SETE
Consegui perceber a mudança de Dorian depois de nos relacionarmos pela primeira vez. Agora, sempre que ele ia ficar sozinho, mesmo que durante a semana, ele me chamava e não transávamos apenas uma vez. Para a minha sorte, ele era tão carnal quanto eu, o que era reconfortante – e a melhor parte disso eram as conversas que vinham depois.
Todas as vezes que nosso suor se misturava e ele sempre pedia por mais, era como se colocasse sob seu controle meu maior instinto – e a forma rígida como ele me mantinha na linha, fazia com que eu tivesse a impressão que ele tinha conseguido colocar um animal selvagem na coleira. Além disso, ele vinha treinando pesado a forma como colocava meu psicológico na coleira também.
Agora, ao invés de ficar com líderes de torcida, sempre que tínhamos um tempo após o treino eu ficava com ele – e a melhor parte era que ele não parecia se enjoar de mim. Enquanto certa vez ouvi que esse meu comportamento era "estranho", para Dorian era essencial. Ele gostava de sentir meu desejo por ele transbordar pelo meu olhar e eu gostava de demonstrar que o desejava, porque pra mim era realmente importante me alimentar.
Fora isso, quando estávamos juntos mais ninguém conseguia me encontrar. Isso, porque Dorian fazia questão de tentar me entender e me ouvir, eu retribuía da mesma forma, forçando-me a não fugir desses momentos usando celular ou algo do tipo. Queria que ele sentisse que tinha minha completa atenção quando estávamos sozinhos.
Aos poucos, para meus ouvidos sua voz soava como uma massagem, que me guiava até a paz e se tornou essencial pra eu poder me expressar de alguma forma. Levar flores, bombons e presentes para Dorian era como uma terapia para o meu coração – pelo menos eu podia colocar meus sentimentos para fora, mesmo que não conseguisse realmente expressá-los. Ouvi-lo me confiando seus maiores segredos fazia com que eu me sentisse especial e tocá-lo provava que o que eu estava vivendo era real. Dorian, aos poucos se tornou verdadeiramente especial pra mim.
Nossas famílias jantavam juntas regularmente, juntamente com a de Mike. Era bom perceber o relacionamento saudável entre elas e no aniversário do meu irmão, foi dado um jantar em que Tyler demonstrou gostar bastante de Dorian, o que me deixava tranquilo. Ele tinha pedido para que esse ano não fosse feita uma festa grande e minha mãe respeitou, apenas convidando nossos amigos próximos.
Para o meu irmão, de aniversário de 13 anos eu dei uma moto S1000RR de LEGO. Acho que não preciso expor que ele não se alegrou muito, mas era indiferente pra mim. Precisava fazer aquela cabeça funcionar.
No geral, embora ele não gostasse que eu dormisse fora, quando eu dizia que ia para a casa de Dorian Tyler não reclamava. Não sabia ao certo se meu irmão simpatizava com ele ou se já tinha entendido tudo, mas compreender essa questão não era um ponto crucial no momento – ou eu apenas não queria ter que lidar com isso.
As semanas e meses foram passando sem nenhum tipo de atividade incomum, até chegar a semana de aniversário de Jim, que era na mesma semana que meu aniversário. As eleições também vinham se aproximando e como ele escolheu fazer uma pequena reunião com família e os apoiadores mais fiéis, minha família foi convidada. Automaticamente, então, minha mãe fez questão de chamar a família de Dorian – o que era ótimo.
Vale a pena ressaltar que Jim aparecia recorrentemente em meus treinos de corrida, após a escola. Ele tinha até mesmo me dado um novo capacete – e esse apoio, pra mim, era bem importante. Eu tinha noção que Davis sabia das movimentações dele, em especial porque minha mãe sabia, mas dentro de casa nada disso era comentado.
– Esse aqui é o Jensen, filho de amigos queridos nossos. – ele me apresenta para alguns apoiadores, assim que entro na casa. Logo seus convidados começam a comentar sobre me conhecerem das pistas e o quanto eu corria bem.
