10 = (con)Tente

Acordei em pleno sábado, às cinco horas da manhã, graças à uma consulta de rotina da minha mãe.

A consulta na verdade seria às oito, mas eu tinha que deixar alguém cuidando do gato — que minha mãe ainda não tinha conhecimento —, e uma pessoa aceitou a ideia sem resistir.

Coloquei Centuries do Fall Out Boy, e olhei novamente na sacola de papel; ele estava lá, todo enrolado, e nesses três dias consegui perceber que meu gato era muito preguiçoso.

O que me fazia acreditar na ideia de que os animais se assemelhavam aos seus donos.

Quando o ônibus parou, Sarcasm tocava, e por isso, entrei pela porta deslizando, enquanto imitava uma guitarra.

Arraiá me viu, e começou a me imitar, enquanto balançava os cabelos longos. Seus dedos imitavam uma guitarra, trocando acordes e, fazendo rifles, enquanto eu mais parecia estar tocando um violão.

Era visível qual de nós dois realmente sabia tocar uma guitarra.

Quando a música acabou, tirei um dos lados do fone, e fiz um toque em sua mão.

— "Sarcasm"? — Ele perguntou, e apontei para ele, mostrando que estava certo. — Veio treinar sozinho de novo?

— Não, hoje vim me encontrar com uma garota. — Um sorriso nasceu em seu rosto, junto com um "humm", bem longo.

— Por falar em garota, eu contratei uma gata nova. — Ele tocou meu ombro, me guiando para dentro do lugar. — Parece mais seu estilo que o meu, mas...

Arraiá parou de me guiar, e apontou para uma garota que estava atrás do balcão. Ela usava o mesmo vestido que Felicity. Curto. Mas por baixo usava um short, e uma blusa de manga.

Subi o olhar até... Perceber que era ela.

— Bonita, não é? — Arraiá me perguntou, lançando um sorriso em minha direção. — Os clientes adoram conversar com ela. A clientela aumentou bastante.

— Os tarados aumentaram. — Consertei sua frase, ainda a inspecionando. — Se bem que eu não posso falar muita coisa...

Arraiá olhou de mim para ela, antes de começar a rir alto, o que fez com que ela olhasse para nós, assim como outras pessoas.

Acenei de volta, e o puxei para perto.

— Eu não sei o que está acontecendo comigo! — Expliquei. — Ela... Meche comigo — disse, como se ele já houvesse percebido isso em apenas questão de segundos. — Cada palavra dela parece uma provocação, e eu... Acho que muitas delas são!

— Will, limpa a baba um pouco. — Zombou, passando o dedo no canto de sua boca. — É só ir até lá. Não precisa sonhar com ela de noite.

Ele tentava segurar o riso, mas depois que fechei a expressão, ele voltou a ficar sério. Suas mãos novamente foram até meus ombros, enquanto me arrastava até ela.

— Creio que já se conhecem. — Arraiá apontou de mim, para ela. — Esse é o Will. Will, essa é a...

— Ágatha — ela estendeu a mão a mim, mas não apertei. Estava ocupado demais olhando para ela. Pela primeira vez estava a vendo com maquiagem. Era impressionante o que alguns pós faziam. E diga-se de passagem, ela estava magnífica. Mais ainda.

Coloquei a sacola em sua mão, e ela a abriu, soltando um barulho fofo quando viu o gato.

— Já decidiu um nome? — Ágatha perguntou, sem me dar a mínima atenção, já que agora só tinha olhos para o gato, ao mesmo tempo em que o acariciava.

Porra, como eu queria ser esse gato...

— Não tive tempo — decidi dizer.

— Poderia ser Will. Afinal, ele é mais sortudo que você. — Arraiá novamente destilava sua zombação, e eu só fechei meus olhos diante disso.

— Ou Pierre Júnior — Felicity o entregou o espanador. — Porque a preguiça é a mesma.

Ri com vontade, não me importando com o fato dele ser o dono.

— Se não fosse tão bonita eu te despedia — Felicity estava de costas, indo arrumar as bolas de boliche, mesmo assim, levantou o dedo do meio, para ele, do qual rapidamente comentou: — Ah, eu adoro essa mulher!!

Pier... Arraiá, olhou para nós antes de ir espanar a prateleira de troféus. Todos, do time de Hockey. Nós.

— Deve ser legal — a garota a minha frente disse, enquanto se inclinava um pouco para poder ver todos os troféus. — Fazer algo que renda reconhecimento, e fama. Algo que te faça sentir útil.

