Minha Vó Implicante

Milena's point of view

Fazia um tempo que cheguei para o almoço na casa dos meus tios e as perguntas sobre nossas vidas não paravam.

— Onde está sua aliança? — pergunto ao ver que a mão de Bianca estava sem a pedra preciosa de ontem.

— Não quero meus pais me bombardeando com mais perguntas, depois do casamento irei anunciar o noivado em um jantar particular. — ela explicou.

— Não quer tirar a atenção do seu irmão, entendi. — disse e ela me olhou como se eu fosse louca. Bom, eu era.

— É só que...eles estão tão empolgados com tudo e o noivado é recente.

— Quando o bonitão te pediu em casamento? — pergunto.

— Tem menos de um mês. — Bianca morde o lábio inferior, parecia nervosa.

— Uau. — exclamo. — Sua empolgação é contagiante. — debocho.

— Vamos almoçar. — disse Paula.

— Até que enfim. — disse minha vó.

Vamos pra sala de jantar onde tem uma enorme mesa já arrumada. Sento entre a Sophia e o Nathan. Júlia senta do lado das amigas dela e a Bianca da Ally e da Anne rindo de alguma coisa. Brayan estava do lado do Nathan e logo depois vinha minha vó. Quando a comida é servida eu começo a comer enquanto a conversa rola. Olho pra Ally enquanto ela ria de algo que a Bianca falava. Ela é bem bonita, com o cabelo preto um pouco grande, pele bronzeada e olhos chocolate. E o jeito fofo enquanto fala. Ela parece ser bem nova. Uns 19 anos, por aí?

— Por que você está encarando a amiga da Bianca?— Nathan pergunta no meu ouvido somente pra eu ouvir.

— Eu não estou encarando ninguém.

Ignoro ele e volto a conversar com a Sophia.

— Eu não fazia muita coisa na faculdade. — disse Anne.

— Ah! mentira. — disse Brayan rindo.

— Você não aprontava nada? — Sophia pergunta.

— Não. — disse Anne.

— Eu vou te expor. Ela fazia muitas coisas. — disse Bruno.

Anne olha pra ele com uma expressão séria e ele da um sorriso sem jeito.

— Só coisa boa, só coisa boa. — disse Bruno.

Começo a rir com eles dois. Ai como eu senti saudade deles.

— Eu não fiz faculdade, mas adoraria ir pra Julliard cursar artes cênicas. — disse Bianca.

— Pra que? Você já é formada em artes cínicas. — disse Bruno.

— Eu também não fiz faculdade. — disse Brayan.

— Nem eu. — disse Sophia. — Mas pretendo cursar moda.

— Eu, Anne o Nathan e a Milena somos os únicos exemplos da família. — disse Bruno.

— Nathan, o que aprontou na faculdade? — Sophia pergunta.

— Bom, nada demais, apenas algumas festas. — disse Nathan.

— Temos um festeiro entre nós. — disse Bruno.

Todos nós rimos e voltamos a comer.

— De qualquer forma, lá era muito chato. — disse Nathan.

— Sabe, Milena nunca mencionou o curso que ela escolheu. — disse Bianca.

Arregalo os olhos e começo a tossir. Era só falar sobre a faculdade que eu não frequentaria, nunca mais. Afinal havia sido expulsa.

— Tá tudo bem? — disse Nathan passa a mão nas minhas costas.

— Tudo ótimo. — minto.

— Existe algum curso de serial killer? Aposto que ela escolheu esse. — disse Bruno.

— Na verdade eu estava fazendo arquitetura.

Olho pro Brayan que me olha de boca aberta. Ele muda de assunto logo depois, obrigada Brayan. Aposto que ninguém esperava por isso, se olhassem para mim nunca diriam que eu escolheria algo como isso pra fazer. Nathan foi obrigado a fazer arquitetura, mas eu não. Eu fazia porque sempre tive uma paixão pelos prédios que via nas viagens em família. E dizia para mim mesma que um dia desenharia algo tão bonito quanto eles.

— Pena que o namoro com a Rayane não durou, eu gostava dela. — disse Paula. Não lembrava em que momento tinha entrado no assunto: Vida amorosa do Brayan. E ela era muito movimentada pelo que conclui.

— Eu não, era uma patricinha mimada. — minha vó argumentou.

— Tão nova e já tinha mais plástica na cara que você. — Tio Luiz disse para a vovó.

O resultado foi todo mundo rindo e ela xingando todos nós.

— Olhe para a Anne, a única coisa que muda nela é o cabelo. Cada mês está de uma nova cor. — Nathan sorriu.

— Seria a nova Kylie Jenner? — Sophia brincou.

— Isso aqui é aplique crianças. — Bianca pegou duas mechas de cabelo da Anne entre os dedos.