Meu raciocínio não acompanha muito a conversa, porque poucos segundos depois vejo Dorian entrando na casa. Ele me observa de volta com um sorriso comprimido no rosto, enquanto bebo uma taça de refrigerante. Mesmo que não estivesse com meu sentido aflorado por causa de álcool, se ele continuasse me olhando daquela forma não demoraria muito até que eu sentisse fome.
– Jensen? – sou fisgado de volta para a conversa, encarando Jim.
– Sim?
– Conte pra eles onde será sua próxima aventura. – ele pede. Se Jim não controlasse seu tom de pai orgulhoso, logo as pessoas juntariam algumas peças importantes.
– Moto3, no começo do ano que vem. Vou para Misano, na Itália. Tudo vai ter um tempo bem apertado, por esse motivo estou treinando intensamente atualmente. Se eu deixar para treinar quando me formar, não vai dar tempo sequer de correr, porque vai estar na metade do campeonato. – explico e eles concordam com a cabeça, atentos.
– Não tem medo de cair e se machucar? – uma moça me pergunta e eu sorrio.
– Apenas me machucar é o melhor dos cenários, eu acho. – a moça me observa. – Mas se acontecer qualquer coisa comigo, eu sei que estou onde escolhi estar. Muitas pessoas se vão infelizes, eu pelo menos estarei ocupando o espaço que escolhi pra mim.
– É uma maturidade muito grande... ou tolice.
– Isso depende dos olhos de quem vê. Pra mim, no entanto, é consciência das minhas escolhas. Escolhi ser piloto quando estava acordado, não pintei como se fosse a melhor e mais segura decisão do mundo. – respondo.
– Ele parece você, Jim. Quando coloca algo na cabeça, não tira mais, mas defende o que quer com atenção aos detalhes, de forma polida. – ela diz ao Jim, que sorri levemente constrangido.
Me mantive na conversa com os amigos de Jim, até que todos se dissipassem. Depois disso fui ao banheiro e quando entrei, alguém bateu na porta. Terminei o que estava fazendo e quando abri para sair, Dorian me empurrou para dentro.
– Quer jantar um pouco? – ele pergunta e eu o observo. – Desculpa, tá muito gostoso nesse terno.
Sorrio, enfiando a mão no bolso e tirando uma camisinha de dentro dela. Felizmente eu sempre escolhia o banheiro mais distante da sala para ir, pois menos pessoas o usavam – acredito que muitos sequer sabiam da existência dele.
Como ali havia um espelho imenso, assisti as reações de Dorian de vários ângulos enquanto o penetrava. Algo que chamava minha atenção nele era que mesmo quando eu aumentava a força que usava, ele sorria e sussurrava pedindo por mais.
– Eu sei que odeia rapidinhas. – ele comenta, enquanto lavo minhas mãos, depois de terminar o que tínhamos começado.
– Por que acha isso? – pergunto e ele dá de ombros.
– Eu não acho, eu sei. E sei, porque acabou de lanchar e continua com essa cara de cachorro com fome. – ele responde, se aproximando. – Mais tarde me encontra aqui de novo. – é o que ele pede, abrindo a porta e saindo em seguida. Solto uma pequena risada, secando minhas mãos e saio logo depois dele.
Não demorou muito até que Jim começasse seus agradecimentos pela noite. Ele falou sobre a campanha e sobre o que esperava construir nos novos anos de mandato. Mesmo tendo uma desconfiança natural com políticos, eu gostava dele e não apenas por ele ter meu sangue. Era visível o quanto realmente tinha inspirações para mudanças e eu respeitava isso, acima de tudo.
Durante o brinde de agradecimento, Dorian me fuzilou com o olhar, praticamente sem piscar. A cada gole que ele dava em seu vinho, eu me concentrava ainda mais na nossa próxima vez, até ser arrancado de meus pensamentos no momento que Jim me chamou. Fui até ele com o olhar de Ellen afiado em minha direção, sem saber o que esperar.
