novos fins (...)
Como poderia ter pensado em não perdoá-lo após tudo o que ele havia confessado? Grace orou arrependida. Ela havia se lembrado do quanto havia ofendido a Deus durante toda a sua vida, muito mais do que seu pai a havia ofendido. Deus nunca havia feito nada que a prejudicasse, mas ela já havia falhado tantas vezes! Seria injusto receber tão grande perdão de Deus e não ser capaz de perdoar a ofensa de seu pai.
Ela sabia o que fazer, ainda que fosse muito difícil. Voltou à sala e abraçou forte o seu pai, que ainda permanecia sentado no sofá com as mãos no rosto. Grace reparou a surpresa do pai quando ele sentiu que estava sendo abraçado por ela. A única coisa que ele conseguiu dizer foi:
— Oh! — E derramou-se em lágrimas enquanto recebia carinho da filha.
— Vamos resolver isso. — Grace o consolou.
•••
Um mês inteiro havia se passado desde que Grace chegara a Londres. Ela se sentia cada vez mais em casa, ainda mais pelo fato de agora serem somente ela e seu pai. Thomas e ela conversavam um pouco por ligação a cada dia, para matar um pouco da saudade, mas ambos estavam ocupados com seus respectivos cursos, e não tinham muito tempo para maiores conversas. Thomas achou melhor assim. O desejo de conversar com Grace por horas a fio não iria levá-los para um bom caminho, seu pai o havia aconselhado.
A mãe de Grace estaria chegando a Londres naquele dia, uma vez que o marido e a filha insistiram que ela deveria viajar ao seu encontro. Certificaram-lhe de que o assunto era importante e não podia ser tratado por mensagens ou videochamadas. Um tanto nervosa como naturalmente era, a mãe de Grace, Lúcia, achava que era algo relacionado ao noivado de Thomas e Grace. Teria alguma festa de noivado? Mas por que fazer suspense sobre aquilo?
No entanto, o assunto nem chegava perto disso. Era muito mais sério, percebeu quando chegou ao aeroporto. Arthur estava nervoso, todos os músculos de sua face extremamente rígidos, sem conseguir expressar direito seus sentimentos por finalmente vê-la, após meses.
Grace saltou para um abraço em sua mãe, apesar de também estar com o semblante um tanto abatido.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — Lúcia questionou com um tom de bom humor na voz.
Então, quando chegaram em casa, Arthur confessou-lhe seus erros.
Grace, em seu quarto, orava a Deus para que desse as palavras corretas ao seu pai, demonstrando seu arrependimento, e para que Ele mostrasse a sua mãe o caminho para o perdão. Mas nem tudo é como esperamos, você sabe...
Primeiro Lúcia não quis ouvir, não quis acreditar no que estava ouvindo. Xingou, gritou e chorou. Arthur também chorava ao confessar seus erros, declarando repetidamente: "eu não quero que nosso casamento acabe, não serei tão tolo de prometer que nunca mais vou te magoar, mas quero acordar todos os dias com o objetivo de fazer o certo em amor a você, Lúcia."
Enquanto orava pelo que estava acontecendo entre seus pais na sala, Grace lembrou-se das palavras de Thomas:
"Aos poucos você vai entender que está conhecendo um pecador. E o pecador Thomas ainda vai te decepcionar muito".
Que realidade! Ainda que vivesse um lindo e apaixonado amor junto a Thomas, desses que tiram seus pés do chão, a verdade era que nem mesmo em Thomas ela poderia encontrar os anseios mais profundos de sua alma, porque ele não era perfeito e nunca seria aqui neste mundo caído. Seu pai não havia agido de forma perfeita para com sua mãe — na verdade, agiu muito contrário a isso —, e ela podia agora enxergar claramente que relacionamentos, ainda que pareçam perfeitos no começo, não estarão livres de erros, pecados e falhas.
