EPÍLOGO
THOMAS
Finalmente, o grande dia chegou. Vamos nos casar, e eu mal posso acreditar nisso.
Depois daquele dia em que meus amigos a resgataram, voltei para a Escócia com um aperto grande no peito. Era nosso costume contar quantas despedidas restavam até o dia em que começaríamos a construir uma vida só nossa, sem qualquer despedida indefinida e duradoura. Eu não estava esperando por mais aquela despedida. E ela foi dolorida. Parecia que eu estava deixando uma parte de mim em outro país.
No futuro, eu queria me despedir dela para ir trabalhar, passear com nossos filhos, apenas; não para ficar meses sem vê-la. Queria dormir e acordar ao lado dela, não somente dar boa noite e desligar a ligação. Queria abraçá-la, mostrando todo o meu carinho, não ficar evitando toques e criando escrúpulos. Queria uma vida nossa, uma casa do nosso jeito, uma criança com os olhos meigos dela, talvez várias crianças iguaizinhas a ela.
O pior de tudo é que eu não conseguia transferir nada disso para o papel. Meus votos estavam em branco. Nada que eu dissesse parecia ser digno de nossa história, nada parecia ser bom o suficiente para descrevê-la.
- Você já escreveu os votos? - Luke perguntou enquanto estávamos eu, ele, Jake II, meu pai e meu avô sozinhos dentro da cabana que nossa família havia herdado há séculos.
Nosso casamento seria ali mesmo, no campo, entre as montanhas, com uma vista incrível para o céu e um barulho intenso e refrescante de uma cachoeira que bradava não muito distante dali. Já tínhamos ido ali juntos. Julgamos ser o local ideal para chamar nossos poucos familiares e amigos a fim de celebrarem conosco nosso enlace matrimonial - por que raios estou falando igual a minha mãe? Acho que as conversas sobre a organização do casamento não me fizeram bem.
- Não escrevi - respondi enquanto todos estávamos sentados no sofá e nas cadeiras que achamos pela cabana. Nós supostamente deveríamos estar fazendo alguma coisa útil ali naqueles últimos momentos antes do casamento, mas só estávamos contando piadas e reclamando do calor.
Aquela pergunta do meu amigo foi a primeira coisa relacionada ao casamento, e aquilo me chamou para a realidade. Eu me casaria em poucas horas e nem sabia o que dizer para a minha noiva no momento em que a atenção estivesse toda direcionada a mim.
- Thomas é mais do tipo "falar o que vier à cabeça no momento" - meu irmão argumentou enquanto experimentava alguns dos aperitivos do buffet, sob a justificativa de se certificar de que não teria nada envenenado na festa.
- Você não precisa falar nada. É só repetir o que o seu avô falar - meu pai tentou me tranquilizar.
- Eu quero falar alguma coisa - respondi. - Só não sei como...
- Quando você olhar nos olhos dela, tenho certeza de que vai saber como - meu avô, como um respeitável ancião, afirmou com um sorriso de quem sabia do que estava falando.
JAKE II
Mal posso acreditar que o meu garoto vai casar. Minha admiração por ele só cresceu quando encontrou a Grace. Ele amadureceu, não sei se quando a encontrou ou se ainda antes, mas há uma diferença enorme entre o Thomas que eu conhecia quando eu estava na faculdade, morando longe da minha família, e o Thomas que eu vejo hoje, estando diariamente com ele na Escócia.
Só o Thomas mesmo para me fazer pisar novamente neste país chamado Estados Unidos da América. Talvez por covardia minha, prometi a mim mesmo que nunca mais entraria em contato com qualquer um dos meus amigos da faculdade. Ir para a Escócia com Thomas foi uma oportunidade gigantesca de me livrar daquilo tudo que me sufocava.
Voltar aos EUA me deixava mais reflexivo do que nunca. Tento me esconder atrás dos salgadinhos, mas ninguém parece querer deixar os últimos momentos de solteiro do meu irmão serem silenciosos nessa cabana.
