café com açúcar

— Louise, se você não se importa, — Grace disse subitamente, levantando-se da mesa, — gostaria de dar uma volta pela livraria.

— Acho que peguei um pouco pesado, não é? — A mulher reconheceu, notando o quanto Grace ficara incomodada e pensativa. — Me desculpe.

— Tudo bem. Vou pensar no que você disse um pouco mais — Grace disse, agradecida. Às vezes as pedras falam, não?

Grace encaminhou-se até Thomas, que pendurava seu agasalho no antebraço, destraído e olhando para os cantos.

Tommy? — Grace surgiu atrás dele com um sorriso no rosto.

— Gracinha! Não acredito no que estou vendo. Você está aqui mesmo — ele disse impressionado, queria avançar a dar um abraço apertado nela.

— Eu estava morrendo de saudade! E, estou falando sério, eu pularia para te dar um abraço agora se a Louise não estivesse nos olhando depois que tive a conversa mais estranha do mundo, agora, com ela.

— Que conversa? — Thomas perguntou, confuso. — Não seja por isso.

Thomas pegou a mão de Grace com delicadeza e levou até os lábios, depositando um leve e rápido beijo nas dobras de seus dedos e dizendo-lhe "Encantado".

— Você é um amor! — Grace confirmou, sentindo sua mão formigar um pouco depois daquele beijo. — Mas, vem aqui. — Grace segurou no agasalho de Thomas, que estava pendurado em seu antebraço e puxou-o para mais fundo na cafeteria, onde havia uma livraria mais reservada.

— Grace Daves, para onde você está me levando? — Thomas perguntou, rindo da situação.

Quando chegaram a uma estante de livros infanto-juvenis contemporâneos, Grace fez com que os dois parassem, um de frente para o outro.

— Se você não se importa, gostaria de ir para a estante dos clássicos — Thomas sugeriu, depois de notar a capa dos livros dispostos à sua frente.

Grace olhou para os livros, que tinham títulos engraçados como "O CEO dos meus sonhos" ou "O idiota do melhor amigo do meu professor de trigonometria", algo assim (acho que exagerei um pouco), porém com capas explitamente piores que o título.

Para preservarem seus olhos, ambos foram para a estante de clássicos, e Grace começou a falar:

— Eu tenho várias perguntas para você. Mas são tantas que acho que nem conseguiria terminar hoje.

— Ah, não! De novo, não. Meu avô me fez um interrogatório esses dias, não estou preparado para mais um — Thomas reclamou de brincadeira.

— Posso começar pela primeira questão? — Grace disse, séria.

— Sim. — Thomas estava destraído passando os dedos pelas lombadas dos livros à sua disposição.

— Você acha que eu fui um erro na sua vida? — Grace perguntou, um pouco receosa.

Thomas desviou o olhar da prateleira para Grace, assustado com aquela sugestão.

— Não. Como assim? O que te fez pensar isso? Foi algo que eu disse? — Thomas tentou entender.

— Você meio que me disse errou muito na nossa amizade. E eu não consigo enxergar isso. Eu queria entender no que você errou. Porque, para mim, você é perfeito. Eu é que sou toda errada.

Thomas sorriu ao ouvir aquilo. Mas seu sorriso também estava carregado com um pouco de dor. Ele ainda não tinha dimensão do quanto ela não entendia quando ele dizia que deveria ter feito as coisas do jeito certo, e que falhara miseravelmente.

Ele havia sido ensinado de uma forma; Grace, de outra. Ambos entendiam o mundo e os relacionamentos de uma forma diferente. De certa forma, Thomas acreditava que Grace estava sendo a mais correta da situação por não saber como as coisas funcionavam. Ele havia se permitido apaixonar-se por ela, mesmo sabendo que aquilo não era o mais seguro a se fazer no momento.

— Por onde eu começo? — Thomas coçou a cabeça.

— Pelo começo — Grace sugeriu. — Eu não tenho pressa. E essa conversa nem precisa terminar hoje.