Depois de tornar-se noiva de Thomas, começara a refletir na tendência que tinha, como uma jovem emocionada e apaixonada, em colocar seu noivo num alto lugar, quase que venerando o amor que tinham. Ele era, por muitas vezes, o seu primeiro pensamento, seu maior anseio. Não podia negar que Thomas a ajudara muito a dedicar-se a Deus, mas ele não poderia ser o centro de tudo, nem a causa de tudo. Deveria ser ela e Deus. Era como se Thomas tivesse chegado até ela com todo o seu encanto e lhe oferecido uma linda vela, com a qual podia ver um pouco mais do mundo. Mas a verdade é que existia Alguém disposto a iluminar toda a sua escuridão, e ela poucas vezes levava isso em consideração.
Contentamo-nos com tão pouco...
Você já contemplou o fascínio de uma criança pelo fogo? Enquanto há uma centelha, perdemos, como crianças, bastante tempo na ilusão de olhá-la. Mas isso é reflexo do nosso maior desejo pelo fogo que purifica a alma, pelo prazer Maior. Todo aprendizado que havia acumulado nessa caminhada era um: Deus é a resposta para todos os anseios da alma. O coração humano é uma fábrica de ídolos. O que mais seria a idolatria senão preferir a criatura ao invés do Criador, senão preferir o presente ao invés do Presenteador?
•••
Sinto em dizer que a situação entre os pais de Grace não melhorou muito. Lúcia resolveu voltar para os EUA, onde iniciaria com os papéis do divórcio e depois retornaria a Londres para que Arthur os assinasse e ambos entrassem num acordo.
Já se findava o segundo mês de Grace em Londres, e o casamento de seus pais parecia completamente dissolvido, não havia qualquer esperança.
— Sinto como se o mundo estivesse escorrendo por entre meus dedos. — Arthur se lamentava para o Pastor Jake, que havia chegado com Thomas em Londres naquele dia. Sr. Jake e Arthur estavam sentados à pequena mesa do apartamento, enquanto Thomas e Grace se sentavam nos bancos do balcão da cozinha.
— Você sabe que ela está no direito dela. — Sr. Jake certificou-lhe. — Mas ainda há esperança...
— Eu abandonei a minha família, eu mereço isso. — Arthur se lamentou enquanto segurava o chá que havia servido a Thomas e Sr. Jake.
— Não estou falando que você não mereça isso — Sr. Jake disse com firmeza. — Estou dizendo que onde há pecado e arrependimento há graça.
Arthur olhava para o pai de Thomas com um miserável e triste olhar, querendo que, de alguma forma, o pastor à sua frente salvasse o seu casamento, mesmo sabendo não havia muito a ser feito por ele além de aconselhamento.
— É tão sugestivo que seu nome seja Grace, eu já te disse? — Thomas sussurrou para a noiva enquanto ouviam, ali do balcão da cozinha, a conversa de Arthur e Jake.
— Você já disse isso um milhão de vezes, meu amor — Grace revirou os olhos enquanto respondia. Chamá-lo de "amor" agora era muito natural, mas o último mês havia sido tenso demais para que Grace se sentisse totalmente feliz com o que estava acontecendo em sua vida, mesmo vendo Thomas depois de várias semanas. Ela suspirou e mudou de assunto. — Você acha que tem alguma coisa que eu possa fazer para salvar o casamento dos meus pais? Você sabe... Filhos podem ajudar.
— É sobre isso que eu estava falando. Sobre o seu nome, Gracinha. — Thomas começou a discursar em sussurros, colocando sua mão, pela primeira vez naquele dia, sobre a de Grace e acariciando-a lentamente. — Seu pais talvez nunca pensaram que precisariam de tanta graça quanto agora. E não estou falando de você, Gracinha. Um dia, quando tiveram você, colocaram seu nome de Grace mal sabendo que precisariam, não de você para salvar o casamento no futuro, mas da graça que superabunda no pecado. Eles precisam de algo mais; isso não depende de nós, nem de você.
•••
Ao fim dos três meses de curso, Grace sentia-se muito mais madura — sua mentalidade havia sido mudada por conta de seus estudos, suas orações e meditações na Palavra de Deus. Seu relacionamento com Thomas era algo muito importante em todo aquele avanço; eles haviam crescido juntos, também. Estavam se preparando para casarem-se em julho daquele mesmo ano. Grace ainda não acreditava que isso estivesse dando tão certo.
