oito

Oito - Take It Off

Cinco dias se passaram desde Domingo. É sexta-feira e a minha casa ainda está com o clima frio que o entrave entre minha mãe e meu irmão criaram. Ás vezes - na realidade, na maioria - minha mãe gosta de subestimar as pessoas que não se adequam ao mundo dela, é a mania de Addison Foster. Como por exemplo ela acha que a Charlie não seria uma boa esposa para o meu irmão porque ela nasceu no campo e é "simples'' demais para ser um Foster.

Mas, por Deus, ela é literalmente a pessoa mais doce que já conheci! Ela e Autumn, sua irmã, são super inteligentes. Me lembro do dia em que tentaram subestimar Autumn, achando que ela não conseguiria entender uma conversa sobre economia e minha mãe mandou ela ir fazer outra coisa, ela emprumou os cabelos loiros e o nariz de boneca e estreitou os olhos claros e simplesmente respondeu uma resposta a altura explicando uma tese boa sobre porque a bolsa de valores está caindo, que deixou minha mãe de queixo caído. Houve também o dia em que Charlie passou na Universidade de Chicago para fazer veterinária, minha mãe ficou impressionada mas, para não demonstrar apenas fez um comentário bem sem graça, "Pelo menos, não vai viver alimentando cabritos pelo resto da vida".

- Srta. Foster, a senhorita entendeu o que eu acabei de explicar?- droga, eu estava tão concentrada no meus pensamentos que esqueci de prestar atenção na aula de matemática avançada.

Olho de relance para Megan que está me olhando confusa, depois encaro o quadro. Funções gráficas complexas. Graças a tudo que é mais sagrado, eu tinha revisado isso ontem e tinha realmente entendido tudo

- Sim - falei baixo, a senhora rechonchuda e baixinha com os cabelos presos em um coque e os fios escuros brilhando com a oleosidade me olha desconfiada - Sim, senhora Conti, eu entendi.

O sinal bate e o bando de adolescentes eufóricos saem da sala em direção a cantina. Chego ao meu armário e checo o meu horário depois do almoço, educação física, economia e culinária, que eu não faço a menor ideia porque raios eu me inscrevi, mas que seja, pelo menos não é treino de líder de torcida.

Meus colegas e o pessoal do time se juntam a mim na nossa mesa usual, Leah - namorada do Alan do time de basquete, alta e bonita do tipo que se levantar um dedo vários meninos caem em seus pés - e Megan conversavam animadamente sobre a coreografia dos amistosos da escola. Eu por outro lado tento ouvir as duas conversas, já que os meninos estavam falando do próprio amistoso. Me esforço para parecer interessada nas duas, mas na realidade só balançava a cabeça fingindo interesse.

- Tracy? Você escutou o que eu acabei de falar? - a voz com o sotaque da Califórnia de Leah passou em meus ouvidos, atraindo a mesa inteira, eu nego envergonhada - Seu telefone está tocando.

O pego rapidamente, saindo da mesa e atendendo:

- Tracy, oi - a voz da Hill soa do outro lado da linha - Qual é o seu armário?

- Oi, como assim o número do meu armário? - respondo confusa.

- Seu armário do colégio, entendeu? Ou precisa que eu desenhe. - Grossa.

- 195A, isso eu tinha entendido, mas porquê?

- Você vai entender, só vá até ele daqui há cinco minutos. - e desliga na minha cara, respiro fundo. Ok, você só vai pegar a bolsa e vai vazar daquele refeitório, sem dar nenhuma satisfação a ninguém. Me viro, voltando a atenção até o grupo e caminhando até lá.

Mas, como o de costume nada dá certo, assim que eu chego na mesa vários pares de olhos me encaram como se eu fosse uma alienígena. Vão desde de preocupados, até arrogantes. A primeira que se prontifica a me perguntar o que estava acontecendo é Megan:

-Quem era, Tracy?

- Minha mãe - mentir, para mim, esses últimos meses vêm sendo fácil. Parece que quanto mais você mente mais fala a verdade, e vai se tornando parte da minha vida.

- Na hora do almoço? O que ela queria? - agora é a vez de Leah perguntar. Será que ela não poderia ser mais inconveniente?

