chaperon

— Sem desespero, vou pedir a sua mão a ele — Thomas sussurrou enquanto olhavam para o pai de Grace entrando na recepção. Thomas não conseguia parar de rir com o desespero de Grace ao ver o pai.

— Não. Ele não pode te ver aqui — Grace falava em desespero, olhava para seu pai conversando com a recepcionista como se sua vida fosse acabar. — Eu não esperava que ele chegasse tão cedo. Olha, você se levanta e vai embora de fininho, tudo bem?

— Não! — Thomas respondeu fingindo estar bravo, mas, na verdade, caçoando da situação. — Acho que essa é uma ótima oportunidade — disse, levantando-se e pegando a mão de Grace para que ela se levantasse também.

— Você tem certeza disso? — Grace questionou enquanto se levantava.

— Só me acompanha — respondeu Thomas, soltando sua mão e encaminhando-se em direção ao pai de Grace.

Grace queria correr, fugir, tanto porque não queria que Thomas fizesse algo precipitado quanto também porque não estava preparada para olhar para o seu pai depois de tudo que havia entendido sobre ele e Louise.

— Filha. — Sr. Daves precipitou-se enquanto Thomas e Grace se aproximavam. — Sinto muito te deixar sozinha, a Louise ligou dizendo que teve um imprevisto; mas, que bom, olhe, os vôos foram cancelados e pude voltar logo para te ver. — Grace e Thomas estavam bem à sua frente, o que fez com que ele franzisse o cenho para perguntar. — Quem é o seu amigo?

Grace travou.

— Sou Thomas Fraser, senhor. — Thomas precipitou-se ao ver que Grace não os apresentaria, estentendo a mão para um cumprimento formal. — É um prazer conhecê-lo.

— Opa, família Fraser? — Sr. Daves apertou-lhe forte a mão. — Sou Arthur Daves, pai da Grace. Conheço você?

— Acredito que deve conhecer meus pais, Jake e Taylor Fraser. Estudei com a Grace. — Thomas tentava ser o mais simpático possivel.

— Claro. Sei quem são seus pais. Boa família. Mas o que você está fazendo em Londres? Também ganhou o concurso? — Arthur parecia se divertir com a ideia de ter conterrâneos por perto.

— Não. Estou morando na Escócia agora. — Thomas sentiu se celular despertar, olhou para tela e notou que faltava pouco tempo para começar o embarque para seu vôo de volta a Escócia. Com certeza pedir a mão de Grace ali, na pressa, não seria a melhor opção. — Fiquei aqui para acompanhá-la enquanto te esperava. Acredito que ela esteja em boas mãos. Já estou indo.

— Obrigado por cuidar dela por mim. Não quer tomar um chá? — Arthur pareceu frustrado, parecia haver gostado da ideia de Grace ser amiga de um dos Fraser de North Adams.

— Não, obrigado. Tenho que estar numa reunião do trabalho em duas horas. Meu vôo sai em uma hora. Eu já deveria estar no embarque.

— Seu vôo? — Arthur riu. — Mas os vôos foram cancelados.

— Meu vôo foi cancelado? — Thomas pegou seu celular no bolso para checar se havia recebido alguma mensagem.

— Para a Escócia, certo? Eu faria um vôo para lá agora, mas o tempo está péssimo. Provavelmente seu vôo sairá pela manhã.

— Mas... mas tem um trem saindo sempre, não? — Grace entrou na conversa, parecia mais tranquila agora.

— Trem? Se ele for de trem, perderá a reunião de qualquer forma. Sem contar que o tempo está muito revolto, acho melhor esperar seu vôo de manhã.

— Sendo assim. — Thomas viu-se levantando os ombros, sem ter o que fazer. — Vou procurar uma pousada aqui perto.

— Fique conosco esta noite — Arthur disse, convidativo. — É o mínimo que eu poderia fazer por ter feito companhia à minha filha.

"Isso não pode estar acontecendo", pensou Grace, quase que sussurrando as palavras.

— Eu não poderia aceitar. — Thomas sorriu, um tanto tentado pelo convite. — Não quero incomodar.

— Não seria incômodo nenhum para nós, não é, filha? — Arthur buscou aprovação no olhar de Grace.

— Não. Você pode ficar, Thomas. — Grace quase deixou escapar um sorriso que mostraria o quanto ficaria feliz em passar mais algumas horas em sua companhia.

