Capítulo 14
Sinto umas mãos macias, a passar pela minha cara, na testa e no cabelo. Eu conheço estas mãos, são as mãos doces da Isabel. Sinto um pano molhado na minha testa, doí-me o corpo todo, parece que não sinto nada, como se não me conseguisse mexer, como se fosse um gelo.
-Senhor por favor, faça alguma coisa, a febre não baixa... –Ouço Isabel a falar num tom preocupante, mas com quem é que ela fala? Até os olhos pesam, ao tentar abrir... -Seria melhor, chamar-mos um médico.
-Ela está só a fazer birra Isabel, a febre vai baixar... –Ouço a voz do Axel perto de mim. Sinto um arrepio enorme ao ouvir a voz dele outra vez, depois do que ele fez aos meus pais, não sei mais como reagir á frente dele. Não consigo conter-me e deixo umas lágrimas caírem pela cara.
-Senhor, ela está a chorar, deve estar a sonhar com alguma coisa, por isso é que a febre não baixa. –Ela limpa-me as lágrimas, mas caiem mais e mais lágrimas. Mãe... Pai... –Por favor Axel, vamos chamar um médico, a Ashley pode piorar... –Ouço a voz dela, a chamar pelo nome dele e pelo meu também. Consigo ver que ela está preocupada...
-Está bem! –Afirma, num tom nervoso. –Vai lá abaixo, ligar para o Raphael vir cá a casa e prepara alguma coisa, para ela comer.
Não Isabel, não me deixes aqui sozinha com este monstro, não por favor não... Ouço a porta do quarto a bater. Aqui estou eu, mais uma vez fechada com este monstro, que está a destruir a minha vida e a vida dos meus pais. Decido não abrir os olhos, assim evito qualquer contacto com ele. Ele tira a toalha da minha testa e segundos depois, volta a por outra vez. Só quero que ele se afaste de mim, não quero ele próximo de mim, nem mesmo a um metro! Sinto as mãos dele na minha bochecha, é como um choque, sentir as mãos dele na minha cara, como se tudo fosse normal para ele.
-Ashley... Ashley acorda. –Ele continuava, a passar a mao dele pela minha cara e a mexer nos meus cabelos. Eu amo, quando ficam a mexer no meu cabelo. –Ashley, acorda.
Abro os olhos e a primeira coisa que eu vejo, é os olhos dele a olharem para mim. Uns olhos azuis claros, mesmo com a luz do quarto, consigo ver que estão claros, ele está calmo mas sei que não será por muito tempo... infelizmente! Tento virar a cara para o lado, mas doí-me o corpo todo, olho para a janela e vejo que os istoros já estão fechados, já deve ser bastante tarde.
-Senta-te. Eu já mandei chamar um médico e a Isabel vai trazer alguma coisa, para tu comeres. –Diz calmamente, ao sentar-se na cama.
Doí-me o corpo todo, parece que um camião passou por cima de mim, milhares de vezes. Tu é que devias de ser visto por um médico e não eu, pode ser que ele consiga espaço para ti, lá no manicómio. Tento sentar-me na cama, mas doía-me tudo...
-Eu não tenho fome. Só quero estar aqui deitada e sossegada. –Sussurro e fico a olhar para a janela do quarto, mesmo com os istoros fechados. Não voltarei a sentir o ar fresco, da liberdade... Ele baixa-se á minha frente e fica a olhar para mim, sem dizer nada. Fecho os olhos, para não ter que olhar para ele.
-Vamos Ashley, eu não te quero doente. –Sinto a mão dele a tocar-me na cabeça, mas desvio-me no mesmo segundo, que sinto os dedos dele. Tenho nojo, deste homem.
-Não me toques. Tenho nojo de pessoas como tu! –Ele levanta-se e fica em frente á cama, mesmo a olhar para mim. Tenho nojo de homens cruéis como ele, que se aproveitam das pessoas, para fazerem o que fazem.
-Se eu fosse a ti, media as tuas palavras Ashley, isso pode acabar mal para o teu lado. E para a segurança dos teus pais também, é melhor medires o que falas ou eu não respondo por mim.
-Isso! Força! Ameaça mais. Sabes o que ganhas com isso? QUE EU FAÇA DE TUDO, PARA FUGIR DE TI! –Grito. –Basta só eu apanhar-te a dormir e já foste Axel! Posso fazer-te tudo e mais alguma coisa, contigo a dormir. Tu não me conheces, não sabes do que eu sou capaz, apesar de ter 19 anos.
Vejo as veias do pescoço dele, a saírem todas para fora, ele vai explodir mas eu?! Eu não quero saber! Ele que não pense que eu vou ter medo dele, só por poucas coisas que ele faz, para conseguir fazer chantagem comigo, para conseguir aquilo que ele quer.
