06 = Muito (f)Errado

"Sua chamada está sendo encaminha para a caixa de...".

Porra! — Exclamei, desligando o celular. — É sério isso, Victor?

Assim vamos acabar perdendo a boa chance de entrar na frente dos outros, e pegar bons lugares.

— E então? — Igor perguntou, ao meu lado.

— Só está caindo na caixa postal — respondi, e ao ver a fila começar a andar em direção aos "maravilhosos" lanches, comentei: — Acho que hoje perdemos...

Ainda com a cabeça para o lado, vendo o tamanho da fila, vejo Victor saindo, conseguindo se sentar em algum dos bancos.

Filho da p...! — Igor se controlou, tentando manter a calma. Ele pressionou as laterais do nariz, e respirou fundo. — Se ele não fosse um bom goleiro, eu juro que tiraria ele do time!

Não respondi. Esperei que chegasse a minha vez; a mulher me entregou uma barra de cereal. Quase o intervalo inteiro na fila, por uma barra de cereal!

— Acabaram as maçãs — ela explicou.

Rolei os olhos, e sai, deixando que eles também pegassem.

— Hoje nós perdemos — Jeff abria a sua barra de cereal enquanto de forma decepcionada, assim como todos nós, buscava um lugar para se encostar.

Como não haviam mais lugares para sentar, partimos todos — com exceção do Victor, que estava sentado calmamente em uma mesa; e do Felipe — para o lado de fora.

— Nem acredito que o final de semana está chegando. — Noah comenta, e todos nós sabemos exatamente o que ele quer dizer com essas simples palavras.

Que no final das contas não eram nada simples, pois querem passar: música alta, bebidas, mulheres e homens se esfregando uns nos outros, e às vezes, até mesmo drogas. Essa sim seria uma ótima definição para balada. Ao menos, as baladas que ele ia nos finais de semana.

— Temos que treinar — digo, relembrando o que já havia sido combinado, o que faz com que o mesmo dê um suspiro por causa disso, sabendo que esses dois dias seriam bem diferentes do que ele havia imaginado.

— Vamos treinar hoje, e nesse final de semana também. — Igor prossegue. — Treinar demais nunca faz mal. Ajuda a abaixar o estresse, e se livrar de problemas.

— Então você precisa treinar todos os dias, Igor — digo, entre mordidas finais na minha barra de cereal. — Está sempre estressado, e reclamando de problemas.

— Por falar em problemas... Aonde será que o Felipe se meteu? — Jeff pergunta por alto, sabendo que nem um de nós, e muito menos ele, sabem aonde ele está.

— O celular dele também só cai na caixa postal — respondi, depois de ter tentado ligar para ele mais uma vez.

Eu tinha ligado para Felipe doze vezes, desde que tinha chegado na escola, e ele não tinha atendido nem uma delas. Sabíamos o que aquilo poderia significar.

Merda.

— Vamos para a sala, o intervalo já vai acabar, e eu já estou cansado de estar em pé. Preciso descansar as minhas pernas para "mais tarde". — Noah faz aspas com as mãos, sabendo que só haveria treino.

Todos treinávamos sozinhos — quando dava vontade —, mas não tinha como bolar táticas de jogo treinando de forma individual. Se Felipe e Victor não aparecessem, tínhamos altas chances de perder o próximo jogo.

— Podem ir. Vou esperar a Emília — falei a eles. Precisava acertar contas com ela, e com Victor também. O primeiro a sair, claro, foi Victor, e segurei em seu braço, o puxando para o canto. — Victor, vamos treinar hoje. Esteja lá.

— Mas... — ele começou.

— Olha... estamos no mesmo time há um ano, e você nem mesmo atende nem um telefonema nosso! — Vi ele vagar os olhos, tentando desviá-lo de mim. O soltei, e dei um passo para trás. — Só apareça, por favor.

Victor concordou, e enquanto andava, tirou o telefone do bolso. Vi ele começar a mexer em algo, mas voltei a olhar para a saída, esperando Emília.

