OITO

Sábado acordei descansado, o que era raro de acontecer. Dormi uma noite completa depois de impor minhas vontades para Davis. Quando cheguei no autódromo os pais de Brie já estavam lá, me esperando. Bem, para ser exato e esclarecido, a mãe dela Lìqín, era chinesa, nascida na China. Já o pai, Hugo, era americano, com ascendência chinesa. Por ter passado uma parte significativa na China, no entanto, ele também tinha sotaque pesado, mas Lìqín era quem mais tinha dificuldade com o inglês.

Assim que cheguei, eles desceram de seu carro e vieram me receber. Os cumprimentei com muito carinho, chamando-os para entrar no autódromo. Apresentei o espaço pra eles, apresentei minha equipe e depois disso fui treinar. Naquele dia almoçamos juntos e na parte da tarde Vante trouxe meus irmãos para ficarem comigo. 

Meus convidados se deram muito bem. Lìqín se dava muito bem com crianças, o que deixou Anista encantada por ela, já Hugo gostava muito de moto, assim como Tyler. Naquele dia eles lancharam juntos, curtiram seu "camarote", montaram torcidas organizadas e no final da tarde fui surpreendido com uma faixa, feita por Lìqín e Hugo, escrito "Feliz 18 Anos, Pequena Jade" em mandarim. Quando desci da moto e li essa faixa, sorri, instantaneamente, me emocionando ali mesmo. 

Jade é o nome de uma pedra preciosa muito popular e valorizada na China. Saber que eles me reconheciam como algo tão especial, era imensurável. Me sentia grato por ser tão sortudo, apesar de tudo. Principalmente, porque pra mim ficava claro que eu estava reconstruindo neles algo que tinham perdido quando Brie se foi, no meio do ano – e reconstruir algo é muito mais difícil que destruir. 

– Tem alguma forma de se vestir para o seu aniversário amanhã? – Steve pergunta e toda a equipe fica em silêncio. Foi engraçado, porque era visível que ele tinha sido a voz de todos que estavam ali. 

– Claro, minha mãe disse que só aceita entrar quem for todo trajado de Gucci. Com o logo imenso em vários lugares, ainda. – eles se entreolham e eu começo a rir. – Óbvio que não tem forma de se vestir. Estejam confortáveis, ela arrumou a área da piscina, caso queiram tomar um banho. – eles comemoram. 

– Espera. – Steve me chama, antes que eu saia dali. – Catriel, eu e toda a equipe nos juntamos e compramos isso. – ele pega uma caixa, vindo até mim. 

– Não precisavam se preocupar com isso, gente. Vocês são importantes pra mim, independente de presente. – digo. 

– Pega logo isso, para de ser esse cara gente boa. – Catriel protesta e toda a equipe ri. 

Fiz o que ele pediu e peguei a caixa. Ao abrir, estranho. Era um capacete antigo, não sabia exatamente o que significava, até ver a assinatura no casco. Um arrepio sobe pela minha espinha, como se sentisse um abraço de meu avô naquele minuto.  

– Não tem como presentear um cara que tudo tem, então escolhemos a única coisa que não conseguiria ter. Esse capacete foi o capacete que seu avô usou na primeira vez que ganhou o MotoGP. – meus olhos se enchem de lágrimas e minhas mãos começam a tremer. Algumas pessoas da nossa equipe me ajudaram, segurando a caixa, enquanto eu tirava o objeto. – Ele foi leiloado há muito tempo. Estava em um museu de motocicletas na Califórnia. Então nos juntamos, levamos sua foto com seu avô até lá, oferecemos uma quantia alta, informando o cara que você era o herdeiro do seu avô. Que carregava o legado dele contigo e trouxemos pra você. 

– Sabemos que tem muitas coisas dele... – Catriel continua falando, enquanto eu choro copiosa e silenciosamente, segurando o capacete em minhas mãos e encarando a assinatura dele. – Mas esse ia ser difícil você conseguir, porque acreditamos que nem sabia da existência. – sorrio, chorando, concordando com a cabeça. – É pra nunca esquecer que nasceu pra isso, tá no seu sangue. 