- Ela estava perguntando se os relatórios da empresa estavam prontos - doou um sorriso amarelo - a conversa estava muito boa mas, tenho que ir. Pode avisar o Sr. Manners que não vou na educação física e a Sra. Hills que não vou na aula de educação financeira? O Baile de Homecoming está consumindo o meu tempo e o resto do comitê escolheu o tema de luau. Eu preciso ir atrás de algumas coisas hoje a tarde, eu tenho certeza que vocês vão adorar o baile. - a mudança de assunto foi genial, logo engatilhou bando de adolescentes em uma longa conversa sobre roupas e afins. O único que percebe que eu estava saindo de fininho foi Adam, que havia ficado estranhamente calado, ele pisca para mim e diz tchau baixinho fazendo com que apenas eu escute.

Eu corro até o meu armário, e quando chego ao corredor, Hillary está encostada na parede com seus cabelos cor de rosa soltos chamando atenção das pessoas que passavam pelo corredor, ela me nota e acena,eu vou até ela:

- O seu relógio está atrasado, Sweety? Eu estava quase desistindo de ficar aqui!

- Vá se ferrar, Hillary - ela ri - O que você está fazendo aqui? Não devia tipo, estar no trabalho?

- Hoje é minha folga, mamãe Tracy, então pensei que companhia de uma amiga seria bom. - ela desencosta da parede e começa a caminhar, acompanho ela - Vamos até o estacionamento, meu carro está lá, ou você quer ir para aula de educação física? - olho para ela assustada, será que ela me perseguia? - Deixa de ser tapada, - ela continua - eu estudei aqui por 5 anos, e nem se acontecesse um atentado a escola mudaria os dias de ginástica. Parece que para eles, os atletas com altos níveis de maconha no corpo, os que ganham jogos, é mais importante para a 'imagem' do colégio do que os matetlas. - devo ter olhado para ela com uma cara de bunda muito grande - Esquece, você vêm ou não? Ou a princesa tem mais alguma aula hoje?

- Educação financeira, mas pedi para avisarem que não ia.

Ela assente e faz sinal para que eu a siga.

Seguimos pelo corredor da Lakeside, até chegarmos perto da saída e da secretaria. Com sorte a Sra. Ginger, a inspetora, não estaria na mesa do demônio, como as pessoas chamavam sua mesa na secretaria. Ela era uma velha senhora com cabelos presos em coque perfeito e postura perfeita, e roupas que provavelmente eram moda nos anos 70, mas que ela ainda acha que é tendência, eu costumava brincar que ela havia sido inspetora da escola de Sócrates.

- Senhorita Jones? - a voz ecoa pelo corredor, me viro junto com Hill - Que surpresa tê-la aqui! Poderia vir nos visitar mais vezes, mocinha

Que engraçado, a Sra. Ginger ser gentil com um aluno era muito difícil, e ainda com a Hillary, que não parecia ser uma aluna muito boa, e ela deve ter percebido meu pensamento a julgar pelo meu olhar.

- Suzan, talvez um dia eu posso dar uma passada aqui, mas agora tenho que mostrar uma coisinha para Senhorita Foster.

- Vamos marcar, Hillary - ela se vira para mim - e, você mocinha, aproveite o tempo que tem com ela, ela sabe mais do que você pensa. - Então sai andando.

Passo os olhos pelo estacionamento em silêncio com apenas Hillary andando na frente visivelmente magoada, penso em qual seria o carro dela, até pararmos na frente de um fusca rosa. Claro, por que não?

Entramos e fazemos o caminho até os prédios da cidade universitária em um silêncio desconfortável. Até que Hillary o quebra:

- Então, sweety, o que te fez pensar que eu não fosse boa aluna? O cabelo cor de rosa?

- Não, você falou que tinha repetido de ano, lembra: na foto da van. - murmuro baixinho, envergonhada. O sorriso irônico sai do rosto dela.

- Aquele foi um ano difícil, reprovei por falta, não por nota. Suzan me ajudou bastante e Keegan também - a olhei e vi uma careta de dor no rosto dela.

- Olha, eu sei que não é da minha conta, mas, se você quiser me falar, sou toda ouvidos.