— Certo. Pode ser um pouco mais decepcionante do que você esperava. Mas vou falar. — Thomas limpou a garganta e pediu rapidamente a Deus que o ajudasse a confessar certas coisas. — Eu fui ensinado de uma forma pelos meus pais. Há termos que, talvez, sejam novos para você, mas para mim sempre estiveram presentes: "Cortejo", "Jugo Desigual", "Autoridade Parental", "Proteção Física e Sentimental", "Papel Ativo dos Pais na Escolha de um Cônjuge" — Thomas olhava para Grace atentamente enquanto tentava encontrar as palavras certas.

Grace, de perto, agora notava que Thomas tinha uma barba por fazer, algo que não tinha notado por chamada de vídeo. Isso lhe dava mais uns dois anos de idade na aparência. Ele realmente não era um garoto de ensino médio, estava visivelmente mais maduro, bem como falava mais seriamente.

Thomas continuou a falar:

— Bom. Desde pequeno eu achava que, quando chegasse a hora, eu não iria me entregar sentimentalmente para alguém. Não havia essa possibilidade, porque eu nem gostava da ideia de flertar com garotas, ser muito íntimo delas. Eu achava que ia ser tudo bem racional. E não nego que isso talvez seja possível. Mas, no nosso caso, eu rompi com um princípio básico.

— Qual? — Grace olhava para Thomas como que para um alto poste. Estava com saudade até mesmo de sentir dor no pescoço por olhar para ele.

— Eu me permiti me apaixonar por você antes mesmo de ter plena certeza de que você era cristã, por exemplo. — Thomas coçou a barba. — Eu tinha uma ideia pelo seu comportamento, pela pulseira que você usava, mas isso ainda era pouco para me deixar levar tanto. Meu papel era meio que te investigar, não me apaixonar.

— Acho que isso pode ter acontecido comigo também — Grace confessou.

— Também errei em ter deixado meus pais um pouco de fora disso tudo. Quero dizer, eu sempre falei sobre você para eles. Mas falava em termos de amizade, nunca deixei claro para eles quais eram minhas reais intenções, e isso deve ter deixado os meus pais muito preocupados, porque foi uma surpresa para eles que eu estivesse disposto a me casar com você.

— A minha família não sabe nada sobre você — Grace confessou, mais uma vez.

— Esse é mais um grande problema. Eu te coloquei numa situação difícil, desprotegida. O ideal é que eu conversasse com seus pais antes de me declarar para você. Eu fiz o contrário. Não que eu não quisesse fazer o certo. Mas nós nos colocamos, eu coloquei a gente, numa situação muito difícil.

— Então o problema não está em beijos e abraços, mas em estarmos entregues — Grace concluiu.

— Essa vontade de te beijar e te abraçar é fruto de estarmos apaixonados, sim. Beijos e abraços são um sintoma, não a causa do problema. E não estou dizendo que estar apaixonado e sentir vontade de te beijar seja necessariamente errado, estou dizendo que essa paixão deveria estar reservada e limitada dentro de um compromisso, de uma segurança.

— Para que serve essa segurança? — Grace estava começando a entendê-lo melhor.

— Você passou por uma situação semelhante no mês passado ao que estou prestes a dizer. Se eu quisesse ir embora, abrir mão de você agora, você ficaria emocionalmente estável? Seu coração não se partiria?

— Mas é claro que eu ficaria muito mal — Grace confirmou veementemente.

— Pois é, e a gente ainda nem tem um relacionamento, Gracinha. É um caminho absolutamente torto para duas pessoas que estão querendo fazer o certo.

Grace pensou sobre aquilo. De fato, Thomas havia ido contra alguns princípios nos quais acreditava, tudo porque deixou a paixão falar mais alto.

— Tenho que voltar para a Louise — ela disse, por fim. — Venha comigo.

— Você vai mesmo me apresentar para ela? — Thomas questionou, andando atrás de Grace.

Chegando à mesa junto a Thomas, Grace apresentou sua companhia para Louise, sem explicar muito de onde ele havia surgido.

— De onde vocês se conhecem? — Louise perguntou, curiosa.