– A dinastia dessa paixão corre em você, como corre em todos aqui. Respeitamos o seu respeito pela nossa equipe, seu comprometimento, sua vontade de vencer. Acontece, Jensen, que já nasceu vencedor, por ser esse homem de valor, como seu avô era. – Steve continua falando. 

– Somos muito gratos por termos a oportunidade de trabalhar com você. – Catriel completa e a equipe começa a aplaudir. Abro meus braços e começo a cumprimentar e agradecer um por um.

– Eu... – tento falar, mas um nó se forma na minha garganta por alguns segundos. Respiro fundo e me preparo para tentar novamente. – Definitivamente nunca pensei que algum dia receberia um presente tão... não tenho palavras para descrever. Agradeço por sempre cuidarem de mim, se preocuparem de verdade comigo. Agradeço do fundo do meu coração pelo sentimento que estão fazendo eu sentir nesse momento. Meu avô foi minha grande alma gêmea, estar aqui é a maior felicidade da minha vida. Sou verdadeiramente grato por tê-los comigo. Muito obrigado. – eles aplaudem mais uma vez. – Não esqueçam as Gucci com logo. – começam a rir. – Muito obrigado. – agradeço mais uma vez. 

Pedi que Lìqín e Hugo levassem o capacete com eles, para que fosse em segurança, no carro, quando estávamos indo embora, porque Vante e meus irmãos já tinham ido. Os guiei até minha casa e quando chegamos mostrei aos dois onde seria o quarto que tinha separado para os dois. Não tinha os colocado em um quarto no andar de cima, porque Lìqín tinha problema nos joelhos e não podia subir escadas. 

Quando minha mãe chegou, apresentei formalmente eles a ela, já que eles apenas tinham visto ela rapidamente na delegacia, na época que tudo aconteceu. Após conhecê-los minha mãe me chamou em um canto, porque queria conversar. Eu já sabia o que ela iria falar, mas me fiz de desentendido. 

– Sabe do seu pai? – dou de ombros. 

– Não, o que aconteceu? – pergunto. 

– Ele disse que tinha uma reunião, mas perguntei sobre isso para outros acionistas e eles disseram que não sabiam de nada. – ela responde e eu penso um pouco. 

– Não importa. Minha família está aqui já. Tanto as que eu ganhei, como as que conquistei. – seguro o rosto dela. – Ele não faz falta pra mim. O máximo que iria ganhar seria um passe de um ano de academia e um cheque que eu daria para o Mike. – encosto nossas testas. – Relaxa e curte o momento, sem se cobrar. 

– Tudo bem. – é o que ela responde e eu dou um beijo em sua testa, me virando para Lìqín e Hugo, caminhando de volta até eles em seguida. 

Os chamei para conhecer mais da casa, expliquei que eles tinham passe livre para andar por todos os cômodos, mas que tinha escolhido um quarto embaixo, por conta das limitações de saúde de Lìqín. Mostrei-os a área da piscina, que estava movimentada por conta da organização do evento e o salão na parte de trás da casa. 

Achava importante essa apresentação, pois era a primeira vez que eles vinham até minha casa. Queria conseguir proporcionar a eles o melhor conforto possível, não só físico, como psicológico – principalmente por terem voltado a cidade apenas por minha causa. Não era simples para eles estarem aqui, sabendo o que as pessoas pensavam sobre todo o caso. 

– Jensen, venha aqui... – Lìqín me chama e eu a acompanho, juntamente com Hugo, até seu quarto. – Vire o pulso. – ela pede e eu faço, recebendo uma pulseira. – É para sua proteção. Acreditamos que o maior ato que podemos oferecer a quem amamos, é a proteção. E mesmo em meio a toda tristeza e desespero, você nos deu uma nova chance. Quando eu vim para esse país, acreditei que poderia escrever uma nova história. De amor e prosperidade... perder Brie, foi como ver todos os nossos sonhos se desmoronarem. 