•••

— Você pode ficar no sofá, que, por sinal, é ótimo — Arthur disse animado enquanto entravam pela porta do apartamento. — Eu mesmo prefiro dormir nele do que na minha cama.

— Muito obrigado, senhor — Thomas respondeu enquanto era o último a entrar no apartamento.

— Pode me chamar de Arthur, amigo — disse enquanto tirava o casaco e o pendurava. Grace e Thomas fizeram o mesmo.

— Vocês querem comer algo? — Grace direcionou-se até a cozinha enquanto seu pai mostrava a Thomas a estrutura do apartamento, ao que Thomas parecia bastante interessado.

Ninguém a respondeu de imediato.

— Eu pedi uma pizza lá na recepção, filha, não se preocupe — Arthur disse ainda absorto na conversa com Thomas, agora sobre aviões: sua especialidade.

Grace sentou-se no sofá da sala, esperando que eles a incluíssem na conversa. Arthur agora parecia perceber que a filha estava por ali também e sentou-se ao seu lado no sofá, abraçando-a pelos ombros.

— Pode sentar, Thomas. — Arthur indicou a poltrona ao seu lado. Quando Thomas se sentou, Arthur continuou: — Então vocês são colegas de escola?

— Mais que isso... — Thomas disse para ver Grace quase engasgar. — Somos grandes amigos.

— Sério? — Arthur olhou para a filha, depois para Thomas. — Nunca vi vocês dois juntos.

— A gente se aproximou esse ano — Grace explicou.

— E o Matthew? — Arthur sorriu, Grace espantou-se com a menção daquele nome. — Você já conheceu o Matthew, Thomas? Uma figura.

Grace corou. Thomas soltou um sorriso largo, mas não sabia o que responder.

— A gente... terminou, pai. — Grace disse, timidamente.

— COMO ASSIM? — Arthur se espantou, falando em alta voz.

— Não deu... certo — Grace tentou explicar.

— Dá pra acreditar? — Arthur virou-se para Thomas. — Primeiro eu proíbo o namoro, falo que está muito cedo. Quando eu deixo e começo a pensar em me afeiçar ao rapaz, eles terminam...

— É, inacreditável. — Thomas concordou. — Mas, pelo meu escasso conhecimento do caso, eu acho que ele foi um babaca.

— Que foi que aquele infeliz te fez, Grace? — Arthur preocupou-se.

— Nada, sério mesmo. — Grace olhou para Thomas, um olhar um tanto quanto furtivo. — O Thomas é exagerado.

— Eu só quis te defender na frente do seu pai, mocinha — Thomas disse, sorrindo para Grace.

— Acho que estou entendendo. — Arthur olhava para Grace e Thomas, de um para o outro, sem parar.

— Não. — Grace precipitou-se, nervosa. — Você não está entendendo nada, pai.

— O que o senhor está entendendo, Arthur? — Thomas deliciava-se com a conversa.

— Vocês dois...

Grace afogou-se no sofá enquanto Thomas inclinava-se levemente para frente na poltrona para ouvir mais exatamente o que Arthur estava prestes a dizer.

— Vocês estão namorando! — Arthur riu, mas lembrou que deveria estar fazendo uma cara severa, então tentou forçar um meio termo entre uma carranca e uma feição engraçada.

— Não! — Grace e Thomas responderam juntos, mas somente Thomas continuou: — Eu não faria isso sem a sua permissão...

O queixo de Grace estava caído, estava apreensiva pela resposta de seu pai. Sabia que ele havia gostado de Thomas já de cara, mas ainda estava com receio de que ele achasse tudo muito precipitado.

— Convenhamos que isso não foi um pedido com todas as letras. Mas gostei do que ouvi — Arthur falou, por fim.

— Estive pensando qual seria o melhor momento para pedir ao senhor... a você, Arthur. O ideal seria trazer meus pais para que você os conhecesse, eles confirmariam minhas intenções com a sua filha... que, sinceramente, além de serem as melhores, são as mais seguras possíveis. Quero me casar com ela.

— Casar? — os olhos de Arthur saltaram, Grace não conseguia decifrar suas reações, estava tão absorta no discurso de Thomas, seu coração batia tão forte a cada sílaba que saía de sua grave porém suave voz, que queria sumir dali, mas ao mesmo tempo permanecer ali para sempre.