— Estudávamos na mesma escola — Thomas coçou a garganta, seu sotaque estava escocês parecia mais notável agora que falava com alguém britânico. — Agora estou morando em Edimburgo, estou em Londres a passeio. — Levantou a mão para ser atendido assim que uma garçonete olhou em sua direção.

— Ah, claro — Louise respondeu sorrindo para Thomas e desviou o olhar para Grace. — É ele, não é?

Grace ficou vermelha pela sugestão, nada conseguindo dizer. Sentado ao seu lado, Thomas sorriu e respondeu à pergunta.

— Sim, acho que sou eu. — Thomas a olhou com simpatia.

— Gostaria de alguma coisa, senhor? — a garçonete que acabara de chegar perguntou.

— Só um café, por favor — Thomas olhou rapidamente para a garçonete e voltou os olhos para Louise.

— Com açúcar ou adoçante? — a garçonete perguntou por fim.

— Puro, por favor — Thomas desviou o olhar rapidamente para a garçonete em sinal de "é só isso" e voltou a se direcionar a Louise. — Mesmo que eu ainda não seja nada dela, ela significa muito para mim.

— Vocês são fofos. — Louise olhava de um para o outro, sem parar.

Quando seus pedidos chegaram, Louise e Thomas estavam tão absortos no assunto da história do Reino Unido durante o reinado da Rainha Mary I, que Grace encostou rapidamente sua perna na de Thomas, só para ele notar que ela estava ali.

— Mas Henrique VIII foi um imoral. Acredito que se tivesse se contentado com um só casamento, o Reino Unido seria outro hoje em dia — Thomas vociferou depois de um pequeno gole em seu café sem açúcar.

— Concordo — Louise disse admirada pela conversa que estava tendo com um rapaz quinze anos mais novo que ela — Ah... preciso ir ao toilet, você vem comigo, Grace? — Louise levantou-se da cadeira.

— Não, estou bem... — Grace respondeu.

Enquanto Louise se afastava, Grace questionou:

— O que é isso, Thomas? Eu odeio essa mulher, vocês dois parecem melhores amigos.

— Fica tranquila. Me passa o açúcar, por favor, odeio café puro.

— Por que pediu? — Grace quase riu da situação enquanto lhe passava o açúcar.

— Para causar boa impressão — Thomas tentou falar seriamente.

— Qual o propósito disso? Ela absolutamente não é a minha mãe para você conquistar. — Grace revirou os olhos.

— Você tem razão, meu bem. Mas esse ódio é irracional. Você a conhece há pouquissimo tempo. — Thomas fez uma careta e se aproximou um pouco mais de Grace, deixando-lhe um beijo na testa.

Era a primeira vez que ele a havia chamado de "meu bem" e dado-lhe um beijo na testa. Grace não queria confessar, mas aquilo mexeu com ela de maneiras que não achava que seria possível com algo tão mínimo.

— Tommy, acho que estou começando a te entender. Eu não posso continuar sentindo o que estou sentindo sem a segurança de um compromisso — Grace tentou ver se Louise estava voltando. Nem sinal dela.

— Fica tranquila, não vai demorar muito para isso acontecer. — Thomas piscou um olho para Grace.

"Thomas, não é bom ficar piscando assim pra mim também!", ela pensou, mas deixou para lá.

Louise voltara a se sentar no banco à sua frente, havia acabado de desligar uma ligação e esquecera de deixar o celular bloqueado. Com o celular sobre a mesa, Grace foi capaz de ver o papel de parede de Louise, uma foto bem estranha de seu pai junto a Louise, abraçados.

Aquilo foi a gota d'água.

Grace queria vomitar black tea pelas ruas de Londres. Thomas pareceu perceber o incômodo e segurou sua mão por debaixo da mesa, justamente do modo carinhoso que ele havia feito uma vez, passando levemente seu polegar pelo dorso de sua mão.

— Eu preciso... — Grace disse enquanto sentia seu estômago revirar.

Thomas soltou sua mão e levantou-se para dar-lhe passagem para sair. Ele estava visivelmente preocupado com ela.

