encontro de casais

— O que vamos fazer hoje? — Disse Matthew animado assim que chegou à casa de Grace. Ela nunca entendia como ele conseguia não se cansar durante as viagens, talvez porque ele sempre fazia aquele caminho. Estava acostumado.

— Vamos sair para lanchar com a Lydia e o Thomas.

— Ah, aquele com quem você saiu para lanchar?

— É, foi.

— Não gosto desse cara — Matthew comentou.

— Mas você nem o conhece. Tenho certeza que vai gostar dele.

— Não gosto. Você mesma disse que ele era um idiota.

— Dê uma chance a ele. Eu o conheci direito e ele é legal.

— Vou, só porque você está pedindo muito — Matthew a abraçou, sem considerar muito o que havia dito. Quando um cara não gosta de outro, é difícil romper com aquilo, ainda mais com a sua namorada o defendendo com unhas e dentes.

Depois daquele abraço, Matthew a beijou com muita força. Era a saudade, ela pensou. Mas começou a machucá-la de tanto que a apertava.

— Ei, Matt. Tá machucando. — Ela tentou se desvencilhar do abraço.

— Desculpa. Eu só estou marcando território. — Ele deu um sorrisinho.

— O que? — Grace se espantou.

— É... Te apertando até você ficar com meu cheiro.

— Pena que agora eu vou pro banho. — Ela sorriu convincente e foi para o banheiro.

As horas passaram depressa. Grace decidiu usar outra vez um vestido que ela mesma havia feito. Como estavam na primavera, usava o vestido midi rosa-bebê, larguinho e com desenhos de borboletas. Achou que ninguém repararia que iria, mais uma vez, com o mesmo tênis branco.

Matthew, por outro lado, estava mais moderno. Usava uma calça que ele insistia que ficava bem e uma camiseta azul grande demais para ele, que era bem baixinho. Colocou uma bota vermelha e um cordão preto. Grace percebeu que eles não estavam combinando muito como casal, mas sabia que tinham gostos diferentes para roupas, então deixou para lá.

Para Lydia, o encontro daquela noite iria tornar as coisas mais claras para Thomas. Queria mostrar para ele que eram um casal e que ele devia beijá-la. Daquela noite não iria passar. Ela estava mesmo decidida de que gostava demais de Thomas para que mantivesse somente a amizade. Quando Thomas chegou em sua casa, ela não deixou de perceber o quanto ele estava lindo com aquela calça jeans clara e aquele suéter azul. Não deixou de vibrar porque parecia que haviam até combinado. Ela estava também com uma calça jeans — só que escura — e uma blusinha azul. Era um aviso do destino!

Ao chegarem à casa de Grace, Lydia pediu para que Thomas buzinasse. Ao verem os dois saindo de casa, Thomas e Lydia repararam que Matthew e Grace estavam coloridos demais para andarem juntos, mas resolveram não comentar nada sobre aquilo.

Grace entrou graciosamente no carro, já cumprimentando Lydia e Thomas com um sorriso no rosto, seguida por Matthew que só disse um "Opa!".

— A gente não precisava de carona. Eu podia alugar um carro — sussurrou Matthew para Grace, que só fez que não com a cabeça.

Ao notar que Matthew não iria facilitar as coisas, tentou descontrair.

— Então quer dizer que eu sou a única que resolveu não usar azul hoje? Me sinto excluída!

Thomas pensou em dizer que o vestido dela tinha algumas borboletas azuis, mas achou que o comentário só iria piorar a cara emburrada de seu namorado.

— Você tem seu estilo próprio, Grace! — disse Lydia sorrindo, e Grace não conseguiu definir se recebia aquilo como um elogio ou uma crítica.

Decidiram ir à mesma hamburgueria, mesmo que Thomas tivesse dito que não gostou muito do hamburguer mais cedo, na aula. Lembraram que a lanchonete tinha um clima bacana e mesas confortáveis para quatro pessoas.