– Essa semana também será aniversário desse rapaz incrível, filho dos meus queridos amigos. E por esse motivo, queria que comemorássemos também sua vida. É muito amado por todos que te conhecem, Jensen, espero que nunca esqueça isso. – concordo com a cabeça, me inclinando na direção de Jim e abraçando-o de lado, enquanto seus convidados batem palmas para nós dois.
Somente nesse momento olhei de lado e percebi que Jim era mais alto que eu. Me perguntei como esse detalhe nunca tinha chamado minha atenção, já que absolutamente todos da minha família eram menores que eu – incluindo meus avós. Realmente, as peças estavam ali há bastante tempo, apenas aguardando que eu tivesse atenção em montá-las.
Durante todo o tempo em que estive ao lado dele o olhar de Ellen ainda me fuzilava como uma arma semiautomática, o que era desconfortável. Quando a comemoração terminou, todos começaram a comer, juntos e tentei me concentrar apenas nisso.
Ao terminar, me levantei e fui até o banheiro novamente, ouvindo duas batidas na porta em seguida. Imediatamente destranquei a porta, permitindo que Dorian entrasse. Ele se apoia na pia e vou até ele, beijando-o. O puxo e encosto contra a parede, descendo minha boca pelo seu pescoço.
– Só vim ver como estava, Jensen, a mulher do Jim não parece gostar de você. – é o que ele fala, enquanto eu beijo seu pescoço e passeio com minhas mãos pelo seu corpo. Não tinha esquecido sua promessa.
– Ela vai ter que me engolir por muito tempo ainda, não se preocupe. – é o que respondo, voltando a beijá-lo em seguida.
Não demora muito tempo, até que ele comece a me beijar novamente. Era prazeroso estar com Dorian, porque sentia como se ele fosse além do que eu esperava para mim mesmo. Era um vício gostoso que eu esperava que não fosse rompido tão cedo. Me fartaria com esse imenso banquete quantas vezes ele quisesse.
De repente, ouvimos um jarro quebrar, o que fez com que a gente se afastasse e se encarasse. Saí do banheiro primeiro, seguindo um som que parecia ser de duas pessoas brigando, em passos cautelosos e Dorian me seguiu.
– Eu juro por Deus que se expor meu filho dessa forma novamente, eu mato você! – ouço a voz do meu pai, o que faz com que eu aperte meu passo até a sala de onde vinha o barulho.
Quando entro, vejo meu pai e Jim. Eles estava com parte de suas blusas desabotoadas, gravatas desalinhadas e meu pai parecia ter sangue saindo de sua testa. Era uma cena ridícula e por segundos nenhum dos dois pareceu notar minha presença.
– Sabe que jamais será amado pela Ágda como eu fui. E eu ainda sou. – é o que Jim responde. – E você não gostar, não faz com que Jensen e Tyler deixem de ser meus filhos, ora... não é visível que eles são lindos e você jamais teria capacidade de fazer filhos tão incríveis? – olho para trás por segundos, vendo Dorian completamente em choque.
– O que é isso? – questiono e ambos me encaram, tentando se soltar. Logo se afastam.
– Jensen... – Davis tenta falar.
– Chega. Se recomponham. – ordeno e ambos se levantam. Vou até Davis e arrumo tanto seu terno quanto sua gravata. Em seguida, vou até Jim, fazendo o mesmo. – Seus convidados estão lá fora, é ridículo que esteja em uma sala qualquer saindo no soco com seu melhor amigo. E você... – aponto para Davis. – Mais respeito na casa dos outros.
Ambos concordam com a cabeça, passando por mim em seguida, sem dizer mais nada.
– Jensen... – Jim tenta falar.
– Lavem os rostos antes de voltarem, estão com sangue. – termino e ele apenas concorda com a cabeça, saindo da sala em seguida. Fico parado por alguns segundos, coço minha testa, procuro o que dizer para Dorian.
– Que porra foi essa? – Dorian pergunta e eu me viro, olhando em seus olhos.
– Minha vida é levemente mais divertida do que parece. – respondo e ele sorri, concordando com a cabeça.
