roupa de bebê
Este é o capítulo mais fácil que eu já escrevi em toda a minha carreira literária. Afinal, só reescrevi aquilo que me passaram. Espero que você consiga entrar bem na atmosfera do que estava acontecendo.
No começo, foi normal.
Grace: Ei, você disse que queria me contar uma coisa...
Thomas achou que não era prudente iniciar um novo papo com ela. Mas, dessa vez, ela quem tinha iniciado. E ele não tinha intenção alguma de parar de conversar com ela.
Thomas: É que a Lydia me mandou uma música.
Grace não esperava que Lydia tivesse mesmo mandado uma música. Agora estava com receio de que a amiga estivesse se precipitando demais.
Grace: Ah, que legal. O que você achou?
Thomas: Então...
Thomas: Ela me enviou alguma espécie de rap, hip-hop.
Grace: Rap? Isso não parece muito a cara dela.
Thomas: Acho que ela achou que seria a minha cara.
Grace: E você não gosta de rap, é isso?
Thomas: Bem, não exatamente.
Grace: Thomas, você odiou a música!
Thomas: Não exatamente...
Grace: KKKKKKKKKKKK
Grace tentou se recuperar um pouco da situação. Ele estava mesmo vindo comentar com ela que não havia curtido a música que a sua MELHOR AMIGA o havia enviado? Ele não sabia que, num segundo, ela poderia contar tudo para Lydia?
Thomas: Você não pode contar isso para ela, ok?
Grace: Tudo bem, ela também não gostou da que você enviou.
Grace se sentiu extremamente fofoqueira por aquele comentário. Ela não precisava contar aquilo e, pra ser sincera, até se lembrava vagamente da amiga dizer que Thomas não precisava saber daquilo. Tentou consertar.
Thomas: Sério?
Grace: Na verdade, ela gostou, sim. Da letra e tal, foi fofinho.
Thomas: Ah, sim.
Grace: Então você quis comentar comigo que não gostou da escolha dela, é isso?
Thomas: Não. Eu quero que você me dê umas dicas. Você é ótima com isso, sabia?
Grace: Não sabia, não.
Thomas: Sim! É difícil saber quando uma garota está a fim de mim... Nunca entendo.
Grace: Pra você é fácil, qualquer garota fica a fim de você.
Neste momento, Grace bateu a mão na testa. 'Mas que burra, Grace! Burra, burra, burra'. Se esquecera que ela poderia ser incluída no rol das 'garotas' facilmente. Thomas, por outro lado, levantou uma sobrancelha. Fosse lá o que ela quisesse dizer com aquilo, não queria que a conversa terminasse. Tentou ser engraçadinho.
Thomas: Qualquer garota?
Grace: Esqueci de acrescentar: qualquer garota sem miolos fica a fim de você.
Thomas: UOU! Você está dizendo que a sua melhor amiga não tem cérebro?
Grace: Não. Não. ARGH! Thomas!
Thomas: Viu? Não é assim tão fácil...
Grace: Por que você é tão insuportável?
Thomas: Mas, que eu me lembre, nos conhecemos há uns poucos dias, não dá pra eu ser assim tão insuportável. Só se eu for mesmo insuportável, daqueles bem insuportáveis mesmo.
Grace: Você sempre foi insuportável.
Thomas: Insuportável? A minha vida toda?
Grace: Sim, desde quando você veio para North Adams...
Thomas: Como assim? Eu saí de Plymouth com 5 anos! Estudamos juntos desde, sei lá, a quarta série. Você não me conhece.
Grace: Não, Thomas. Estudamos juntos desde a primeira série. E ainda na mesma escola de jardim de infância.
Thomas: O que? Mas... eu não me lembro.
Grace: Talvez não tenha sido importante para você.
Thomas: Isso está ficando bizarro. Foi importante para você, então?
Grace: Você deve estar zoando com a minha cara, não?
Thomas: O que? Não estou. O que teve de tão importante assim?
Grace: Eu simplesmente te odeio desde a primeira série. Talvez antes disso. Eu simplesmente nunca fui com a sua cara.
Thomas: Mas o que eu fiz, Grace Daves?
Grace: O que você fez? Sério?
Thomas: É sério, eu não faço a mínima ideia.
Grace: Você me derrotou no soletrando, na terceira série.
Thomas: E você me odiava por isso?
Grace: Eu já te odiava minimamente antes disso.
Thomas: Então eu ganhei no soletrando? E você ficou com raiva disso?