– Mas então, quando surgiu, percebemos que mesmo em meio a tanta dor, tínhamos o que agradecer. – Hugo completa e os dois me abraçam, fazendo com que meus olhos marejem. 

Naquele momento, eles rezaram para mim um mantra de proteção e quando terminaram Lìqín me deu um beijo na testa, olhando em meus olhos. A compaixão era visível, o que me fez entender, de fato, pela primeira vez, o motivo pelo qual os pais de Brie tinham tanto carinho por mim. 

– Eu sou muito grato por tê-los comigo. – é o que respondo, olhando os dois nos olhos. 

Isso era importante pra mim. Ver as diversas expressões de carinho que as pessoas tinham por quem me tornei. Isso transparecia que trabalhar em mim pelo meu irmão vinha me trazendo frutos e conexões além dele. 

Ao chegar no meu quarto, em cima da minha cama estava a roupa que minha mãe tinha escolhido para o dia. Ela tinha visto em algum dos desfiles que gosta de assistir com a mãe de Dorian e decidiu que seria perfeito para o meu aniversário – como eu não tinha direito a voto, porque só vestia roupa de motociclista, apenas aceitei. 

Peguei tudo e coloquei no meu guarda-roupa, com cuidado para não amassar ou estragar – já que, caso acontecesse, ela me mataria – e depois disso fui tomar um banho. Na pulseira que ganhei, percebi que tinham alguns pingentes, todos dourados. Ela era verde, o que achei atencioso, já que eu já tinha comentado com eles que era minha cor favorita. 

Acabei tomando o meu banho e depois disso desci para o jantar. Ali, estavam presentes minha mãe, irmãos, Lìqín e Hugo, apenas. Minha mãe disse a eles que meu pai não poderia participar dessa vez, por conta de alguns imprevistos e mesmo que fosse estranho, não tivemos qualquer questionamento. 

Após o jantar, avisei minha mãe que iria em Dorian e quando cheguei na casa dele, ele pediu que eu entrasse por trás. Assim fiz – mesmo que fosse suspeito, já que em meses ficando com ele, esse pedido nunca tinha sido feito, nem mesmo quando seus pais estavam em casa. 

– Tô me sentindo um amante. – sussurro e ele pede que eu fique em silêncio. Subimos as escadas na ponta dos pés e entramos em completo silêncio em seu quarto, que estava completamente escuro. 

Quando Dorian ligou a luz, no entanto, pude ver que o quarto estava decorado. O observo, sem acreditar no que estava vendo. Ele tinha montado uma caixa com uma miniatura da minha moto e um quadro, com recortes de reportagens sobre o meu avô – além de todos os meus chocolates favoritos. 

– Quem te contou? – pergunto e ele sorri. 

– Catriel. Acho que o Mike nunca descobriu, porque não gosta de ir te ver treinar. – sorrio, concordando com a cabeça. – Eles têm muito orgulho de você, do que vem conquistando e construindo. – pego a miniatura da moto e observo de perto. Ela tinha todas as modificações que eu já tinha feito na minha. 

– Não é a miniatura de uma Ducati. – comento, olhando ele por alguns segundos. 

– Não. É a sua moto, única e exclusiva. – sorrio. 

– Arrumou seu quarto sozinho pra mim? – ele concorda com a cabeça, olhando em meus olhos. 

– É pra você me comer em todas as posições e quantas vezes quiser. Decidi deixar todos os cantos confortáveis. – sorrio, indo em direção a ele. 

– Muito obrigado. – digo, emocionado. – Obrigado de verdade. 

– Que linda... – ele comenta sobre a pulseira. 

– Ganhei dos pais da Brie. Estão hospedados na minha casa. 

– E o que está machucando seu coração? – ele volta ao que percebeu na academia. 

Não adiantaria tentar me esquivar. Dorian, assim como Tyler, me estudava o tempo inteiro. Meus olhares, trejeitos e vícios de linguagem eram como campos que ele poderia desbravar. 