- Vocês convidaram os Henderson? Alguns dos amigos da Escócia? - meu avô perguntou ao meu pai.
- Não, papai. Muito inviável. Eles não poderiam vir. Sem contar que eles não são mais tão chegados. Thomas nem se lembra deles - meu pai explicou com muita paciência, meu avô não entendia que meu pai e o seu melhor amigo de infância, Ítalo Henderson, já não tinham contato por quase duas décadas.
- Eu tenho certeza de que a Grace ia adorar conhecer a primeira escolhida do Thomas - eu brinquei para descontrair, meu irmão parecia mais nervoso do que nunca. Minha piada o despertou para uma risada.
Então era disso que ele precisava: do Jake versão comédia. Hoje era o dia dele, era isso que ele merecia ter.
Cutuquei Luke para que ele entrasse na onda.
- Primeira escolhida? Explica essa aí.
- Ítalo e eu éramos como irmãos - meu pai começou a explicar aquilo que todos nós já sabíamos. - Queríamos ser da mesma família, e eu tinha certeza de que a filha dele seria ideal para um dos meus filhos. Como tivemos o Thomas no mesmo ano em que eles tiveram a filha deles, acho que o nome era Daisy, Margarida, algo assim...-
- E eles praticamente casaram as duas crianças - eu completei.
- Isso não é ilegal? - Luke perguntou na maior inocência, o que fez todos nós
rirmos.
- Mas o ponto é que eu acho que vocês deveriam ter chamado os Henderson - meu avô começou o sermão novamente.
- Por quê? - Thomas disse, sem entender.
Eu já tinha entendido tudo.
- Vovô ainda acha que eu vou querer essa Marguerita. Desencana, meu velho, ela não faz meu tipo - eu comentei, dando um abraço no vovô.
- E você já a viu depois de crescida, por um acaso? - meu pai questionou, ao que eu dei de ombros.
- Tenho a vaga lembrança de uma loirinha dentuça. Não gosto de loiras - respondi, convicto.
- Eu até pesquisei na internet por ela há um tempo... - Thomas disse, despretensioso. - Mas ela é um fantasma, não parece ter redes sociais.
- Uau... que a Grace não saiba que você andou procurando por outra na Internet! - eu interferi, muito tendencioso.
- Isso foi antes de conhecer a Grace - meu irmão se justificou em meio às risadas. - Ainda bem que não encontrei...
- Você tá querendo dizer que se essa Marguerita tivesse Instagram a gente, talvez, não estaria aqui? - Luke perguntou.
- Não gosto de pensar assim - Thomas afirmou, com segurança. - Seria a Grace de qualquer forma, sem qualquer sombra de dúvidas.
GRACE
Eu estou uma pilha de nervos. Preciso ligar para o Thomas, ver se ele está tão nervoso quanto eu. Aposto que não, ele deve estar super tranquilo, eu que não consigo ficar quieta. Já chorei dez vezes hoje, e todas elas por mais de vinte minutos. Isso quer dizer que, sim, eu chorei por muito tempo hoje.
Mas, ao contrário do que você possa imaginar por me ver chorando, este é o dia mais feliz da minha vida. Este é finalmente o passo inicial para nossa caminhada; e, só de pensar nisso, minha barriga fica gelada e minhas mãos tremem.
Estou pensando em tudo ao mesmo tempo: não cair com esse salto gigante, não pisar no meu vestido enquanto estiver passando pelo tapete, não surtar quando sentir o primeiro beijo definitivo do meu marido. Meu marido. É loucura dizer que o Thomas será meu marido! Ah! Se eu pudesse gritar, eu gritaria.
Eu tenho pensado também sobre o que fazer depois do primeiro beijo, acho que vou morrer de vergonha. Não que beijos fossem grandes tabus para mim. Eu não guardei o meu primeiro beijo para o Thomas. Por muito tempo me entristeci por isso, mas o Thomas conseguiu deixar tudo mais leve. Disse que não ligava para aquilo desde que, sendo muito brincalhão como sempre é, eu gargarejasse um gole de água sanitária para me desinfetar dos meus beijos passados. Listerine já devia resolver, não?