Mas ainda havia uma questão. Sentia-se muito infeliz ao considerar a grande contradição: estar começando um casamento quando, em contrapartida, o casamento de seus pais estava chegando ao fim. Ela orava a Deus todos os dias pela restauração. Pastor Jake, pai de Thomas, tomou sobre si o compromisso de aconselhar Arthur nesse processo. Seu pai realmente estava muito transformado, de fato arrependido. Mas sua mãe parecia irredutível, o que Grace de certa forma entendia. Ela também não sabia como reagiria diante de uma traição de Thomas.
— No caso de traição... biblicamente... você acredita que o divórcio é a opção correta? — Grace perguntou, subitamente, enquanto andava com seu noivo pelos jardins do prédio num dos últimos dias de inverno.
— Que tipo de pergunta é essa para quem está prestes a casar comigo? — Thomas questionou, espantado. — Depende. E isso é algo muito complexo para se explicar, assim, numa conversa pelo jardim — ele respondeu, por fim, com um suspiro, sabendo que aquilo era delicado para ela.
— Depende do quê? — Grace questionou, um tanto surpresa.
— Meus pais têm uma filosofia de vida matrimonial. — Thomas sorriu, olhando para frente enquanto segurava a mão de Grace. — "Sair não é uma opção".
— Me explica melhor...
— O casamento foi feito para ser para sempre. Se não quisermos ficar juntos para sempre, não precisamos casar. Mas isso não significa que não haverá uns dias que você vai me odiar, preferir não olhar para minha cara. Não significa que eu não vá pecar contra você, te irritar, te magoar, te ferir... Só que o casamento é uma união pactual com promessas claras. Amor, respeito e serviço.
— O que você está querendo dizer com isso? — Grace levantou uma sobrancelha, sem entender no que ele queria chegar.
— Estou querendo dizer, lindinha, que, ainda que você me irrite, eu prometi não te deixar, então eu não vou embora. A traição seria um processo muito doloroso, como está sendo com os seus pais agora, mas se a sua promessa de amor e respeito continuar válida para você; se houver arrependimento, acredito que haja motivo para não ir embora.
— Isso é muito interessante... — Grace disse, admirada.
— Nós nos acostumamos com o divórcio. Como se ele fosse a primeira opção para qualquer problema. A verdade é que poucos querem lutar pela promessa que fizeram um dia.
— Mas... e se acontecer uma traição? — Grace voltou a questionar.
— Eu estou falando de um casal como eu e você, que está firmando uma aliança com Deus. Qualquer relacionamento que não tenha a Deus está fadado ao fracasso, porque não existe um padrão a ser seguido; ainda que, pela graça de Deus, alguns casamentos sem Ele durem. Mas isso é uma exceção à regra. A questão é que, tendo a filosofia "sair não é um opção" e tendo o objetivo de glorificar a Deus com nosso casamento, eu vou querer que nossa casa seja o ambiente mais agradável e confiável possível. Quando eu escolhi você, eu escolhi servir a você e a mais ninguém. E eu levo esse juramento muito a sério.
— Talvez o serviço ao outro torne a permanência no casamento mais leve. Saber que temos esse objetivo em mente é encorajador, apesar de nossos pecados — Grace completou.
— Sim. — Thomas ofereceu-lhe um sorriso de conforto. — Então, quando eu digo que eu ficaria se você me traísse, digo que, na verdade, depende também da sua disposição em fazer isso funcionar. Eu estou disposto a te servir para sempre, você está?
— Estou, claro. Acho que essa disposição de servir ao outro até mesmo auxilia no caminho contra qualquer briga...
— Com certeza! A traição começa com simples mentiras, simples olhares. O serviço tende a cortar isso pela raiz. Mas estamos sempre sujeitos a sermos imperfeitos em nosso serviço.
Grace concordou, um tanto pensativa. "Amor é serviço", guardou isso na mente.
— Se eu te traísse, isso seria um pecado que eu cometi contra você, certo? Eu que deveria sofrer com as consequências. Mas o traído parece sofrer mais... — Grace perguntou após alguns minutos caminhando de mãos dadas com Thomas.
— Todos os envolvidos são devastados por causa da traição. Um fere a consciência, o outro é ferido em sua confiança. Um perde a cabeça, o outro perde o chão. Há pecados com consequências terríveis, mesmo quando perdoados...
