14 = (em)Sapiência
De alguma forma, a dor e tensão acabaram em um pote de sorvete. Napolitano. Com direito à vista do mar.
Não me parecia um final ruim. Era até digno.
Eu estava comendo quase tudo sozinho. O que não era ruim. Ágatha apenas tinha dado duas colheradas, e parou por dizendo que engordaria. Ela citou números, como se soubesse às calorias. Como se realmente entendesse.
— Então... Planeja me contar o que aconteceu? — Tirei a colher da boca, passando minha visão por seu corpo encolhido dentro dos próprios braços.
Ela fez um leve sinal de negação, por isso, voltei meu olhar para o mar. Às vezes, ele tocava a areia, e algumas pessoas corriam de um lado ao outro, enquanto outros brincavam.
— Eu tenho uma filosofia. — Voltei a olhar para ela, enquanto enfiava a colher no pote de sorvete. — Se chama "Emsapiência". Como Aristóteles que tinha os Aristótelicos.
— E quem mais faz parte da sua filosofia? — Seu olhar parecia estar sendo compreensivo.
— Alguns já fizeram. — Levei a mão até a gola da camiseta, a abaixando um pouco deixando visível a tatuagem. — Não é algo do qual me orgulho, mas também não me arrependo de tudo. Na verdade, a primeira coisa que está escrita e que é lei nessa filosofia, é que não se deve olhar para o passado. A não ser, que queira ficar preso no presente.
— É difícil não olhar para o passado quando ele te segue, como uma bola. — Ela apanhou areia, deixando que passasse por entre seus dedos.
— Às vezes nós somos a bola, Ágatha. — Ela sorriu, achando graça, e virou o olhar para mim. — A vida não escolhe quem vai jogar punição, como se tudo não passasse de uma roleta russa. Às vezes, nós mesmos somos o problema, e nos perseguimos.
Voltei a afundar a colher no sorvete. Os segundos que se passaram não foram contados. Esperei que ela dissesse a próxima coisa.
Era uma comparação que na verdade, também se encaixava comigo. Meu maior problema é que eu ainda me lembrava do passado. Não conseguia me livrar dele. Me arrependia de talvez tê-lo deixado da forma que escolhi.
— Você está certo, eu sou o problema. — Voltei a olhar para ela. — O que sua filosofia diria para isso? Por acaso tem alguma frase de salvação?
Fingi estar pensando, mantendo a colher na boca.
Estava, em partes, blefando. O nome daquilo tinha sido dado por mim, mas, na época não era eu a mente pensante do grupo. Ele era o responsável pelas palavras bonitas. Sua sensibilidade sempre foi muito maior que à minha.
— Eu acho... Que você não precisa de salvação, Ágatha. Se você ainda não desistiu de tentar, então não precisa ser salvo, precisa de apoio. E querer apoio é algo bom. Não sinta vergonha por isso.
Estendi o pote de sorvete a ela, que pareceu averiguar a possibilidade.
— Podem ser mil calorias. Talvez 395. Mas não serão só mil trezentas e noventa e cinco calorias que terá perdido, e sim, a chance de aproveitar esse momento único. Afinal, não é todo dia que se pode tomar sorvete com um filósofo — brinquei.
Ela aceitou o pote e tirou a colher da minha boca, pegando mais uma porção do sorvete de baunilha.
Novamente, contato quase direto...
— Se me fizer comer mais uma, eu te mato! — Seu dedo estava apontado em minha direção.
— Não vou te obrigar. — Peguei uma colher cheia. — Mas isso está bom pra porra!
— Como pode ser um filósofo, se fala muito palavrão?! — Ela me empurrou.
— Foram os seres humanos que decidiram qual linguagem iriam usar como normativa. Não tenho nada a ver com isso. — Era bom vê-la sorrir. Era quase impossível saber que a alguns minutos a mesma garota estava totalmente fraca. — Na minha filosofia, não nos importamos com o modo de falar! Somos todos humanos. Todos temos sangue correndo por nosso corpo, e ossos que nos sustentam.
A última frase não era minha. De forma rápida me lembrei da primeira vez que ela foi dita. Não por mim.
"Sabe Will, as pessoas são indiferentes. Costumam apenas observar as coisas, e julgam as pessoas sem conhecê-las. A verdade é que, não importa quem somos, ou o que decidimos nos tornar, somos todos humanos. Todos temos sangue correndo por nosso corpo, e ossos que nos sustentam."