Senti algo no meu bolso vibrar, e meti a mão, tirando meu celular. O nome de Victor estava na tela.

— O quê? — Perguntei.

— Meu celular bloqueia contatos que não tenho. Agora você vai conseguir — se explica.

Ele ainda andava em direção a sala, enquanto falava comigo.

— Então pelo celular fala mais que três palavras? — Perguntei, e senti a pressão do riso dele alcançar o telefone. — Esteja lá.

— Vou estar. — Confirma.

— E a partir de agora guarde lugares para a gente. Fechado? Somos amigos.

Demorou para que a resposta viesse, e meus olhos ainda tentavam buscar Emília.

— Tá.

Ele mesmo desligou o telefone, e assim que fez, olhei para o lado de dentro do refeitório, vendo Emília sentada em uma mesa, sozinha. Guardei o celular no bolso, e parti em sua direção. A mesma percebeu que eu me aproximava, mas voltou o olhar ao que estava lendo.

— O que está fazendo? — Perguntei, espiando o que ela lia sobre os seus ombros.

— Meu diário. Quando ainda escrevia nele — diz, como se uma certa lembrança a invadisse de repente.

Me sentei ao seu lado, e li a página que estava aberta.

— É sobre o seu pai. — Não estava perguntando, estava afirmando.

Ela passou o cabelo para trás das orelhas, e concordou.

— Sim, é de quando ele ainda era casado com a minha mãe — ela folheou as páginas, até chegar em uma com folhas secas, presas. — Isso é de quando ele me levou para a floresta pela primeira vez.

— Floresta? — Franzi as sobrancelhas.

— É... — Alargou. — Quer ir? — Seu olhar se volta ao meu, e ela esperava pela minha resposta.

— Está me perguntando se eu quero me enfiar no meio do mato, com você? — Tinha um sorriso estampado no rosto.

— Isso mesmo — ela queria se manter de forma séria, mas, no final das contas acabou soltando uma risada.

Concordei, enquanto pegava o seu diário.

— Preciso te perguntar uma coisa. — Comecei a folhear as páginas, fingindo não me importar com o assunto que eu mesmo estava falando. — Se... assim... em caso hipotético, quisermos ficar com outra pessoa, o que...?

Olhei para Emília de soslaio, e vi a sua expressão confusa.

— Não tem problema. — Sorriu. — Desde que não deixemos ninguém saber sobre isso, ou algum de nós dois vai ser o corno da história.

Comecei a rir, e ela me acompanhou.

Senti a sua mão em meu ombro, me pressionando, com a sua voz saindo de forma séria.

— Espero que não deixe ninguém descobrir sobre a sua peguete, Will. — Riu um pouco por conta disso. — Fizemos um trato.

Concordei. Não teria paciência para discutir sobre aquilo. Garotas são assustadoras, quando se tenta ganhá-las em uma discussão.

— Certo Emília, mas deixe eu te esclarecer uma coisa. — Devolvi seu diário, e olhava diretamente para os seus olhos verdes claros. — Eu não vou manter a merda dessa aposta, e perder uma garota que gosto.

— Digo o mesmo — ela pegou o diário, e o colocou debaixo do braço. — Mas se quiser pegar a escola toda, faça isso sem que ninguém espalhe.

De acordo.

◆◈◆

Consigo, por sorte, pegar o disco para mim, depois de ficar por muito tempo atrás de Igor — caralho, ultimamente ele está muito bom —, só que essa "minha vitória" não dura muito tempo, já que logo Jeff chega ao meu lado, e antes mesmo que eu me preocupe em proteger o meu disco, ele o tira de mim, com vontade, e já parte em direção ao gol; porém, Victor sendo o "muro" que era, o barra rapidamente. O que faz o mesmo ficar triste — por não ter feito o gol —, mas feliz, pois já imaginava que Victor faria isso, mas só queria arriscar para ver se conseguia ganhar dele pelo menos uma vez. Era como se eles estivessem competindo. Assim como eu fazia com Igor, de forma secreta.

