o donut perdido

— Ele me mandou uma música super fofa. Apesar de eu não ter curtido muito a versão original... gostei mais do cover da Adele, mas ele não precisa saber. Você acha que ele está gostando de mim? — Lydia disse, animada.

Grace, se não considerasse tanto Lydia, diria que já estava farta de tanta perguntas que ninguém seria capaz de responder senão ela própria. Mas respirou fundo e respondeu educadamente, como sua amiga merecia.

— Talvez, sim. O que você disse quando ele enviou a música?

— Só disse que eu amei a música. Eu queria mandar uma música para ele, mas não tenho ideia do que mandar. Você pode me ajudar?

Grace já estava vendo que rumo isso iria dar. Resolveu cortar pela raíz.

— Eu sou péssima com músicas, você sabe.

— Tudo bem, vou pensar em algo.

Aquela terça-feira na escola foi absolutamente normal, seu ápice foi um garoto do primeiro ano que vomitou no refeitório e ninguém mais conseguiu comer nada.

Depois da escola, Grace, ao chegar em casa e almoçar, tirou aquela bela soneca que não havia tirado no dia anterior. Acordou quase às três horas da tarde, com sua mãe pedindo que fosse à padaria.

Ir à padaria era uma coisa normal em North Adams e Grace sabia que tinha uma grande probabilidade de encontrar algum conhecido por lá. Mas, exatamente naquele dia, não se preocupou com sua cara de sono, nem mesmo com o seu cabelo despenteado. Pegou o cartão de crédito e foi direto para lá.

O que ela não contava era que encontraria certas pessoas por lá. Sim, Thomas estava lá, sentado numa mesa com Brenda Hunter, uma garota que sempre vivia junto a ele. Os dois pareciam ser muito próximos, estavam rindo e, de alguma maneira, Grace queria estar no lugar de Brenda Hunter. Por que não tinha bons amigos assim? Afastou mais uma vez esses pensamentos bobos da cabeça. Iria passar pelos dois fingindo que nem os vira, depois iria embora.

Grace colocou o pé direito na entrada da padaria. Viu um casal se aproximar da mesa e sentar junto a Thomas e Brenda. Era ninguém mais do que Luke, melhor amigo de Thomas, e Mary, uma garota com quem ele saía há alguns meses. 'Então... um encontro de casais?', pensou Grace.

Luke era o melhor amigo de Thomas desde sempre, pelo menos era disso que Grace se lembrava. Os dois sempre estiveram juntos. Luke era alto — não tanto quanto Thomas, mas... alto —, fortinho, com um cabelo preto e tinha a fama de ser meio mulherengo, algo que não combinava muito com o fato dele nem ser tão bonito assim. Mary, a moreninha da oitava série, era muito infantil para estar namorando com Luke, mas, ao que parece, não era nada mais que um rolinho.

Seguiu avante e, apagando toda a nuvem de pensamentos sobre aquelas pessoas, passou por eles.

Pela primeira vez, sentiu que algum deles a cercava com os olhos. Muito nervosa por isso, foi até o balcão e pediu dez pães, mesmo sua mãe tendo pedido para comprar somente cinco.

— Não, não. Quero cinco pães. E esse donut com granulados coloridos da ponta — falou apontando para o vidro do balcão.

— Ei, Grace Daves. — Grace ouviu alguma menina ao seu lado falar seu sobrenome com um breve exagero no s. Levantou o olhar e viu que era Brenda, acompanhada de Thomas.

— Oi — falou timidamente.

— Oi, Grace — disse Thomas atrás de Brenda. — Esta é a Bê, minha amiga—

Melhor — precipitou-se Bê antes dele terminar, — amiga. Prazer.

— Prazer. — Grace não podia esconder o quanto estava tímida.

— Ela é tão fofa, Thomas! — Bê disse como se Grace não estivesse escutando — Você quer se sentar com a gente?

Grace olhou para a mesa deles. Havia algo de errado. Luke e Mary pareciam não estar muito bem. Brigaram, talvez. Com todo o bom senso que herdou de sua mãe, resolveu não se apresentar num momento assim tão estranho.

— Não, não. Estou de saída. Minha mãe precisa dos pães.

— Ah, que pena! Adorei te conhecer.

— Igualmente — Grace concluiu que Bê era realmente simpática, nada como imaginara.

— Então é isso. Preciso conversar com você mais tarde, Grace — Thomas disse.

— Hum... O que vocês têm de tão interessante para conversar? — Bê fez uma cara que Grace não conseguiu decifrar, se ciúmes, se falso-ciúme só para constranger...

— É coisa nossa — Thomas respondeu.

— Tá! — Bê simplesmente o agarrou de lado, dando a entender que eles tinham que voltar para a mesa — Até mais, lindinha! — Bê acenou ao longe para Grace, e Thomas levantou um breve aceno também.

Passou a mão distraidamente pelo cabelo e acabou por perceber que não estava tão lindinha quanto Bê disse. Ela estava terrível. Isso foi uma grande ironia. Queria voar para fora dali, o mais rápido possível. Pegou os pães e, feito cinderela, deixou seu donut embalado em papel de pão cair no chão. Chegou até a perceber aquilo. Mas deixou para lá, não voltaria mais naquela padaria. Nem tão cedo.

●●●

Mais à noite, enquanto revisava as aulas da manhã, recebeu algumas mensagens no celular.

Thomas: Ei, você esqueceu seu donut.

Grace: Não me diga que vai me entregar amanhã?

Thomas: Eu bem que queria, mas a Bê comeu tudo.

Grace: Sério?

Thomas: Sim. Te devo um.

Grace: Não precisa, sério. Eu nem queria mesmo.

Sentiu sua barriga roncar. Uma coisa que Grace queria agora mesmo era um donut recheado.

Thomas: Eu faço questão. Meus amigos só me dão prejuízo.

Grace: Tudo bem. Já que você insiste...

Thomas: Ok.

'Então é isso?', pensou Grace, 'Ele me chama, fala 'ok' e nem continua o papo?'.

Esperou alguns minutos por mais alguma resposta e bufou. Realmente, mesmo online, ele não iria falar com ela. O que parecia estranho. Grace se lembrava nitidamente que, na padaria, ele dissera que precisava conversar com ela.

Navegou um pouco pela internet, tentou conversar com o namorado, que parecia estar ocupado, conversou com Lydia, mas ela teve de sair para uma festa de aniversário.

Pronto. Estavam os dois sozinhos e online. 'Não faz mal eu perguntar o que ele tinha para me falar, não é?'

Grace não sabia que, nos próximos dias, se arrependeria de tê-lo chamado para conversar. Foi uma conversa mais do que agradável. Foi reveladora.

Com detalhes, eu nunca seria capaz de explicar. Mesmo para mim, que escrevo esta história, eles não revelaram ao todo o que conversaram. Só tenho algumas partes, vou compartilhar com você.

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Não esquece a estrelinha. ⭐

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