Meus votos já estão escritos, bem bonitinhos, guardados dentro do meu buquê de frésias amarelas. Infelizmente, minha mãe e a Brenda me impediram de tornar meu casamento num mar amarelo, jogando na minha cara o meu mau gosto. Mas, gente, quando eu falo de amarelo, não falo amarelo ovo. Amarelo expressa alegria, essas coisas. Mas elas não me entendem.
Consegui dar uma fugida e ligar para o Thomas. Algo me dizia que ele não estaria tão ocupado.
- Minha amada noiva -- ele brincou ao atender. -- A que devo a honra?
- Por que a gente foi inventar de se ver só na hora do casamento? Eu estou morrendo de saudade - lamentei. Havia semanas que não nos víamos.
- E eu estou morrendo de medo de você não aparecer - ele sussurrou, provavelmente encontrando algum lugar isolado para falar comigo.
- Eu vou aparecer... - garanti.
- E não demora. Quero acabar com isso logo - Thomas me advertiu.
- Por quê? É o nosso dia... tem que passar bem lentamente.
- Ah, mas com isso eu não vou concordar nunca. Desculpa, amor.
LÚCIA
- Filha, sinceramente, se você ficar no celular o tempo inteiro não vai dar tempo de chegar hoje no altar - eu disse quando encontrei Grace escondida num banco fora da nossa casa, peguei-a pela mão e segurei seu celular no ouvido. - Thomas, essas últimas horas dela ainda são da mamãe.
Ouvi ele rindo do outro lado da chamada.
- Eu nem me casei e a senhora já não me deixa em paz, minha sogra? - ele brincou.
Respondi-lhe com uma risada maléfica e desliguei o celular. Enquanto isso, puxava minha filha para dentro de casa, ainda havia muito a se fazer. Eu pareço ser a noiva, na verdade. Grace parece anestesiada com tudo o que está acontecendo, não parece perceber que ainda há muito o que se fazer.
- Mãezinha, eu vou casar. - Grace pulou no meu pescoço, como se tivesse acabado de notar aquele fato.
- Eu sei, meu amor. Eu sei. - Sorri, condescendente. Ela agora parecia comigo quando estava prestes a me casar com Arthur. A ansiedade naquele dia era tanta que vomitei no meu próprio cabelo. Talvez nem fosse a mesma ansiedade, pois eu já estava grávida de Grace.
Mas o fato é que eu tinha feito uma chapinha tão demorada no dia anterior! Um desperdício! Meu cabelo ficou duro e mau-cheiroso. Resultado: tive que lavar de última hora e me casei com o cabelo amarrado. Mas o fato é que não me arrependo de nada. Eu me casaria outra vez com Arthur.
Eu me casaria de novo com esse novo Arthur que conheci, um homem completamente arrependido e amoroso. Sinceramente, eu amo mais o Arthur rendido a Deus de agora do que o de antes. É como se fôssemos recém-casados agora. Deus havia feito tudo novo.
A questão é: eu achava que minha filha ainda era muito nova para casar, e eu nunca coloquei muita fé nos casamentos muito precoces. Aos poucos, fui entendendo que a maioria dos divórcios que ocorrem nos dias atuais vem até mesmo de namoros longos, como o meu com o Arthur; embora, pela graça a Deus, tenhamos dado certo.
Eu e Arthur namoramos por dez anos. Não tínhamos qualquer intenção de nos casar. Até que Grace aconteceu, e nós corremos para a igreja. Nosso pecado veio à tona, mas recebemos Grace como uma benção - o que ela de fato é. Fomos muito bem acolhidos por todos e nos casamos com muita pressa. A verdade é que não sabíamos explicar por que adiávamos tanto o casamento, apesar de praticamente morarmos juntos. Gostávamos de viver nossa vida sem um compromisso pactual, até que a responsabilidade bateu à nossa porta.