•••
Terminados os três meses na Inglaterra, era hora de Grace voltar para casa. Estava com saudades de North Adams, de sua mãe e de Brenda também. Despediu-se de Thomas, de seu pai e da família Fraser com muita tristeza. Parecia estar deixando uma parte de si com eles.
— A gente se vê em alguns meses — Grace disse ao seu noivo, com os olhos embargados.
— A gente se casa em alguns meses, eu vou te levar embora em alguns meses — ele corrigiu, com um sorriso.
— Eu tenho muita coisa para resolver nos Estados Unidos, então. Vestido, decoração, essas coisas — Grace disse. Ambos haviam concordado em se casarem nos Estados Unidos, em North Adams, onde tudo começou.
— E eu tenho que... — Thomas coçou a cabeça, — arrumar um terno?
— Importante. E tem que arrumar esse cabelo. — Grace bagunçou cabelo dele enquanto dizia.
— O que há de errado com meu cabelo? — Thomas questionou, incrédulo.
— Nada. Promete que não vai tirar essa barba? — Grace olhava para um Thomas ainda mais viril com uma barba um tanto cheia em seu rosto.
— Você não quer se casar com o homem das cavernas, quer? — Thomas perguntou enquanto buscava a mão de Grace para puxá-la para mais perto.
— Vou sentir sua falta, homem das cavernas; mas vai passar — Grace disse, entrelaçando seus dedos nos dele, ao que ele a puxou levemente para um carinhoso abraço.
— Vai demorar uma eternidade, tenho certeza — Thomas disse contra o topo da cabeça de Grace, dando-lhe um beijo bem ali.
— Favor me ligar todos os dias. Temos muitos detalhes para acertar.
•••
— Ah, você está noooooiva. — Brenda vibrava ao olhar o delicado anel no dedo de Grace. Ela havia acabado de chegar na casa da amiga, que voltara de viagem e estava desfazendo sua mala em seu quarto. — Não posso acreditar que isso é real!
— Bê, eu já te contei isso há séculos. Aliás, te contei no dia em que ficamos noivos. — Grace ria.
— Mas olhar, assim, pessoalmente, é uma loucura! — Ela se animou, os olhos muito mais saltados das órbitas do que o comum.
— É o Thomas. Ele não faz nada muito comum. — Grace sorria, nostálgica.
— Tenho novidades. — Brenda fez suspense. — Lydia está namorando um garoto de Boston. E ela passou na B.U., vai para lá no mês que vem.
— Que maravilha! Fico feliz por ela. Jornalismo? — Grace sorria, era bom saber que a amiga tinha seguido em frente.
— Sim. Quem sabe ela não vira colunista daquelas revistas toscas que você disse que ela lê? — Brenda disse, com um desdém nítido em sua face.
— Não seja tão maldosa, Bê! — Grace a repreendeu, não conseguindo segurar a risada.
— Mas tem um problema. — Brenda de repente ficou séria.
— Diga, acho que nada me abala. — Grace deu de ombros enquanto desfazia sua mala.
— O seu ex-namorado, Matt, criou uns perfis falsos, tentou falar comigo. Com você também?
— Comigo não. Como você sabe que é ele? — Grace se espantou.
— Ah, porque era muito óbvio. E eu sou muito esperta. Ele usava o nome Mattilda com um sobrenome muito parecido com o dele...
— Mattilda é o alter ego feminino dele... Ele usa pra jogar video-game — Grace lembrou, colocando a mão no rosto para esconder um tipo de vergonha alheia.
— Como assim? — Brenda começou a rir.
— É... ele estava vendo um filme sobre Freud e Jung e, não sei o que deu, inventou um nome para a personalidade feminina dele... Mas isso tem muito tempo, era só uma brincadeira dele para me impressionar no começo do namoro... Ele se mostrava bastante inteligente.
— Impressionar com um alter ego feminino? Essa é nova... — Brenda balançou a cabeça em negação daquilo que havia acabado de escutar. — Mas o que importa é que ele... ela... veio conversar comigo, me pediu informações sobre você, disse que era sua amiga, que havia perdido o contato.