Coloquei os braços no balcão, e levemente olhei para os troféus.

— São apenas troféus. — Comentei, não me importando muito. — Não tem fama, ou glória. Quando olho para eles, só lembro das tardes que pedir treinando, quando poderia estar fazendo outras coisas.

— Que tipo de coisas? — Perguntou, enquanto virava o olhar diretamente a mim. Nossos rostos estavam muito próximos.

— Algo como... — me aproximei mais ainda. Vi um certo brilho nascer em seu olhar. E decidi brincar com isso. — Jogar videogame.

Ela concordou, e sorri, ao ver que ela esperava uma resposta diferente da que eu dei. Com isso caminhei em direção a saída. Havia muita coisa que eu tinha que fazer.

— Posso ficar com ele até quando? — Ela gritou, para que eu pudesse escutar.

— Eu busco ele ainda hoje. Venho buscá-lo á noite — gritei de volta.

Dei dois tapinhas nos ombros do Arraiá, me despedindo, e até mesmo voltaria a colocar os fones, quando ela novamente gritou algo a mim:

— Deveria escutar Company! — Quando escutei ela dizer isso, tirei os dois fones, voltando alguns passos para trás. — Da Tinashe. É uma música boa.

Fiquei alguns segundos vendo ela acariciar meu gato, enquanto sorria.

— Já escutei essa música — sorri de volta. — Gosto dela.

Eu também — a vi olhar para mim, rapidamente, e com um concordar de cabeça deixei o estabelecimento para trás, voltando a colocar os fones. E só quando já estava do lado de fora foi que parei para xingar.

Porra! Ela realmente estava me testando!

Estava brincando com meu psicológico vendo até aonde eu iria. Provocando, e voltando atrás, querendo me manter fixado nela.

Era um péssimo truque, mas que funcionava.

◆◈◆

Homens de jaleco branco zanzavam pelo espaço, com mulheres vestidas de azul passando com pranchetas na mão, ou conversando sobre alguma coisa.

Eu estava sentado no banco, do lado de fora da sala.

Eu sempre acompanhava minha mãe, mas nunca entrava. Nem mesmo... perguntava a ela sobre.

Talvez, no fundo, eu ainda tivesse um certo receio de Melissa. Eu já tinha me acostumado com a ideia de ser sozinho. De escutar somente os barulhos externos quando ninguém estava em casa, e em alguns meses teria companhia.

Me sentia inseguro.

Eu nunca poderia ser igual o Felipe. Nunca poderia me adaptar, e ainda assim, cuidar de alguém ao ponto de me orgulhar daquilo. Da própria pessoa me agradecer por isso. O que Felipe conseguia com Gabi.

Mesmo brigando, Gabi sempre demonstrava de alguma forma que sabia o quanto ele se sacrificava por ele. No fundo, era grato pelo irmão.

Se Melissa nascesse com algo semelhante, eu simplesmente não saberia como agir quando ela tivesse uma crise, porque... O simples fato de ter visto Gabi surtar, depois de um dos nossos jogos, me fez ter medo.

Não dele, mas... Do que eu faria. Medo do quanto Felipe sabia o que fazer, e medo de ter que agir em uma situação semelhante, porque... Eu sabia que não faria o correto.

Naquele dia, eu somente observei, enquanto ele acalmava o irmão.

Então, sim. Eu tinha medo. Acima de tudo, medo de sair do meu silêncio, para encarar um novo barulho. Um barulho desconhecido.

Fechei os olhos, querendo evitar o contato da luz florescente, e só voltei a abri-los porque agora conseguia lembrar com clareza de tudo que aconteceu naquele dia. Agora, me preocupava com Felipe também.

Desbloqueei a tela do meu celular, e pausei a música, enquanto entrava no aplicativo.

"Ei, Felipe. Tudo bem, mesmo? Se estiver mal, fale conosco".

Ele provavelmente estava dormindo, assim como metade do México.

Enquanto olhava para as conversas, me peguei pensativo. Decidi conversar com Emília. Ela sempre acordava às cinco horas da manhã para ver o nascer do sol do telhado de sua casa, então, ela não só deveria estar de pé, como já deveria estar se preparando para uma corrida matinal.

Eu invejava a disposição dela.

"Emília? Pode falar, agora?".

Voltei a bloquear a tela. Emília não gostava de tecnologia, então, sua resposta demorou a chegar.