Quando Grace nasceu, resolvemos criá-la nos princípios de Deus. Quando ela fez as contas e entendeu que eu havia me casado grávida, ficou extremamente chocada. Ela nos perdoou, no entanto, e até mesmo agradeceu por tê-la recebido e criado com tanto afeto e dedicação.
Hoje a minha filhinha se casa, mas se casa numa situação muito diferente da minha. Eu me casei há muito tempo e só fui aprender há algumas semanas o que é o verdadeiro amor. Grace parece entender muito mais do que eu sobre o assunto, ainda que ela ainda me peça conselhos e esteja disposta a ouvir meus ensinamentos. Acho que essa disposição em me ouvir, mesmo que eu seja tão frágil em argumentos, prova o quanto a minha menina cresceu.
É por essas e outras que Arthur e eu decidimos dá-la em casamento... sem contar que Thomas é um rapaz sério, trabalhador, honesto e amoroso. Grace é uma mulher dedicada, apaixonada, sábia e companheira. Eles são tudo o que eu e Arthur não éramos, mas estamos aprendendo em Deus a ser.
O fato é que, mesmo que hoje ela esteja maior do que nós, ela ainda será para sempre nosso bebê.
JAKE, O PAI
Entendo por que Thomas escolheu seu avô para realizar o casamento. Seria uma honra dizer algumas palavras para o meu filho, mas sabia que teria uma oportunidade de fazê-lo posteriormente. De qualquer forma, eu tinha que ter uma conversa com ele ainda antes do casamento começar.
Thomas estava num terno preto perfeito para o seu tamanho. Eu não havia percebido o quanto ele havia crescido. Estava maior do que eu, lembrava a mim mesmo enquanto me arrumava para o meu casamento, só acho que eu era um pouco mais magricela.
- Você vai mesmo casar com essa barba, Thomas? - perguntei para implicar.
- Minha noiva ama isso aqui - ele justificou, passando a mão levemente pela barba bem feita.
- Quando eu me casei, eu nem tinha barba. Você tomou alguma coisa? - insinuei.
- Digamos que orei por isso - Thomas deu de ombros. - Pai, tô uma pilha - ele confessou subitamente.
- Eu sei. Já passei pelo mesmo. E foi com a sua mãe, não sei como não desmaiei - eu brinquei para tranquilizá-lo, o que julgo que não funcionou muito.
- Eu só queria ver a Grace e ir embora com ela - ele disse, sentando-se na cadeira enquanto via Luke e Jake brincarem com uma navalha de barbear.
- Opa, rapaz. Casamento é um compromisso público. Vocês primeiro têm que assumir publicamente, depois é que vêm os "finalmentes" - eu lhe assegurei, o que o fez sorrir.
- Vai demorar uma eternidade? - ele me perguntou, ansioso.
- Dizem que para a noiva passa num pulo. Mas não importa. Ouça cada palavra, grave cada sensação; vocês têm uma vida inteira pela frente. Essa ansiedade é ilógica.
- O senhor tem razão. - Thomas disse com o olhar vago, talvez prestando atenção no irmão deixando Luke navalhar a sua sobrancelha.
- Sei que você já aprendeu tudo o que poderia aprender sobre ser um homem de verdade enquanto viveu com a gente. Agora você começa, de fato, uma vida nova. Quero que você seja melhor que eu, pegue as minhas falhas e faça melhor do que eu. Pegue meus acertos e os aperfeiçoe. Não tenha qualquer homem por parâmetro. Eu sei que já tivemos essa conversa muitas vezes. Eu sempre fiz questão de fazê-los aprenderem a ser homens de verdade. Mas não se esqueça do padrão perfeito de hombridade, fidelidade e masculinidade: Jesus.
- Sim. Obrigado, pai - Thomas sorriu para mim, um tanto emocionado. - Amo muito o senhor. Sou grato por tudo o que me ensinou.
- Eu te amo, meu filho - dei uns tapinhas no seu ombro. - Mas o que é que o seu irmão está fazendo?
