Capítulo Especial = ◇ Emília ◆

Hoje já é segunda-feira e nesse meio tempo, de sábado até hoje, eu não paro de pensar em você.

Sei que isso não me é estranho; esses pensamentos que me vêm à mente, sobre você. Só que diferente de todos os outros dias, nesse final de semana você mexeu mais comigo do que eu poderia imaginar.

Eu não paro de pensar na nossa conversa, animada.

Nos seus olhares, discretos.

Na nossa dança, delicada.

E, principalmente, não paro de pensar no nosso beijo. Que foi rápido, porém inesquecível, para mim.

E espero que para você também...

A lembrança dessa noite ainda está em mim, e como você estuda comigo, agora que você acabou de entrar na sala, eu não paro de seguir você com o olhar.

Ver você se sentar na fileira do meio, um pouco na frente de onde eu fico. Ver você colocar sua bolsa na mesa e começar a retirar seu caderno de capa branca, com alguns adereços e desenhos que envolvem a área da saúde, e pegar, dentre todas as canetas e lápis que estão no seu estojo, a sua favorita.

Sei que pode ser besteira ou até mesmo coisa da minha cabeça, mas... aceitar a aposta foi mais para mexer com você. Ver se você sente algo por mim.

Eu queria de lhe fazer ciúmes. E, talvez eu esteja conseguindo fazer isso...

Eu não gosto do Will como todos pensam. Para mim o Will é um amigo; alguém que sinto que sempre estará ao meu lado quando eu precisar, mas ele não é alguém com quem eu quero compartilhar minha vida, esse alguém é você.

Eu já havia percebido.

Sim. Já havia percebido que seus olhos não deixavam meu rosto. Você não é como esses garotos que olham para o corpo da garota e meio que com isso diz se ela é "boa ou não", para você, isso era futilidade. Você preferia mil vezes olhar, mesmo que discretamente, nos olhos.

E eu amo isso. O seu jeito.

Ele estava sozinho agora, sentado "confortavelmente", digo, pois dava para perceber que ele estava apreensivo por algo — como se uma tensão estivesse presente nele —, o nosso amigo que até então conversava com ele, havia acabado de se levantar e partia agora em direção à cozinha.

Eu não ia me mover, não de novo, eu já tinha ido para lá uma vez conversar brevemente com os dois, antes de baterem meus parabéns.

Ia continuar a conversar com os meus parentes que me desejavam feliz aniversário, mas só foi ele dirigir seu olhar de novo a mim, que eu já caminhava em sua direção, deixando até mesmo meus parentes de lado, para parar bem à sua frente.

O mesmo ficou surpreso, porém, o sorriso largo que rapidamente se formou em seu rosto, indicava que ele havia gostado disso.

— Você está se divertindo? — Perguntei, me sentando na cadeira ao seu lado, que outrora tinha sido do nosso amigo, e eu esperava que ele dissesse que sim; que minha companhia bastava para ele.

— Estou sim. Sua festa está sendo legal — ele comentou, deixando sua perna curvada em cima do seu joelho, e sua mão já indo de encontro a mesma.

Ele estava nervoso.

Bom, eu também.

— Só não legal o bastante para você, já que estava aqui, sozinho... sem companhia — era uma indireta, e eu queria que ele percebesse isso. E talvez até mesmo, me dissesse algo a respeito.

— Bom, isso era verdade. — Com a mão que estava livre, ele levou para os seus cabelos loiros, para que assim pudesse bagunçá-los um pouco. E rapidamente, disparou: — Você tornou tudo melhor.

Não sei se ele havia entendido à minha mensagem. Eu esperava que sim. Só não esperava por uma resposta como essa vinda dele.

Talvez, ele nem mesmo tenha tido intenção de dizer isso. Ou se teve, não foi com a intenção que eu estava pensando.

— Bom... eu digo pela sua companhia — comentou, depois de alguns segundos passados, desde que eu não havia lhe respondido nada a respeito.

Eu sorri gentilmente em resposta quanto a isso, mas por dentro estava: "mas é claro, claro que ele não me olharia de outro jeito... Isso está mais do que óbvio. E eu precisava colocar isso logo na minha cabeça".

E assim ficamos os dois, sem falarmos nada, observando algumas pessoas já se retirarem para irem embora, já que comumente depois dos parabéns todo mundo vaza, enquanto a música continua a rolar solta, até a última pessoa deixar o local.

Sorte.

É uma coisa que às vezes temos, e eu posso dizer para vocês que, a partir daquele momento, tudo estava contribuindo para o que viria a seguir. A música eletrizante tinha acabado, para uma mais calma tomar o seu lugar. E eu iria aproveitar esse momento.

Não é todo dia que você faz dezoito anos.

Não é todo dia que você faz uma festa.

Não é todo dia que o garoto que você gosta está na sua casa.

E, não é todo dia que você pode pegar todas essas coisas, e juntá-las em uma só para fazer o que você sempre quis fazer.

— Você dança? — Deixei de olhar as pessoas, para me virar em direção a ele.

