Sabrine

Ao chegar em casa, Grace contou até dez para acalmar os nervos. Sabia o que iria enfrentar assim que abrisse a porta da sala. Era um problema de um metro e quarenta e três de altura, de treze anos de idade. Sabrine, a irmã mais nova de Matthew. Grace, há anos, vinha tentando se aproximar da garota, sem sucesso algum. Algo lhe dizia que Sabrine simplesmente não estava a fim de ter ser sua amiga.

Matthew dizia que isso era só algum tipo de receio de que ela acabasse perdendo a atenção do irmão, o que Grace sabia que era impossível, tamanho o apreço que Matthew tinha pela irmã. Mas Grace sabia que não era só isso.

Grace tentara se aproximar da garota mesmo assim. Parecia que isso era muito importante para Matthew, que fazia todas as vontades da irmã. Houve uma vez, por exemplo, em que os três foram ao cinema. Na fila para o filme, Sabrine não parava que espernear que estava demorando demais e que queria comprar um celular que vira numa loja do shopping. E teria de ser naquele momento. Tamanha foi a insistência de Sabrine, que Matthew simplesmente deixou Grace na fila do cinema para guardar lugar e correu com a irmã para a loja. Voltando da loja com uma caixa na mão, viram Grace parada na frente da sala, com duas pipocas gigantes na mão e já com meia hora do filme perdida. Naquele dia, Grace achou ter visto um sorrisinho maléfico no rosto de Sabrine. Como se a alegria maior da garota não fosse um celular novo, mas a triste espera de Grace por eles.

— Oi, Grace! — disse a menina sem desviar o olhar da televisão do quarto de Grace.

— Sabrine! — Grace largou a mochila bem em cima da cama, a abrindo e retirando seus cadernos.

— Você está com uma cara péssima — notou Sabrine, finalmente olhando para a cunhada.

— Sério? — Grace inocentemente colocou a mão no rosto e olhou para o espelho de sua penteadeira — Como assim?

— É. Você não usa maquiagem direito. Falta um rímel. Um blush mais chamativo.

— Eu só fui à escola. — Grace olhou para Sabrine.

— Eu sei. — Sabrine levantou as mãos na defensiva. — Mas você não precisa ir assim tão sem brilho.

Grace pensou em responder, mas foi salva pelas batidas na porta por sua mãe.

— Ei, meninas! — disse abrindo uma pequena fresta na porta.

— Olá, senhora Daves! — de repente, parecia que Sabrine era a pessoa mais simpática do mundo.

— Preciso que vocês vão ao supermercado comprar essas coisinhas para mim — falou a mãe de Grace, a entregando uma lista cheia de produtos.

— Será um prazer, senhora — Sabrine disse simpática.

— Fofa! — Sra. Lúcia a elogiou.

Grace simplesmente revirou os olhos.

— Posso ver seu celular? — As duas haviam acabado de entrar no mercado quando Sabrine fez essa pergunta. Grace lembrou das conversas com Thomas que ainda não havia apagado. Tremeu com a ideia de Sabrine finalmente descobrir sobre ela e Matthew daquele jeito.

— Pra quê? — Grace perguntou.

— Para comparar com o meu, oras. Estou querendo trocar.

— Trocar? Você só tem um mês com esse aí.

— Dois meses! E ainda posso trocar, está na garantia. Daaaãã.

— Hum. — Grace resolveu que não iria valer a pena conversar sobre economias com uma garota de treze anos.

Ainda estavam pegando os primeiros ingredientes quando Sabrine resolveu ligar o modo completamente aleatório e contar para Grace o que estava pensando.

— Grace, eu tenho um amigo que eu gosto muito e... Eu não sei muito bem se ele gosta de mim...

— Você está gostando de um garoto? Como assim? — Já estava pensando em dizer que ela estava muito nova para isso, mas sabia que a garota não ia aceitar muito bem.

— É. Ele é muito bonito. E os pais dele são amigos dos meus. Ficam até insistindo para que a gente fique junto. Mas eu acho que só eu que acreditei que a gente poderia dar certo.

— Hummm. — Grace se segurou para não parecer que estava desprezando o que Sabrine dizia. A verdade é que estava achando inovador que ela desabafasse assim tão sinceramente.

— Você não vai me falar nada? — Sabrine questinou.

— Não. É... que... hum... você não precisa pensar nessas coisas por agora. Se ele gosta de você, você vai perceber. Não precisa ficar preocupada.

— É que os garotos em geral não gostam de mim — Sabrine disse destraída, passando a mão pelos produtos na estante ao seu lado.