– Flagrei meu pai traindo minha mãe ontem. – respondo, inquieto e Dorian fica claramente em choque. – Desculpa, amor, não quero pesar seu presente lindo... – ele nega com a cabeça, olhando ao redor por alguns segundos. 

– Vem aqui. – ele se senta em sua cama e me puxa, eu apenas o obedeço.

Dorian me puxa até a cabeceira, me ajuda a tirar minha jaqueta, blusa, calça e luvas. Depois disso ele permite que eu me conchegue nele e ficamos agarradinhos, enquanto ele faz cafuné em minha cabeça. 

– Ordenei que ele não aparecesse no meu aniversário. Ele só vai sumir e não tenho ninguém em casa pra compartilhar isso. Desculpa despejar em você logo em um momento tão especial... – comento e ele puxa meu rosto. 

– Não peça desculpas por confiar em mim. Nunca mais. – Dorian responde. – Obrigado por me contar. – sorrio. – Como foi ter plateia hoje? Não consegui ir, minha mãe precisava de alguém pra dar opinião nas roupas que trouxeram pra ela experimentar, tive que assistir ela trocar de roupa umas 30 vezes, trocar sapatos, escolher joias... 

– Foi ótimo. Ver meus irmãos ali, com os pais de Brie... minha equipe me deu de presente o único capacete autografado que meu avô usou. – Dorian parece surpreso. – Eles foram até a Califórnia pra trazer, eu nem sabia que esse capacete existia. Me senti grato por ter uma equipe que verdadeiramente me considera. Eles têm minha vida nas mãos, todos os dias. Se ainda estou vivo, devo isso a eles também. 

– Você é muito especial, Jensen. Acho que precisa ter dimensão do que causa nas pessoas que têm ao seu redor. – o observo por alguns segundos. – Liguei pro meu irmão hoje. Conversamos sobre minha orientação sexual, expliquei pra ele que isso não era um problema, não podíamos destruir nossa relação por isso. Acho que conversamos por algumas boas horas, nunca tinha sido tão sincero sobre meus sentimentos para o Erick. 

– E ele? – os olhos de Dorian marejam. 

– Entendeu. – sorrio, junto com ele. – Ele me pediu desculpas pela forma como agiu e entendeu. Ele disse que tinha criado na mente dela expectativas sobre tudo o que ele acreditava que eu representava pra ele. Mas que não deixou de me amar e respeitar por conta disso... você estava certo. Acho que tenho que aprender a ter uma conversa franca com o meu irmão.

– Vamos conseguir, juntos. – respondo e entrelaçamos nossas mãos. 

Sinceramente, acredito que nunca tinha gostado de ninguém como gostava de Dorian. Aos poucos, ele conquistou um espaço no meu coração, que sangrava mesmo sem estar machucado. Esperava que todas as pessoas tivessem a oportunidade de ter o peito preenchido com o sentimento de acolhimento, felicidade e paz que ele me dava. Era como flutuar em uma imensidão calma, sentindo uma leve brisa contornar meu rosto. 

No entanto, nunca tive coragem de dizer que gostava tanto dele. E acredite, sou do time que pensa que o óbvio também precisa ser dito. Se pudesse escolher, seria eternamente de Dorian, mas o meu maior problema no momento era não aceitar os possíveis ônus disso. Ter que me dedicar por mais tempo para manter um relacionamento, caso assumisse, lidar com os comentários negativos mais uma vez, ser perseguido nas pistas – já que a área do motociclismo era extremamente homofóbica. Mesmo que eu nunca tivesse gostado de ninguém como gostava de Dorian, a junção de todos esses campos pesavam mais. 

– Como fez a miniatura exata da minha moto? – pergunto e ele sorri. 

– Contratei um artista plástico pra isso. Mandei fotos da sua moto em todos os ângulos e ele fez. É única, assim como a sua. – ele explica, me observando e eu o beijo. – Catriel disse que seu avô montou ela pra você, aí busquei algumas matérias da época, achei que iria incrementar, já que ele faz parte desse momento também. 