O que ele fez foi nojento, prender os meus pais, só para conseguir aquilo que ele quer, o Axel é nojento! Connecção de olhares de raiva, de odio entre eu e ele. É desta, que ele vai pensar duas vezes, antes de me prender aqui dentro outra vez.
O Axel caminha até mim devagar, mas sem desviar o olhar dele dos meus. O que é que ele vai fazer? Ele para a poucos centímetros, á frente do meu corpo. Ele va... Sinto a minha mão dele, a chocar contra a minha cara.
-AXEL! –Ouço a voz da Isabel, a gritar na porta do quarto.
Eu... Eu não acredito, que ele fez isto. Ele bateu-me! Ponho a minha mão na cara, chocada por ele ter-me batido, levanto a cara, olho para ele com lágrimas que escorriam, na minha cara. No olhar dele vejo raiva, como é que ele teve coragem, de me bater? Como? Axel agarra no meu braço com força e puxa-me contra o corpo dele.
-A PRÓXIMA VEZ, NÃO VAI SER COM A MINHA MÃO! GARANTO-TE QUE NÃO –Ele larga o meu braço brutamente e vai até á porta do quarto. Encolho-me na cama, o máximo que conseguia, assusto-me pelo tamanho da força, que o Axel fechou a porta do quarto.
-Ashley... –A Isabel senta-se na cama e pega na minha cabeça, para deitar no colo dela. Choro e choro no colo dela, como se ela fosse minha mãe. Por enquanto, é o único carinho que recebo, é o dela. –Calma, vai ficar tudo bem.
-Ele... Ele bateu-me. –Soluçava sem parar, não conseguia parar. –Como é que ele teve coragem, d-de me bater Isabel, como?
-Calma, vai ficar tudo bem. –A Isabel passava a mão dela, pelos meus cabelos.
Como é que alguém, pode fazer isto? Como é que ele teve coragem de me bater? Ele levantou-me a mão, ele bateu-me... Eu não acredito. Eu tenho nojo, de um homem como ele, nojo de estar no mesmo teto que ele, ele é um monstro, sem coração, que só vive pela tristeza dos outros! Fico com a cabeça no colo da Isabel a chorar, a única pessoa nesta casa, que se preocupa comigo e a Liane também claro. Ele que não pense, que isto vai ficar assim, porque não vai. Ouvimos alguém a bater á porta e o meu coração começa a bater muito depressa, com medo que seja ele outra vez. A porta abre-se e fecho os olhos com força, para que não seja o Axel, mais uma vez.
-Senhora Ashley, o senhor Raphael está aqui. –Respiro fundo aliviada, ao ouvir a voz do Aphonso e não daquele... Que nem sei que nome, lhe dar.
-Podes mandar entrar Aphonso. –Murmura Isabel, mas quem é o senhor Raphael?
Levanto a cabeça do colo da Isabel e limpo as lágrimas, que caíem pela minha cara. Vejo um homem a entrar no quarto, mais ou menos com 50 anos, pelo ar ele parece ser simpático. A Isabel levanta-se da cama, para cumprimentar o senhor.
-Boa noite doutor Raphael, seja bem vindo mais uma vez. –Eles se cumprimentam com um aperto de mão, pelo menos é bem educado. Olho para eles os dois, sem saber quem era este homem, será que é o tal médico, que a Isabel pedio ao Axel, para chamar?
-Boa noite dona Isabel. –Ele vira o olhar até mim. –Boa noite, senhora Clark.
-Boa noite senhor Raphael e só para esclarecer, eu não sou casado com o Axel, nem vou ser, por isso não me chame de Clark, por favor. –Ele baixa os olhos, sei que não devia de ter dito isto assim desta maneira, mas só de pensar que agora todos vão começar a chamar-me de "senhora Clark", só porque estou aqui em casa, já me dá uma vontade de matar o Axel.
-Peço desculpa senhora, não foi a minha intenção de ofende-la.
-Sei que não foi por mal. –Dou um pequeno sorriso.
-Ashley, o senhor Raphael, é médico da família Clark, eu pedi para o chamar até aqui a casa. –Murmura.
-Eu não preciso de médico. Obrigada, mas podem sair, quero ficar sozinha. –Volto a deitar-me devagar, com a cabeça virada para a janela. Mesmo que tivesse os istoros fechados, era só um pouco de ficção, para evitar olhar para eles.
-Mas senhora, eu tenho que ver, de onde é que a febre vem... –Ouço uns passos, a virem até a este lado da cama, vejo que é o médico que se aproxima de mim.
-Eu já disse que não! –Murmuro irritada, não percebem o que é um "não"? Ouço os sapatos da Isabel, a virem até mim também. Ela para ao lado do médico e ficam ambos a olhar para mim. Eu não preciso de médico, para saber o por quê de estar doente, é aquele monstro que me põe doente, isso sim!