Ela respira fundo antes de falar:

- Você vai acabar sabendo em algum momento - vejo ela segurar o volante mais firme antes de falar - Minha família, Tracy, é bem disfuncional. Foi o ano que minha irmã mais nova nasceu, Alice. O pai dela sumiu e minha mãe, bem, tem problemas com relação a álcool, e eu tinha que ficar de olho nela para que ela não desse 'escapadihas' nem fizesse meus outros irmãos , Violet de 5 anos e Thomas de 12, arranjassem um jeito de comprar bebida ou cigarro para ela. Minha mãe já tinha feito isso antes, mas dessa vez ela precisava cuidar da gravidez. O maior problema foi que quando Alice nasceu, ela caiu em depressão pós-parto profunda e tivemos que interná-la em uma clínica, que até hoje não saiu - estou realmente surpresa que ela tenha se aberto comigo.

- Mas que droga - eu respondi porque sinceramente não tinha mais nada para falar. Acho que, as vezes, quando as pessoas se abrem comigo, eu tenho medo de falar o que não devo ou de dizer 'sinto muito'. Muita gente sabe que realmente, em vez de sentirmos muito, nós simplesmente agradecemos por não ser com a gente e sentir muito não é nada que queremos, não é como se a porcaria da frase fosse apagar o sofrimento da pessoa.

Ela para em um semáforo vermelho e então se volta para mim:

- É sempre uma merda, Tracy, se a vida fosse fácil as pessoas não chorariam de desespero, milhares de crianças não morreriam de fome, bebês não seriam jogados em famílias que não os amem e nem senhores não viveriam com o sentimento de perca de anos.

"A vida, apesar de toda a merda, tem que ser vivida e então temos que tirar o máximo que conseguimos dela, porque acho que ela já tirou o suficiente de todos nós" - diz ela. O sinal então fica verde e ela volta focar no trânsito.

Aproveito para olhar a paisagem de Chicago, as crianças sorrindo com seus pais na rua, um senhor que sentava no banco calmamente olhando pra todos, como se avaliasse o mundo que logo ele deixaria para trás, assim como todos nós em algum momento. Olho os comércios, os jovens matando aula na pista de skate, aproveitando enquanto ainda não são os adultos, que passam correndo com ternos e roupas formais e pastas até os prédios executivos, para se matarem de trabalhar para encontrar com sua família no fim da tarde ou para voltar para um solitário apartamento. A paisagem vai mudando do centro executivo com parques para uma área de prédios amontoados com uma arquitetura mais simples, para os que parecem de aluguel barato, o lugar perfeito para um bando de jovens que estão na faculdade. Um pouco mais a frente aparece uma parte do campus da Chicago University, digno de uma cidade universitária.

Hill para o fusca na frente de um prédio com a frente de uma construção dos anos 90. Tento abrir a porta mas não consigo, forço e nada. Merda, porque as portas do fusca tinham que ser tão ruins de abrir? Hillary não para de rir do lado de fora e faz mímica idiota de uma pessoa tentando abrir uma porta, até que empurro com força e ela abre, saio e bato de volta com força.

A risada de Hill volta a dar lugar a uma cara apática. A mesma se vira e entra no prédio, vou seguindo ela e presto atenção nos detalhes do hall e das escadas, parece que estamos voltando no tempo. Ela para em frente a uma porta branca no segundo andar e puxa uma chave, abrindo-a. Dou de cara com um belo apartamento, mais moderno do que todo o resto do prédio, com quadros abstratos bem legais e um monte de revistas em quadrinhos. Vou entrando um pouco mais dando a olhada do tipo "olha eu 'tô muito impressionada com quem quer que tenha arrumado isso tudo, e espero vir aqui de novo".

Chegando a cozinha, Hillary joga as chaves na ilha e senta em um banquinho alto, vou até ela e sento do lado.

- É a casa do Keegan - ela me diz meio seca.

- Hey, desculpa, sabe, por ter te julgado. Eu realmente não sabia e as vezes, infelizmente, temos mania de rotular as pessoas pelo que aparentam. - ela se levanta indo em direção a geladeira pegando água, enquanto parecia pensar em uma resposta coerente ao meu pedido de desculpas. Ela responde um Okay, mas parece querer bolar uma lição digna de ser postada no Instagram com direito a uma hashtag e compartilhamento.

- Água? - eu assinto e ela passa um copo para mim, sentando de novo ao meu lado - Eu seria hipócrita e uma cretina se não aceitasse seu pedido de desculpas, que aliás nem precisava. Minha cara é amarrada e todo mundo acha que eu to brava com todos. É uma coisa que eu to tentando melhorar em mim. - ela dá de ombros - Eu não vou mentir que também não julguei você da primeira vez que te vi, uma princesinha da mamãe que nunca tinha quebrado uma regra, colocando uma gota de álcool que não fosse de vinho de época e champanhe caro, com toda certeza líder de torcida...