— Garotos da sua idade geralmente ainda não gostam de garotas. Só de futebol.

— Ah, sim. Eu sei. Mas o João tem quinze. Eu gosto de caras mais velhos.

'O que?', pensou Grace, sem verbalizar.

— Hum... entendi.

— Você é péssima para conselhos, Grace! — Sabrine disse sem expressão facial alguma. Grace não soube entender se era brincadeira, ou se falava sério.

É claro que num lugar tão pequeno quanto North Adams, você poderia encontrar qualquer um nas ruas naquele horário. Mas tinha que ser justamente o Thomas, acompanhado de sua mãe? Thomas estava usando uma bermuda bege e uma camiseta azul, bem simples. Empurrava o carrinho logo atrás de sua mãe e fazia algum tipo de palhaçada para que ela se envergonhasse. Ele estava simplesmente gritando os itens da lista de sua mãe.

— Alcachofra! — Grace conseguiu ouvir Thomas gritar ao longe, deixando sua mãe cada vez mais vermelha. De repente, Thomas começou a falar tão rápido quanto um locutor de futebol americano — E a senhora Taylor entra em campo. Ela corre em direção às alcachofras. Ela pega o aspargo na mão eeeeeeee... Touchdown!

Ao longe, Grace não conseguiu entender o que Taylor pôde ter falado ao ouvido de Thomas, mas viu que aquilo o fez rir e parar por um tempo de fazê-la passar vergonha.

— Como eu odeio gente excêntrica. Que garoto idiota! — Sabrine disse olhando para a cena.

— É. — Grace escondeu o riso de seu rosto, pensando no quão desastroso seria que se encontrassem ali com Sabrine ao lado. — Vamos embora daqui.

Ao chegarem em casa, Sabrine e Grace se juntaram à mesa, saborearam um delicioso almoço e ficaram no quarto de Grace a tarde inteira. Sabrine abrira o closet de Grace para ver o que a agradava. Ao que parece, absolutamente nada.

— Você costura todas as suas roupas? — gritou Sabrine de dentro do closet.

— Não todas — gritou Grace deitada na cama.

— São tão... — Sabrine não completou a frase, e Grace nem queria saber o que viria depois.

Ainda com Sabrine dentro do closet, o celular de Grace tocou. Thomas estava simplesmente ligando para ela. Grace afogou o celular no travesseiro para abafar o som e desligou a chamada. Seu coração mais acelerado do que nunca.

Grace: Ei, tá doido? Não me liga assim.

Thomas: Me desculpe, estressadinha.

Grace: Tudo bem. O que foi?

Thomas: Queria saber se está bem.

Grace: Sim. Estou com Sabrine, irmã do Matthew. Fomos ao mercado.

Thomas: Eu também! Quero dizer, só não estou com a minha cunhada. Eu não tenho uma. Não que eu saiba...

Grace: É, eu sei. Eu te vi.

Thomas: Sério???????? Eu não te vi, que chato.

Grace: Que bom que não me fez passar vergonha.

Thomas: Vergonha? Eu não seria capaz.

Grace: É muito capaz. Você acha que não vi o que você fez com sua mãe hoje?

Thomas: Não acredito!!!!!! VOCÊ VIU?

Grace: Infelizmente. Você tem problemas?

Thomas: Não, eu só gosto de irritar a minha mãe.

— Grace, o que você acha? — Sabrine surgiu usando o vestido amarelo de Grace.

— Você acha que ficou bom? Confortável?

— Ficou ótimo. Onde você comprou?

— Esse aí minha vó fez.

— Ei, com quem você está conversando? — Sabrine pulou na cama ao lado de Grace, que teve a impressão de ter escutado um tecido rasgar. — É com meu irmão? — Olhou para a tela do celular.

— É um colega... da escola. — O coração de Grace acelerava cada vez mais. Aquela situação era extremamente desconfortável.

— Entendi — Sabrine disse, desistindo de olhar para a tela e passando a mão no tecido rasgado das costas. — Acho que esse tecido não é bom. Rasga fácil. — Levantou-se e foi se trocar.

Grace olhava para o rasgo atrás do vestido e se perguntava como conseguiria reparar aquilo. Tinha que ser o vestido amarelo com o cheiro do Thomas?

Ficou pensando em como seria tê-la por mais dois dias em sua casa sem que ela acabasse descobrindo que Thomas era a pessoa com quem ela mais conversava. Não suportou a ideia de que Sabrine descobrisse tudo e que a amizade deles estivesse por um fio.

E ela tinha certeza de que Sabrine era esperta demais para não descobrir alguma coisa.

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Não esquece a estrelinha. ⭐

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