"Claro que sim, do que vamos falar?".

Pergunta interessante a sua, há várias coisas que podemos falar. Mas, nesse momento eu só quero conversar com ela sobre à sua paixão.

"Antes de mais nada gostaria de saber se não estou te atrapalhando. Sei muito bem que você uma hora dessas já deve estar em cima de seu telhado, para observar o seu tão admirável sol".

Vários emojis rindo, logo aparecem em minha tela.

"Como você sabe disso? Por um acaso, está me vigiando? E não, você não nos atrapalha. O sol e eu temos um relacionamento aberto, sabia disso? Então, não se preocupe, ele sempre deixa mais um lhe admirar".

Ri por conta de suas palavras; enquanto certas pessoas quando acordam pela manhã são extremamente estressadas, Emília não conseguia perder o bom humor, e digo isso pois segundos depois de sua mensagem, ela resolveu me enviar uma foto dela, deitada em cima de seu telhado, com seu braço cobrindo seus olhos por conta do sol que estar batendo bem em cima dela. A foto veio acompanhada de uma certa legenda peculiar:

"Ele gosta quando curtimos ele".

Dessa vez não consegui me segurar, e comecei a rir bem alto, tanto que, as poucas pessoas que também estavam esperando do lado de fora da sala olharam para mim, se perguntando o que um maluco estava fazendo por ali. Mas eu não me importava, e por longos segundos, ainda continuei a rir, até por fim cessar por completo, comigo imaginando como foi que a conversa tinha se transformado naquilo.

Lhe mando uma nova mensagem, seguindo o rumo da conversa mais louca e engraçada que já tive com alguém na vida.

"Imagino o quanto ele deve curtir mesmo. Aposto que ele deve estar queimando".

Sua resposta rapidamente chegou.

"Sim, e eu já estou começando a perceber as consequências disso. Preciso colocar um guarda-sol aqui em cima!".

Emília, em cima de seu telhado, com um guarda-sol.... Essa sim seria uma cena cômica!

"Quando você fizer isso, me chame".

De certa forma, conversar com Emília, fazia que eu me sentisse menos sozinho.

"Mas é claro, senhor. Você também quer admirá-lo? Olha, ele vai ficar muito feliz em saber disso! Mais um fã! E não se preocupe, aqui há espaço para nós dois".

Ela está me convidando para ir à sua casa?

Não era um pedido claro, mas ainda assim, era um convite. Dava para perceber isso. Ou então por ainda ser cedo, minha mente começava a me confundir.

Mas sendo ou não um convite, não iria ser de todo ruim. Além de namorados falsos, éramos amigos.

Uma nova mensagem dela apareceu na tela, fazendo com que eu me desperte.

"Fica aí a sua escolha, se você vem ou não. Não precisa me dizer agora. Só quando achar necessário. Vou aproveitar desse sol para a minha corrida matinal. Até mais, Will!".

"Até mais, Emília".

Com isso voltei a guardar o celular, e comecei a pensar um pouco sobre que resposta lhe dar, quando vi minha mãe sair da sala, com um largo sorriso.

— Podemos ir! — Falou, enquanto balançava levemente, parecendo muito feliz.

Minha mãe dava passos cruzados a minha frente, me olhando em intervalos distintos, enquanto suspirava muito.

Ela queria conversar.

— O que foi? — Perguntei de uma vez, para que ela parasse de me provocar.

Sempre quando ela fazia um ultrassom, sorria feito uma boba, na espera que eu perguntasse algo. Mas eu nunca perguntava, o que fazia com que ela ficasse o resto da tarde me evitando.

— Ela está lá, Will! — Exclamou, enquanto sorria. — Deu para ver. Ela está tão grandinha!

Minha mãe segurou minhas mãos, e de alguma forma isso se tornou um abraço.

— Daqui pouco tempo... — alonguei, e ela se desvencilhou de mim, com os olhos marejados.

— É... Daqui pouco tempo.

Devolvi o sorriso, enquanto apontava para porta do elevador, que tinha aberto.

Encostei na parede, e observei cada pessoa entrar pelo vidro em cima do teto.

Minha mãe sorria. Era ótimo vê-la tão animada.

Antes da gravidez ela usava muita metanfetamina, para ter estímulo para escrever. Isso resultou em vários livros, em um período curto de tempo.

Sua empresa agora cobrava o mesmo comprometimento, sem se importar de verdade com os motivos.