Grace: Não... Eu sei perder. Mas você disse que era "uma pena que as meninas não tivessem tanta capacidade intelectual quanto os meninos".
A raiva de Grace já havia, de algum modo, subido novamente à cabeça. Thomas, do outro lado da conversa, estava em crise de riso, coisa que nunca acontecia com ele.
Thomas: Eu não disse isso. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Grace: Disse, sim!
Thomas: Não, eu não disse.
Grace: Disse!
Thomas: Você me ouviu dizendo isso? KKKKKKKKKKKKKKK
Grace: Pára de rir! Não estou rindo.
Thomas: KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Grace: Me disseram que você disse...
Thomas: E você baseava a sua raiva somente no que disseram para você?
Grace: Não! Eu baseio a minha raiva em tudo o que você é. Idiota, arrogante e insensível.
Thomas: O que? Não... espera... me deixe respirar...
Thomas: Você quer dizer, então, que você ainda me odeia? Não é algo que você deixou para lá?
Grace: Sim.
Thomas: Você não me odeia.
Grace: Odeio, sim.
Thomas: Se odiasse não estaria conversando comigo.
Grace: Eu só estou conversando por educação...
Thomas: Talvez você não se lembre que foi você quem me chamou.
Grace bufava. Thomas ria. Grace estava achando a conversa estressante. Thomas estava começando a gostar.
Grace: Pois é.
Thomas: 'Pois é', o jeito típico de falar alguma coisa sem falar nada.
Grace: Pois é.
●●●
A conversa continuou por muito tempo. Por horas, para ser mais exato. Conversaram sobre os anos que estudaram juntos. Thomas conseguiu convencê-la de que não foi exatamente aquilo o que ele dissera no campeonato de soletração. Explicou sobre a sua mania de conversar sempre com os professores e ser amigo deles, sobre responder a qualquer questão... Sobre, absolutamente, tudo.
Thomas: Eu não acredito que você lembra que eu ganhei a Olímpiada de Astronomia.
Grace: Sim, foi um marco estadual. Você ganhou de toda a Massachusetts, ganhou de todos de Boston... Você foi muito bem!
Thomas: E, é claro: você me odiou por isso...
Grace: Eu odiei a reação das pessoas... você nem era tão genial assim...
Thomas: Mas, sabe, isso é engraçado. Ninguém da escola se lembra disso. Nem mesmo o antigo diretor, que ganhou verbas para construir um laboratório de astronomia na escola, aquele que nunca foi construído. E eu simplesmente não recebi mais reconhecimento algum.
Grace: Sinto muito... Mas acho que você já tem muita coisa, não precisa de reconhecimento.
Thomas: Não, sério... Você é a primeira que se lembra disso. Esse reconhecimento valeu todas as provas que fiz para passar.
Grace: Por que eu fui me lembrar disso? Agora você vai se gabar mais uma vez dos seus feitos...
Thomas: Sim. São dois reconhecimentos agora. Não é em qualquer vida que você tem o prazer de ser odiado por uma garota sem ter feito nada para que isso acontecesse.
Grace: Ah, mas você fez, sim. E muito.
●●●
Conversaram também sobre a redação da sétima série, de Grace.
Thomas: Mas eu também me lembro da sua redação.
Grace: Vamos esquecer esse fato... por favor.
Thomas: Não, sério. Ficou muito boa. Eu nem sei de onde você tirou tanta argumentação. Acho que você daria uma ótima escritora.
Grace sentia uma grande vergonha de tudo o que fazia. Não podia nem pensar naquela redação que começava a ficar com febre, ou coisa assim. Ela considerava tudo o que escrevia como algo tão singelo, tão seu. Odiava o fato de terem lido a redação para toda a escola. Odiava o fato de que Thomas se lembrava até do que estava escrito nela.
Grace: Obrigada.
Thomas: Tomei a liberdade, naquele ano, de ler a sua redação sozinho. Eu era amigo da professora de inglês naquela época, então, você sabe como é...
Grace: O que? Você leu?
Thomas: É, li cuidadosamente as suas palavra... Acho que sua letra era bem bonita, pelo que eu me lembro. Eu sabia que a redação era de uma Grace, mas só agora eu entendi que ela era você. Apesar de eu não concordar com nada do que estava escrito, você quase me convenceu. Aquilo era um insulto a North Adams!
Grace: Por que você gosta tanto deste lugar?