Quando voltamos para a sala principal, do outro lado da casa, lá estavam meu pai e Jim, fingindo que nada tinha acontecido. Fui até minha mãe, avisar que iria dormir em Dorian aquele dia. Ela concordou sem questionar e a mãe de Dorian também aprovou minha estadia. Acabou que ele e eu saímos mais cedo, com a desculpa que estávamos cansados dos treinos da escola e queríamos jogar videogame.
– O ex governador? Sério? – Dorian questiona e eu sorrio, enquanto permanecemos deitados em sua cama.
– Jim se elegeu as primeiras vezes pra impressionar meu avô. Quando eu era criança, ele tentava se aproximar, mas meu avô nunca deixou, mesmo que gostasse muito dele. – explico por cima, por não me lembrar muito bem dessa época. – Alguns anos antes do meu avô falecer, Jim deu um tempo da política. Agora ele está voltando e provavelmente vai engatar mandatos novamente. As pessoas gostam dele, o conhecem bem.
– Então o caso deles é antigo...
– Não tem caso. Minha mãe não trai meu pai com o Jim, até onde sei. São amigos. Tyler e eu viemos antes de ele casar, antes de ela casar. É complicado.
– Não estou julgando, Jensen. Não tem nem como. Não estava esperando, mas não tenho motivo pra julgar histórias que não conheço. – me aproximo de Dorian, que encosta sua testa na minha. – O que quer de presente de aniversário?
– Muito sexo, te comer de todas as formas possíveis várias vezes todos os dias. – respondo e Dorian começa a rir, sentando-se na cama.
– É sério. – ele ressalta e eu me aproximo de suas costas, mordendo-o.
– Também estou falando sério. Eu sou feliz dentro dos parâmetros que tenho hoje, Dorian. – ele me observa. – Estou melhorando nas corridas, superando a dificuldade diária de pegar uma moto menor e mais leve que a minha pra correr competitivamente... minha equipe espanhola está me acompanhando de perto. Minha família está saudável, as pessoas pararam de me jogar tanto ódio desde a última coletiva de Jim.
– Agora eu entendi o motivo pelo qual ele foi tão rígido quando falou de bullying virtual e sobre a responsabilidade da escola nisso...
– É, eu não acho que ele falou, porque eu estava passando por isso. Acho que ele falou, porque eu mostrei a ele o que estava acontecendo. Ele leu as mensagens que eu recebia diariamente, ele viu as fotos que as pessoas me mandavam, as ameaças. A crueldade. – explico e Dorian se vira pra mim, segurando meu rosto.
– Você é muito forte, Jensen. – ele fala e eu sorrio.
– Será? Eu ter aguentado tudo que vivi até hoje não me faz forte, me faz resistente. Tenho medo de surtar amanhã e perder tudo que construí, porque pra mim, enlouquecer não envolve apenas parar de correr. Envolve ver meus irmãos com pena de mim. E eu detesto ser digno de pena. – ele segura meu rosto.
– Entendo você. Também acredito que pena é o pior sentimento que alguém pode sentir por outra pessoa... mas não pode diminuir sua capacidade de lutar pelos seus sonhos por conta disso. É muito forte sim, às vezes me pergunto se é humano.
– Sou. Sangro como todos, sou egoísta, violento, muitas vezes chamo atenção do meu irmão por erros que eu cometo constantemente...
– E mesmo com todos esses defeitos, é muito mais que eles. Seu olhar transparece a necessidade de ser melhor todos os dias e o quanto se cobra sobre isso. Desde o que aconteceu com a Brie, você tem ficado mais atento a cada passo das pessoas ao seu redor, tem estudado comportamentos e claramente se importa. – dou de ombros.
– No final das contas, pra mim, todos os meus comportamentos englobam egoísmo. – olho nos olhos dele. – E quando perceber isso, você vai entender que talvez eu não seja o melhor pra você.
– Quando estamos juntos, você não atende ninguém. Você me faz carinho, me alimenta, cuida de mim... pra muitos isso pode ser o mínimo, mas pra mim é o máximo que já recebi.
– É legal estar com você. – respondo como consigo.
