Capítulo 2
Quando Scott deixou o trabalho no final da tarde, a vítima ainda não havia sido identificada, também não existia nenhuma queixa contra pessoas desaparecidas, ou ao menos alguma que tivesse aquelas características.
Eve preparava o jantar quando Scott chegou em casa. Ver a sua esposa em segurança era uma das coisas que o deixava mais feliz. Ficava angustiado só de lembrar que quase a perdeu depois de um sequestro em represália a uma investigação. O detetive até mesmo pensou em abandonar a carreira depois do ocorrido, mas foi a própria esposa quem o incentivou a continuar. Eve prometeu que seria mais cuidadosa, não sairia sozinha quando Scott acreditasse que ela poderia estar correndo perigo.
Scott já tinha salvo a vida de muitas mulheres ao prender aqueles inúmeros psicopatas, se ele desistisse da carreira neste momento, tudo isso acabaria. Eve estaria segura, mas a consciência dela não estaria bem. Scott poderia deixar a carreira no momento em que acreditasse ser a hora certa, mas de maneira alguma por cauda dela.
— Boa noite, querida! — falou dando-lhe um leve beijo em seguida.
— Olá! Se quiser tomar um banho, daqui a pouco o jantar estará pronto.
— Vou sim, e depois te conto como foi o meu dia.
— Algum crime macabro, outro psicopata à solta por aí? Conta logo, ou vai me matar de curiosidade.
— Depois do banho — falou saindo em seguida, só para deixá-la ainda mais curiosa.
Scott sabia que Eve gostava de ficar por dentro de tudo o que acontecia em seu trabalho, não apenas como andavam as investigações de um novo crime, mas até mesmo a situação em que os corpos eram encontrados. Eve queria saber os mínimos detalhes, se ela tivesse seguido carreira, certamente que teria se tornado uma excelente médica legista ou até mesmo uma detetive igual ao marido.
Quando Scott retornou do banho, a mesa já estava servida, Eve o aguardava impacientemente.
— O cheiro está maravilhoso.
— Eu fiz aquele molho que você adora.
— O gosto está melhor ainda — falou Scott provando uma garfada.
— Então, aconteceu mesmo algum crime macabro?
— Não diria que foi macabro, não encontramos nenhum corpo faltando pedaços ou algo do tipo, mas não deixa de ser terrível. Hoje pela manhã foi encontrado o corpo de uma jovem, algo em torno de vinte e dois anos. Estava em um local isolado, o corpo totalmente nu, nenhuma peça de roupa ou qualquer objeto que possibilitasse identificar quem é a vítima.
— Então ela obviamente foi estuprada? Caso contrário não estaria nua.
— Não tenho tanta certeza, apesar de que o corpo foi colocado em uma posição bastante estranha, como se ela estivesse fazendo sexo e morrido naquela posição. As pernas estavam afastadas e ligeiramente dobradas.
— Nossa! Mais um assassino sádico.
— Talvez sim, a perícia acredita que o corpo foi deixado lá depois dela ser morta em outro local, ela foi estrangulada com alguma coisa bem fina, como a corda de um instrumento musical.
— Coitada! Será que é um novo colecionador de calcinhas? Afinal ele não deixou nenhuma peça de roupa.
— Acho pouco provável, mas pode realmente ser um imitador. De qualquer maneira ainda é muito cedo para tirar conclusões precipitadas. Ainda não sabemos em que circunstâncias ela foi atacada, ninguém deu queixa pelo desaparecimento até agora. Pode ter sido um crime passional, algo isolado, apesar de que a cena do crime foi muito bem montada. Parece que a intenção do assassino era realmente de mostrar aquilo que encontramos. Um corpo totalmente nu, simulando uma posição sexual.
— E o que pretende fazer agora? — perguntou Eve pegando mais um pedaço de carne.
— Vamos aguardar o laudo da perícia, mas espero que antes disso alguém relate o desaparecimento da moça. Precisamos saber quem era ela antes de começarmos a investigar mais a fundo. Era uma moça jovem e bonita, deve ter amigas, um namorado, também deveria ter um emprego, logo sentirão a sua falta, eu espero.
— Também espero e torço para que seja apenas uma vítima e não mais uma série de assassinatos.
— Sim, mas acho pouco provável que não seja.
Alguns minutos depois ...
— Querido, vem me ajudar a lavar a louça. Eu lavo e você seca.
— Claro, assim você acaba mais rápido.
Depois de meia hora Scott guardou o último prato no armário e Eve acabou de secar o mármore da pia.
— Agora eu também gostaria muito de fazer alguma coisa desaparecer — falou Scott se aproximando por trás de Eve, beijando seu pescoço a deixando com a pele toda eriçada.
— É mesmo, e posso saber o que é essa coisa?
— Sua calcinha — falou sussurrando em seus ouvidos e em seguida a pegou nos braços levando-a para a cama.
Os dois fizeram amor demoradamente e em seguida adormeceram abraçados. Dizem que o perfeito não existe, ou que nunca é possível ser tudo o que a outra pessoa deseja, mas Eve e Scott eram assim. Um casal perfeito, eles se amavam sem preconceitos, sem regras, de maneira incondicional. O fato de nunca terem tido um filho os abalou, mas isso já estava superado.
Naquela noite, Jeffrey estranhou quando Mary não apareceu para trabalhar. A moça costumava avisar sempre quando precisava faltar por algum motivo, mesmo que parecesse uma desculpa esfarrapada. Havia mais uma garçonete que trabalhava na lanchonete, o nome dela era Emma. Ela ainda tentou ligar para o telefone da colega de trabalho, mas o aparelho chamava até a ligação cair, provavelmente Mary não queria ser incomodada. Ela chegou até mesmo a imaginar que a amiga finalmente havia arranjado algum emprego melhor e que retornaria ali apenas para pedir demissão.