- Deixa eu ver como ficou! - Jake gritou animado ao fundo. Luke havia dito que sabia fazer um risquinho na sobrancelha, como era a moda do momento. - Caraca, mano. Ficou uma droga - Jake caiu na gargalhada com sua própria infelicidade ao se olhar no espelho.
- Jake, eu não acredito que você vai para o casamento do seu irmão com três sobrancelhas! - gritei com meu filho mais velho, que, de certo modo, parecia ser o mais novo.
BRENDA
Eu havia acabado de passar pelo tapete de pétalas acompanhada de Jake. Thomas estava uma pilha de nervos, olhava para nós dois como se fôssemos um ponto de iluminação.
- Tem coisa mais brega que um casamento? - Jake sussurrou quando sentamos na primeira fileira de bancos.
- Fale isso quando encontrar sua metade - eu brinquei, me ajeitando na cadeira. Havia acabado de reparar que Jake tinha uma sobrancelha com um risco um pouco grosso demais, mas fingi não ter reparado.
- Ele não escreveu os votos - Jake mudou de assunto. Nós dois olhamos para Thomas, que nos fitava, um tanto nervoso. Ele não entendia por que ríamos dele. - Olha só aquelas orelhas vermelhas dele - Jake caçoou.
- Ele vai explodir pelos ouvidos - eu brinquei enquanto ríamos de Thomas, e o mesmo olhava para nossa cara sem entender.
- O-re-lhas - Jake disse, com caras e bocas, segurando as próprias orelhas para que Thomas entendesse. A música ainda soava para que mais uns poucos padrinhos se achegassem. Thomas conseguiu entender o recado, colocando as mãos sobre as orelhas quentes como que num reflexo. Ele abriu um largo sorriso travesso e jogou a ficha que tinha em mãos como um frisbee em direção à cabeça do irmão. Depois disso, ele não mais olhou para nós.
- O que está escrito? - eu disse curiosa enquanto Jake segurava o cartão.
Era um cartão com vários rabiscos nas palavras escritas em caneta preta.
- Só consigo ler: "Grace, eu. Meu amor. Eu. Como começar essa coisa?" - Jake me ofereceu a ficha para que eu comprovasse.
- Ele realmente não escreveu nada.
ARTHUR
Ela está linda ao meu lado no carro. Grace está muito tranquila agora. É como se toda a ansiedade dela tivesse sido passada por osmose para mim. Ver a minha única filha ali, ao meu lado no carro, usando um vestido branco e com um véu na cabeça era como a visão do céu, mas ao mesmo tempo era muito triste. Quanto tempo eu havia dormido? Ela era uma mulher, eu nem sequer havia percebido.
Chorei um pouco hoje, confesso. Eu sinto que falhei como pai em minha ausência e que não dei-lhe o melhor exemplo de homem por causa de minhas traições. Mas seu perdão me constrangeu, sua pureza me humilhou. Era uma loucura que o Deus que eu e Lúcia sempre tentamos apresentar a Grace, pensando que isso a livraria dos erros que eu e minha esposa havíamos cometido no passado, na verdade se revelava agora a nós por meio da nossa própria filha.
Sinto que não sou digno de tanta graça. E é exatamente disso que se trata a graça, certo? Imerecimento. Apesar de ser um meritocrata politicamente, quando eu realmente conheci a Deus, fui quebrantado ao entender que não mereço a salvação que recebi, nem a família que foi deixada aos meus cuidados. Desde então, meu coração tem sido moldado para ser um pai melhor, um marido melhor, um homem melhor, simplesmente pelo fato de agora ser um genuíno cristão.
- Vamos lá? - perguntei à minha filha quando nosso carro já estava parado próximo à cabana, onde uma singela festa havia sido montada. Minha voz estava embargada; de alguma forma eu queria pegar o carro e passear um pouquinho mais com ela. Como ela gostava de passear de carro comigo quando criança!
- Papai, eu te amo - Grace disse, emocionada. Nós raramente falávamos isso um para o outro, suas palavras foram como um tônico que me dava forças instantâneas.