– É uma pessoa boa, Jensen.
– O que mereço por isso? Só ganhei coisa ruim até agora. – rebato e ele sorri de canto de boca.
Dorian passa os dedos delicadamente pelas minhas sobrancelhas, desce pelo meu nariz, bochechas e boca. Ele se aproxima lentamente do meu rosto, me dando um selinho e desce sua boca pelo meu pescoço e peito, enquanto me beija lentamente, olhando em meus olhos e começando a me chupar em seguida. Novamente, era muito bom ter encontrado alguém tão carnal quanto eu, porque ele parecia se divertir com isso.
No dia seguinte, precisei ir embora cedo, porque minha mãe queria fazer algumas compras, para poder realizar um almoço de aniversário pra mim no final de semana. Como eu não gostava de festas grandes e chamativas, apenas tinha aceitado esse momento, por ser importante pra ela não deixar passar em branco.
– O que acha? – ela questiona, me mostrando algumas louças.
– Bonitas, mas não gosto da proposta de colocar flores. Fica com uma aparência muito de casamento. Ah, e não se esquece que os pais da Brie virão, eles precisam de lugar perto da nossa família no salão. Cuide disso pessoalmente. – ela me observa. – Quero a mesa do Dorian e dos pais dele do nosso lado direito e a mesa do Mike próxima a dele. Ou conversa com eles de ficarem juntos, mas não esquece que o Wallace vai ficar com eles, não com a equipe, então tem que analisar a quantidade de lugares. Os pais da Brie, quero do lado esquerdo, não aceito outra composição. Se o Jim implicar, coloca ele e a família junto com os pais dela.
– Você sempre vai visitar eles, não é? Seu irmão me disse que o levou na última vez e que fizeram cookies. – ela comenta.
– Sim. E eles vão vir me ver treinar nesse final de semana, aí vão dormir lá em casa para o almoço domingo. Separei um quarto no térreo e pedi para que as meninas organizassem. – explico e ela concorda com a cabeça, surpresa. – Eles são pessoas maravilhosas, mãe.
– Já consegue dormir? Depois do que viu?
– Mais ou menos. Isso marca qualquer pessoa. Às vezes, quando pisco, vejo o olhar dela pra mim, como se implorasse por socorro. É como se meu cérebro me colocasse sob a pressão de que eu poderia ter feito mais do que fiz. Ao pilotar, evito piscar, pra não ter que ver isso... – observo o chão e ela se aproxima, segurando meu rosto.
– Seu avô ficaria orgulhoso do homem que criou. Sei que se cobra, mas a vida não funciona assim. Não podemos salvar todas as pessoas que conhecemos, Jensen. – consinto com a cabeça e ela solta um pequeno sorriso em minha direção. – Fico feliz de ver que vem construindo um relacionamento saudável com os pais dela e com outras pessoas. Ter tantas pessoas ao seu redor, demonstra quem é.
– Eles são gratos. Não sei exatamente pelo o que, mas são. Não sou próximo deles por obrigação, eles realmente me confortam. Inclusive, outra pessoa que tem estado bem presente na minha vida é o Jim. Até me ver treinar ele foi. Na verdade ele foi várias vezes com o Simon, sempre que estava por aqui. – minha mãe me observa. – Inclusive, por que não se separa? Se fizer, tenho certeza que ele faria também.
– Seu avô me pediu para prometer que não faria. – ela responde, olhando em meus olhos. – Não sou santa, Jensen. Escolhi o seu pai, junto com seu avô. Na verdade, escolhi o dinheiro e inteligência dele... enquanto isso for mais valioso pra mim, vou seguir aqui. Não sou vítima.
– Não tem pra onde fugir, não é? A mania de imposição é genética e o costume de submissão também. – brinco, olhando nos olhos dela por alguns segundos.
– Ao contrário do seu avô, pelo menos eu pude colocar de lado o que queria impor a você e ao contrário de mim, você nunca deixou de lado seus sonhos pelo meu descontentamento. – concordo com a cabeça.
