girou duas vezes, conjurou seu feitiço de cura em Lady Plissken e a arremessou contra Havoc.
A espadachim contemplou a serpente vindo na sua direção, ela empunhou a espada com as duas mãos, ergueu-a acima de sua cabeça e aplicou toda sua força para baixá-la contra serpente. A lâmina afundou na carne, mas atingiu o tronco da criatura, a cabeça de Lady Plissken dobrou-se e, sem que Ragnar precisasse ordená-la, ela exibiu suas presas e as enterrou no braço da garota.
Havoc tentou se mexer, mas o corpo não respondia, só então percebeu que estava sob o efeito do veneno paralisante da serpente. Enquanto isso, Ragnar disparava pelo gramado. O cajado do mago mirava na sua direção, mas a conjuração estava no fim, não havia como pará-la. Um brilho azulado surgiu na ponta do cajado, dividindo-se em três esferas que voaram na sua direção, deixando um rastro luminoso no caminho.
Ragnar reagiu a conjuração transformando-se em serpente. Diminuir de tamanho fez a esfera mágica passar reto acima de sua cabecinha, mas as outras duas corrigiram a trajetória descendo rente ao chão. Como as duas estavam próximas uma da outra, Ragnar voltou à forma humana e apenas saltou sobre elas.
A face do mago se converteu de confiança em desespero. Para não gastar mais mana, Ragnar se transformou em urso e saltou sobre o coitado que, em um último ato desesperado, lançou mais uma rajada de mísseis mágicos em vez de fugir ou tentar se esquivar.
As esferas estouraram no peito do urso de ferro, mas essa forma aumentava sua resistência mágica. Ragnar derrubou o mago no chão e capitalizou o erro adversário desferindo patadas contra o peito dele até zerar seus pontos de vida.
Restava agora o clérigo e a espadachim, ele sabia muito bem que o pior ainda estava por vir. Quando se virou para encarar seus adversários remanescentes, Ragnar imaginou que ela já estivesse em seu encalço, com a serpente a perseguindo, mas o que viu foi Havoc cravando a ponta de sua espada na cabeça de Lady Plissken.
A serpente estava morta, por conta disso não poderia ser invocada até regenerar todos os pontos de vida. Havoc ergueu a cabeça para encará-lo, ela esticou o braço e o convidou para o duelo fazendo um gesto de mão. O arquidruida assentiu e se pôs a caminhar até ela empunhando a lança na mão direita.
Ambos ficaram face-a-face. A face do clérigo exibia a confusão que Ragnar julgou ser proveniente da desaprovação com a maneira que Havoc dirigia aquele embate.
— Quem é você? — ela começou.
Ragnar apontou para sua cabeça, para onde imaginava que seu nome apareceria caso ela fosse analisá-lo, mas Havoc ignorou o gesto dele e foi específica:
— Essa forma de urso é estranha demais para um druida comum.
— Todo druida é naturalmente estranho por, em sã consciência, escolher ser um druida.
Havoc suspirou e empunhou a espada com as duas mãos antes de dizer:
— Se é assim que você quer conduzir essa conversa, é melhor apenas terminarmos o que começamos.
— Começamos? — Ragnar indagou. — Foi você que veio de lugar nenhum e começou a me atacar.
— Justo... — Um sorriso se formou na face dela.
Havoc avançou mais uma vez usando a investida, mas, quando chegou perto, Ragnar deu um passo para trás e girou a lança para cortá-la. Apesar deste não ser o golpe primário da lança, esse movimento era perigoso por seu alcance. A ponta da arma acertou ela no limite do alcance, bem no centro da couraça da armadura. O dano foi subtraído e o efeito de envenenamento da Perdição das Víboras foi aplicado nela.
Havoc não se abalou, ela seguiu com sua ofensiva desferindo um Golpe Duplo. Ragnar ergueu a lança para bloquear o ataque, o dano recebido foi reduzido, mas 10% de sua energia foi consumida no processo. A espadachim seguiu com seus ataques, cada um mais forte e preciso que o outro, mas Ragnar conseguiu desviar deles movendo o corpo ou os redirecionando com a própria lança.
