Capítulo 16 - Início do fim.
O general continua apontando a arma contra Kiame. Ele não mudou nada mesmo, o seu desejo de matança ultrapassa qualquer outra coisa que ele tenha parecida aos sentimentos. Por não prestarem a devida atenção aos pormenores, eles não conseguem ver o policial, que por tolice ou achar-se esperto demais, levanta e dispara contra a Shantelle uma primeira vez. A bala atinge o peito de Pastore que sacrifica-se pela vida da Shantelle. O policial dispara pela segunda vez e chega a atingir o braço direito de Shantelle. Ela e o Pastore caem ao chão. General dispara contra o policial, a bala atinge o seu ombro esquerdo. O policial dispara outra vez atingindo a perna de Reitor. General faz outro disparo atingindo a mão do policial que segura a arma, fazendo-o assim larga-la. Rapidamente general se aproxima do homem, com a sua mão esquerda segura o colarinho dele puxando-o para si, enquanto Reitor e a Shantelle prestam socorro ao Pastore.
– Como vocês encontraram esse lugar? Quem vos ordenou a vir até aqui? – General questiona apontando a arma contra a cabeça dele. Ele está com tanta raiva que não se importará em matá-lo ali mesmo – faz parte dele.
O homem parece querer dizer algo. General encosta seu ouvido até a boca dele e o homem conta algo que o deixa surpreso. Como sempre, ele não gostou do que ouviu e acaba por matar o policial aí mesmo. Matar não é algo que pesa na consciência dele, pelo contrário, faz com que ele se sinta mais vivo que nunca. Não se entende como tirar a vida de outrem pode dar essa sensação na melhoria de humor, para pessoas doentias. O general vira-se e olha para os seus colegas tentando socorrer Pastore. A cada passo que ele dá sente que é mais um desperdício de esforço para os colegas tentar salvar alguém cuja a bala furou o coração e a morte dele é tão certa quanto a corrida do tempo.
– Eu... amo... te – Pastore soluça enquanto tenta exprimir as últimas palavras.
– Eu também amo-te, Paulo – Shantelle chora. Pastore morre aos poucos... O ferimento no seu braço não se compara com a dor de perder o seu amor.
– Isso é desperdício de tempo – Diz o general – Vamos matá-lo e ir embora, senão vai nos atrasar e seremos presos
– O quê!? – Com o rosto de admiração Shantelle concentra o seu olhar no general – É esse o tratamento que ele merece depois de tudo que fez por nós? É assim que vai tratar à todos que estiverem nesta situação?
General não responde. Limita-se apenas a fazer um sinal com a cabeça apontando para Pastore. Shantelle e Reitor olham para ele e notam que a conversa é perca de tempo, Pastore já está morto. Shantelle não pára de chorar por ele. É fácil ver um ente querido alheio falecer, mas é difícil suportar a dor quando é connosco. É sempre difícil quando é connosco.
– Agora só resta lamentar e ser preso ou fugir e gastar todo o dinheiro que acabou de entrar na nossa conta
– E deixar o corpo dele aqui? – Pergunta outra vez Shantelle, em extrema dor.
– Ele tem razão – Reitor realça – Pode ser nosso amigo, mas é um peso morto. Vai fazer com que sejamos presos
– E outra coisa, eu pensei que era à mim que amavas – Diz o general.
– Eu nunca te amaria – Shantelle desabafa na cara do General – Você é um homem perturbado e louco de merda
General, sem exitação, dá um tiro no peito de Shantelle, ela cai deitada ao lado do corpo de Pastore – seu amado.
– O que se passa aqui? Você enlouqueceu? – Reitor não consegue acreditar no que vê.
– Não foi o que ela disse? – General não parece estar um pouco só arrependido do que acaba de fazer – Não nasci para ser corno. Agora pára de choramingar por essa vaca traidora e vamos gastar todo dinheiro que entrou na nossa conta. Só temos é que... – General vira-se e não vê Jurelma nem Patrícia – Onde é que elas estão?
Eles ouvem um barulho por trás, viram-se e veêm Kiame segurando a drive do computador principal. Kiame começa a correr, eles disparam contra o mesmo mas nenhuma bala consegue atingi-lo.
– Atrás dele – O general ordena a perseguição. Ele sabe o que tem na drive do computador principal, sem aquilo, eles não estarão totalmente seguros.