Ela me empurrou mais forte, jogando areia em mim.
— Você falar essas coisas me dá vergonha! — Ela estava vermelha.
— Por quê? Um garoto não pode tentar ser legal de vez em quando?
— Esse é o problema! — Agora ela estava me batendo de forma fraca. — Tudo em você é legal! Não consigo ver algo de errado em você!
— Eu sou pervertido, impulsivo, um pouco preguiçoso, sedentário...
Não continuei.
Esse é o momento. O momento que Will Belmarques passou uma linha imaginária entre ele e Ágatha. O momento em que a segunda dica do livro foi usada.
A segunda dica:
"Não podemos começar isso se não souber a verdade. Então, garoto, me escute. Na verdade, leia isso!
Pegação VS Atenção."
— O quê? — Ágatha me perguntou, afinal, eu estava olhando demais para ela.
— Nada.
"Se a garota que quiser for só uma pegação, então pare por aqui. Isso mesmo. Pare de falar com ela, e jogue esse livro fora. Até queime se quiser.
Só. Pare! Antes que seja tarde demais."
— Eu estava mal, Will — ela disse. — Naquele dia, eu só queria conversar com alguém. Só queria... Parar de pensar em algumas coisas.
— Que coisas? — Ela não estava olhando para mim, por isso, repeti a pergunta: — Que tipo de coisas, Ágatha?
"Tanto para você, quanto para ela."
— Eu sou uma pedra, Will. — Agora ela estava olhando para mim. Suas mãos passavam pelos próprios braços, como se sentisse dor. — Não só para mim, mas... Para os outros. Eu... — ela parou alguns segundos. — Sinto como se estivesse à deriva. Como se nadasse e nadasse, e... Por mais que sinta estar vendo terra, ela nunca chega. E eu estou assim. Nadando há muito tempo. Tentando há muito tempo, mas nunca saindo do lugar. Sempre voltando e voltando, e NUNCA avançando!
Coloquei o pote de lado.
"Mas... Se for sério, então, precisamos conversar. Se for sério, garoto, então escute ela."
— Eu já me senti assim. — Levei o olhar para o céu. Estava azul, mas não totalmente. As nuvens ainda estavam lá. — Há alguns anos eu e... meus antigos amigos, fazíamos muitas coisas que não são julgadas como certas. Mas estávamos vivendo. Estávamos... Tentando viver.
Ágatha passou o dedo pelas siglas tatuadas na minha clavícula.
— VLV... Igual a série "Viva La Vida"?
— Quase. Significa: "Viviendo La Vida".
Ela ainda tinha o dedo posto em cima daquelas três siglas. Eu só desejava que ela descesse a mão cada vez mais. Ela tinha minha total permissão para isso.
— E acha que... está conseguindo? Que... está vivendo?
— Sim. — Sorri, agora segurando sua mão. — Sinto que estou vivendo da melhor forma possível.
Ela tirou a mão, e eu, voltei a comer meu sorvete.
A água ainda se mexia. A areia ainda voava. Pedras...
"Apoie ela. Fique do lado dela.
Ame ela. Ame de verdade.
Mas só vai saber se ama ela de verdade, quando notar que quer que ela seja feliz, e que quer sentir que ao menos 1% disso, foi por sua causa."
— Você não é uma pedra, Ágatha — resolvi dizer. — Não para mim. Para mim, você... — Lembrei das linhas. Os dois extremos. O mar estava à minha frente, mas os olhos azuis dela lembravam o mar. Seu cabelo era tão loiro que mais parecia um reflexo do sol. As linhas. Ela talvez estava no meio dela. Talvez...
— Eu o quê, Will? — Ela sorriu. — Se me disser que eu faço da sua vida melhor, eu vou olhar para você e dizer que não acredito.
"Você vai querer sentir que pode fazer aquela pessoa melhor. Que ela é importante para você a esse ponto"
— Então, não vou falar. — Levei a última porção do sorvete a boca. — Você já sabe minha resposta.
Ela sorriu. Não sei se gostava das coisas engraçadas que eu falava, ou se só tentava ser gentil. Para à minha sorte, ela mesma me deu a resposta.
—Você é um cara legal, Will. Eu... Queria que as pessoas fossem mais legais. Gostaria que... O mundo não fosse tão podre.
