— Seu bronco!

Esse foi o grito que Grace deu quando Thomas quase caiu em cima dela na biblioteca, um local onde deveria haver silêncio. Todos olharam para eles, especialmente para Grace, que costuma tratar todos com muita paciência e era capaz de pedir desculpas se alguém desse um pisão no seu pé. Era realmente estranho que a serena Grace tenha gritado... e na biblioteca... e por causa de um tropeço nos livros que ela mesma havia empilhado no chão. Uma hora ou outra, alguém iria tropeçar mesmo...

Mas tinha de ser logo ele? Pensou ela.

— Me... desculpa?! — Ele meio afirmou meio perguntou. Parecia ter notado a existência de Grace naquele segundo, pois olhava para ela com um olhar confuso de "te conheço de algum lugar..."

— Sai daqui — Grace explodiu, sua raiva podia ser vista através dos poros.

— Não. Espera aí. Você quem fez essa bagunça no corredor e eu quem deveria que me lamentar? — Thomas solta um breve sorrisinho, apesar de aparentar estar com muita pressa.

— Não tenho culpa se você é um bronco — Grace revirou os olhos, organizando novamente sua pilha de livros no chão.

Ela repetiu novamente essa palavra, mesmo sem saber direito o que significava. Talvez repetiu porque não conhecia mais nenhum xingamento, se é que bronco é xingamento.

— Então é isso? Eu sou bronco? — ele riu.

— É. Agora vai embora — Grace respondeu, levantando-se e o encarando.

— Tenha um bom dia você também — Thomas deu as costas para ela.

— Bom? Bom pra você, né? — 'Burra', ela pensou. Por que só não falou "bom dia" e deixou ele ir embora?

Ela olhava para Thomas com os olhos quase saltando das órbitas por não ter segurado a sua língua. O rapaz virou o corpo para ela, desacreditado no que estava escutando. Neste momento, Thomas já havia perdido a paciência com ela. 'Tentei ser agradável', pensou ele. 'Enfim, não me importo.'

— Meu dia estaria melhor se você não existisse, garota insuportável. — Fez menção de esticar a perna para chutar novamente a pilha de livros que ela tinha montado no chão da biblioteca, mas foi embora.

Tá. Ele sabe que pegou pesado. Mas ele não podia deixar isso passar. Ela foi extremamente mal educada. E mais: ele não se lembra de ter feito nada de ruim para ela em toda a sua vida. 'Garota louca', pensou. E saiu para resolver suas coisas.

Ele não viu que Grace quase se levantou e voou em cima dele. Ela reuniu toda a sua mágoa de anos para poder esmagar a cabeça dele entre uma estante e um calhamaço de uma enciclopédia gigante.

Grace, que tinha uma pele pálida, ficou mais vermelha do que um pimentão. Ela respirava fundo e com dificuldade olhando o rapaz passar pelo corredor de livros.

Ela sabia que isso tudo era errado, e pedia a Deus que pudesse melhorar nisso. Mas o que ela podia fazer se o gênio de ambos era tão forte? Seria melhor que ele sumisse da vida dela o quanto antes.

'Que o ano passe rápido', pensou ela no primeiro dia de aula.

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Não esquece a estrelinha ⭐