A expressão na face dela foi ganhando seriedade. Havoc entrou em frenesi, seus ataques ficaram mais rápidos, mais desesperados. Ragnar manteve a postura defensiva, desviando e bloqueando os cortes, estocadas e habilidades especiais dela.
Ele notou algo estranho, a durabilidade de sua lança havia caído para 30%, mas antes do duelo estava acima de 80%. Havia apenas uma explicação plausível, Havoc tinha alguma arma ou item que aumentava o dano à durabilidade do item atingido por seus ataques.
— Como? Como? — ela se perguntou. — Você ainda é um novato. — A seriedade estampada em seu rosto foi se transformando em frustração.
Ragnar decidiu que iria aproveitar ao máximo os 30% restantes de durabilidade de sua arma.
— Havoc... — Ele a chamou, ela apenas levantou o olhar para ver seu rosto. — Prepare-se. — Meio que sem entender o que o oponente queria dizer, Havoc recuou levantou a guarda.
Ragnar apertou a empunhadura da lança e avançou. A Perdição das Víboras girou em sua mão e foi lançada para frente. Os reflexos de Havoc permitiram ela guiar a lâmina para efetuar o aparo do golpe.
Boa, garota, Ragnar pensou, então puxou a lança de volta antes dela atingir o alcance máximo, pois utilizou o momentum para efetuar uma finta, redirecionando a lança contra a perna direita de Havoc.
A ponta da arma perfurou a coxa da espadachim, que soltou um grunhido de susto, mas Ragnar não parou.
— Não se distraia, nunca! — Girou a lança nas mãos, a ponta afiada tocou o chão e subiu com um rápido puxão.
Havoc cambaleou para trás, mas conseguiu se estabilizar a tempo de não cair no chão. Ela apontou a espada para ele, dizendo:
— Preste atenção.
Ragnar estava correndo quando ela veio ao seu encontro. Curioso pelo que estava por vir, ele parou onde estava e permaneceu em guarda.
— Agora! — Ela rugiu, avançou a toda velocidade e usou a Investida para fechar a distância entre eles a tempo de emendar um Golpe Duplo, Ragnar desviou girando o corpo para a direita. Ela redirecionou a espada contra o peitoral dele e usou o Corte em Lua Crescente.
Em um piscar de olhos a trajetória da lâmina deixou no ar um risco luminoso remetendo ao nome da técnica. Havoc guiou a espada na altura de seu peito em um corte que ascendente, então girou o corpo e desceu a lâmina na diagonal até sua cintura para aproveitar o movimento e encaixar um Corte Redemoinho.
Ragnar a havia subestimado em sua brincadeira de querer testar limites e acabou deixando-se atingir pelo golpe que o afligiu o status vulnerável, agora receberia 15% a mais de todo dano recebido em 12 segundos.
Quando ele ergueu sua lança para bloquear o Corte Redemoinho, o cabo da arma se partiu ao meio. O estalo ressoou em seu ouvido. Aconteceu o óbvio, a durabilidade da Perdição das Víboras havia zerado. Com isso, o terceiro e último corte da habilidade o atingiu em cheio, deduzindo 60 dos 100 pontos de vida que ainda lhe restavam.
Os olhos de Havoc ardiam em determinação. Quando sua combinação de ataques chegou ao fim, ela recuou um passo e permaneceu com a guarda alta. Ela falou:
— Sua arma foi destruída. Acabou...
— Você só está esquecendo de uma coisa — Ragnar disse. — Eu sou um druida.
— Apenas pague os 5.000 rubros que nos deve. Eu prometo deixar vocês em paz.
— Eu não tenho todo esse dinheiro.
Havoc se aproximou alguns passos.
— Você pode trabalhar para a gente até quitar esse débito. Eu não queria admitir, de verdade, mas você luta muito bem. Tenho certeza absoluta que um druida como você se daria muito bem conosco — Havoc ergueu sua arma. — Está vendo essa espada? Ela é um presente de meu chefe de quando fui promovida. Foi por causa dela que eu consegui quebrar seu palito de dente.