— Sim... eu não quero ser injusto com o senhor. Eu realmente quero me casar com sua filha, e em pouco tempo.

— Em quanto tempo? — Arthur parecia agora fazer contas na cabeça.

— Em três semanas, no mínimo; em doze meses, no máximo.

— Por que a pressa? — Arthur questionou.

— Não considero como pressa, senhor. Eu tenho condições para me casar com ela, ela tem se preparado para isso, ambos querem casar. A verdade é que eu não vejo por que adiar.

— Vocês iriam morar aqui na Europa?

Grace olhava para seu pai sem conseguir conceber que ele estivesse mesmo considerando a questão. Seu pai amaria que ela vivesse na Europa, perto dele.

— Nós ainda não conversamos sobre isso, não é, Grace? Mas tenho certeza que veremos o que seria melhor para os dois. Ela, por exemplo, poderia terminar o curso em Cambridge, começar um trabalho como escritora, o que eu considero que ela excerceria com excelência, ou até ter um ateliê para fazer roupas, o que ela faz com excelência também... não sei, o que ela decidir. Eu trabalho na editora da minha família, sempre terá espaço para ela lá, também.

— Parece que você já pensou em tudo. — Arthur levantou uma sobrancelha ao falar.

— Na verdade, senhor, eu não proporia algo tão sério sem antes ter perdido noites de sono para conjecturar todas as possibilidades.

— Poucos rapazes vêm falar com o pai de uma moça com tanta segurança — Arthur comentou.

— Se for necessário esperar um ano, oferto ao senhor doze meses para provar que sou digno de minhas palavras. Se eu falhar, imploro que me afaste da sua filha. É melhor para ela estar longe de um mentiroso.

— Você acredita mesmo no que diz — Arthur disse, surpreso. — E eu realmente sinto firmeza nisso. Conheço seu pai, eu não deveria estar surpreso sendo você filho de quem é, um homem tão íntegro.

— Obrigado, senhor. Por isso, peço que me dê permissão para cortejar sua filha.

— Cortejar? — Arthur riu. — Essas coisas ainda existem?

— Eu aprendi assim com minha família. Julgo ser a melhor maneira de se conhecer alguém.

— Pois eu permito, então — Arthur disse, por fim, o que fez com que Grace se agarrasse no sofá para não dar-lhe um abraço exagerado em agradecimento, ainda que estivesse extremamente decepcionada com o pai por outra questão.

Depois de alguns segundos de silêncio, Thomas voltou a falar.

— Senhor, devo dizer que o compromisso firmado é seu também.

— Meu? — Arthur tentou entender.

— Sim... Você será nosso chaperon. O pai da moça sempre é.

Chaperon? — agora Grace é quem buscava entender.

— Sim... Vem do latim "chapéu, cabeça". Meu pai também será nosso chaperon, mas o pai da moça é quase sempre o mais interessado.

— Que loucura é essa? — Grace se animou com curiosidade.

— Um cortejo também é um compromisso entre famílias. Seu pai será nosso supervisor. Eu só poderei sair com você se ele deixar, obviamente. Mas já vi chaperons que se sentavam na mesma mesa que o casal num encontro, talvez o Arthur seja assim, e eu teria que respeitar.

Ele continuou. "A verdade é que se o cortejo for algo da minha cabeça e da Grace somente, há uma grande possibilidade de dar errado. Mas, com um cabeça acima de nós, teremos maior liberdade para fazer o correto no nosso compromisso".

— Então você quer dizer que eu terei de controlar os passos de vocês agora? Eu, sinceramente, estou gostando da ideia — Arthur sorriu.

— Não como um tirano, obviamente. Mas barreiras e limites podem ser criados pelo senhor. O senhor pode conversar com a sua filha sobre coisas que o incomodam, e ela pode lhe dizer também coisas que a incomodam num relacionamento. E o senhor deve se certificar de que eu não ultrapasse essas barreiras.

— Se, por exemplo, me incomodasse ver a minha filha, hipoteticamente, se atracando ao namorado na rua, você nunca faria isso?!

— De modo algum, senhor. Darei o meu melhor para cumprir minha palavra.

— Compreendi — Arthur assentiu.

•••

A pizza havia chegado, e o clima parecia ser outro naquela sala. Thomas e Grace estavam oficialmente num compromisso, mas nada aparentemente havia mudado.