-Ashley, deixa o doutor Raphael examinar-te, se o Axel sonha que tu não deixas o doutor examinar-te, eu não quero nem imaginar o que o ele poderá fazer! Ele já saiu daqui irritado, então se souber que não o deixas examinar-te, vai ser muito pior Ashley. Deixa o teu orgulho de lado, só desta vez por favor, faz isso por mim.
Vejo a cara dela preocupada por eu estar assim, como uma mãe que cuida do seu filho. Mas eu não tenho aqui a minha mãe, para ela poder cuidar de mim, só tenho a Isabel que faz de tudo para eu estar bem. Ela preocupa-se comigo, cuida de mim, abraça-me quando preciso. Estar com febre é por causa do Axel, que faz de tudo para me ver assim, eu não consigo entender o que vai dentro dele... Ele as vezes parece um monstro comigo, parece que vai partir-me em dois a qualquer momento, quando falo mal com ele ou quando, eu não faço aquilo que ele quer ou o que ele pede. Mas outras vezes... parece que consigo ver a alma dele, dentro aquele olhos azuis claros, parece que consigo entrar e ver uma pessoa totalmente diferente, aquilo que ele mostra ser comigo. Não sei como é que, eu vou aguentar-me aqui dentro assim!
Respiro fundo e sento-me devagar na cama. Tiro os lenções de cima de mim e levanto-me devagar, ao segurar-me na cama.
-Ashley, onde é que vais? Tu tens que descansar... –Sinto a mão dela a segurar-me pelas costas e ajudar-me a caminhar, até ao sofá. É quase ela, que segura-me pelo braços, para estar em pé do que o meu próprio corpo.
-Eu quero sentar-me no sofá. –Caminhamos devagar até ao sofá, em frente á minha cama, ela ajuda-me a sentar e fecho os olhos, não tenho quase força nenhuma no corpo, para andar ou para mexer-me.
-Senhora Ashley, seria melhor deitar-se na cama, comer alguma coisa quente, para tomar os comprimidos que eu trouxe e descansar.
-Eu não quero. Eu só quero ficar aqui no sofá sossegada e sozinha por favor. –Ponho as minhas pernas em cima do sofá e as puxo contra o meu peito. Doí-me tudo, como se eu fosse partir-me em mil pedaços. Como é que é possível, ficar assim com febre de repente?!
-Ashley... –A Isabel senta-se na outra ponta do sofá, á minha frente. –Por favor, faz o que o doutor Raphael diz e deixa examinar-te, para poderes descansar.
Respiro fundo ao olhar para a Isabel, doí-me tudo até ao respirar fundo doí-me o corpo, eu estava bem esta manhã, ninguém pode ficar doente assim de um momento para o outro... ou será que se pode? A não ser que tenha sido, por ter ficado á chuva, quando estava na varanda a ver o Axel lá em baixo, a falar com os seguranças. Era neste momento, que eu precisava da minha mãe, aqui ao meu lado para poder cuidar de mim, mas com certeza... eu não estaria aqui nesta situação...
-Eu já disse que não! Por favor não insistam! –Afirmo num tom sério. –Não precisam de dizer, o por quê de eu estar com febre. A razão de eu estar com febre, é porque eu estou aqui fechada, como se eu fosse uma prisioneira.
-Mas se...
-Não! –Interrompo o doutor Raphael. –Eu já disse que não! Saiam por favor, eu quero ficar sozinha.
Os dois olham para mim, com uma cara de preocupados e sem saberem, o que dizer. A única razão, de eu estar assim é por causa do que o Axel está a fazer comigo, isso sim... está a meter-me doente! Se ainda só passou um dia e já vivi muita coisa hoje, então não quero nem imaginar, o que ira acontecer nos outros dias...
-Queres comer alguma coisa? Tu não jantas-te... –Pergunta Isabel.
-Podes trazer-me leite com mel.
-Está bem. –Ela levanta-se e dá-me um beijo na testa.
-Obrigada.
Eles caminham para fora do quarto, ouço a porta a abrir e a fechar, no mesmo segundo. Fecho os olhos e encosto a cabeça na almofada, finalmente sozinha! Levo a mão até á minha cara do lado direito e ao tocar, sinto uma dor por causa do estalo do Axel, isto vai deixar marca. Eu não acredito... como é que ele teve coragem de me bater, ele levantou-me a mão... Tenho que fugir daqui, antes que ele faça mais alguma coisa comigo ou com os meus pais, eu não posso deixar que isto aconteça, isto é... desumano! O que é que eu posso fazer? Se eu tentar fugir, ele poderá fazer mais alguma coisa contra os meus pais... já assim, ele os mantem presos não sei onde, então se eu tentar fugir outra vez, ele poderá magoa-los ainda mais, daquilo que ele já fez. O que é que eu faço?
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