Grace entrou no banheiro e tossiu contra a pia. Sabia que não ia vomitar, mas de certo modo queria. Olhou-se no espelho e viu seu nariz um pouco mais inchado do que o normal, estava prestes a chorar. Não podia chorar. Não ali, não naquele momento.

Respirou fundo e saiu pela porta do banheiro, encontrando Thomas encostado numa parede, esperando-a.

— Como você está? — Thomas colocou a mão em seu rosto. A pele de Grace estava quente pelo rubor da raiva e do choro preso, enquanto a mão de Thomas estava gelada como um sorvete. O toque de Thomas em seu rosto, tanto pelo choque de temperaturas quanto por aquilo ser incomum para os dois, causou um arrepio em ambos.

— Tudo bem... estou bem. Pode ser que não seja nada demais. — Grace aconchegou-se num abraço apertado, por iniciativa própria.

Thomas envolveu seus braços ao redor dos ombros de Grace e encostou seu queixo no topo da cabeça dela. Grace, com os braços ao redor da cintura de Thomas, sentia mais uma vez o cheiro de suas roupas; estava com muitas saudades.

— Nem sei o que aconteceria se você não estivesse aqui — Grace disse com o rosto abafado no peito de Thomas.

Quando voltaram para a mesa, Louise estava entretida com alguma informação que recebera no celular, aparentemente algo não esperado havia acontecido.

— Podemos ir, Grace? Vou te deixar no prédio e terei que ir para casa. Acredito que seu pai ainda não tenha chegado. Sinto muito — Louise falava sem desviar o olhar da tela de seu celular.

— U-hum. — Foi a única coisa que conseguiu dizer.

— Não vou te deixar sozinha — Thomas sussurrou enquanto saíam da cafeteria juntos.

•••

Louise havia deixado os dois na entrada do hotel, partindo rapidamente com o carro. Na recepção, havia uma imensa sala, com alguns sofás espalhados pelo lugar, uma mesa de sinuca e um barzinho. Havia duas recepcionistas e um casal sentado num sofá afastado, provavelmente esperando um táxi.

— Eu te chamaria para subir, mas meu pai não está, então... — Grace tentou explicar.

— Eu ainda não fiquei louco para fazer algo do tipo, Gracinha. — Thomas riu enquanto se ajeitava no sofá.

Grace estava sentada ao seu lado, um pouco afastada.

Ficaram algum tempo assim, desconcertados, até que Grace lembrou-se de conversa que teve com Brenda. Ainda tinha que esclarecer algumas coisas.

— Podemos continuar nossa conversa? Tenho algumas perguntas. — Grace ajeitou seu corpo no sofá para olhar diretamente para Thomas.

— Pode perguntar — Thomas respondeu.

— A Brenda me contou umas coisas sobre você que eu não imaginava que você—

— Ah, o lance sobre ela querer namorar comigo? — Thomas riu. Aparentemente aquilo era uma memória engraçada para ele.

— Isso. Ela disse que vocês estavam numa festa, que vocês estavam bebendo, que ela quis te beijar, que você foi embora. Algo assim.

— Exato — Thomas concordou.

— Exato? Então vocês... quero dizer... você costumava sair para festas?

— Costumava.

— Ah — Grace não conseguia dizer mais nada. Ainda que não tivesse tanto conhecimento sobre Deus como Thomas, nunca havia ido a festas e curtido como ele. A verdade é que ela tinha uma imagem tão boa sobre ele que não queria esta fosse destruída.

— Grace. — Thomas respirou fundo. — Não nego nada do que eu tenha feito antes. Mas me arrependo. Isso que é importante, não?!

— Claro, mas é que eu não queria acreditar que você... — Grace hesitou.

— Que eu sou tão pecador quanto os demais? Que eu sou o pior dos pecadores? Ah, eu nunca quis que pensasse assim de mim.

— Eu entendo. Acho que preciso conhecer esse seu passado...