— O que você disse? — Grace se espantou com a novidade.
— Que eu achava muito estranho mesmo que você tivesse sumido, assim, por três meses... Talvez foi abduzida? Não sei. Pedi que ela me avisasse se soubesse de alguma novidade sua.
— Você é impagável, amiga! — Grace vibrou com a ideia de Brenda ter lidado muito bem com a situação, ela era realmente muito esperta.
— Mas acho que a história não acaba por aí. Ele tem feito uns vídeos para a internet, tocando guitarra. Está tendo um bom número de visualizações.
— Isso é bom! Fico feliz por ele. — O coração de Grace se enchia de gratidão por saber que ele estava bem.
— Fora o fato de que ele faz um discurso antes de tocar cada música, e de que o que ele fala, bem... não ser tão agradável — Brenda mostrava uma feição um tanto indecifrável.
— Como assim? — Grace franziu o cenho. "Será que ele está me expondo?", ela pensou, o coração resolvendo bater mais forte, o sangue quente nas veias começando a esquentar seu rosto, ruborizando-o.
— Primeiramente: ele tem tocado as piores músicas sobre traição e decepção amorosa... e, então, ele tem falado coisas como: "essa música fala muito sobre a história da minha vida, quando fui abandonado pela minha namorada". E ele fala de namorada, não de ex. No tempo presente, como se vocês ainda estivessem juntos...
— Não pode ser verdade! — Grace colocou a mão na cabeça, um tanto preocupada. Ela estava planejando um casamento enquanto o seu ex ainda a chamava de namorada.
— Ele não parece estar em perfeito juízo. Só toma cuidado. Espero que ele não saiba que você chegou.
•••
Enquanto isso, na Europa, Thomas se ocupava de pensar sobre ternos e viagens de lua de mel. Ele gostava de usar blazers quando ia a casamentos, e camisas sociais nunca foram um grande tabu, mas não conseguia se imaginar completamente de terno, até ria só de imaginar a situação.
— Ei, você conhece uma tal de Mattilda? — Jake II apareceu na porta de seu quarto, enquanto Thomas pesquisava em seu computador por vídeos de casamento; nem ele acreditava que estava fazendo isso, então fechou a tela rapidamente para olhar para o irmão.
— Não. Quem é? — Thomas virou sua cadeira para o irmão.
— Ela me disse que é de North Adams, mas eu nunca a vi por lá. Talvez você, que estudou na escola de lá, deve conhecer — Jake II jogou seu celular no colo de Thomas.
— Humm. — Thomas olhou a foto, nunca tinha visto alguém semelhante por North Adams. — Não sei. Mas é morena. Isso te interessa, não é? — Thomas caçoou, devolvendo o celular a Jake.
— É linda demais pra ser verdade! — Jake disse, olhando novamente para a foto na tela do seu celular.
— E ela puxou papo contigo? O que ela tem na cabeça? — Thomas perguntou, vendo seu irmão deitar em sua cama ainda sem desviar o olhar do celular.
— Ela me lembra uma garota que conheço da faculdade...
— A Hannah? — Thomas revirou os olhos.
— Como você sabe? — Jake se inclinou rapidamente em direção ao irmão, seus olhos saltaram.
— Você fala o nome dela dormindo. E, sempre que tem oportunidade, fala dessa "garota da faculdade". — Thomas imitou a voz grave do irmão. — Só liguei os pontos.
— Eu não falo o nome dela dormindo. Você andou fuçando minhas coisas! — Jake se levantou da cama, num tom de ameaça.
— Então você quer dizer que tem cartas dela escondidas no seu quarto? Não sabia dessa. — Thomas soltou um risinho debochado.
— Ainda bem que você vai se mandar dessa casa daqui poucos meses. — Jake constatou, como que numa lembrança agradável, com um sorriso no rosto.
— Você vai continuar por aqui? — Thomas perguntou antes que seu irmão saísse do quarto.
— É... estou conseguindo um emprego bom por aqui, em Glasgow; não vejo por que voltar para os Estados Unidos.
— Mas e a Hannah? Vai deixá-la por lá? — Thomas caçoou.
— É muito melhor assim. Ela lá, eu aqui.