– Você é muito incrível. – nos sentamos na cama. – De verdade. – meus olhos marejam e ele segura meu rosto, antes que eu desvie o olhar. 

– Não desvie o olhar quando todo esse sentimento estiver de frente pra mim. Quero conhecê-lo. – ele pede, sussurrando, mordendo seu lábio inferior. 

Mantive meus olhos cravados nos dele por alguns segundos, enquanto uma lágrima solitária escorria de meu olho esquerdo pela minha bochecha e queixo. Em sequência, tirei sua mão de meu rosto e fui em sua direção, beijando-o. Passeei meus lábios lentamente pelo seu corpo e ao voltar até sua boca, percebi que ele já estava completamente entregue. O observei por alguns segundos, antes de prosseguir, porque era lindo.

Dorian tinha uma sequência detalhada de poesia visual, que conseguia inundar meus sentidos, como um imenso presente. Dessa forma, ele conseguia me seduzir por completo durante o tempo que quisesse, como se tivesse controle absoluto de todos os nossos momentos. Como consequência disso, nos relacionamos algumas vezes naquela noite. 

Certamente ter me alimentado tão bem na noite anterior, foi o motivo para que eu acordasse, domingo, tão calmo. Saí da casa dele cedo, antes mesmo de ele acordar, porque minha mãe tinha pedido que eu estivesse em casa para tomar café com meus irmãos e receber os presentes deles na manhã de domingo. 

Quando cheguei, por volta de 5h da manhã, todos ainda dormiam. Por esse motivo fui para o meu quarto e quando cheguei, vi Tyler e Anista dormindo juntos, no canto da minha cama. Tomei um banho rápido, trocando de roupa para uma mais leve e deitei com eles, sem acordá-los. 

Mais tarde fui acordado por eles, com cócegas e chamados. Ao abrir meus olhos, vi que Tyler segurava uma bandeja com meu café. De plateia tínhamos Anista, minha mãe e os pais de Brie, que estavam emocionados. 

Dei um beijo na testa de cada um deles que estavam presentes e compartilhei meu café da manhã com eles. Sabia o quão importante era, principalmente para os meus irmãos, sentirem que estavam fazendo algo significativo na minha vida. 

– Aqui. – Anista coloca uma caixinha em cima da minha cama e eu observo ela e meu irmão. 

– É um presente de todos nós. – minha mãe explica e quando abro, vejo que se trata de alguns papéis. 

Começo a ler e vejo que além de hospedagem em hotel 5 estrelas por todos os países que eu passaria no próximo ano, passagens de avião primeira classe, também tinham passeios e um crédito para todos os países que passaria na competição da Moto3. 

– Você vai precisar vir para fazer suas avaliações finais, mesmo que o Moto3 comece em março. Não pode faltar nenhuma avaliação e vai frequentar as aulas entre as corridas, no período de "pausa" entre uma e outra. Por esse motivo, achei que seria melhor que viajasse de primeira classe. Vai ser um período conturbado, meu filho. – minha mãe explica, olhando em meus olhos. – Mas vamos conseguir, todos juntos. 

– Vamos conseguir. – respondo e os puxo para um abraço grupal. Com as mãos, chamo os pais de Brie, que se aproximam timidamente de nós. – Muito obrigado. – olho nos olhos da minha mãe. – Não só pelo presente, mas principalmente pelo apoio. 

– Não vou lutar contra o seu sonho. – é o que ela responde e eu aceno positivamente com a cabeça. 

Terminei de tomar meu café com meus irmãos e depois disso eles foram se aprontar para o almoço. Eu fiquei na cama por mais algum tempo, respondendo as mensagens de felicitações de meus colegas de competição, outras equipes de motociclismo, colegas de escola e afins. Depois de cerca de 40 minutos, Anista surgiu no meu quarto, com o cabelo penteado, juntamente com Tyler. 

– O que deseja, princesa? – pergunto e ela sorri, caminhando até mim. 