•••

Se excluirmos o fato de que Matthew não havia olhado para Thomas nem sequer uma vez, nem se dirigido à pessoa alguma a não ser Grace — que tentava de todos os modos fazer com que Matthew se enturmasse —, tudo estava às mil maravilhas.

— Eu só quero te beijar — Matthew disse no ouvido dela. — Vamos lá fora.

Grace estava cansada daquilo. Ele não podia simplesmente ignorar todos que estavam ali. E ela não era um objeto que ele poderia ficar beijando por aí. Ele também tinha que se esforçar para ser amigo dos amigos dela.

Thomas, percebendo que Matthew não desgrudava de Grace nem sequer por um segundo, viu que as chances de conversa eram nulas e começou a conversar com Lydia alto o suficiente para que todos da mesa pudessem entrar na conversa também.

— Então... Prolonguei seus dias. Mas você conseguiu chegar, pelo menos, na metade do livro que te indiquei?

— Hum. — Lydia quase riu. — Eu não consegui sair do primeiro capítulo.

— Por que não? — Thomas insistiu.

— Ah, porque eu achei ele bem estranho. E não consegui entender muito bem sem o glossário.

— Mas o que tem demais? — Thomas perguntou, tentado ver se ela realmente estava entendendo o livro.

— Não sei. — Lydia ficou confusa. — Acho que é confuso demais para mim.

— Entendo. Sinto muito. Da próxima a gente escolhe um mais leve — disse Thomas, e Lydia corou.

Neste mesmo momento, Grace sussurrara para Matthew que não queria beijá-lo, queria que ele se enturmasse. Ele se aconchegou mais perto dela, o que a deixou bastante incomodada; Thomas facilmente percebeu que o namorado de Grace estava passando dos limites, e isso o deixou extremamente incomodado.

Grace estava prestes a se levantar para escapar das investidas do namorado, quando Thomas resolveu interferir.

— Matthew, cara. Estava com muita saudade da sua namorada?

Matthew olhou para Thomas, que lhe digiriu a palavra pela primeira vez, e percebeu que Thomas se referia ao fato de ele estar agarrado à namorada bem à frente de Thomas e Lydia.

— Bastante. — Ele a apertou contra si e deu-lhe um beijo na bochecha.

— Matt— Grace tentou falar.

— Grace, você está desconfortável? — Thomas tomou coragem para perguntar.

— Qual é o seu problema, cara? — Matthew levantou a voz. — Ela está com o namorado. — Ele terminou de falar e olhou para Grace, que parecia sufocada.

— Tudo bem, não é, Grace? — Thomas questionou novamente a garota, sem olhar para Matthew.

— Sim, claro — Grace respondeu, acenando a cabeça timidamente.

— Relaxa, cara. Eu nunca faria mal a essa belezura aqui. — disse Matthew abraçando a namorada de lado; Grace sorriu e Thomas continuou com o olhar desconfiado. Lydia olhava de um lado para o outro, sem entender.

— Tem uns caras que exageram — Thomas justificou baixinho, porém o suficiente para Matthew escutar.

— E tem uns caras que são meio frouxos — Matthew disse, claramente referindo-se ao fato de Thomas estar o tempo todo afastado de Lydia.

Grace e Lydia se entreolharam. O clima estava muito pesado, elas temiam que algo de muito ruim pudesse acontecer ali, naquela mesa.

Thomas sorriu e juntou as mãos sobre a mesa, mostrando uma tranquilidade incompatível com a tensão no ar.

— Você acha mesmo que para ser um homem de verdade eu preciso mostrar o quanto sou fraco? — Thomas sorriu.

— Fraco? Do que você está falando? — Matthew questionou.

— Ainda que pareça másculo agarrar uma moça, há uma séria falta de masculinidade em não saber se controlar.  — Thomas olhou para Grace, que estava assustada, e lembrou do que ela havia dito sobre ele não se esforçar muito para se explicar — Quero dizer, acho que todos nós temos nossas falhas. Mas eu nunca verei a falta de auto-controle como sinal de virilidade.