Jake II saiu sem deixar Thomas tecer mais alguma pergunta. Thomas percebeu ser um assunto bastante delicado para o irmão. Deveriam conversar sobre isso mais tarde.
•••
Os meses passavam lentamente enquanto Grace esperava ansiosamente pela chegada do tão esperado dia. Sua mãe, por outro lado, parecia cada vez mais destruída por conta do processo de divórcio. Ela havia resolvido prolongar um pouco mais o processo, para pensar um pouco sobre a situação.
Arthur estava mudado, certamente. Ele ligava sempre para Grace perguntando como estava sua mãe, querendo saber notícias dela. Arthur estava muito nervoso com toda aquela história. Não queria se divorciar, mas sabia que Lúcia estava certa do que queria fazer.
— Está bem, pai. Eu também te amo. — Grace desligou a ligação enquanto estava sentada no sofá com sua mãe ao lado.
— O que ele disse? Perguntou sobre mim? — Lúcia perguntou com curiosidade no olhar.
— É claro. Ele não para de falar na senhora — Grace comentou com um sorriso no rosto.
— Ele acha que vai me reconquistar assim. — Lúcia fez uma careta. — O que ele fez não tem perdão.
— Hum. — Foi a única coisa que Grace conseguiu falar. Ambas já haviam tido aquela conversa. Lúcia, primeiramente, havia ficado na defensiva, dizendo que a filha estava do lado do pai. Depois de muita conversa sem muito resultado, Grace havia desistido de tocar no assunto.
— "Hum"? É só isso? Achei que ia dizer "ele está tentando, mãe", como você sempre diz — Lúcia comentou com um tanto de curiosidade.
— É só isso... — Grace concordou, sentindo-se um pouco desconfortável com a conversa. Levantou-se para ir em direção à cozinha.
— Você já pensou sobre isso? Sobre seu casamento ser um fracasso em potencial como o meu? — Lúcia perguntou finalmente aquilo que era sua maior preocupação desde que a filha resolveu se casar.
— Isso é sério? — Grace se espantou com a sugestão.
— Eu nunca esperei uma coisa dessa vinda do seu pai. Não quero que você se iluda achando que seu casamento será melhor — Lúcia disse, tentando mostrar-se ríspida.
— A senhora acha mesmo que tudo o que está acontecendo não tem nenhum efeito sobre mim? — Grace desabafou.
— Você está aí, toda feliz, não parece se importar mais. — Lúcia desabou em lágrimas.
— Eu oro todos os dias para que vocês se resolvam. Eu tentei com todas as minhas forças. Chegou num momento que eu sei que somente Deus pode intervir no casamento de vocês — Grace disse em meio às lágrimas. — Mas eu não posso estar minimamente feliz com o meu casamento?
— Eu sinto que você está me deixando no meu pior momento... — Lúcia disse baixinho.
— Mamãe... — Grace voltou para a mãe, dando-lhe um abraço. Apesar de ter sido um tanto grosseira, ela sabia que sua mãe só estava mostrando uma armadura falsa, coberta de ressentimento e medo.
— Eu queria me afogar na depressão, na amargura. Mas você não deixa, você sempre me faz ver o lado bom nas coisas, até mesmo no seu pai — Lúcia disse com dificuldade.
— Eu sei que a senhora se sente abandonada duplamente. Eu não vou te deixar, serei sempre sua filha. Mas eu não poderia ficar para sempre aqui, poderia? — Grace lhe ofereceu um sorriso triste.
— Poderia. — Lúcia sorriu em meio às lagrimas. — E me perdoa por ser tão egoísta. Por não ver o quanto isso te afeta também.
— Nós somos uma família. O que te machuca também me machuca. Mas o papai... ele está sofrendo também, acredite. Eu sei que eu não posso te pedir uma coisa dessa, mas converse com ele, numa boa.
— Eu tenho muita admiração pela mulher que você se tornou, filha — Lúcia disse, com admiração no olhar. — Sinto que nunca serei um terço.
— Você é a minha inspiração. Não venha com essa! — Grace brincou, depositando um beijo na bochecha de sua mãe.