Me aproximei de Jeff, rindo pela cara que ele fez quando o seu gol foi barrado, e me virando para Victor, perguntei:

— Por que não veio direto do colégio para cá?

Victor arrumou os cabelos, e ainda olhando em minha direção, disse:

— Você me disse para estar, mas não disse a hora.

Vi os outros dois rirem da minha cara, e tentei não rir também.

— Boa resposta! — Sorri. — Vamos continuar, então. Vocês estão todos enferrujados!

O que em si, é uma grande mentira.

◆◈◆

Cansado.

Era exatamente assim que eu estava, depois de ter treinado com os garotos por mais ou menos duas horas seguidas.

Deitado em minha cama, para poder descansar melhor minhas pernas, rolo postagens do Instagram, e em um determinado momento não presto mais atenção nelas, pois a minha mente me levou para um outro lugar; mais especificamente, me levou de encontro a uma garota.

Aquela garota, de cabelos loiros e lindos olhos azuis.

Lind...

Novamente, para manter minha dignidade, deixarei que os detalhes sejam omitidos de forma completamente desavergonhada e seca.

Apenas gostaria de ressaltar que, pensamentos pervertidos vieram, e em respeito as garotas que ainda estão lendo isso, crentes de que sou igual ao Vincent, deixarei que continuem se iludindo.

Meu celular vibra em minhas mãos, e eu me desperto.

Mais que porra!

Abri a mensagem, sabendo que era de Emília.

"Como amanhã é sábado, você quer vir comigo naquela floresta que eu te disse?".

No meio do mato? Com a Emília...? Isso pode ser muito i-n-t-e-r-e-s-s-a-n-t-e.

"Claro! Que horas iremos?".

"14:00 horas, estaria bom para você?".

"Sim, está ótimo. Nos vemos amanhã" .

Como Emília tinha estragado meus pensamentos com aquela garota desconhecida, volto a encarar a tela do meu celular, vendo se alguma coisa na Internet me interessava, até que, não se passam nem dois minutos direito, e a minha mãe bate na porta do meu quarto, avisando que o jantar está pronto.

Quando eu cheguei em casa ela já estava preparando o que iríamos comer, e eu simplesmente sorri por isso; por ela se lembrar que tem uma casa, uma família, um filho, e não só seus livros.

Me levanto da cama, e guardo meu celular no bolso da minha bermuda; abro a porta do meu quarto, e ao encostá-la, sigo em direção a cozinha.

Vendo que ali, minha mãe já colocava a panela em cima da mesa, como forma de ajudá-la vou em direção ao armário e retiro dele dois pratos e talheres, logo colocando os mesmos em cima da mesa, em lugares um perto do outro. Rapidamente ela pega um prato e começa a colocar comida nele, mais especificamente arroz, feijão e carne. E quando pega o outro prato, sorri para mim.

Adoro quando ela está assim, sorrindo aos ventos, como se a sua áurea estivesse iluminada.

Com certeza aconteceu alguma coisa.

Nos sentamos na mesa, e começamos a comer silenciosamente, até que, querendo saber mais sobre o que houve com ela, lhe pergunto porque está tão feliz assim.

— Ah Will, estou feliz porque consegui terminar um capítulo do livro. Um capítulo muito difícil por sinal! — Reforça, só para que eu saiba o tamanho da importância que isso tem para ela.

— Que bom. Como o Vincent está agora?

— Continua gato e rico. — Começa a rir, e eu reviro os olhos —, mas agora ele e a Cassandra brigaram.

Hum... — Levei a colher a boca, e o seu sorriso no canto dos lábios dizia que ela tinha tentado escrever uma cena hot. — Mãe... Você não repetiu o caso da beringela, repetiu? — Perguntei, com o meu ser morrendo de medo de sua resposta.

Seu rosto ficou vermelho, e em resposta ela bateu a mão na mesa.

— Era só um rascunho, Willian!

— Era uma beringela! — Exclamei. — Até hoje não sei como raios aquilo... iria... Meu Deus! — Bati na minha própria cabeça. Imaginar aquilo já era traumatizante demais. — Uma beringela!