— Não só o meu passado. Eu também peco no presente, eu te disse. É inevitável você perceber que eu não sou o homem mais puro do mundo, você está conhecendo um pecador. E o pecador Thomas ainda vai te decepcionar muito.

— Você tem razão. Eu não posso esperar perfeição de você. Somente de Deus. — Grace sorriu ao entender profundamente o que estava dizendo.

— Exato... mas, se você quer saber do meu passado, vamos a ele. Na verdade o poço é bem mais fundo que uma mera festinha...

"Eu tinha a idade de quinze anos quando resolvi ser pastor. Eu sempre admirei meu pai, a vocação dele, então eu vi o sentido da minha vida ali. Mas, depois de um tempo, eu passei a relaxar um pouco em meus princípios. Foi uma fase muito curta, durou poucos meses, principalmente aos dezesseis, que foi quando coloquei Deus dentro de uma caixa muito escondida e fui curtir um pouco com meus amigos".

Thomas, de certo modo, não parecia estar incomodado com o que falava. Fazia parte de sua história.

"Luke e Brenda não eram os amigos com quem eu falava sobre Deus, era eu com minha caixinha aqui, eles com a vida deles lá. Só que o Luke conhece a Deus. Quando a gente cresceu, ele começou a ficar com todas as garotas disponíveis. Ele sabia que era errado. Ele falava comigo que não conseguia se controlar. Às vezes ele levava umas para casa, depois vinha até mim se lamentar do que tinha feito. Alguns dias depois ele parecia se esquecer de toda tristeza que aquilo lhe causava e fazia novamente. Era claramente um vício. E ele gostava. Nos seus momentos de sede de luxúria, ele me falava sobre as garotas que tinha levado para a cama. Como tinha sido, como elas eram. E eu me arrependo todo dia por ter lhe dado ouvidos".

"Essas experiências que recebi dele sobre o tema acabaram com minha concepção de amor, de carinho, de tudo. Até que um dia eu reconheci que eu gostava que ele pecasse em meu lugar para que eu pudesse ouvir sobre suas experiências malditas. Eu era covarde demais para pecar ativamente, usando de meios para que eu pudesse aprender mais sobre o assunto..."

"Então eu passei a viver num impasse muito grande. Eu não queria mais ouvir, não podia mais ouvir nada; mas ele insistia em falar. Até a Brenda entrou no meio. Ela gostava dele, mas não conhecia um terço das coisas que ele fazia. Porque ele não contava para ela, obviamente, contava só para mim. Ele gostava do joguinho, ele me disse isso, de ficar perguntando sobre garotas para a Brenda a fim de que ela ficasse sentindo cada vez mais que ele era inalcançável para ela".

"Às vezes eu me cansava desse jogo, falava para ela parar com aquela palhaçada de se fazer de boba, mas ela nunca entendeu. Deve ter achado que eu era a fim dela, não sei".

"Eu comecei a sair com eles para esfriar a cabeça. Eu tentava ser a pessoa mais animada. Até que a festa se tornava um velório para mim. Nunca durou muito tempo essa alegria toda. Eu entrava num estado muito reflexivo durante as festas. Eu sabia que estava no lugar errado, que meus pais estavam em casa sem nem cogitar o que eu estaria fazendo, mas eu ainda continuava ali, ouvindo uma música eletrônica como um fundo musical muito inadequado à tristeza que estava sentindo no espírito".

"A última festa que fui foi exatamente essa em que a Brenda tentou me agarrar".

Thomas deu um sorriso dolorido.

"Lembro-me de estar totalmente absorto em meus pensamentos naquele momento. Orando a Deus com um copo na mão para que perdoasse meus pecados. Eu tava olhando diretamente para uma foto em cima da estante da sala do Roger, era a família dele. O Roger, seu pai, sua mãe e sua irmã mais nova. Eu estava pensando na minha família, no desgosto que eu poderia estar causando, nos propósitos que eu tinha firmado, no desejo ardente no meu coração de seguir um caminho completamente diferente. De sair correndo para casa e pedir perdão aos meus pais".