– Prometa pra mim, então, que quando tiver forças, vai se separar e será feliz com o homem que ama de verdade. Não precisa me dizer uma data, apenas prometa. – peço e ela concorda com a cabeça.
– Prometo. Certo dia irei levantar, me sentar na nossa mesa de jantar com todos os nossos filhos e direi que quero me separar. – confirmo com a cabeça, olhando a louça que estava na mão dela naquele momento.
– Essa é horrível. – digo e ela sorri, voltando a fazer o que estava fazendo.
Meu almoço de aniversário seria realizado no salão que tinha em nossa casa, nos fundos. Minha mãe também estava organizando, para que tivesse uma mesa com doces e outras comidas fora, na parte da tarde, para aqueles que quisessem usar a piscina. Durante aquela semana, fui algumas vezes ver como minha minha mãe estava decorando as coisas e pra minha felicidade ela realmente tinha desistido da ideia de usar flores.
Da escola, além de Dorian e Mike, com suas respectivas famílias, também convidei Cooper e alguns outros colegas para o almoço e mesmo com a aproximação do evento, não deixei de realizar minhas obrigações. É claro que o tempo ficou bem curto, em especial porque minha mãe esperava que eu participasse de verdade de suas organizações, mas por outro lado, me sentia grato por poder viver esse momento com as pessoas que eu gostava.
De repente, no entanto, algo aconteceu. Sexta-feira cheguei em casa um pouco mais cedo, porque decidi faltar o treino de futebol americano. Meu irmão ainda estava na escola, então iria aproveitar para buscar ele de moto. Passei em casa, para pegar o capacete dele. Quando cheguei, percebi que a casa estava vazia, porque certamente minha mãe tinha decidido comprar mais coisas para o aniversário.
Caminhei até a escada, mas ouvi um barulho vindo do escritório de Davis. Mudei a direção, indo até a sala dele e percebi que a porta estava apenas encostada. Ao empurrá-la, o vi com uma mulher. Ele estava sentado em sua cadeira, no canto da sala, e ela, de joelhos no chão, entre suas pernas – vocês imaginam fazendo o que.
– Meu deus. – é o que Davis fala, se assustando ao me ver ali. A moça, então, para o que estava fazendo e quando se vira, vejo que se tratava da secretária dele. Sem dizer nada, apenas fecho a a porta e começo a caminhar em direção à escada novamente. – Jensen... – ele corre até mim, colocando a mão no meu ombro e eu viro de uma vez, dando um soco em seu estômago.
– Tira essa porra de mão imunda de mim. – é o que respondo, subindo as escadas.
– Jensen, filho, pensei que estivesse na escola, eu... – ele começa a tentar se explicar, me seguindo e eu paro, me virando lentamente pra ele.
– Então se eu estivesse, ela ia te mamar, você ia gozar e domingo ia agir como se fosse um grande pai? Mesmo que uma mulher, dois dias antes, estivesse dentro da casa da sua família te pagando um boquete? E se fossem meus irmãos que tivessem chegado mais cedo? – pergunto, olhando nos olhos dele, com os punhos cerrados.
– Isso foi um erro. – sorrio. Só podia ser ironia.
– Sua sorte, Davis, é que meu avô foi mais pai que você e me ensinou a ter autocontrole. Se eu fizesse contigo o que quero de verdade, pode ter certeza que domingo estaríamos te velando. – é o que respondo, olhando para o andar de baixo e vendo a moça caminhar até a saída.
– Eu vou demiti-la. – ele diz e eu olho em seus olhos.
– Pode demitir quantas pessoas quiser, não muda o fato de você ser um bosta. – vou até meu quarto e pego um dos meus capacetes, voltando e passando por Davis em seguida.
– Por favor não conte ao seu irmão. – ele pede.
– Não me siga. – é a única coisa que digo, saindo de casa em seguida.
Subo na minha moto e saio dali rapidamente, sem olhar para trás. Ainda iria demorar cerca de 40 minutos até que meu irmão saísse da escola, então fiquei esperando, pensando. Não era segredo que meu pai era infiel, ele nunca fez muita questão de esconder isso... mas fazer algo assim dentro da nossa casa, pra mim, naquele momento, era demais.