— Então, venha para à minha escola. — Sugeri. — O grupo que eu ando é bem peculiar. Muitos doidos juntos, mas todos, pessoas legais.
— Está mesmo me oferecendo isso? — Ela sorria.
— Claro, por que não? A escola está fechada até Quarta-feira feira, para uma reforma nos banheiros. Enfim, com certeza alguns alunos vão dar o fora. É a sua chance. — Ela pareceu pensar. Ou estava fingindo muito bem. — Não vai estar sozinha. Vai poder falar comigo sempre que precisar.
A reforma era para consertar as privadas que estavam entupidas. Os alunos tinham a mania de mostrar que estavam insatisfeitos fazendo algo contra o próprio colégio.
Depois da volta as férias ficamos por duas semanas tendo aulas aleatórias, por causa da falta de professores. Agora que tínhamos professores de cada área, a revolução nas privadas foi a forma de mostrar que estavam insatisfeitos com as escolhas. Nem todos eram ruins. Me perguntava porque eles se importavam com aquilo, já que em poucos meses não veríamos mais nenhum deles.
Ágatha se levantou, então, fiz o mesmo. Seus passos até mim foram curtos. Senti as mãos dela entrarem dentro do bolso da minha blusa de frio.
— Então, ficaria do meu lado, Will Belmarques? Uma garota ferrada? Por quê? O que quer?
"Isso é amor. Isso, é o que faz sua garota cruzar a segunda linha."
— Eu... Me importo com você. — Hesitei. Hesitei muito, até perceber que ela não estava negando. Coloquei minha mão em sua cintura, e a trouxe para perto de mim, até chegar à um beijo. — Me importo muito.
— Eu... Quero acreditar que sim — foi o que ela disse.
◆◈◆
Abri às duas portas, e entrei. Comecei a bater os dedos no balcão enquanto ele tinha a mão estendida na minha direção, me mandando esperar. Fiz sinal para que se apressasse, e até mesmo dei um falso sorriso as pessoas que estavam na fila. Quando elas foram embora, e tive seus olhos direcionados na minha direção, finalmente disse o que estava preso na minha garganta:
— Eu amo ela! — Victor arqueou a sobrancelha, mostrando o quanto não estava entendendo. — Eu... Eu quero que ela ultrapasse a outra linha!
Victor novamente fez sinal para que eu esperasse. Sua outra mão apertava o espaço entre seus olhos, enquanto um meio sorriso estava estampado em sua cara.
Eu achei que era provocação, mas não era, ele estava feliz!
— E a Emília? — Foi sua primeira pergunta.
— Ela é uma garota legal. Eu realmente quero que ela encontre um garoto legal, mas... É diferente. Tudo é diferente!
Victor pegou os livros que estavam em cima do balcão, fez sinal com a cabeça para que eu o seguisse, e assim o fiz.
Enquanto o acompanhava, de vez em quando via-o colocando os livros que estavam sendo sustentados pelos seus braços em seus devidos lugares, passando de uma prateleira à outra, até por fim, o último acabar de ser posto em seu lugar de origem. E só então ele se virou de encontro a mim. Eu tendo agora a sua total atenção.
— E como você chegou a essa conclusão? Digo, de tudo que você acabou de me falar — Victor perguntou, e enquanto eu pensava em como responder a isso, vi ele escorregar até que chegasse ao chão e se sentasse. Acompanhei o seu movimento, aproveitando que, como estávamos sozinhos, ninguém reclamaria disso.
— Eu acabei de chegar do meu "encontro" com ela — rapidamente olhou para mim, querendo saber mais — quer dizer, não começou bem como um encontro, mas terminou como tal. — Victor balançava sua cabeça para cima e para baixo, dizendo que estava entendendo. Então, continuei: — Ela estava mal, precisando de mim, e pode parecer besteira, mas enquanto ela conversava comigo, trechos daquele livro que me deu apareciam em minha mente, como para me lembrar ou me fazer perceber algo que, sempre esteve bem na minha frente, e agora eu sei exatamente o que quero com ela.
— Fico feliz com isso. Por você já saber o que quer. E que além de tudo... Parece ser recíproco — suas palavras eram para demonstrar felicidade por mim, mas ao invés disso o que eu consegui captar era que, alguma coisa estava acontecendo, suas últimas palavras, juntamente com a entonação que ele usou para elas, diziam que de nós dois, quem estava na frente da nossa "competição" agora, era eu.