— Eu...? — Apontou para sí, ao mesmo tempo em que começava a ri de sí próprio, eu suponho. — Na verdade, eu não... — quando eu vi que ele iria me dar mais um fora, não aguentei.

Eu não iria perder essa chance.

— Vem comigo! — Me levantei da cadeira bruscamente e com isso o peguei pelo braço (eu ainda queria dançar pelo menos metade da música) e o guiei para um lugar que não tinha particularmente ninguém que pudesse nos ver. Só que eu talvez estivesse indo muito rápida, por isso recuei, dizendo: — Ou quer dizer, me segue, se você não quiser me perder de vista...

— E para onde exatamente você está me levando, Emília? — Ele me perguntou em um fio de voz, e quando me virei para trás, para poder lhe responder, lá estava ele sorrindo para mim.

Ele não estava pensando várias coisas a respeito de mim e da minha atitude, ele somente estava achando graça da situação. Como se fosse algo bem normal eu levar um garoto para longe das pessoas, para ficar sozinha com ele, no escuro.

— Para trás da minha casa, aonde mais seria? — Dei de ombros, e com isso pude ouvir sua risada. — Acho que esse lugar está bom — disse, ao parar de andar, com ele fazendo o mesmo.

Eu conhecia essa música com a palma da minha mão, e agora para o meu azar, o meu tempo estava se esvaindo, eu só tinha menos da metade dela para poder dançar com ele. E, pela primeira vez na noite, foi ele quem fez algo, que eu não esperava que fosse fazer.

Não esperava que ele levaria suas mãos em direção à minha cintura.

Não imaginava que ele fosse aproximar nossos corpos.

E nem mesmo acreditava que pudesse ouvir a sua respiração abafada e irregular, quando, com um leve levantar de mão, ele fez com que eu deitasse minha cabeça em seu ombro. Com à minha respiração entrecortada, levei minhas mãos para trás de suas costas, onde quando se encontraram, se entrelaçaram.

Dançávamos conforme a música pedia; calmamente, sem nenhuma pressa, só com a escuridão da noite, às estrelas e o frio, nos fazendo companhia. A música era The Fray — Never Say Never.

Nós estamos nos separando

E ficando juntos novamente e novamente

Nós estamos distanciando um do outro

Mas nós nos mantemos juntos

Nos mantemos juntos, juntos de novo

Nossos passos se moviam para lá e para cá de maneira leve e concisa.

Seu cheiro embriagava minhas narinas, e o minucioso toque que ele fazia em minha cabeça enquanto mexia em meus cabelos estavam mexendo mais com os meus sentimentos do que eu poderia imaginar.

Esse momento estava sendo perfeito, e eu queria dizer isso a ele.

Por isso, respirando fundo para poder lhe encarar nos olhos e tomar coragem, afastei minha cabeça de seu ombro e, ainda com a cabeça baixa, vi quando seus pés pararam de ser mexer.

— Eu fiz alguma coisa de errado? — Perguntou.

E eu apenas neguei, ao mesmo tempo em que levantava minha cabeça, levando agora consigo uma de minhas mãos, que foi de encontro ao seu rosto que era iluminado apenas pelo brilho da lua, que batia exatamente bem em cima de seus olhos azuis, fazendo-os cintilar ainda mais.

O que eu ia falar simplesmente sumiu. Eu tinha perdido a fala.

Não era justo ele fazer esse tipo de coisa comigo.

Não era justo ele ser tão lindo assim.

E não era justo que eu o amasse e ele não.

Eu não ia lhe dizer mais nada, ao invés disso, me joguei em seus braços, enterrando minha cabeça no espaço entre seu pescoço e ombro, aspirando com força o seu cheiro. Eu o queria manter, de alguma maneira, mais perto de mim.

Ele tinha me dado uma das melhores noites, e ele nem fazia ideia disso. Mas o pior de tudo era saber que, depois daqui, tudo ia voltar a ser a mesma coisa.

Apenas uma bela amizade.

— Emília...

Meu nome sendo dito por ele, sussurrado ao meu ouvido, com a sua mão fria no meu rosto, foi o que me deu impulso para...

— Sim? — Levei meu rosto para onde o seu estava, eles se tocavam agora, e eu queria saber o que ele iria fazer a seguir.

— Talvez eu não saiba como fazer isso — comentou, enquanto suspirava de forma frustrada.

— Fazer o quê? — Eu respirava com dificuldade, não sabia o que ele queria dizer com isso, poderia significar uma coisa boa, mas também poderia não ser.

— Beijar uma garota maravilhosa como você — e ele afastou seu rosto do meu, não para que criasse uma certa distância entre nós, mas sim para que pudesse me olhar nos olhos enquanto me dizia isso.

— Então, só segue comigo — disse simplesmente, mas por dentro meus batimentos cardíacos se aceleravam cada vez mais. — O meu ritmo, o seu tempo. E assim... ficaremos bem — levei minha mão de encontro ao seu rosto, para que ele soubesse que eu queria aquilo tanto quanto ele.