No domingo à noite a história se repetiu, Mary não apareceu para trabalhar e também não atendia ao telefone. Emma estava achando aquilo muito estranho, mas Jeffrey apenas dizia que Mary seria demitida por ser tão irresponsável daquela maneira.
— Olá, gatinha! Cadê a outra moça que trabalha aqui? — perguntou um sujeito com bafo de uísque e bigodes queimados pela fumaça de cigarros depois de se aproximar do balcão.
— Ela não veio trabalhar nessa noite.
— Que pena! Eu estava pensando em chamá-la para sair, mas nem tudo está perdido. O que acha de ganhar um dinheiro extra?
— Como assim? Está me chamando para fazer um programa? — perguntou de cara feia.
— Não diga isso, eu prefiro chamar de encontro. Você faz o que eu quero e ainda ganha um bom dinheiro. Garanto que muito mais do que consegue tirar em uma noite inteira trabalhando aqui.
Emma sabia dos rolos da amiga, mas ela mesma ainda não havia recebido nenhuma proposta como aquela. De qualquer maneira não aceitaria, nem queria saber qual era a quantia oferecida. A moça tinha namorado e jamais sairia com outro homem em troca de dinheiro.
— Não tenho interesse! Se quiser pedir mais alguma bebida, peça logo, vou atender aos outros clientes que estão com seus copos vazios.
Emma seguiu até as outras mesas, mas sentia perfeitamente o olhar do sujeito sobre a sua bunda. Se aquela situação continuasse, ela seria obrigada a procurar outro emprego.
**********
Na segunda-feira pela manhã, depois de ligar inúmeras vezes para Mary. Emma decidiu ir até a casa dela para saber o que havia acontecido, por que motivo ela estava faltando ao serviço e não atendia ao telefone. As duas não moravam muito longe uma da outra, por isso Emma foi caminhando até chegar lá. A porta da frente estava entreaberta. Emma chamou por Mary várias vezes, mas não conseguiu resposta. Ela resolveu entrar, mas só depois que fez isso é que percebeu que havia cometido um grande erro. A casa dela poderia ser a cena de um crime, pistas poderiam ser apagadas e o mais terrível poderia acontecer. Emma poderia encontrar o corpo da amiga, morta sobre a cama, estuprada, com a garganta cortada ou algo parecido.
No entanto, Emma já estava dentro da casa. Aparentemente não havia nada fora do lugar na sala ou na cozinha, mas nenhum sinal de Mary. A bolsa de Mary estava sobre o sofá, mas ela não tocou em nada. Apenas pegou seu celular e discou o número da amiga, em seguida o toque foi ouvido e um frio percorreu por sua espinha. Aquela era a mesma bolsa que Mary carregava da última vez que a viu. Será que realmente o pior havia acontecido?
Emma caminhou até encontrar o banheiro e com a ajuda dos pés empurrou a porta que estava apenas encostada, para seu alívio a amiga não estava estirada no chão banhada em uma poça de sangue. Ela seguiu sua pequena investigação e foi até o quarto fazendo o mesmo, sem colocar as mãos na maçaneta ela conseguiu abrir a porta e viu o interior do quarto. Nenhum sinal de Mary. A cama estava arrumada, isso significava que a amiga tinha saído logo pela manhã, depois de arrumar a cama. Mas por que teria deixado a bolsa e o celular? Ou então a cama nem chegou a ser desarrumada, Mary foi levada de casa logo que chegou do trabalho na última sexta-feira. Isso sim poderia explicar o seu sumiço, a ausência de notícias e a bolsa sobre o sofá. Mas se isso realmente tivesse acontecido ela precisava avisar a polícia, a amiga poderia estar em perigo.
Mary andava saindo com homens depois do trabalho, em troca de dinheiro, estava se prostituindo, essa é que era a grande verdade. Só Deus sabe com que tipo de homens que ela estava se relacionando ultimamente.
Ela pensou em ir até a polícia pessoalmente para prestar queixa contra o sumiço da amiga, mas isso demandaria tempo e ela ainda teria que pegar um táxi. Achou que seria muito mais fácil fazer uma ligação para comunicar o fato.
— Alô! Com quem falo e em que posso ajudar?
— Meu nome é Emma, minha amiga não dá notícias tem dois dias, nem apareceu no trabalho. Vim até a casa dela e encontrei a casa vazia, a porta estava apenas encostada, mas a bolsa com o celular estava sobre o sofá. Estou preocupada, tenho medo que algo de ruim possa ter acontecido com Mary.
— Fique calma! Você ainda está na casa dela?
— Sim, estou aqui.
— Existe algum sinal de arrombamento, algo fora do lugar ou quebrado, sinais de luta, sangue?
— Não, nada disso. A casa está perfeita.
— Você poderia aguardar aí até a polícia chegar? Vou pedir que uma equipe vá até o local para ver se descobrem o que aconteceu. Me diga qual é o endereço.
— Tudo bem! Vou esperar até que eles cheguem.
Emma ficou assustada com o resultado de sua ligação. Em poucos minutos a polícia estaria ali e faria um monte de perguntas, mas ela não sabia de nada. Ou melhor, sabia dos programas que Mary fazia, mas não tinha a mínima ideia se a amiga tinha saído com alguém na última noite em que a viu.
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