- Eu te amo, minha filha - respondi, talvez ainda mais emocionado.
Saímos do carro e demos de cara com um público de mais ou menos quarenta e cinco pessoas, todos de pé, olhando para nós. Lúcia chorava, olhando para nós dois. Thomas olhava para Grace com muita apreensão no olhar. Olhei para Grace, ela não tirava os olhos de Thomas. Eu sentiria um certo ciúme, se ela não tivesse acabado de dizer que me amava.
Eu de fato entendi o que significa "dar a minha filha em casamento". A responsabilidade sobre a vida dela era totalmente minha até este dia, mesmo que eu tivesse falhado tanto como um líder. O cuidado de Deus com ela como mulher é incrível. Eu simplesmente estava dando a minha filha a uma pessoa que eu sabia que ela amava, que a faria feliz, que a ajudaria. Espero que Thomas seja melhor do que eu e, ao olhar nos olhos desse rapaz neste momento, tenho certeza que ele dará conta do recado.
Chegamos bem perto de Thomas, e ele se dirigiu a mim.
- Muito obrigado pela honra, capitão - ele sussurrou antes de nos abraçarmos forte.
Eu não sabia o que dizer. Simplesmente beijei o topo da cabeça da minha filha, que ela recebeu com um soluço, coloquei suas mãos sobre as de seu noivo, e ele depositou outro beijo na testa dela.
Antes que eu saísse para abraçar minha esposa e chorar pelo resto do dia, pude ouvir Thomas sussurrar algo no ouvido de Grace que não consegui compreender, talvez era algum dialeto próprio dos dois.
- Que bizarro casar com você! - ele disse, fazendo-a sorrir e ficar mais tranquila.
Tive a certeza de que a deixei em boas mãos. Se ela está feliz, também estou.
TAYLOR
Não sei por que me escolheram para descrever esse momento, pois, na verdade, eu chorei descompassadamente durante todo o enlace matrimonial de Thomas e Grace. Tão jovens e, ao mesmo tempo, tão maduros e convictos do que faziam. Eu sinto orgulho do homem que meu filho se tornou e também muito honrada por ter Grace, uma menina tão doce, na minha família.
Meu sogro começou a falar. Enquanto isso, Thomas e Grace não soltavam a mão um do outro. Temíamos que Sr. Welch falasse demais, mas meu sogro surpreendeu a todos com um lindo sermão de poucas e bonitas palavras. Pude ver Grace chorando ao ouvir meu sogro dizer sobre ela: "esta moça encantou toda a minha família com sua doçura, mesmo em poucas horas de conversa". Meu filho parecia anestesiado, absorvendo cada palavra que seu avô dizia, como se fossem conselhos de um grande sábio dos livros de aventuras que já lera.
- Thomas Vincent Fraser, você aceita receber Grace Mercer Daves como sua legítima esposa? - eu não me lembro muito bem as palavras. Eu já lhes disse: estava emocionada demais para me recordar de todos os detalhes.
- Sim, eu aceito - ele disse com convicção. Disso eu me lembro. Ele olhava para Grace com um olhar muito apaixonado, querendo dizer muito mais do que "sim".
- Sim, eu aceito - Grace posteriormente respondeu, seu olhar brilhante indicava que uma lágrima iria escorrer por seu rosto a qualquer momento.
Então o momento dos votos chegou. Eu tive a genial ideia de gravar aquilo no meu celular.