– Não acredito! – Tyler fala, assim que me vê.
– Já saiu? – pergunto surpreso, estendendo a mão, com capacete na ponta dela e ele sorri.
– Saí no horário normal, ué. – ele comenta e eu olho meu relógio. Realmente, apenas minha percepção de tempo tinha mudado.
– Vamos, sobe aí. – chamo e ele vem. Olho para o lado e aceno para Vante, que confirma com a cabeça e acelero em seguida.
Naquele dia, levei meu irmão para comer e depois disso fomos para casa. Lá, jogamos alguns jogos com Anista até dar meu horário de ir para o autódromo treinar. Tyler me acompanhou durante meu treino e depois disso fui treinar musculação. Chegando lá, encontrei com Dorian e Mike, que estavam mais empolgados para para o meu aniversário que eu.
– A gente vai sentar junto de você, né? – Mike questiona e Dorian me encara.
– Cada mesa tem 7 lugares apenas, aí minha mãe organizou pra ter uma mesa principal com as comidas e tal e reservou os lugares de cada família pelo nosso salão. – explico. – Ela conversou com seus pais, a mesa de vocês vai ficar do meu lado direito, aí vai ter você, seus pais, o Wallace, os pais do Dorian e ele.
– Sabia que o lado direito da mão é o que vai aliança de compromisso? – engasgo por alguns segundos, junto com Dorian.
– O que quer dizer? – pergunto.
– Que somos amigos compromissados. Obrigado pelo reconhecimento. – consinto com a cabeça, soltando um sorriso meio constrangido.
– Aconteceu alguma coisa? – Dorian pergunta e eu o observo, negando com a cabeça.
Ele não engole, é claro. Pelo meu olhar ele conseguia perceber que algo estava acontecendo, mas não estendeu o assunto – o que era ótimo. Treinamos e depois disso fui para casa, me preparar para o meu treino de pilotagem do dia seguinte.
– Podemos conversar? – Davis pergunta, depois de dar duas batidas na minha porta e abri-la.
– Não, some. – rebato.
– Eu entendo a sua raiva, você não precisa me perdoar... mas sou o seu pai, podemos lidar com isso de forma adulta? Domingo faz 18, ano que é o momento.
– Primeiramente, Davis, não, você não é o meu pai. Nem de sangue, muito menos de consideração. – fico de pé, me aproximando dele e olhando em seus olhos. – Nunca entendi o motivo de, na minha infância, você repetir tantas vezes que minha genética era ruim, se eu tinha parte da sua genética, certo? Hoje, por outro lado, entendo. Tem raiva, porque mesmo que seu dinheiro tenha determinado que casaria com sua mãe, ele não determinou que sejamos seus filhos de sangue. – ele entra no meu quarto, fechando a porta.
– O que tá falando?
– O que me chama atenção é que preciso te corrigir. Por não ter seu sangue em minhas veias, isso faz com que não, eu não tenha uma genética ruim. Me livrei. Por pouco, mas me livrei, assim como o Tyler. – ele se aproxima, olhando nos meus olhos. – Sou eternamente grato por ser filho do Jim e não de um lixo como você.
– Quem te contou isso? O Jim? Esse cara força uma aproximação estranha desde sempre, quero que fique longe dele...
– Dá um tempo. Você caiu no soco com ele outro dia e agora vai fingir que foi algo esporádico? E me faz um favor sério agora... arruma uma reunião pra domingo. – olho nos olhos dele.
– O que?
– Não quero que esteja presente no meu almoço. Se for, vou fazer questão de expor o que vi. Viu só, herdei esse jeito chantagista do Jim. – sorrio e Davis respira fundo, olhando em meus olhos por alguns segundos. Ele claramente não tinha o que dizer, por isso apenas confirmou com a cabeça, me olhando nos olhos uma última vez antes de sair do meu quarto.
Pelo menos ele não era idiota o suficiente para duvidar de mim.
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