– Faz trança raiz em mim? – pergunta. 

– Claro. E você, o que quer? – pergunto a Tyler. 

– Que me ensine. Quando for correr, preciso saber pra fazer nela, já que não vai estar aqui. – ele responde e eu sorrio, concordando com a cabeça. 

Passei alguns minutos ensinando meu irmão a trançar o cabelo de Anista, pois primeiro fiz e depois desmanchei e deixei que ele fizesse, auxiliando-o durante o processo. Desde que minha irmã começou a ter cabelo em um tamanho que pudesse trançar, eu fazia. Tinha aprendido com a minha avó, porque ela gostava de fazer penteado nas meninas do nosso bairro na minha infância.

Quando terminamos, fui tomar um banho demorado para me aprontar. Fiz minha barba, arrumei o meu cabelo, escovei os dentes e depois disso me vesti. Minha mãe tinha escolhido uma calça social, camisa de botões canelada vinho e sapato social. Assim que terminei de me vestir, ela bateu na porta e eu autorizei que entrasse. Quando minha mãe entrou, arrumou minha camisa e colocou um relógio em meu pulso. 

– Linda essa pulseira. 

– É pra proteção, os pais da Brie me deram de presente. – explico. – Obrigado pelo apoio. Foi bem importante ouvir sua afirmação. 

– Sabia que iria gostar. – ela responde, olhando em meus olhos. – Quando expliquei ao seus irmãos, eles disseram que você não ia gostar, porque poderia comprar sozinho tudo o que ganhou. Mas então tive que explicar que a questão aqui não era preço, era o valor. O valor do nosso apoio ao seu sonho é mais precioso que qualquer outra coisa e eu quero que saiba disso.

– Saber que tenho o apoio de vocês me dá um motivo a mais pra lutar. Tenho medo de ser sua decepção, carregar sua impressão negativa sobre o meu sonho era um fardo. Pra qualquer filho, carregar o desgosto de um pai é pesado. – explico a minha mãe, olhando em seus olhos. – Obrigado por me libertar.

– Você é o meu filho precioso. O bilhete dourado que fez eu me sentir viva novamente. Sem você eu não suportaria, Jensen. Tudo que te falo, é porque de alguma forma tento preservar minha maior preciosidade. – ela responde. – E agora, com 18 anos, posso te informar que você pode ter acesso ao que seu avô deixou pra você. 

– O que? O que ele aprontou? – minha mãe pega seu celular e aponta em minha direção em seguida. Meu avô tinha me deixado uma fortuna investida, fortuna essa que pela quantidade de tempo rendendo, já tinha triplicado de valor. – Mas queria te pedir pra pelo menos fazer uma faculdade. Sei que não precisa, sei que tem o seu sonho... mas queria, de verdade, te ver formado em algo. Pode pelo menos tentar? 

Pego delicadamente o celular da minha mãe, observando aquela quantidade de zeros no fundo financeiro que tinha meu nome. Reflito um pouco sobre o pedido dela, respeitando sua vontade, observando-a em seguida. 

– Vou pra Inglaterra, estudar quando conseguir primeiro lugar no Moto2. No ano de MotoGP, vou sim fazer uma faculdade por lá. – explico a ela, que fica paralisada por alguns segundos. – Pouco antes do falecimento da Brie, eu já estava desesperançoso de usar o futebol americano pra tentar uma faculdade aqui. Depois que ela se matou eu... não vou conseguir. – minha mãe me abraça. 

– Te apoio, independente da sua decisão. Obrigado por considerar meu pedido. – é o que ela diz. 

– Outra coisa, depois da Moto3, vou tentar a Moto2. Então faculdade só vou pensar, lá pros meus 20 anos, não fique pensando que vai ser imediato. – ela consente com a cabeça, me abraçando mais uma vez. 

Sabia o esforço que ela vinha fazendo para considerar meus sonhos e vontades, respeitava e valorizava isso. Precisava passar a olhar de forma adulta para as palavras da minha mãe, antes de reagir negativamente a todas as suas propostas. 