— Acho que eu me controlo muito bem, ainda mais depois que a Grace resolveu que queria seguir a Jesus — Matthew concordou com um sorriso. — Eu e ela estamos esperando o casamento.

Thomas abaixou a cabeça, meio constrangido. Grace deu um tapinha no ombro do namorado, sussurrando: "Aqui não, Matt".

— Você é ótimo, cara — Thomas disse com um sorriso no rosto e uma cara desacreditada. Grace não estava gostando do rumo que as coisas estavam tomando.

— Mas o que rola entre vocês dois? Vocês nem pegam na mão um do outro. Achei que fossem namorados. — Matthew perguntou, debochado, esperando que sua namorada concordasse com ele.

— Eu sigo a mesma filosofia de vida da Grace. — Thomas não tirava o sorriso frouxo do rosto.

Grace olhou para ele, espantada. É sério que Thomas pensava como ela? E isso era mais uma prova de que ele era mesmo um cristão de verdade, não?

— A de Jesus? Ou a do "não me toques"? — Matthew retrucou.

— Acho que dá na mesma — Thomas deu de ombros, tomando o último gole de refrigerante de seu copo.

— Cara, como você aguenta? — Matthew se interessou pela conversa.

— Não acho que é um bom papo para as moças ao nosso redor — Thomas afirmou.

— Talvez você só não se sinta atraído por mulheres, não tem por que se envergonhar. — Matthew tentou fazer com que Thomas se desestabilizasse, ficando irritado com o insulto, mas a rapaz riu da piada.

— É o que chamo de liberdade... — Thomas estava com um riso vencedor no rosto.

— Esse cara. — Matthew olhou para Grace com um sorrindo debochado. — Ele não é muito normal, não é?

— Eu quero saber, Thomas. O que você quer dizer por "liberdade"? — Grace interveio, enquanto Thomas brincava com o guardanapo.

— É, fala — Lydia finalmente disse algo.

— É o mesmo que eu disse antes. — Thomas deu de ombros. — Liberdade é o contrário de escravidão. Muita gente vê o próprio corpo — disse apontando para si mesmo, — como um sinal de liberdade. Mas a verdade é que ele é uma prisão. E, se não for domado, você nunca pode ser de fato livre.

— Você está sendo muito enigmático. — Matthew levantou uma das sobrancelhas enquanto fitava o rapaz.

— As pessoas gostam tanto de si mesmas que querem servir a si e às suas próprias vontades — Thomas afirmou taxativamente.

— E nisso consiste a liberdade, não é? Poder fazer o que quiser — Matthew retrucou.

— Aí é que a gente se engana. Nunca foi liberdade fazer o que se quer, pois sempre viramos escravos de nossa própria vontade — Thomas brincou com as palavras.

— Mas então o que é liberdade? E fala com um exemplo, pois você é muito sujetivo — Matthew perguntou, ainda reflexivo.

— Liberdade é fazer o contrário do que queremos. Por exemplo, nosso corpo é tão preguiçoso, que sempre vai escolher dormir mais um pouco. Escolher domar a própria vontade, levantar mais cedo, é que é a verdadeira liberdade. — Thomas olhou para seus ouvintes, que o olhavam  boquiabertos com o que acabaram de ouvir.

Grace refletiu bastante sobre cada palavra. A liberdade que havia alcançado em Cristo não era a que aprisionava, mas a que tira todo domínio que o pecado tinha sobre ela. E conversar com alguém que entendia sobre essa liberdade era o que mais precisava fazer, pois seu companheiro ainda parecia estar aprisionado. Ela tinha que fazer algo para tirá-lo dessa servidão.

Aquele encontro de casais terminou assim. Essa foi a última conversa que tiveram naquela noite. Todos os três espantados com o que Thomas dizia.

Grace pôde perceber que, quando se tratava de explicar coisas que não se referiam a ele, Thomas era claro e sucinto. Quando falava de Deus, era como se tivesse todo o cuidado do mundo para que todos entendessem. Parecia que ele tinha vocação para aquilo.

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Não esquece a estrelinha. ⭐

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