"Eu estava convencido de que devia voltar a ter um desejo ardente de glorificar a Deus em todos os meus atos, mas eu sabia que eu estava muito longe disso. Então a Brenda apareceu, falou que queria ficar comigo, caiu em cima de mim, se aproximou muito de mim; e eu tive certeza naquela hora que eu estava no lugar errado, as pessoas estavam me interpretando de um modo que eu não queria. Aquilo me despertou. A Brenda é linda, simpática, muito companheira; mas eu sabia que eu não podia ceder aos encantos dela. Aliás, eu tinha certeza de que a mulher certa não ia cair no meu colo, eu ia ter que ir atrás."

"Até então, eu não tive a mínima vontade de ir procurar alguém. Eu estava muito bem, focado em levar as coisas de Deus a sério. Aí eu comecei a reparar em você. E eu já te disse isso, mas, no dia em que você me xingou na biblioteca, eu te achei uma graça. De verdade, eu não quis derrubar a sua pilha de livros, eu só estava procurando a secretária feito um louco para que ela me passasse uns documentos para fazer minha inscrição para a faculdade na Escócia... Eu já estava traçando o meu caminho para cá, sabia que minha vida ia recomeçar aqui. Mas quando eu te vi toda exaltada pra cima de mim, eu te achei muito engraçada. Lembrava de você de algum lugar. Não lembrava muito bem se tinha estudado contigo. Como eu poderia ter esquecido? A mais pura verdade é que eu queria saber seu nome. Eu poderia pesquisar nas memórias do anuário? Poderia, mas a Lydia estava conversando contigo um dia e..."

Thomas sorriu enquanto via Grace se interessar ainda mais pela história.

"Eu passei na frente de vocês, como quem não quer nada, olhando para você. E você nem me notou, a Lydia deve ter notado. Acho que ela achou que eu estivesse a fim dela, porque sempre que eu olhava para você, ela estava olhando para mim, e eu tentava disfarçar".

"Ela me convidou para sair. Achei que seria legal me aproximar da sua amiga, sério. E o Luke encheu a minha cabeça também. Eu fui muito burro. Descobri seu nome muito facilmente: ela falava de você a todo momento. Pesquisei seu nome na internet, achei sua redação antiga no site da escola e tive uma memória muito viva dela, li umas três vezes naquele dia, achei suas redes sociais e vi que você namorava. Por que namorava?"

"Perdi as minhas esperanças com você. Decidi tentar fazer as coisas darem certo com a Lydia, afinal ela era sua melhor amiga; achei que vocês fossem parecidas. Engano meu. Eu ficava cada vez mais interessado em você, ainda que dissesse para mim mesmo que era a Lydia que eu devia querer. Eu simplesmente queria você".

"Não consegui evitar. Eu fiquei apaixonado por você. Eu me repreendi muito por isso. Eu orei sobre isso, orei por você. Todo dia eu me perguntava por que logo você, mas nossa história foi complicada demais para que eu fizesse as coisas como deveriam ser. Ah, me perdoa! Eu pretendo fazer tudo certo com você, apesar de já ter errado tanto."

— Você é inacreditável, Thomas Vincent Fraser! — foi a única coisa que Grace conseguiu dizer em resposta, sua boca estava um pouco aberta por causa da riqueza dos detalhes e da surpresa em ouvir tudo aquilo sair dos lábios de Thomas. Ela a olhava fixamente, piscando pouquíssimas vezes.

— Você é linda! Em todos os sentidos. — Thomas parecia ter reparado no quanto Grace estava perplexa e aproximou-se um pouco mais dela. — Eu não aguento mais ser só seu amigo.

Grace sentiu seu rosto queimar. Seu coração estava muito acelerado, suas mãos suavam e seu estômago estava embrulhado. Acho que os dois estavam sentindo a mesma coisa, pois ambos se afastaram bruscamente.

A porta da recepção foi aberta e ambos desviaram o olhar para ver um homem alto e forte adentrando o salão.

— É o meu pai — Grace sussurrou tentou esconder-se no sofá.

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Não esquece a estrelinha ⭐

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