- Eu odeio fazer ginástica, que implica ser líder de torcida - interrompo ela, e ela só me olha.

- Que é o orgulho do papai e sucessora da empresa, e com toda certeza virgem. Não julgando, claro, mas deve ser verdade - ela termina a frase e toma um gole de água.

- Eu não sou virgem - ela engasga com a água, quase saindo pelo nariz.

- SWEETY! Sério, por essa não esperava, eu sabia que tinha um namorado mas esperava que ele fosse uma 'Sweety' só que com um acessório no meio das pernas - ela ri da própria piada - Sua mãe sabe que sua princesinha já transou? Pela sua cara envergonhada ela não faz ideia.

- Não, ela não sabe e se souber ela me mata, só você e o Eric sabem. Olha que eu não esperava que o meu irmão soubesse, se ele não tivesse pego eu e o Adam nos pegando no meu quarto, foi um dia trágico. - ela quase morre de rir.

- Da próxima vez, tranca a porta e coloca uma meia. Deixa de ser tapada! - ela me faz rir da minha desgraça - Vem, temos bastante com o que conversar - sigo ela até o sofá confortável da sala de Keegan - Jogo de perguntas, você começa.

- Como você conheceu o Keegan? E o Connor?

- O Keegan eu conheço desde que eu estava com 11 anos. Eu era a menina preocupada com um irmão pequeno em casa com a mãe louca e que ficava quieta em um canto, e Keegan era menino esquisito que tinha acabado de perder os pais em um acidente e ficava desenhando na mesa até ser chamado para a secretária. Um dia, eu tinha sido chamada para a diretoria porque eu tinha dormido na aula e Keegan estava lá, sentado com cabeça baixa, lembro de ter sentado do lado dele e perguntar porque ele estava ali e ele me responder que a professora tinha tirado ele de sala pois ele tinha desenhado na mesa. Ele me contou que, na hora de apagar o desenho, ele derramou álcool em gel em cima da mesa e fez a maior meleca no chão. Foi engraçado, ficamos conversando até sermos chamados. O diretor nos liberou para que ficássemos na quadra durante o almoço e só pegar a detenção na parte da tarde. Na quadra, aprendemos muitas coisas sobre nós, como eu ter contado da minha família e dele ter contado sobre a perda dos pais, e como era ter que ir para a escola com muita gente zoando ele ter deficit de atenção, a professora achava que o transtorno era uma brincadeira dele. A partir daquele dia, ele se tornou meu melhor amigo. - ela deu um sorriso, provavelmente se lembrando do dia.

"O Connor foi outra história, ele era um cuzão no Ensino Médio. Daquele tipo de garoto que se acha o dono do mundo, mas que não é dono nem do próprio umbigo, os que acham que diminuir o outro para ser melhor era legal, que podia tomar até levar um porre e ser considerado o 'fodão'. O tipo que, se quisesse, pegava um monte de meninas sem ser considerado um galinha. Mas ele não era nada, eu sabia que não. Ele era superficial até a ponta da orelha, quando acabamos o ensino médio, ele e Keegan entraram para a área de humanas da faculdade, os veteranos dessa área decidiram fazer uma festa. Connor tomou demais e Keegan acabou salvando ele e o trouxe ele aqui. Eu ajudei a salvar a pele dele, e aí, ele mudou. Tanto que formamos esse grupo juntos e descobrimos tudo que tinha debaixo daquele Connor superficial. - ela me olha e dá sorrisinho malicioso - Minha vez: O que te fez ir ao ferro-velho?

Penso na resposta por um momento, mas acabo sendo sincera.

- Eric me convenceu a ir. É o meu último ano na escola e ele disse para curtir, ele sabia que eu estava farta da minha mãe controlando minha vida. Ela me convenceu a me candidatar para presidente do grêmio e fazer tudo o que uma pessoa exemplar faz. Não que seja ruim ser uma pessoa 'exemplar' mas, o que é ruim, é saber que sempre tem alguém te observando e se falhar vai ter uma plateia assistindo. - respiro fundo - Eu sempre admirei Eric pela habilidade dele de contornar isso, e no fundo sempre quis tentar ser ele. Enquanto pessoas elogiavam meu exemplo, eu ficava maravilhada com a coragem de Eric. Aí ele caiu, teve o tempo em que ele e a minha mãe brigaram muito e depois o ecstasy, fiquei com tanto medo de perder-lo que esmaguei minha vontade de liberdade em uma caixinha. - dou de ombros - Tinha esquecido como era bom ser eu mesma. Como a gangue surgiu, tipo o nome e tals?