— O que aconteceu? — Perguntei, pegando de leve em seu ombro. Ele escutou às minhas palavras, então era mais do que justo que eu escutasse as dele. Estávamos nisso juntos. De alguma forma, ajudando um ao outro.
— Não, não vamos falar de mim agora, vamos continuar falando de você. — Estranhei suas palavras, mas em nenhum momento impedi que ele não continuasse. — Como você vai fazer? Você diz que ama a outra garota, mas ainda está com a Emília, como vai ser agora essa "relação" de vocês?
— Bom... — dei uma leve tossida e prossegui: — Ainda não sei se vamos continuar com isso por mais tempo, ou não. Mas uma coisa é certa: tenho que conversar com à Emília, até porque ela mais do que ninguém precisa saber disso.
— Trate de conversar com ela logo! — Abruptamente ele se levantou do chão. Seu tom, suas palavras, nada condizia com o Victor. Algo estava errado...
— Mas qual é o seu problema? — Também me levantei.
Ele não estava mais relaxado como antes, seu corpo agora reagia de uma forma completamente diferente. Comigo.
Só que antes que pudéssemos ouvir alguém chamando seu nome, eu pude ver melhor seus olhos, notando assim que ele estava com um aspecto cansado.
Cansado de quê? De... tentar?
— Victor, não pode ficar com raiva de mim por estar tentando. — Senti que ele queria muito me dar um soco. — Você deveria tentar falar com à garota que gosta também.
— Sabe qual é o seu problema, Will Belmarques?! — Ele apontava o dedo em minha direção. — Você acha que, todos podem ser como você, mas... Nem todos podem.
Ele pegou alguns livros que estavam jogados em um lado da prateleira, e o arrumou nos braços, dando as costas para mim.
— Victor, eu não quero que você seja como eu, na verdade não seja! — Eu o seguia. Ele, tentava calmamente arrumar os livros em seus braços. — Sua vida parece ser muito melhor que a minha.
Ele colocou um livro no lugar, e voltou a olhar para mim. O azul de seus olhos estava intenso. Ele realmente queria me socar.
— Melhor? — Ele controlava o choro. — Sabe como é usar o mesmo moletom por três anos seguidos, porque seus pais além de gastar o dinheiro com o necessário, ainda compram antidepressivos para eles e sua irmã? Sabe como é comer sozinho, no quarto todos os dias, porque não sabe como falar com à sua própria família? — Ele deu passos em minha direção, ainda me olhando nos olhos. — Você por acaso já esperou sua irmã do lado de fora da UTI de um hospital porque ela não quer comer?
Não respondi. Meu silêncio mostrava que não.
— Você Will, teve tempo — ele parecia estar se controlando para não chorar. — Teve amigos, namoradas ou ficantes, mas eu passei quase à minha vida toda sendo o único amigo que à minha irmã tinha. Diferente de você, eu não sei lidar com garotas. Nem mesmo as entendo.
Ele deu dois passos para trás, mas dessa vez, fui eu quem pegou os livros deixados em qualquer lugar por bagunceiros.
— Eu também não entendo elas. — Dei dois livros para ele. — E você pode não ter tido amigos, mas agora você tem.
Fui para a prateleira de mistério, e ele para a de romance. Cada um, em sua própria área.
— Eu não sabia que tinha uma irmã — falei alto, para que ele me escutasse. — Tem algo que eu preciso saber para quando à minha nascer?
— Elas são irritantes quando se apaixonam — escutei a voz dele. — Minha irmã desenhou corações em vários lugares. Quando brigamos, ela também gosta de jogar na minha cara o quanto ele é perfeito.
Existe alguém perfeito? Se sim, gostaria de conhecer essa pessoa. Talvez corrompê-lo um pouco.
— Suponho que você também fala sobre o quanto a garota que você gosta é legal. — Coloquei o último livro no lugar, bem na estante "F", e comecei a ir até onde ele estava.
— Não. Eu evito dizer as coisas que acontece comigo para ela. A verdade é que... Às vezes, eu tenho medo de ferir à minha irmã, e por isso, não sei o que falar.
— Não é bom com as palavras. — Parei a seu lado. Ele estava levemente encostado na prateleira comigo agora tampando o sol que entrava pela janela à minhas costas. — Já tentou mandar uma carta? Ou um poema?