Thomas: Sabe quando você é pequeno e acha tudo aqui entediante? Então, depois que você cresce, você começa a perceber que as pessoas se esforçam para não ser assim. Por exemplo, pode ter o campeonato que for, no país inteiro. Pode ser basquete, baseball ou hugby... os moradores de North Adams se preocupam mais com o campeonato de futebol da cidade do que com esses mais populares. E tem o dia dos fundadores, que a cidade inteira se movimenta para se lembrar de algo que aconteceu há centenas de anos, mas que nos une como um povo só. Então, se fosse para escolher um lugar para cuidar dos meus filhos, eu, com toda a certeza do mundo, escolheria North Adams. Ou a Escócia... Há beleza nessa simplicidade toda, e eu quero que eles vejam isso.
Grace: Espera um segundo. Você está dizendo que, quando estava na sétima série, você se julgava adulto e já pensava nisso tudo? Até mesmo nos seus filhos?
Thomas: Penso nos meus filhos desde que me entendo por gente. Quando eu tinha quatro anos, separei uma roupa minha para dar ao meu filho.
Grace: Você é mesmo muito idiota.
Thomas: Por que?
Grace: Também fiz isso...
●●●
Thomas e Grace não souberam me informar com exatidão sobre como eles entraram no próximo assunto. Talvez conversaram um pouco sobre Lydia, depois Grace perguntou se ele realmente gostava da sua amiga... ou algo do tipo. Já era quase meia-noite quando entraram nesse assunto...
Grace: Acho que a sua amiga Brenda gosta de você...
Thomas: O que? Não... não... impossível.
Grace: Ela claramente sente ciúmes de você.
Thomas: É só amizade... ela gosta do Luke.
Thomas sabia que essas coisas não podem ser assim contadas a qualquer um. Mas ele tinha a sensação de que podia confiar mais em Grace do que em qualquer um.
Grace: Mas o Luke não tem namorada!?
Thomas: Você conhece todo o mundo?
Grace: É quase impossível alguém não conhecer vocês nessa cidade...
Thomas: Então. Sim e não. Tem um bom tempo que ele está enrolando essa garota, a Mary. E, coitadinha, ela é muito apaixonada por ele. Hoje mesmo, depois da padaria, cada um foi para o seu canto e Luke disse que tinham terminado. Corri até Mary e a levei em casa. Luke e Brenda foram sozinhos. É que a Mary é tão pequena, sabe? E tem muito tempo que ela está saindo com a gente, eu meio que sou o conselheiro dela. Não podia deixá-la ir, simplesmente.
Grace agradeceu aos céus por não ter se juntado a eles mais cedo na padaria. Ela sabia que alguma coisa de errada estava acontecendo.
Grace: Que pena! Ela parece ser uma garota adorável...
Thomas: Ela é... Mas dessa vez eu acho que não tem volta. Hoje eu até fui contra todos os meus princípios e a aconselhei a se afastar do Luke. Do meu amigo. Não se faz uma coisa dessas com um amigo, não é?
Grace: Mas ela agora é sua amiga também.
Thomas: Sim, eu não queria que ela continuasse sofrendo. Foram meses de vai e volta, sabe? Acabei dizendo coisas que sei que vou me arrepender. Mas ela não merece um cara como ele.
Grace: Como assim?
Thomas, mais uma vez, confiou em Grace.
Thomas: Ele ficou com outras enquanto estava com ela. E ele, hum, talvez goste da Brenda.
Grace: Uh, mas que enrolo!
Thomas: É... Não sei se ele gosta da Brenda de verdade, talvez goste que ela fique aos pés dele. Mas tudo que eu sei é que a Brenda gosta, sim, dele. O que complica todas as coisas... Eu sou meio que o resto de sanidade naquele grupo.
Grace começou a admirar Thomas por sua franqueza e coragem. Não era qualquer um que faria algo do tipo por uma pessoa que conhecia há pouco tempo. Tinha certeza que Thomas havia feito o certo, queria que ele soubesse disso.
Grace: Se serve de consolo, você fez o certo. Estou orgulhosa da sua atitude, Thomas Fraser.
Thomas: Obrigado! Eu estava conversando com a Mary antes de você me chamar. Acho que você ia gostar de conhecê-la.
De repente, o celular de Grace tocou. Era seu namorado. Precisava atender.
— Alô, amor? — Grace perguntou, ouvindo um barulho estranho de tiroteio.
— Oi, amor! Tudo bem?