Em apenas um ano ela tinha lançado quatro livros, mas eles não sabiam que ela tinha virado muitas noites acordada. Muitas noites que ela escrevia, tentando manter os seus sonhos.

Essa foi a época que os dois se afastaram de mim. Mas eu também contribuí para isso.

Olhei novamente para a mulher ao meu lado, que passava alguns fios do cabelo preto para trás das orelhas, enquanto olhava sua pulseira, que media seus batimentos cardíacos.

Passei meus braços ao redor dela, a puxando para mais perto de mim. Ela deitou sua cabeça em meu ombro, apenas pelos poucos segundos que a porta não abriu.

— Não fique animada demais. — Adverti. — Quando ela nascer, pode dar trabalho.

— Não me importo! — Ela deu um giro de 360° graus, me dando um sorriso bobo. Escondi o rosto e me afastei dela, com ela entrelaçando seu braço no meu, como medida para não me fazer fingir que não a conhecia. — Você irá cuidar dela! Será o melhor irmão do mundo!

Ela parecia ter total convicção disso, mas eu duvidava.

— E se eu não conseguir?

— Aí eu chamo o Felipe para morar comigo. Adoro aquele garoto!

Isso arrancou um sorriso meu, e resolvi concordar.

— Ele com certeza seria bom.

Minha mãe apertou ainda mais o braço, enquanto pressionava seus lábios na minha bochecha.

— Não precisa se preocupar com isso, William. Você não precisa ser o pai. Só precisa ser o irmão que vai dar a ela conselhos sobre garotos.

Eu reduzi todas as minhas piadas ao máximo, porque, eu nem mesmo conseguia sair da tentação de uma garota, quando muito menos dar conselhos a alguém.

Eu na verdade precisava conversar com alguém, para conseguir tirar ela da minha cabeça.

— Mãe...

Aquela foi a segunda vez que pensei em falar a ela que estava namorando.

Mas... Eu não queria dar falsas esperanças, porque ela sempre foi o tipo de autora que até mesmo torce para seus protagonistas ficarem juntos.

Aquela que começa shippando, e termina shippando.

Desisti de dizer. Era melhor ter dito enquanto a confusão era menor.

— Poderia me arranjar dinheiro? — Pedi. O aniversário de Emília estava chegando, e eu esperava poder comprar algo.

— Dinheiro, de novo? — Ela estava desconfiada.

— Sim, uma amiga vai fazer aniversário. — O que de fato não era mentira. Emília é uma das pessoas mais legais que eu tive o prazer de me tonar amigo.

— Amiga? Você agora tem amigas?

Fiz que sim, de forma vaga, que barrava explicações.

Minha mãe me entregou o dinheiro, e demorou um tempo para soltá-lo.

— Eu confio em você — completou.

Não. Na verdade, ela queria dizer: "Me deixe confiar em você".

— É só uma amiga, mãe. — Guardei o dinheiro no bolso do casaco, voltando a olhar para ela. — Eu tenho que ir. Pode voltar para casa sozinha? — Perguntei, esperando muito que ela dissesse que sim.

— Ir aonde? — Era um interrogatório, e seus braços cruzados mostravam isso.

— No clube. Eu preciso... — Parei a frase. Não poderia deixar ela saber sobre o gato, ainda. Ela com certeza não receberia a ideia de boa forma. — Resolver alguns assuntos. Com o Arraiá.

Ela concordou, enquanto ainda me olhava. Pela sua expressão pareceu pensar sobre minha desculpa, e se fingiria ou não, ter acreditado.

— Pode ir.

Ela seguiu o caminho até o ponto de táxi, e eu fui para o ponto de ônibus.

Ela tinha uma reunião com o pessoal da editora, e eu ainda tinha que ir buscar o gato.

Morávamos longe da capital, então, o hospital que ela acabou fazendo plano de saúde era longe. Cerca de três horas com transporte público, isso, contando com o trânsito que sempre existia.

Voltei a colocar os fones, deixando na playlist dos Beatles.

Eu queria que minha mãe parasse de me interrogar, mas nem mesmo se faziam três anos. Nem mesmo... Tinha dado tempo de esquecer tudo o que tinha acontecido.

Me olhei no reflexo do vidro do ônibus, vendo a tatuagem. As siglas VLV ainda ficariam ali por muito tempo, gravadas na minha clavícula.

Desviei o olhar, tentando submergir na música.