— Garota — Ragnar soltou um riso debochado. — Eu já tenho dívidas que chega na vida real. A última coisa que preciso é assumir outra aqui dentro. E obrigado pela oferta, mas eu não vou me juntar a uma guilda que fecha os olhos para golpistas que se aproveitam de novatos.
— Você não me deixa escolha. — Havoc voltou-se para o clérigo. — Continue me curando, não deixa minha vida baixar até a metade. — O clérigo confirmou sacudindo a cabeça.
Dessa vez foi Ragnar que partiu para cima. De mãos vazias ele acumulou na palma da mão a eletricidade emanando em seu corpo. A descarga elétrica rugiu ao sair de sua mão. Havoc virou-se imediatamente, mas, quando seus olhos refletiram o clarão azul, o peito do clérigo foi pulverizado.
Ela brandiu a espada contra o druida vindo em sua direção, ao tentar atingi-lo com uma estocada emendada por um golpe duplo, Ragnar derrapou sobre a grama, transformou-se em cobra e passou reto por entre as pernas dela.
Havoc o perseguiu, mas quando ficou a dois passos dele, seu corpo se chocou contra uma parede macia de pelos negros. O impacto a fez cambalear, quase caiu, mas conseguiu contrabalancear apoiando a mão direita no chão.
Ragnar alcançou o clérigo na hora certa, usou o corpo avantajado da forma de urso para derruba-lo no chão, morder a face dele e dilacerá-lo com três patas no peito. Seus golpes estavam mais fracos, afinal, não contava com o dano físico adicional da sua arma, mas o dano das formas animais vem primariamente dos atributos básicos.
Ele parou de agredir o clérigo quando ouviu passos de botas resvalando no gramado. Ragnar virou-se para conseguir captar a visão da espadachim em sua visão periférica.
Havoc não hesitou, logo partiu para cima com um salto, a espada brandida para descer em um corpo poderoso, mas Ragnar voltou a forma de serpente, a ponta da espada perfurou grama e terra. O druida se enrolou na perna direita dela.
— Não, não, não! — ela repetiu em desespero. — Sai de mim, para, não, para, por favor, sai! — Havoc tentou empunhar a espada para atacá-lo enquanto ele subia em seu corpo, mas suas mãos não paravam de tremer.
Ragnar enrolou seu corpo de serpente no tronco de Havoc. Então concentrou suas forças e a distribuiu por seu corpo, para esmagar sua vítima.
Então, com o canto de seu olho de serpente ele espiou o clérigo se preparando para conjurar um feitiço de cura. Depois de usar Esmagar em Havoc, Ragnar serpenteou até o ombro dela e se lançou contra o clérigo.
Em pleno ar voltou a forma humana e disparou uma descarga elétrica. O raio estourou na face do curandeiro, que berrou de susto e lamentou por sua conjuração ter sido cancelada.
Ragnar o puxou pelo braço e o arremessou contra a espadachim, que já vinha com a espada na mão e sangue nos olhos. O ombro do clérigo acertou em cheio o queixo da espadachim e, quando ela se recuperou e estava prestes a partir para cima, raízes brotaram do chão e agarram suas pernas, seu braço direito e seu pescoço, além de também se enrolarem nas mãos do clérigo.
Foi uma invocação perfeita, as cinco raízes conjuradas foram capazes de imobilizar seus alvos à perfeição. Na forma de urso negro ele se aproximou das suas vítimas. Ergueu-se nas duas patas traseiras e levantou para o alto a pata frontal direita, então a desceu contra a face do clérigo, que gemeu pouco antes de ser executado.
Ragnar voltou às quatro patas e encarou os olhos castanhos de Havoc com seus sombrios olhos vermelhos de urso ferro.
— Como? — ela disse com uma voz carregada — Como você conseguiu me vencer? Eu treinei tanto...
— Você vai me deixar em paz?
— Eu prometo. — Do canto do olho direito emergiu uma gotícula solitária. — Eu reconheço minha derrota.
As raízes espinhosas que a aprisionavam, antes verdes e perigosas, apodreceram e se esfacelaram em um segundo, sendo levadas por uma breve e suave lufada de vento. Havoc deixou-se cair de joelhos no chão, seu olhar voltou-se à grama entre seus dedos.