Após nossa conversa, ela saiu do meu quarto e entrei na conta bancária com meu nome que tinha recebido acesso recentemente. Lá, o dinheiro que ela tinha me mostrado demonstrava estar disponível. A quantidade me assustou de tal forma, que minha primeira reação foi fechar o aplicativo do banco e ignorar – precisava de um tempo para me acostumar com isso. Por mais que minha família tivesse muito dinheiro, nada disso nunca esteve diretamente em minhas mãos de forma livre, como estava naquele momento. Dessa forma, deixei o meu celular no quarto e sai dali em seguida. 

Quando cheguei no salão, alguns convidados já tinham chegado. Recepcionei todos com bastante carinho os direcionei até suas mesas. O almoço acabou sendo exatamente como eu esperava: tranquilo, apenas com as pessoas das quais mais gostava. Inclusive, a mesa em que Jim, esposa e filho ficaram, foi realmente a mesma onde estavam os pais de Brie. 

Como Davis respeitou minha imposição, chamei que Dorian e Mike sentassem comigo e minha família e coloquei Vante junto com suas famílias. Ele era importante demais para ficar distante de mim. 

Conforme foi entardecendo, os que ficaram foram em sua maioria meus amigos mais jovens. Fizemos uma pequena reunião na piscina, jogamos baralho e ao anoitecer, todos foram para suas casas. Isso, porque no dia seguinte teríamos mais um jogo da temporada – e precisávamos descansar um pouco. Quer dizer, esse foi o motivo que me fez encerrar a festa cedo, mas aparentemente Cooper estendeu as comemorações até a madrugada daquele dia. Não compareci, mas pelos boatos foi algo relativamente grande.  

O único, fora os pais de Brie, que ficou na minha casa, foi Dorian. Inventei uma desculpa para os pais dele, sobre precisar de ajuda para organizar meu quarto. Como Mike se recusou fortemente a ficar – e sinceramente ele não ajudaria em nada, já que ele era a pessoa mais desorganizada que eu conhecia –, meus irmãos estavam completamente apagados de cansaço e minha mãe precisava lidar com o pós da festa, ficou fácil me fazer de coitado. 

Ao entrarmos no meu quarto, começamos a abrir os presentes que os outros convidados tinham me dado. Ganhei bastante roupa, sapato, luvas de motociclista, botas e artigos de decoração. Não esperava ganhar tantas coisas. Experimentei algumas, o que fez com que Dorian e eu nos divertíssemos durante o processo. 

– Ansioso pro jogo amanhã? É seu primeiro depois de voltar, né? – ele pergunta, enquanto tiro minhas botas, que eram os últimos presentes que tinha experimentado. 

– É. É o primeiro que meus irmãos vão me assistir também. Os pais da Brie vão levar ele e Anista. Espero que gostem... 

– Deixa eu te falar. – observo Dorian. – Sinto que tem alguma coisa acontecendo. 

– Como assim? – pergunto, desconfiado, me sentando de frente para ela. 

– Durante o tempo que passou fora, ouvi algumas conversas sobre os caras irem para a casa do Bill fazer algumas coisas que definitivamente professores não fazem com alunos. E não só ele, como aquela Abigail também. – olho nos olhos de Dorian, sem resposta. – Deixa pra lá. Devo estar pirando. 

– Não. Há algum tempo eu vi o Kyle seguindo eles no refeitório. Por qual motivo um garoto do segundo ano seguiria professora e treinador que nem fazem parte da convivência dele? Enfim... 

– Cuidado com isso. Sabe, não sabemos onde pode levar. 

– Se levar a algum lugar sério, espero descobrir rápido. Certamente meus irmãos vão estudar na nossa escola daqui uns 3 anos. Descobrir e desmascarar é a melhor forma de tentar protegê-los de alguma forma. – explico e Dorian respira fundo, concordando relutantemente com a cabeça. 

Mesmo que ele não gostasse, ele sabia que eu estava certo. 

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