- Grace - Thomas suspirou quando segurou o microfone. - Eu tentei escrever poesias para você, pensei em fazer um texto digno deste momento, mas confesso que não consegui passar da primeira linha - ele a fez sorrir, deixando-a um tanto surpresa por estar falando sem qualquer nota. - Então eu decidi olhar bem nos seus olhos negros e deixar as palavras virem do meu coração até a minha boca. Mas a verdade é que, olhando nos seus olhos neste momento, estou pior do que antes. Deu um branco - ele disse, fazendo todos rirem ao redor. - Eu sinto que já te disse tudo, mas ao mesmo tempo que eu não te disse absolutamente nada. Eu disse para você que amo andar contigo. Não me importava em ser só seu amigo, a verdade é que eu amo o fato de ter você olhando para a mesma direção que eu. Mas confesso que eu amava dar umas olhadelas para você, admirar a bela criatura que você é, a dedicada filha de Deus que você é. Você tem um brilho que carrega, que inebria, que fascina. Acho que é por isso que fico sem palavras para descrever você. Você não é somente palavra, é ação, é demonstração, é prática, é sentimento, é afeto, é carisma. Eu não posso deixar de agradecer a Deus pela mulher que Ele colocou na minha vida para me ajudar nessa caminhada. Eu quero confessar que, mesmo que você não saiba, seu exemplo me constrange. Enquanto eu falava sobre teologia para você, eu te via pondo-a em prática. Você pega tudo que é intelectual, conceitual, e transforma em ação, me mostra tudo que é verdadeiro ao ser esse exemplo de mulher, é como se você pregasse para mim todos os dias, me incentivando a te ajudar; mas a verdade é que eu sou quem era e sou ajudado. Por isso é que eu preciso de você: não é bom que o Thomas esteja só. Quero ser uma prova diária para você do amor que Cristo tem pela Sua Igreja. Quero te amar e respeitar sobre esses fundamentos, não se conforme com menos de mim. Daqui para frente, seremos moldados conjuntamente por Deus. E eu mal posso esperar para ver o que Deus tem preparado para nós. Eu amo você. E isso é uma realidade já tem muito tempo. Enfim, eu nunca vou cansar de declarar meu amor por essa mulher maravilhosa que está na minha frente, pessoal... Se eu não parar de falar agora, eu não paro nunca mais - ele brincou ao final, agora aliviado por terminar de falar.
- Thomas - Grace iniciou a sua fala com um pequeno caderninho em sua mão trêmula. - Acho que é a primeira vez que eu me declaro para você, então, acho que tenho muito o que dizer, tanto que não cabe nesse caderninho, muito menos numa só festa de casamento. Quero continuar me declarando para você no decorrer dos anos - ela sorriu e o olhou, Thomas estava com os olhos vermelhos, não desviava por um segundo seus olhos de sua noiva; quando ela percebeu isso, começou a chorar. E tudo o que ela disse posteriormente foi entre suspiros e soluços. - Eu sempre tive uma aversão ao homem que está à minha frente. Eu, tolamente, o julgava arrogante e mesquinho. Nossos primeiros diálogos não foram dos melhores. Minhas intenções ao falar com ele eram as melhores, e eu acredito que as dele também, ainda que ele diga que tinha tudo sob controle desde muito tempo - ela voltou o olhar para Thomas, que lhe devolveu uma piscadela. - Você foi meu melhor amigo. E ainda é. Quando você me pediu em casamento, eu soube: eu não tinha qualquer opção a não ser dizer sim. Você era quem deveria estar ao meu lado, ainda que eu não aceitasse isso no momento. "Não posso te amar", era a frase que eu queria te falar em quase todos os nossos momentos juntos. Mas isso seria muito estranho para ser dito, porque na realidade revelaria o quanto eu poderia te amar, o quanto eu já te amava, ainda que lutasse contra isso. Ao mesmo tempo que tudo dizia não, e eu vivia num mar de negação, a possibilidade de te amar era a que mais me fazia sentido. Eu não podia simplesmente dizer não para aquela obviedade. Não posso te amar passou a ser: é inevitável te amar. E é isso. Eu amo você. Digo isso com todas as letras agora. Amo você e me entrego a você por saber que nossa união, com seus altos e baixos, tinha que acontecer. Gosto de pensar em nossa história como sendo guiada não apenas por uma Mão Invisível, mas por um Pai Amoroso que teve o cuidado de nos colocar na vida um do outro para caminharmos juntos até o céu. Sou muito agraciada por estar casando com meu melhor amigo, com alguém disposto a me aproximar de Deus. Não quero fazer planos do tipo que só Deus pode determinar. Quero ter quantos filhos Deus nos permitir ter, quero viver a vida ao seu lado, quero ir para o lugar que Deus nos designar, quero estar contigo até a morte chegar. Deus escreve diversas histórias diferentes, e a nossa eu tenho certeza que Ele escreveu para um propósito comum, Thomas. Encontro em você um anseio igual ao meu: o de conhecer a Deus e torná-lO conhecido. Ele nos amou primeiro, por isso podemos amar. Assim, é inútil dizer que não posso te amar. Eu posso te amar e escolho te amar para o resto da minha vida.