— Para à minha irmã ou a outra garota? Se for minha irmã, eu tento da minha forma mostrar que me importo, mas às vezes eu acho que ela pensa que está sozinha. A verdade é que meu pai reza todos os Domingos por ela, e minha mãe se fere por ela própria se ferir, e eu... Não sei mais o que fazer.
— Você está me enrolando — comentei. — Ainda não disse nada sobre a garota que gosta, sendo que eu já falei até sobre os meus detalhes sórdidos.
O rosto dele ficou vermelho. Não sabia se era pela reação de ter se lembrado das coisas que eu disse, ou, se pensar na garota que ele gostava provocava isso.
Talvez, fosse toda a situação que o envolvia desde à infância que fizeram com que Victor acabasse se tornando um garoto sensível. Alguém que, tentava ver bondade nas coisas; esperança na ruína; alguém que amava calado, preferindo ver a felicidade dos outros.
— Ela é... Incrível — os olhos dele estavam no teto, mas pareciam ir acima dele. — Forte, e... Positiva. Alguém que faz o melhor pelos outros. Alguém que... É boa demais.
— Está se descrevendo? — Perguntei. — Victor, tirando a sua inocência, vocês me parecem um tanto quanto iguais.
— Eu não sou inocente! — Protestou. — Eu já beijei alguém.
— Que se eu adivinhar foi ela. — Ele olhou para mim. Estava um pouco irritado. — E se eu puder apostar: em um jogo.
— Não, ela... Me beijou. Ontem. Na festa — e depois disso, ele foi caminhando, sem nem olhar para trás; para a pessoa que o chamava.
Will Belmarques às vezes é tão burro!
◆◈◆
Chegar em casa seria a cereja do bolo desse meu dia mais que perturbador.
Emília já não estava mais em casa. Mesmo do lado de fora não conseguia mais escutar sua voz, e seria até mesmo estranho se ela ainda estivesse. Tínhamos ido para minha casa de manhã, e já eram quase sete horas da noite.
Passei praticamente o dia todo fora.
Como será que — não digo nem por Emília —, minha mãe se comportou na frente dela, e do meu pai?
Meu Deus! Meu pai!
A melhor definição para aquele momento seria: inacreditável.
Segui em direção ao meu quarto, e assim que entrei me joguei na cama, descansando por alguns segundos meu corpo do qual precisava de alguns cuidados. O celular de alguma forma me incomodava, então me sentando agora na cama, retirei ele do bolso, me lembrando de Emília. Eu tinha deixado ela sozinha. Fui em busca do seu nome na minha lista telefônica. Assim que acho rapidamente lhe escrevo uma mensagem.
"Me desculpe por hoje, eu não achei que fosse demorar tanto. Mas me diz, como foi aqui em casa?"
Enquanto esperava por alguma resposta sua, retirava a roupa que usava. Precisava de um banho.
"Seus pais são legais. Principalmente sua mãe. Ficamos conversando por algumas horas, até que, percebi que estava tarde, e disse a ela que tinha que voltar para casa"
Claro que ela seria legal com você, Emília, ela acha que eu gosto de você! Ela não seria diferente.
Emília não precisava de uma resposta da minha parte, até porque eu lhe fiz uma pergunta e ela me respondeu, simples assim. Mas quando ia mandar mais uma vez um pedido de desculpas, por ela ter tido que ficar sozinha com eles, minha mãe juntamente com meu pai, aparecem no meu quarto.
— Foi muito desrespeitoso deixar a garota aqui, sozinha, Will — meu pai começou. — Aonde você foi?
Eu sinceramente não queria responder. Não queria falar sobre os lugares que fui, com quem passei. Ainda mais com ele, que na maioria das vezes me ignora.
— Deixe ele — minha mãe falou para meu pai, o advertindo, depois se virou para mim. — Só assim eu conheceria ela melhor. Sem interrupções. — Sorriu, alegremente.
Tentei ao menos dar um meio sorriso.
Depois disso, eles deixaram meu quarto. Mas, antes de fechar a porta, minha mãe disse 4 palavras que para mim não surtiram o efeito devido, mas que para ela, surtiu e muito.
— Ela está aprovada, Will.
Enquanto ela fechava a porta, eu só pensava na grande merda que eu tinha me metido. Aquela bagunça ficava cada vez mais difícil de explicar.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top