— Tira a mão do aplique da minha noiva. — Bruno reclamou.

— Meu amor, você não está ajudando. — Anne murmurou.

Concordo com a cabeça enquanto gargalhava. Minha bexiga estava prestes a explodir, acontecia quando eu ria muito. Por isso corri para o banheiro.

— Voltem mais vezes. — tia Paula pediu, estamos no hall de entrada pronto para ir embora.

— Tchau netos queridos. — vovó apertou minha bochecha e dos meus irmãos.

Ao chegar à casa do Nathan resolvi assistir um jogo de futebol qualquer com ele. Sempre fui fã de esportes.

— E a Sophia?

— Não sei, ela só assistia aos jogos do flamengo. — digo.

— Como conseguiu sobreviver sem pão de queijo?

Vejo-o me olhando e balanço a cabeça.

— Foi uma tortura. — disse dramática.

Ele volta a fitar a televisão e eu pego meu celular. Mensagens e mais mensagens. Claro que eu não vou ler tudo isso. Jogo o celular do meu lado e olho pra televisão. Escuto a voz da Sophia enquanto assisto o jogo de futebol com o Nathan. Mas arregalo os olhos assim que reconheço a voz que estava falando com ela. Nathan olha pra trás.

— Mãe? — disse Nathan.

— Nathan, meu filho. — disse Dani.

Ele levanta e eu continuo olhando pra frente com o estômago embrulhado e um nó na garganta. Entre todas as pessoas do mundo, ela era a que eu mais sentia falta. Fico ereta mexendo os dedos encima da minha perna tentando não ficar nervosa, mas foi impossível.

— Mãe. — disse Nathan com um enorme sorriso.

— Desculpa não ter comparecido antes, mas deu um problema no carro. — disse Dani, minha mãe.

— Vicente é um péssimo motorista. — disse Nathan.

Dois anos depois do divórcio eu soube que minha mãe se casou novamente. Nunca conversei com o Vicente nem nunca o vi.

— Mas vocês não moram logo ao lado da casa dos meus tios? — Sophia pergunta.

— Não, faz anos que não moro mais lá. A casa ficava muito vazia sem vocês. — disse Dani.

Fala sério, pensei que ao menos com a mamãe a Sophia mantivesse contato.

Continuo sentada de costas pra eles. Fica um silêncio enquanto sinto que estou sendo observada. Então resolvo virar lentamente. Quando levanto a cabeça vejo minha mãe e um homem de cabelos grisalhos e olhos verdes, bem charmoso.

— Milena. — disse Dani com os olhos brilhando. Ela queria chorar?

Não digo nada, apenas levanto e caminho até ela enquanto sou tomada por lembranças dolorosas.

3 anos atrás....

Não aguentava mais ouvir meus pais discutindo. Isso tinha se tornado frequente e por mais que eles dissessem que estava tudo bem, eu sabia que não estava. Eu não era mais uma criança que não entendia das coisas. O casamento deles não estava indo bem.

— Mãe? Pai? Tá tudo bem?

Eles param de discutir e me olham. Paro com os punhos fechados. Dani olha pro Vitor e respira fundo antes de falar.

— Está sim meu amor, o que acha de jantar fora? Podemos chamar o Brayan. — disse ela com um sorriso sereno.

— O papai também vai?

Ela abre a boca e olha pro Vitor.

— Não vai dar, mas eu prometo te levar no parque amanhã. — disse Vitor.

— Você sempre quebra suas promessas.

— Dessa vez eu não vou quebrar. — disse Vitor.

— Eu vou falar com o Brayan. — digo dando uma última olhada pra eles antes de sair de casa.

Eu sabia que ele não iria me levar no parque, e eu sabia o motivo das brigas frequentes deles. Vitor não era mais um pai presente e nem marido presente.

Atualmente...

Sophia e Nathan sorriem para mim e eu desvio o olhar pra Dani. Molho os lábios e digo à palavra que não usava há muito tempo.

— Mãe.

Seu sorriso aparece e ela me abraça. Fecho os olhos apreciando aquele abraço que eu sentia tanta falta. Sem perceber meu rosto estava ficando molhado pelas lágrimas que caíram enquanto eu me afastava dela. Sorrio e olho para o homem ao lado dela.

— Vicente?

— Como é bom conhecê-la minha querida. — disse Vicente me puxando para outro abraço dessa vez entre todos.

Eu nunca pensei que me sentiria em casa de novo. Que me sentiria bem em algum lugar. À volta pro Brasil tinha mudado alguma coisa, eu só não sabia o que. Apreciaria o resto do dia ao lado da minha mãe e dos meus irmãos. Não tinha nada melhor que isso.

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