— Seus amigos irão me deixar em paz? — Ragnar quis saber.
— Acho que não. Nosso chefe não é de deixar uma humilhação dessas passar batido. — Ela suspirou fundo. — Eu vou ser rebaixada, e pior, vou perder minha espada.
— Não posso fazer nada quanto a isso. Foram vocês que me atacaram.
— Eu sei disso. — Havoc ergueu o rosto e falou: — Então anda, me mate. Eu prefiro acabar logo com isso do que adiar o inevitável.
A espada jazia na grama, ao lado de sua portadora. Ragnar se agachou de frente para ela, seu olhar voltou-se para o cabo prateado da espada. Sua curiosidade o fez perguntar?
— Posso ver sua arma mais de perto?
Os lábios dela se contraíram em raiva, os dentes rangeram quando proferiu:
— Por quê?
— Ela é linda. —Os olhos dela vieram ao seu encontro, exibindo uma expressão confusa. Ragnar especificou o que queria dizer: — Eu nunca vi uma espada longa de nível baixo tão linda. O design dela faz jus às espadas lendárias de nível alto.
Havoc segurou a espada, abriu o menu do jogo e compartilhou as informações para o arquidruida.
Lâmina de Salazar[Categoria: Espada] [Nível: 14] [Raridade: Épico][Dano Físico: 68][Efeito Especial: ataques dessa arma degradam o equipamento do alvo atingido][Descrição: uma delicada espada prateada. Forjada pelo avatar do ferreiro Zed]
— É uma arma incrível para o nível 14. Agora eu entendo sua relação com ela. E esse Zed, ele é um integrante da guilda?
— É o nosso líder. — Ela soltou um longo suspiro, então perguntou olhando para Ragnar: — Por que você ainda não me matou?
— Porque isso não resolveria meu problema. Então estou pensando num jeito de fazer vocês me deixarem em paz para sempre.
— Impossível — Havoc sacudiu a cabeça. — Ou você paga os 5.000 rubros ou vem trabalhar para a gente.
— Quantas pessoas tem na Pata Negra?
— Por volta de cem, a maioria joga diariamente. Então é melhor você pensar bem antes de...
— Não é tanta gente assim — Ragnar falou. — Eu acho que podemos fazer um acordo que beneficiará todo mundo.
— Prossiga.
— É óbvio. Eu aceito sua proposta, eu quero me juntar a Pata Negra.
— E toda aquela conversa de não pactuar com guildas que trapaceiam jogadores novatos?
— Meu plano vai garantir que sua... nossa guilda, não vá mais cometer esse tipo de abuso. Eu quero destruir a Pata Negra, mas eu preciso me infiltrar nela.
A boca de Havoc se abriu, mas nada saiu dela. Ela chacoalhou a cabeça e tentou fazer sentido das palavras que ouviu:
— E por que você acha que a gente iria aceitá-lo depois de me dizer uma coisa dessas?
— Por que eu sinto que você é infeliz trabalhando para eles, está perdendo seu tempo. Suas habilidades excedem em muito a de um jogador do seu nível. Você viu como seus coleguinhas morreram em um piscar de olhos?
— Mas... mesmo assim, por que eu trairia a guilda que me acolheu e me ensinou tanto? Eles me deram essa espada que você tanto gostou.
— Eu vou te fazer uma pergunta: qual é o seu sonho dentro de Nova Avalon?
— Você irá rir de mim...
— Eu juro que não vou.
Havoc reuniu coragem e respondeu:
— Eu quero entrar para um time profissional.
— A Pata Negra por acaso é um time profissional ou é apenas um capacho de outra guilda?
— A segunda opção... — Havoc admitiu um tanto envergonhada
— Então junte-se a mim. Juntos podemos destruir a Pata Negra e reconstruir algo infinitamente melhor no lugar dela. — Ragnar estendeu a mão.
— Eu sinto que vou me arrepender disso, mas quer saber? Foda-se! Você me convenceu, eu não suporto mais Zed e toda a Pata Negra. Estou dentro.
E assim eles selaram o pacto com um aperto de mãos.
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