— Tudo sim... — esqueceu de perguntar como ele estava também. Estava digitando uma mensagem para Thomas.
Grace: Espera um instante, meu namorado na ligação.
Thomas ficou incomodado com aquela situação, mas esperou do mesmo jeito.
Thomas: Tudo bem.
— Eu tô bem também. Só te liguei para dar boa noite e dizer que te amo.
— Ah, boa noite. Eu te amo — disse em resposta.
— Está tudo bem por aí mesmo, amor? Amor, eu preciso desligar. Estou na casa do Güido, jogando video-game, amor.
Grace ficou um pouco irritada com a quantidade da palavra "amor" naquelas orações.
— Güido? Quem é Güido? Video-game? Mas você não tem prova amanhã?
— É um amigo que conheci na loja de video-game, amor. Tenho sim, amor, só tô aqui para desestressar. Você mesma disse que eu não posso estudar antes da prova,—
Antes que ele dissesse mais outro "amor", Grace respondeu.
— Sim, mas é para descansar.
— O que? Não consigo te ouvir, amor.
— Tudo bem, amor. Vai jogar.
— Sim. Eu te amo.
— Eu te amo.
Já era meia-noite e meia, ela precisava dormir, mas não queria nem um pouco.
Grace: Pronto, voltei.
Thomas: Opa.
Grace: Só ligou para despedir. Ele tem prova amanhã.
Falou isso mesmo achando que não devia satisfações.
Thomas: Ah, sim. Ele faz faculdade de quê?
Grace: Direito.
Thomas: Legal.
Grace: Pois é.
Thomas: 'Falar nada, falando algo...'
Grace: É.
Thomas: Você quer ir dormir? Amanhã você tem aula.
Grace: E você, não?
Thomas: Tenho. Mas não sou muito de dormir cedo.
Grace: Entendi. Eu também, não.
Thomas: Então, tá bom.
Grace: Uhum.
Sem assunto algum para continuarem a conversa, mas com um desejo enorme de conversar, Thomas perguntou qualquer coisa que lhe veio à mente.
Thomas: Seu namorado é daqui?
Grace: Não, ele é de Boston mesmo... Mas boa parte da família dele mora aqui. Os Thompson, sabe?
Thomas: Sei.
Grace: É. Ele vinha para cá nas férias, foi assim que nos conhecemos.
Thomas: Há quanto tempo vocês namoram?
Ele ia mesmo querer conversar sobre aquilo? Grace estava quase ficando satisfeita por isso. Falaria do namorado, afinal. Nada compremetedor. Mas achava que poderiam falar sobre coisas mais confortáveis.
Grace: Há dois anos.
Thomas: Uau! E quando sai o casamento?
Perguntou por brincadeira. Na verdade, não acreditava que ela poderia pensar em se casar por agora.
Grace: Talvez no ano que vem.
Thomas: Sério?
Grace: É! Eu sei que parece estranho, mas não acho que precisamos esperar mais. Sabemos que nos amamos.
Parecia estar repetindo algo que leu num discurso pronto feito por Matthew.
Thomas: Entendi. Então... você está noiva?
Grace: Praticamente, sim. Estamos planejando para quando ele terminar as provas desse bimestre.
Thomas: Legal. Posso ir no seu casamento?
Grace: Com a Lydia? Sim. Eu estava mesmo procurando um par para ela.
Thomas: Padrinho? De objeto da sua ira a padrinho de casamento é um bom salto, não?
Grace: Com certeza! Talvez eu comece a gostar um pouco mais dessa sua cara até lá...
Thomas: A intenção é que goste cada vez mais. Mas não esperava que as coisas corressem assim tão rápido com você...
●●●
Conversaram mais um tanto sobre as músicas que gostavam. Sobre os livros que já leram. Sobre a professora de francês, que cospe enquanto fala. Já era bem tarde quando Grace notou que o tempo passava rápido demais quando estava conversando com Thomas. Talvez o tempo tivesse acelerado mesmo. Mas, naquela noite, em North Adams, somente os dois tiveram essa mesma sensação. Precisavam dormir. Senão, Grace perderia um dia de aulas cheio de conteúdo para as próximas provas. Thomas não estava muito interessado em ir à aula naquela manhã, mas se lembrou que tinha uma única aula na mesma sala com Grace.
Despediram-se e soltaram seus celulares. Nenhum dos dois conseguiu dormir muito bem.
________
Não esquece a estrelinha. ⭐
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