Minha mãe escondeu o rosto nas próprias mãos, enquanto abafava o riso.

— Ficaria diferente. — Tentou argumentar.

— Era uma beringela, minha senhora! É como tentar enfiar uma tora de madeira no buraco do prego! — Ela finalmente desistiu de segurar o riso, e estava gargalhando. — O quão desastrosa ficou essa cena? Já me avisa para não me deixar traumatizado de novo.

— Ficou... normal... — Suas divagações na resposta me diziam exatamente ao contrário. Não ficou nada normal.

— Dona Madalena, quer por favor olhar para mim enquanto afirma isso? — Pedi, e vi ela ainda cortar a carne em seu prato. — Meu Deus...!

— Estou brincando, Willian! — Sorriu, olhando para mim. — Eu... tenho que me desculpar. Aquele velho rabugento brigou com você, não foi? — Suspirei, concordando de forma leve. — Sinto muito por ter que cuidar 24 horas por dia de mim — ela suspirou de forma pesada. — Você nem mesmo tem tempo para arrumar uma namorada.

— Eu te... — Travei. Não prossegui o que iria dizer.

Existem vários tipos de autoras, e minha mãe, era de um tipo peculiar, que quase não existe, mas... que faz grandes estragos:

Minha mãe, era shipper.

Isso resume alguém que cria casais, e torce por eles. E minha mãe era esse tipo. Um dos piores dele.

Ela só tinha conseguido fazer final triste para um casal dela, e isso depois de eu escrever essa parte, e do editor aconselhar que seria melhor para o roteiro, já que tudo tinha sido desenvolvido para aquilo.

Exatamente por isso eu duvidava que ela deixaria Vincent e Cassandra separados por muito tempo. Provavelmente os faria voltar, depois de uma boa noite acordados e muitos gemidos.

Uma beringela...

Por isso, se eu dissesse a ela que estava "namorando", ela nunca aceitaria que eu terminasse com Emília. Nem mesmo se eu falasse toda a enrolada por trás da aposta. Ela ainda assim, nunca aceitaria.

Engoli as últimas palavras, como se estivesse engolindo pregos, e deixando que cada um descesse goela abaixo.

— Eu... — ri um pouco, querendo disfarçar meu nervosismo — tenho que ir falar com os meus brothers. Sabe como é.

Puta merda, Will! Você disse "Brothers" mesmo?

Praticamente engoli a comida de uma vez, e me levantei para lavar os pratos. Enquanto isso, minha mãe ajeitou a cozinha.

Meu celular começou a vibrar em meu bolso, mas como estava ocupado, e ainda por cima com as mãos molhadas, deixei tocar, até que as mensagens cessaram, e o toque parou.

— Pode ir pro seu quarto agora, Will. — Olho para ela, que parou bem ao meu lado. — Pode deixar que eu termino com isso, aqui — diz enquanto pega o pano de prato de cima do fogão, para logo em seguida retirar o prato de minhas mãos. — Vá conversar com os seus amigos. Parecem que eles insistem mesmo em falar com você — abaixa a cabeça para indicar de onde vem o som, mas logo a levanta, para encontrar os meus olhos.

Sorrio.

— Ok. Vou estar no meu quarto. — Deixo ela fazendo suas coisas, enquanto saio da cozinha, indo de encontro ao meu quarto.

Ao tirar meu celular do bolso, leio todas as mensagens escritas pelos meus amigos.

"Como vai ser amanhã?"

"Iremos em que horário?"

"De manhã, não. Por favor!"

"Vamos à tarde mesmo, igual como fizemos hoje, às 14:00 horas"

"Todos estão de acordo?"

Cinco garotos do time responderam "sim", incluindo o Felipe que somente apareceu perto do final do treino. O único que faltava dar resposta era eu, que não estava de acordo.

Não quando eu aceitei sair com Emília no mesmo horário.

Não podia deixar o time na mão. Mas também não podia deixar a Emília na mão.

Ah merda, estou completamente ferrado!

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