E antes que ele pudesse ao menos dizer alguma palavra, eu me aproximei dele, com cautela.

Senti seus lábios trêmulos assim que encostei os meus contra os dele. Coloquei minhas mãos em seu rosto, para que assim o pudesse trazer para mais perto de mim; enquanto isso sua mão tremia em minha cintura e eu não saberia dizer se era pelo frio que estava fazendo ou se era por ele próprio estar assim. Mordi seu lábio inferior apenas para sentir que aquilo era realmente real.

Senti quando ele começou a andar comigo, me levando mais para à frente, para que pudesse me encostar na parede de casa, e assim que senti minhas costas baterem em algo duro, foi ele quem tomou as rédeas da situação. Antes podia estar receoso, com medo ou até mesmo nervoso, mas agora, ele havia se entregado. Sua língua explorava os cantos de minha boca, e uma de suas mãos estava agora entre os fios encaracolados de meus cabelos, enquanto a outra apertava, de forma carinhosa, minha cintura, só para que pudesse culminar ainda mais o momento.

Um pequeno trecho da música que soava anteriormente me veio à mente, e nessas poucas palavras estava o meu medo e à minha esperança andando juntas, lado a lado.

Não me deixe ir...

Eu já estava ficando sem fôlego, mas não desejava me separar dele. Queria aproveitar sua respiração que chegava hora ou outra em meu ouvido, com suas mãos esquentando minha cintura, enquanto pela primeira vez eu sentia como era seu beijo. Eu na verdade queria inverter o jogo e, fazer aquele beijo calmo pegar fogo; só que, percebi que meu tempo havia acabado quando ouvimos as vozes dos nossos amigos, e eles chamavam seu nome.

Ele iria embora. Agora.

Ele ouviu o mesmo que eu ouvi, e com isso se afastou de mim, colocando logo suas mãos nos bolsos da calça.

— Ao que parece... eu tenho que ir, agora — comentou, começando a se afastar de mim, levando suas mãos aos cabelos, como forma de ajeitá-los, para que pudesse encontrar os outros. — Eu espero que você tenha tido um ótimo aniversário — e se afastou. De mim. Nem mesmo esperando uma resposta de minha parte.

Ele não poderia perder tempo, tinha que encontrar nossos amigos antes que eles suspeitassem de algo. Afinal, para todos eu ainda era a "namorada" de Will Belmarques, e ver aquela cena seria um ato de traição. Mal sabiam eles que cada um de nós tínhamos nossos próprios "negócios".

Ele se afastava cada vez mais, sem saber minha resposta, mas, na minha mente, eu respondi: "pode apostar, eu tive..."

Eu caminhava porta afora. A aula de Química havia acabado, e eu iria para casa agora.

Eu não estava muito legal; não tinha prestado atenção na aula e agora até escutava alguém me chamando, mas eu só queria ir para casa, tomar um bom banho e relaxar. Não estava com cabeça para nada no momento, e foi só quando senti alguém segurar em meu braço, levemente, que "me despertei".

— Cuidado para não bater a cabeça — riu, soltando meu braço.

E lá estava ele, a pessoa que eu tinha trocado carícias na minha festa e que predominava mais ainda meus pensamentos desde então. Seus olhos azuis, estavam mais brilhantes, e seus cabelos loiros estavam perfeitamente alinhados, tendo ele cortado depois de ter deixado um gol entrar por não ver o disco ir em sua direção.

Ele estava lindo. Como sempre esteve.

Seu sorriso em minha direção era bobo, afinal, se não fosse por ele eu teria metido a cara em um armário aberto.

— Obrigada, Victor, eu estava aérea — tentei desconversar, para que não desse a entender que era dele quem eu estava pensando e revivendo o dito cujo momento, várias e várias vezes, até mesmo aqui no colégio.

Ele riu e ficou me olhando por alguns segundos, antes de dizer:

— Então... eu... hum.... eu já vou indo... — em sua fala havia incerteza; ele não queria fazer aquilo que estava dizendo.

Eu o conhecia.

Eu sabia o quanto ele era na dele.

Eu sabia que se fosse por ele, do jeito que é reservado, isso não iria rolar. E eu não queria que nossa relação fosse uma simples amizade. Por isso falei:

— Victor, espere! — Dei alguns passos para poder chegar até ele, que já havia se afastado um pouco de mim. Repousei minha mão em seu ombro, e, me aproximando um pouco dele para que ninguém pudesse ouvir o que eu tinha para dizer, mas também tentando manter uma certa distância, para as pessoas ao nosso redor não pensassem besteira quanto a nós, tomei a iniciativa. — Você por acaso ficaria comigo de novo?

Estava ansiosa por uma resposta sua, até porque hoje não é mais meu aniversário, não haveria mais uma festa, e nem mesmo o momento... mas poderíamos criar um outro, se assim ele quisesse.

Da parte dele, não houve resposta, ele apenas sorriu.

Um sorriso que dizia várias coisas.

E uma delas era que nada ia ser como antes... seria bem mais que uma bela amizade.

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