Thomas fechava os olhos para controlar as emoções. O primeiro beijo do meu filho seria regado de lágrimas salgadas, disso eu tinha certeza.
Finalmente casados. Permissão para o beijo concedida. Thomas olhava para Grace, ambos muito emocionados. Eu apertei a mão do meu marido no momento em que os dois se aproximavam ainda mais um do outro. Cada centímetro mais próximos, os dedos do meu marido ficavam ainda mais esmagados, mas ele não parecia ligar para isso, a atenção estava toda voltada aos dois.
THOMAS&GRACE
Quando meu avô disse que podíamos nos beijar, eu peguei o caderno que estava nas mãos dela, joguei-o com força no chão e...
Thomas, fala a verdade...
Tá, a verdade é que eu não sabia muito bem o que fazer. Por que você ainda ficou com aquele caderno na mão? Atrapalhou tudo.
Se você não sabe... eu também estava nervosa, não sabia o que fazer com o caderno, com a mão, muito menos com a boca.
Certo. Foi assim: eu tentei passar toda a confiança do mundo para ela, quando na verdade eu estava me tremendo todo. Esperei por muito tempo para beijá-la, não sabia nem mesmo se devia simplesmente colar nossos lábios, ou se devia fazer uma espécie de bico. Oh! Como a prática me fez bem!
Para de brincadeira. Foi muito bom.
Ah, é? Que bom saber disso. Então diz aí como foi.
Você se aproximou de mim e sussurrou "não me julgue". Aí eu comecei a rir daquilo, e você ficou meio sem graça, eu acho...
Eu não fiquei sem graça. Eu queria te deixar mais tranquila com aquelas palavras, só não era para você ter rido tanto. Todo mundo riu junto, amor. Que fiasco!
E aí você pegou na minha mão, sem esperar eu me recompor. Eu ainda estava rindo quando você colou seu nariz no meu e falou um "para de rir" com tanta seriedade que me fez desfazer o sorriso na hora...
E aí eu olhei para você, te vi mais nervosa que eu, e entendi que eu tinha mais controle da situação do que eu julgava ter. Seus olhos corriam rapidamente de um olho meu para o outro. E eu acho que você estava muito assustada, porque, não sei, você não esperava que eu fosse fazer aquilo.
Eu não esperava mesmo! Você simplesmente ficou me olhando como se fosse me lascar o beijo mais imodesto do mundo, com todos olhando. Então, você soltou um sorrisinho bonito, que fez meu coração palpitar. Eu estava paralisada, e você veio, como em câmera lenta, e me deu um beijo super delicado, fazendo carinho na minha bochecha. Eu achei que estivesse nas nuvens.
Sim. Foi um beijo salgado e bem gostoso, por sinal.
Digamos que... valeu a pena toda a espera por esse beijo.
Fala a verdade. Eu domino demais essa arte.
Thomas... às vezes eu te acho tão convencido, tão arrogante...
Ih, vai começar essa história outra vez?!
____________
Eu sou uma negação para escrever sobre beijos e coisas afins. Tentei não deixar uma coisa pesada demais, nem muito sem graça. Talvez eu me arrependa e apague essa parte do beijo, porque sou indecisa demais sobre a qualidade das coisas que escrevo.
Tô emocionada demais com esse epílogo... vou escrever alguma espécie de capítulo de agradecimento depois.
Obrigada por lerem. Vocês são demais! ❤
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