al green

Na volta para casa, dirigindo seu carro, Thomas surpreendeu as garotas ao colocar um soul para tocar. Grace e Lydia tinham um carinho especial por esse gênero de música, pois se lembravam da infância; e, apesar de não conhecerem todas músicas, gostaram bastante.

Uma famosa música do Al Green começou a tocar, e Grace, já descontraída pela noite que tiveram, começou a cantar alto com a amiga.

Thomas, ao rir daquela situação, não mostrava o quanto estava encantado com Grace. Ora quieta, ora falante. Ora brava, ora simpática. Se tinha alguma coisa nela que ele gostava, esta coisa era a sua espontaneidade. Pela primeira vez em sua vida, conhecia uma garota que era legal sem a intenção de o impressionar com isso. Ela simplesmente era assim.

Grace, já envolta pela agitação dos graves nas caixas de som traseiras do carro de Thomas, queria continuar ali por mais alguns minutos, talvez até que todo o álbum acabasse. Ela sempre amou ficar no carro com música alta tocando. Isso a fazia ficar nostálgica, lembrando de quando ficava horas ouvindo músicas até a bateria do carro de seu pai se esgotar. Lembrar de seu pai a fazia querer chorar também.

Let's Stay Together acabou e outra música do Al Green começou a tocar. Uma que Grace nunca havia escutado. Ela aproveitou o momento saudoso para prestar atenção à letra da música.

A coisa mais inesperada foi Thomas cantando baixinho, meio desafinado, cada letra da música, como se fosse sua preferida. Lydia estava mexendo no celular no momento, então não prestou atenção na música.

Num tom engraçado, a música dizia mais ou menos isso:

"Belle, o Senhor e eu somos amigos por muito tempo.
Ah, Belle.
Deixá-lO nunca passou pela minha mente.
Deixe-me dizer uma coisa:
Eu nunca iria tão longe, pois prefiro Ele, não importa quem você seja.
Posso até te querer, mas é de Deus que eu preciso."

Aquelas palavras, mesmo vindas de uma canção tão alegre, fez o coração de Grace ser confrontado mais uma vez. Era impossível que Thomas estivesse colocando aquela música com algum propósito, ele nem ao menos sabia como era o namoro de Grace. Entre o Senhor e Matthew, obviamente escolheria o Senhor, mas ela nunca achou que houvesse um antagonismo entre os dois. Havia mesmo? Era uma grande ironia ser confrontada por um soul engraçado no carro de um rapaz de quem você nem gosta muito.

Infelizmente, eles chegaram à casa de Grace, que sentiu um leve desconforto em saber que os dois iriam continuar a ouvir aquela música sozinhos, mesmo que fosse só até a casa de Lydia, que ficava a duas quadras da sua.

- Boa noite para vocês. Obrigada - Grace disse, por fim, ao retirar o cinto de segurança.

- Admita que nós salvamos a sua noite - Lydia disse.

- Ah! Com certeza serei eternamente grata. - Grace revirou os olhos. - Mas, sério, vocês são ótimos. Obrigada.

Mais uma coisa para Thomas colocar na sua lista de fatos que ele gostava em Grace. Ela também falava sério, às vezes.

- Até que sua amiga é uma companhia agradável, Lydia - Thomas comentou para que Grace ouvisse.

- Acho que fui eu quem salvou a noite de vocês, pombinhos! - E foi embora convencida de que Thomas era até amigável.

- P-pombinhos não! - Thomas gaguegou baixinho para si mesmo.

Thomas esperou que Grace entrasse em sua casa e trancasse a porta antes de partir, o que foi um cuidado extremamente exagerado, segundo Grace. Ela tentou pensar que aquilo fora só algo educado que Thomas aprendeu dos pais: 'Sempre espere a moça entrar em casa e trancar a porta'. O que ela não sabia era que, mesmo que fosse um conselho de seus pais, Thomas, na verdade, estava se preocupando com uma garota pela primeira vez em sua vida.

•••

Ao chegar em casa, Grace tentou condensar tudo o que aconteceu para contar a Matthew. Não precisava contar que se sentira um pouco estranha com as perguntas referentes a ele, mas, se contasse algo mais genérico, até que não havia nada de grave, algo que faria Matthew se chatear.

- Fomos a uma hamburgueria nova na cidade. O lanche é realmente muito bom, você podia me levar lá quando vier.

- Essa era a novidade que queria te contar. Na verdade, o contrário.

- Oi? Me conta. Estou curiosa.

- Eu não estou em condições de ir aí, você sabe. Fiquei de recuperação e isso indica que eu tenho que ficar aqui por mais algumas semanas.

Era sempre estranho que as férias deles nunca se combinassem. A Universidade de Matthew tinha um método diferente com os alunos, algo que Grace nunca chegou a entender. As provas eram bimestrais e os alunos tinham alguns recessos nos fins de ano, mas nunca férias propriamente ditas.

- Eu sei, Matthew - Grace disse com um triste semblante.

- Ei! "Mattthew"? Você nunca me chama assim.

A verdade era que Grace sempre quase o chamava de Matt, mas sempre trocava por "amor" no último segundo. Aos poucos foi perdendo a vontade de chamá-lo de amor. E com todo esforço que fez ao condensar a história de hoje, acabou esquecendo desse fato.

- Amor... - Grace se corrigiu.

- Então... estava pensando em você vir para cá. Agora mesmo. Se bem que você não vai conseguir pegar o ônibus de hoje. Mas amanhã de manhã... Vem, por favor.

Grace ficou muito espantada com o fato de Matthew já ter comprado as passagens e conversado com a mãe dela. Sua mala já estava até parcialmente pronta, sua mãe já havia começado por ela.

Pior: Grace não sentiu vontade de ir. Tinha tudo para que sentisse. Semanas sem ver o namorado. Mas não estava muito à vontade com essa ideia. Ela nunca havia viajado sozinha na vida!

Porém, Grace se lembrou de que um tempo com o namorado era tudo o que ela mais precisava para reavivar as conexões que tinha com ele. Afinal, talvez toda aquela melancolia fosse só saudade. A falta dele poderia estar deixando-a desanimada.

Foi assim que Grace viajou para Boston, bem às quatro da manhã daquele sábado. Precisava colocar a sua cabeça para funcionar: ela tem um namorado, que é ótimo, por sinal.

Naquela manhã, enquanto Grace já estava chegando ao seu destino, Thomas sonhou com ela. Tinha sonhado que ela estava presa numa espécie de árvore carnívora com raízes com vida própria, que aos poucos a engoliam para o fundo da terra. Thomas fazia de tudo para tentar recuperá-la, mas, ao olhar para o rosto da menina, ela estava contente por estar sendo sugada.

Era como se todo esforço que ele fizesse não tivesse surtido efeito algum, porque ela não queria ser salva.

'Aquele hambúrguer não me fez bem', pensou ele ao acordar. Sem querer refletir muito sobre aquele sonho, apenas se alegrou por ter, ao menos, sonhado com ela e se lembrou do quanto ela era engraçada.

Não se importava muito que ela estivesse mesmo feliz em ser engolida por plantas carnívoras, ele queria ser amigo dela.

E enviar uma solicitação de amizade nas redes sociais parecia ser um bom começo.

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Não esquece a estrelinha.

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