- Sério, de tantas as perguntas você escolhe uma que é fácil de ter a resposta? - ela sorri para mim.

- Você prefere que eu pergunte com quantas pessoas você já transou e qual foi o melhor? Ou qual é a sua marca de absorvente favorita, quanto tempo você fica com cólica e se tem vontade de transar durante a TPM? - ela me olha meio chocada - É, eu acho que não, então, responde.

- A gatinha tem garras.- ela sorriu maliciosamente para mim - A história da gangue é curta: surgiu no colégio, em um debate a nossa turma estava discutindo sobre a real liberdade de expressão e qual é o sentido da vida sem o poder de se expressar. Keegan sentou ao meu lado e ficou debochando a aula inteira, porque na realidade tudo mundo diz que se expressa e que luta por seus direitos mas que não tem coragem de dizer que gosta de uma pessoa ou de falar que não gosta de algo para ser aceito. Depois da aula eu, Keegan, seu irmão e uma garota chamada Liz, nos reunimos para criar uma coisa relacionada a liberdade, Keegan deu a ideia de colocarmos cartazes com críticas em armários específicos, e assim fizemos. Muita gente ficou puta, principalmente depois que conseguimos colocar as críticas em charges no jornal da escola. Foi aí que gangue começou de verdade, reuniões para decidir o que faríamos tomaram conta das tardes de sábado e encontros no ferro-velho se tornaram comuns.

" Você perguntou a origem do nome, eu que tive a ideia, e sei lá, eu devia estar chapada quando pensei mas é basicamente o seguinte: a fênix é um animal da mitologia grega, que quando morria entrava em combustão e renascia de suas cinzas, além de conseguir carregar fardos enormes e ser símbolo de esperança, como a maioria do nosso grupo havia passado pelo inferno e voltado achei que ficasse legal. O 'fogo' é um elemento que indica superação e que a vida pode ser boa, além de influenciar a criatividade e o lado artístico das pessoas" - fiquei encarando ela de queixo caído, comovida com a história.

- Genial! meu palpite é de que o Keegan que desenhou o símbolo. - digo olhando para ela - Uma pergunta fora da brincadeira: Quem é a Liz?

- Sim, ele que desenhou, em uma carteira, com Sharpie permanente na aula do Sr. Clark, se duvidar ainda está lá o desenho dele. A Liz era redatora do jornal da escola, depois da formatura ninguém mais viu ela, dizem que ela foi deportada ao México, de onde ela tinha emigrado com onze anos, mas eu não sei. Minha vez: como são seus amigos, tipo o seu namorado?

- Na real, eu só tenho dois amigos próximos, que são a Megan e o Adam. Bem, a Megan é o meu oposto, mas ainda assim minha melhor amiga. Ela é capitã das líderes de torcida, mas não chega a ser uma patricinha idiota que se paga como dona da escola, ela é um amor com todo mundo e nunca vi ela ser grossa com ninguém, é daquele tipo de menina que tira foto em campo de girassol e com cachorrinhos. Mas também é muito sofrida, principalmente em relação com relacionamentos tóxicos. Megan é muito inteligente e lê muito, ela é viciada em romances clichês. Todo aniversário eu compro um livro para ela e escrevo uma carta com dedicatória, tanto que um dia estava tendo uma sessão de autógrafos com o autor preferido dela e eu fiquei duas horas com ela na fila. Ela é um anjo, que lutou muito para ser quem ela é hoje.

"O Adam é meu namorado, não sei dizer exatamente o que eu sinto, mas ele é meu melhor amigo e meu porto seguro, quando estou com ele me sinto confortável. Ele é um ótimo namorado, ás vezes dá vontade de encher a cara linda dele de porrada de tão perfeito que ele é. Adam é jogador de basquete e toca violão, ele me pediu em namoro para os meus pais, me respeita e apoia muito. Ele é do tipo de cara que luta muito por tudo o que faz e pelo que quer, e ele é protetor, dá nos nervos em alguns momentos, mas eu sei que ele não faz de propósito. Foi com Adam que eu tive minha primeira vez, e eu não mudaria nada. - penso um pouco - talvez só o fato que ele não é muito de mostrar afeto em público. E me pergunto as vezes, porque ele está comigo? Eu estou longe de ser o suficiente para ele."