◆◈◆

Balancei o cabelo, tentando me livrar da água. Tinha ao menos dado sorte do ponto de ônibus ser perto, o que me possibilitou de não me molhar muito.

As luzes do clube estavam baixas, com a maioria apagada. As do balcão eram as únicas que estavam quase todas acessas.

— Só você? — Perguntei, o que fez com que ela largasse a revista, e olhasse para mim.

— Já veio buscar ele? — Sua pergunta parecia vir com uma pontada de tristeza.

— Na verdade, está muito tarde. — Sorri, enquanto via o relógio exibir 11:09 PM. — Desculpa, quando ela faz esse tipo de coisa gosta de fazer todos os exames básicos juntos, então...

Ágatha concordou, e só quando não a vi com sua roupa de trabalho, foi que lembrei que eu tinha finalmente descoberto o nome dela.

Nos olhamos por um tempo, até ela explicar que ele estava dormindo, mas que tinha corrido por várias partes do clube, pulando em cima das coisas.

— Eu preciso te dar algo! — Com as mãos me pediu para esperar, e depois de ter entrado na área para funcionários, voltou com uma sacola. — Eu vi no Facebook que tinha sido seu aniversário, e... Eu quis dar algo que pudesse usar, e que precisasse, e... Você uma vez disse...

Enquanto ela explicava, eu abri a sacola, para ver o que tinha dentro.

— Sério mesmo? — Perguntei, enquanto segurava o pacote de meias. Enfim teria meias novas! Ela ainda explicava, mas eu estava tão feliz, que tentei dar um beijo em sua bochecha, mas ela se movimentava tanto, que acabou sendo em sua boca.

Nos olhamos por um tempo depois da minha breve ação. O choque não sendo maior que o raciocínio lento.

Foi ela quem engatou o beijo de novo, segurando nos meus cabelos.

Que se dane o pacote de meias!

Segurei em sua cintura, a puxando para o lado do balcão em que eu estava, com ela logo se sentando nele.

Meu corpo logo ganhou espaço por entre suas coxas, quando eu as afastei para que pudesse me aproximar mais dela, com suas pernas rapidamente se enroscando atrás de mim. Suas mãos apertavam meus cabelos, de forma leve, enquanto eu passeava minha boca por seu pescoço.

Temos algo chamado instinto, mas não vou ser a porra de um hipócrita, e dizer que a mão que desabotoava seu vestido era puro instinto. Assim como a mão que ela subiu pelo meu peito, também não era.

Só faltavam apenas dois botões, quando ela disse:

— Não... Não toque em mim.

OK. Isso foi um erro.

Não dela, mas meu. Porque não perguntei se ela queria isso.

A maioria das adolescentes deixam seu corpo a mostra. Seja por um short, saia, ou uma roupa decotada. Mas Ágatha se tampava como se tivesse medo de ser vista.

Temos segredos que cravam nossas peles.

A minha, estava gravada na forma de três siglas, que ela naquele dia beijou, assim como muitas partes do tronco.

Mas... Ela escondia o dela, de uma forma que até escondia dela mesma.

Coloquei as duas mãos no balcão, e com ainda a boca em seu pescoço, fiz pressão, e assim deixei uma marca.

Ela percebeu na hora, e me olhou de uma forma que mostrava que queria me matar.

— Acho que é uma boa hora de eu pegar meu gato, e ir embora. — Disse, e ela cerrou os olhos, antes de pular do balcão, abotoando o vestido enquanto ia até lá.

Voltei a pegar meu pacote de meias, e já pensava em como as esconderia.

Peguei a sacola que ela me estendia, com o gato olhando para mim de dentro dela.

Antes de ir, Ágatha me puxou, me dando um beijo. Sua língua se enrolava na minha, como se não fosse me soltar. Mas até eu mesmo não queria que ela fizesse tal coisa.

— Boa noite, gatinho — falou, enquanto tinha os olhos em mim.

Concordei.

O verdadeiro felino apenas olhava para tudo, e ele com certeza riria do sorriso idiota que eu manti no rosto.

Um completo otário. Idiota. Que agora escutava Pop. Que agora, escutava a música que ela tinha recomendado, aceitando a provocação.

Eu não preciso de amor

Então não torne isso alguma coisa, veja

Eu não sou como uma namorada

Eu não sou como alguém que eu deveria ser

E eu só quero um pouco de companhia, companhia

Eu só preciso de um pouco de companhia, companhia

Eu só preciso de um pouco de companhia, companhia

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