•••
Junho estava para acabar, o que tornava as coisas um pouco mais difíceis. Grace nem ao menos tinha decidido qual vestido usaria. Ir a Boston seria a melhor opção, afinal quando ela pensava no seu vestido — e ela já tinha pensado em todos os detalhes, e o desenhado até —, ela imaginava o vestido que fosse perfeito, o que ela nunca encontraria em sua pequena cidade.
Lúcia e Grace chamaram Brenda para acompanhá-las na saga pelo vestido de noiva perfeito, o que seria uma aventura na certa.
— Vem cá, amiga. — Brenda puxou Grace antes de entrarem no carro. — Uma selfie. — Tiraram uma foto muito saturada no calor de Massachusetts, a qual Brenda postou em seu Snapchat com a seguinte legenda: "Boston que nos aguarde #ElaDisseSimAoVestido".
— Acho que eu poderia costurar. Só não sei se vai dar tempo — Grace comentou ao entrarem no carro.
— Você merece um vestido de grife italiana — Brenda interveio. — E não merece passar os últimos dias de solteira trancafiada furando os dedos. Vamos curtir.
— Eu concordo — Lúcia comentou enquanto todas colocavam o cinto e partiam para a aventura.
Brenda não parava de tirar fotos e gravar vídeos durante o caminho. Grace não parava de rir das piadas que Brenda e até mesmo sua mãe contavam. Estava muito feliz por ter duas amigas tão companheiras como elas.
Chegando à tão sonhada loja de vestidos de noivas, Grace e Brenda sacudiram as mãos no ar para aliviar os nervos à flor da pele. Grace nunca imaginou que a loja fosse tão grande, nem que um dia fosse pisar nela.
Depois de olharem diversos vestidos e o compararem com o modelo que Grace havia desenhado, separaram três vestidos para que Grace escolhesse.
Lúcia e Brenda ficaram um tanto decepcionadas quando perceberam que Grace tinha em planos um vestido muito simples, nada muito princesa, nem sereia, nem cheio de brilhos. Mas a verdade é que, vendo-a vestida com aqueles vestidos, puderam perceber: Grace tinha um gosto muito próprio quanto a roupas, e aquilo combinava muito mais com ela do que qualquer vestido cheio de lantejoulas, decotes e brilhos.
— Eu vou casar no campo, não tem por que ser tão extravagante. — Grace se explicou ainda antes de aparecer para as duas...
Embora um pouco largo nas mangas bordadas, o vestido lhe coube perfeitamente. Grace notou alguns ajustes que poderiam ser feitos — mais pano aqui, menos bordado ali...
— Você está... perfeita — Lúcia disse num choro leve.
— Maravilhosa! — Brenda comentou, levantando o celular para tirar uma foto. — Essa eu não vou postar, fica tranquila — disse quando viu a cara de reprovação de Grace.
•••
Então, ficou assim decidido: os ajustes seriam feitos e o vestido seria entregue na próxima semana em sua casa. Saíram todas muito satisfeitas da loja, Grace se sentia mais perto do que nunca de seu casamento.
Porém, um senso de "tenho um milhão de coisas para resolver" surgiu naquele momento. Grace voltou a loja para se certificar de que um pequeno detalhe em seu vestido não fosse esquecido pela costureira. Ela tinha certeza de que faria isso melhor do que qualquer um, mas foi convencida de que tinha muito mais a fazer, muitas coisas para se ocupar.
Enquanto Lúcia e Brenda voltavam para o carro sem perceberem a ausência de Grace, algo inesperado aconteceu.
Grace se encaminhava para a saída da loja quando foi surpreendida por um puxão bem forte em sua cintura. Alguém, por trás, a segurava com tanta força, que Grace se viu incapaz de se desvencilhar.
Pensou em gritar, mas, antes mesmo que pudesse abrir a boca para isso, a pessoa que a segurava colocou a mão sobre seu rosto e Grace subitamente desmaiou, sendo arrastada para bem longe dali.
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Ainda tem alguém aqui?
Desculpem a demora. Eu achei que tinha que repaginar — completamente — este capítulo e o próximo, porque, depois de anos, eu não gosto mais deles. Só que não consegui. Acho que a história "se criou" dramática assim. Ela não quis ser mudada.
Não esquece a estrelinha.
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