De volta

Diego ligou uma música qualquer da sua playlist e deixou que tocasse no último volume através dos alto-falantes de seu sistema de som. Pouco importava os vizinhos.

Deitado de qualquer jeito no sofá, mexia no seu celular, sendo a música sua única companhia no apartamento. Tédio definia. Hércules fazia falta às vezes. Talvez até na fazenda de Vinícius fosse menos entediante do que ali. O cachorro com certeza estaria se divertindo horrores por lá.

Tédio também era a definição do que a sua rotina se tornou naqueles dias desde que retornou para casa. Dormir, acordar, comer, sair pra algum lugar, ensaiar com a banda… Ao menos havia conseguido normalizar seu sono. Males da estrada.

Terminou de responder a mensagem de um de seus colegas de banda, confirmando sua presença no ensaio que fariam à noite. Enquanto isso, tédio. 

Parecia não haver ninguém online àquela hora da tarde, percebeu conforme corria os dedos pelas conversas do aplicativo de mensagens. Parou na conversa de uma pessoa em específico, notando que a última mensagem era de dois dias atrás.

Clicou na foto de perfil para ampliá-la, vendo o sorriso travesso no rosto cheio de sardas e os cabelos rosa chamativos. Sentia falta da presença constante de Mirela, mesmo que não admitisse isso em voz alta. Ao menos o contato entre eles permanecia, mesmo que à distância.

O aparelho vibrou em sua mão e surpreendeu-se ao ver que era uma mensagem justamente na conversa dela. Sem pensar duas vezes, clicou.

"Que tal terminar aquele tour que a gente começou?"

Ele não compreendeu o que ela queria dizer e apenas esperou que terminasse de digitar.

"Estou no começo da Paulista"

"Quer vir?"

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso que ela sequer avisara que viria à cidade. Sem pensar duas vezes, escreveu uma réplica.

"Vai pagar a minha cerveja?"

A resposta dela veio menos de trinta segundos depois.

"Só se você não me deixar esperando demais"

Sem pensar duas vezes, levantou-se do sofá e pegou a jaqueta.


— Do jeito que você demorou, vou continuar te devendo sua cerveja — Mirela disse de súbito quando Diego  se aproximou.

Os cabelos cor de rosa eram inconfundíveis a metros de distância. Mesmo com a famosa avenida lotada de pessoas àquela hora, perto do final da tarde. São Paulo era um caos, como sempre. 

— O trânsito não é minha culpa — respondeu com graça, no que Mirela fez aquela expressão. Que Diego sentira falta de ver pessoalmente.

A moça ergueu o rosto e depositou um beijo nos lábios do guitarrista. Sem se importar com as pessoas que passavam ao redor feito água, Diego não deixou que aquilo terminasse tão rápido. Duraria tanto quanto fosse preciso para matar um pouco da saudade.

— O que você tá fazendo aqui? — ele questionou assim que sua língua voltou para dentro da própria boca.

Os dois puseram-se a caminhar lado a lado, misturando-se ao bolo de gente.

— Não gostou de me ver? — ela questionou com uma sobrancelha erguida. Diego  passou um braço pela cintura dela. Estava claro sua resposta. — A Silver Chain agora tá bombando, por causa de um certo alguém.

O guitarrista deu seu sorriso de canto.

— Eu não tenho culpa de nada. — Mesmo assim, sabia que não era verdade. Parte daquele sucesso repentino da banda de Mirela tinha sim a ver com o famoso integrante da Storm Riders. — Posso jogar seu nome no Google, agora que você ficou famosa? 

— Não é melhor saber de mim pessoalmente, do que procurar na internet? — Com essa resposta, os dois caíram na gargalhada. — Estava pensando em me mudar de vez pra cá. A Jéssica já veio e tô ficando na casa dela. — Referiu-se à vocalista da Silver Chain.

— E vai mesmo querer uma tour por São Paulo? — Foi a única coisa que Diego  fez questão de falar. Seu sorriso de canto deixava claro de que forma aquela notícia o atingiu. E sequer precisava dizer em voz alta.

— Se você não quiser, eu vou sozinha, não tem problema. — Mirela começou a desvencilhar-se do guitarrista. Diego  não deixou que ela se afastasse mais do que alguns centímetros, segurando-a pela cintura. 

— O que você acha? — retorquiu com seu sorriso ladino. — Se você me pagar a cerveja, claro.

Gargalhando, Mirela deixou-se ser guiada através do coração daquela que seria sua nova casa. Diego  exploraria aquela cidade com ela quantas vezes desejasse.

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