um cara legal

— Estou com tanta saudade de você que eu poderia morrer! — disse Matthew, o namorado de Grace, na ligação.

— Também sinto sua falta. Quando vem me ver? — ela perguntou enquanto se deitava em sua cama.

— O quanto antes! Ando sonhando com um beijo seu... Estou ficando maluco, sério — ele riu.

— Matt, sobre isso... eu... — Grace começou aquele discurso que Matthew chamava de "lenga-lenga" quando o assunto eram carícias e beijos.

Desde que Grace passou a crer em Deus, sua consciência acusava de que estavam fazendo algumas coisas que não eram agradáveis a Deus. Não que tivesse a ideia de que deveriam cortar todos os beijos e carícias, mas ela sentia que muitas coisas que faziam iam longe demais para um namoro saudável.

A verdade é que ela não tinha muito o que fazer, pois seu namorado ainda não havia sido convencido desse pecado. Então ele dizia que estava tudo bem. Antes que Grace imaginasse que havia algo de errado consigo mesma, ela pensava que ele mentia sobre isso. Mentia sobre não haver nada demais. E era uma luta tentar convencer alguém anestesiado de que sua pele estava sendo ferida, era inútil gritar para um morto que se levantasse.

— Eu sei, eu sei. E a gente tem que casar. Eu sei— a partir desse momento, Grace não ouviu mais nada do que ele estava dizendo.

Ela engoliu a seco. Casar?

É claro que casar sempre esteve na lista de suas prioridades, mas Grace, neste momento de sua vida com Deus, tinha muito medo de se casar com a pessoa errada. E se Matthew nunca fosse convencido e convertido? Será que valia a pena correr aquele risco?

Havia começado o namoro ainda muito jovem, quando não conhecia a Cristo, pelo menos quando não se importava em fazer a Sua vontade. Depois de receber o dom da fé, ainda não achou que fosse necessário tomar medidas drásticas como terminar o namoro; afinal de contas, Matthew não se mostrou contra a sua conversão, apesar de nunca mostrar que seguiria o mesmo caminho.

A questão é que, sempre que Matthew começava a falar alguma coisa sobre o casamento dos dois, ela começava a se sentir desconfortável e tentava desconversar, pensando: 'será mesmo que isso é a melhor opção?', 'não devo esperar que ele seja convertido?'. Ao mesmo tempo, sabia que casar seria o melhor remédio para as tentações que os dois passavam... seus pensamentos estavam uma bagunça.

Algo dizia a ela, também, que ele poderia ser a pessoa certa para ela, no fim das contas. Então ela tentava produzir provas suficientes para convencer a sua consciência de que ela não conseguiria alguém melhor do que ele; pois, tirando o fato de não ser cristão, ele era um namorado muito bom. Algumas qualidades de Matthew que ela já tinha como desculpas em sua mente eram, por exemplo:

1. Ele havia prestado atenção nela, mesmo ela não sendo assim tão atraente.

2. Ele viajava praticamente toda a semana, só para vê-la.

3. Ele dava diversos presentes fofos para ela.

4. Ele sempre foi perdidamente apaixonado por ela.

Bem no fundo, ela sabia que nada disso era suficiente. Ela sabia que aquelas eram características secundárias a serem avaliadas, então existia um vazio muito grande em seu coração quando o assunto era amor verdadeiro.

— Aí a gente pode contratar aquele casal que faz fotografia, você lembra que eu te mostrei? — De repente, a voz de Matthew ressurgiu na ligação. Grace tinha certeza que, nesse devaneio que teve, havia perdido completamente tudo o que ele falou.

Mas concordou mesmo assim.

— U-hum. Sei.

— Ei! O que foi? Você tá chateada porque a Lydia não está aí com você hoje? Você sabe como a Lydia é...

— Não. Tá tudo bem — Grace sentia que precisava falar alguma coisa sobre o casamento, só para fingir que estava totalmente interessada —. Eu ainda vou deixá-la ser minha madrinha.

Para o lamento de Grace, a conversa depois disso ainda foi bem longa. Eles conversaram de tudo, desde quem iriam convidar, quem seriam os padrinhos, até combinarem que, para ficar mais barato, contratariam a tia de Matthew, que fazia docinhos maravilhosos.

Grace terminou aquela ligação convencida de algumas coisas. Estava dando um tiro no escuro, mas já havia ido longe demais para dar um fim àquilo tudo. Deveria seguir com seu namorado, orando a Deus sempre para que colocasse nele a vontade de serví-lO. Só assim ela estaria verdadeiramente feliz.

Grace já havia convencido a si mesma que isso era tudo o que poderia fazer.

Seria feliz, no final das contas, pois Matthew era um cara legal.

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Não esquece a estrelinha.

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