Estavam rindo ao falarem sobre o ódio, já tão distante à vista, que Grace sentia por Thomas durante sua infância e adolescência. Arthur podia jurar que já vira sua filha berrar o nome de Thomas quando criança junto a leves insultos infantis enquanto dormia, o que fez com que todos gargalhassem e Grace negasse veementemente aquilo tudo como uma mentira deslavada de seu pai.

Resolveram ver Star Wars assim que Thomas e Arthur identificaram-se como os maiores fãs da saga. Grace ainda não havia visto nenhum dos filmes, então decidiram que era melhor ver o primeiro, ou melhor, o quarto episódio: Uma Nova Esperança, na esperança de que Grace gostasse.

Metade do filme já havia passado e Grace ainda não estava nem um pouco absorta no que via. Muito pelo contrário, não conseguia parar para se concentrar ao saber que, sim, ela estava tão comprometida a Thomas quanto apaixonada por ele.

Deitada no colo de seu pai no sofá enquanto Thomas estava sentado numa outra poltrona, Grace conseguia ver a felicidade que Thomas também sentia ao estar ali, mesmo que com Arthur entre os dois. Às vezes, trocavam um olhar à meia-luz da sala, Thomas mostrava-lhe um sorriso muito significativo, e aquilo fazia com que seu estômago desse saltinhos de alegria.

— Eu devo ser o pior chape, chape o que mesmo?, o pior chaperon que você já teve, Thomas! — Arthur caçoou da situação de estar entre os dois.

— Eu não tive outro, Arthur. Mas, ah, com certeza! O senhor é extremamente desagradável e vigilante. Uma pedra no meu sapato — Thomas disse, brincando.

— Eu não mereço vocês dois... isso era pra ser sério — Grace riu, revirando os olhos.

— É muito sério. Mas não deixa de ser uma situação muito, muito engraçada — Thomas explicou.

•••

Terminando o filme, já havendo cochilado umas duas vezes e sendo acordada subitamente com uma pipoca lançada em seu rosto por Thomas e um "prestem atenção, crianças" de seu pai, Grace levantou-se e perguntou ao seu pai onde tinham roupas de cama para Thomas.

— No meu quar... Deixe que eu pego... — Ele respondeu, deixando os dois sozinhos na sala. Arthur voltou em um segundo dizendo: — Não se enganem, o chaperon está de olho.

De pé na sala, ambos se olhavam muito felizes. Queriam se abraçar, mas não parecia ser adequado.

Thomas segurou a mão de Grace, que ela não havia percebido estar tão trêmula. Talvez fosse consequência do frio. Grace notava cada movimento de Thomas como se estivessem em câmera lenta. Ele levantou suas mãos, que seguravam a dela, até seus lábios e deu-lhe um beijo estalado, sempre olhando em seus olhos, até que seu sorriso fizesse Grace derreter mesmo no mais frio inverno das ilhas britânicas.

— Eu estou muito feliz — Grace sussurrou, com um sorriso que fez os joelhos de Thomas tremerem um pouco no sólido chão.

— Estou muito contente, mas você não acha que esperar mais um ano é muito pro meu coração, não? — Thomas ainda não havia soltado sua mão.

— Eu ainda estou em choque por estar, — ela pausou, pensativa, — como é que se fala mesmo? Por estar sendo cortejada por você! E você já quer pensar em casar? Uma coisa de cada vez. — Grace sorriu, brincando com os dedos de Thomas.

— Voltei. — Arthur apareceu com travesseiros e lençóis nos braços, num susto que fez Grace saltar e soltar a mão de Thomas. Arthur caiu na gargalhada. — Estou amando isso. Que cara em sã consciência faria a proposta que você me fez, Thomas?

— Vai abusar da sua posição, sogrão? Eu sei ser anarquista também. — Thomas lançou para Arthur um sorriso sarcástico, enquanto pegava os lençóis e Grace ajudava-o a arrumar o sofá.

— Thomas! — Grace repreendeu-o.

— Que garoto abusado, Grace! — Arthur disse despois de gargalhar. — Vou tornar as coisas difíceis para você, rapaz. Espera só.

Assim, o inesperado aconteceu: Thomas e o pai de Grace tornaram-se grandes amigos.

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Não sei por que, mas esse é um dos meus capítulos preferidos.

Não esquece a estrelinha. ⭐

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