- Sweety, pelo visto você tem sorte de ter pessoas assim na sua vida, aceite elas de bom grado. Uma coisa que eu aprendi durante os anos é que você nunca pode se diminuir, você pode se achar insuficiente, mas se essas pessoas te escolheram, você o é o suficiente para cobrir uma parte da vida delas.

Engulo o nó que se formou na minha garganta, penso muito no que Hillary acabou de falar. É como um tapa na cara, o nosso "suficiente" muda histórias, mesmo que poucas. Mudar vidas é um termo forte mas, que acontece o tempo todo, mesmo com um sorriso ou um abraço e é preciso de muita coragem para isso, porque algum dia vão lembrar 'aquele abraço me salvou, mesmo que por alguns minutos, me fez sentir melhor'.

A porta abre com força, levo um susto que quase caio do sofá, Hillary começa a rir feito uma idiota com o meu susto, e Keegan e Connor aparecem na sala.

- Hillary, quantas vezes eu já te disse, por mais que você tenha a chave da minha casa, não é para ficar entrando o tempo todo, vai que eu tava de cueca assistindo filme! - Keegan diz com. uma falsa irritação.

- Qual é o sentido de eu ter uma chave e não poder entrar? Eu chamei a Tracy e a gente veio aqui conversar um pouco, não tinha outro lugar. - Connor continuou quieto, Keegan logo sentou ao nosso lado.

- Vocês entram na minha casa sem a minha permissão, e ainda por cima para conversar sem mim? Traidoras, - não seguro a risada, ele parece inconformado - Me conte os babados!

Rezei mentalmente para ela não mencionar Adam, depois da cena no cinema.

- Coisas banais, sobre a gangue, como fomos parar nela e porquê ela foi no ferro-velho, sem contar sobre o namorado perfeito dela. - Desgraça, de todas as merdas que Hillary podia contar, ela escolhe isso.

- Ela te contou sobre como ela deu uns pegas com o namorado gostoso no cinema? - Keegan conta e Hillary explode em uma risada, olho de canto e vejo que até Connor abre um sorriso debochado de lado.

- Parece que a 'Sweety' nem é tão doce assim. Me diz, qual é a graça de pagar um ingresso do cinema para não assistir o filme? Se fosse eu, economizava nas idas aos cinemas e pagava um quarto de hotel - ele debocha, e eu sinto meu rosto esquentar com a vergonha, e para piorar, eles percebem, espero uma ironia vindo de Hilary ou uma piada de Keegan.

- Relaxa cara, não precisa ficar debochando, duvido que você nunca pegou alguém no cinema, - olho surpresa para Keegan, nem parece que ele me encheu o saco por mensagem de texto - E só porque pegaram pesado na faculdade hoje, você não precisa ficar grosso com todo mundo. Você ficou agindo como um cuzão o dia inteiro, mas na real, agora você se superou.

Um clima de tensão se instala na pequena sala do apartamento, Hillary já tinha parado de rir faz um bom tempo e agora olhava para nós com uma cara de 'Sério mesmo?'. Keegan parecia tentar medir as palavras que tinha acabado de falar e Connor me encarava com o olhar de desculpas.

- Desculpa, Tracy. Às vezes, a pressão da faculdade é muita, e tenho um seminário para entregar para o professor daqui uns dias e o resto do meu grupo está pouco se cagando para isso.

- Tudo bem, Connor. Acontece, temos sempre que descontar em alguma coisa - digo sorrindo para ele, nem havia ficado brava, apenas envergonhada - e talvez, um pouco chateada.

Percebo Hillary e Keegan cochichando, tento escutar o que eles estão falando, mas não consigo.

- Gente - Hill começa - Vocês estão livres hoje a noite? - Assentimos, pelo sorriso maligno dela, mesmo que falássemos não, ela iria nos puxar.

- Que bom - Keegan continua - nos encontramos na frente do ferro velho ás 11. Ah, Sweety, você sabe usar um spray sem explodir um ou acabar pintando sua cara?

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