Eles usam a sua força máxima para ter maior velocidade e alcançar Kiame. General é muito veloz e resistente, ele segue Kiame por onde quer que ele vá, no mesmo trajecto que fizeram quando perseguiram Goreth. Reitor corre na medida do possível. Mas o possível para ele, neste momento, não é correr como se não tivesse levado um tiro na perna esquerda. Ele percebe que não consegue acompanhar mais a pedalada de Kiame e muito menos do General, que é muito veloz. Então, ele pára de correr e começa a caminhar devagarinho deixando rastos de sangue por onde passa. Ele não percebeu ainda mas está a perder muito sangue por conta do ferimento. Aos poucos ele vai ficando mais fraco. Ele pára e senta-se respirando fundo pela fadiga que enfrenta agora. Ele decide voltar para o salão e cuidar de si. Antes mesmo de chegar, ouve vozes de pessoas cochichando e acha-se meio catatônico, muito zonzo e a ver pessoas andando no corredor e entrando num quarto, seguindo elas, entra para um dos compartimentos do edifício (o quarto, no caso, muito bem arrumado) e vai direito para a torneira e dela bebe a água que sai. O que lhe traz mais alívio, pois, a água é limpa e lhe faz muito bem. Mas o que ele necessita mesmo é de um tratamento na ferida, senão toda e qualquer água que ele beber, não lhe servirá de mais nada. Ele puxa um pequeno lenço e amarra em volta da perna – para a protecção do ferimento. Mancando, ele caminha a procura da caixa de primeiros socorros e consegue acha-la. Isso o deixa feliz. Ele ouve outra vez as vozes cochichando e calam-se quando ele olha na direcção delas. Reitor puxa o seu pequeno cantil e dá um gole enorme na sua bebida. Para ele, é algo que o fortalece fisica e psicologicamente. Ele vai até a cama e senta-se nela. Abre a caixa e pela terceira vez ouve:
– Ele vai apanhar-nos – São as vozes, outra vez – Shh, cala-me essa boca
– Não, eu não estoulouco – Reitor diz para si mesmo abanando a cabeça. Puxa a sua arma elevanta-se, olha em volta do quarto e percebe que as vozes vêm debaixo da cama.Ele levanta-a e vê que há três pessoas deitadas de bruços, nomeadamente:
Patrícia, Dinis e Jurelma. Apontando a arma, ele dá a ordem – Levantem-se devagarinho e coloquem as mãos atrás da cabeça
Os três o obedecem levantando-se devagar. Patrícia repara que ele está ferido e oferece-se para ajudá-lo. Por medo ou vontade própria de ajudar, é um gesto benigno.
– Achas que sou burro ou quê? – Diz Reitor mostrando que está em dificuldades físicas – Eu sei que dirão qualquer coisa agora para saírem desta situação
– Eu juro – Diz Patrícia com a mão atrás da cabeça – É verdade que eu quero sair daqui, assim como os outros. Mas não posso ser tão desumana a ponto de deixar-te morrer deste jeito, independentemente do que tenhas feito, tu também tens direitos como qualquer outro cidadão aqui e ninguém pode privar-te de se beneficiar deles
Ela discursou bem. Tão bem que chegou a convencer Reitor, que está muito fraco.
– Está bem – Ele baixa a arma – Eu vou deixar você tratar do meu ferimento. Mas ai de quem...
Mal ele termina de falar e Dinis atira-se contra o mesmo, a arma cai no chão. Dinis começa a esmurrar a cara dele. Reitor revida com um murro forte na cara de Dinis, que faz com que ele caia. Reitor tenta chegar até a arma mas Jurelma chuta ela para longe – aquilo só o enraivece mais. Ele faz um esforço para se levantar mas Patrícia sobe nas costas dele e começa a esmurra-lo, Reitor consegue livrar-se dela atirando-a contra a Jurelma, as duas vão para o chão. Dinis parte um candeeiro por cima da cabeça dele. Reitor vai ao chão.
– Saiam daqui – Dinis ordena como quem estivesse a comandar uma fuga. As meninas saem disparadas daí. Dinis vai buscar a arma, mas Reitor segura a perna dele. Dinis quase cai por causa disso, virando-se, dá-lhe com o outro pé na cara, fazendo assim com que Reitor solte seu pé. Dinis segura na arma, vira-se apontando-a para Reitor, mas não vê ninguém. Dinis levanta-se e começa a averiguar se o caminho está livre ou não. Ele não vê ninguém, apenas o rasto de sangue saindo do quarto. Então decide sair seguindo o rasto de sangue, que não o leva a lado nenhum, pois, é o mesmo pelo qual ele entrou no quarto. Dinis anda pelos corredores procurando as meninas. Mas continua sem ver alguém.
– Dinís – Ele ouve uma voz a chamar por ele, o eco no corredor faz parecer tudo mais sinistro – Aqui Dinís
Dinís consegue enxergar Jurelma e a Patrícia escondidas.
– Podem sair, ele não está aqui – Dinís tenta acalma-las. Elas exitam mas saem, e surpreendem-se ao ver Reitor atrás de Dinís como um vilão com uma navalha na mão. Reitor desfere um golpe com a mesma nas costas de Dinís. As meninas gritam de medo ao ver Dinís caindo no chão. Reitor dá um soco na cara de Jurelma, deitando-a ao chão.
– Suas vacas barulhentas – Diz ele segurando o pescoço de Patrícia com força, com a sua mão esquerda, e apertando ela contra a parede – É assim que pretendem ajudar?
– Por favor, não me mata – Patrícia chora implorando pela sua vida enquanto Reitor exibe a navalha para ela – Eu não quero morrer
– Mas vai – Reitor tenta desferir o golpe na bexiga da Patrícia, mas Dinís aparece lançando-se contra ele. Dinís rola pelas escadas abaixo, enquanto que Reitor cai pelo espaço entre as escadas chocando contra os corrimões até cair no chão, provocando assim morte súbita.
– Dinís, Dinís, Dinís – Jurelma grita seu nome enquanto corre desesperadamente ao encontro dele, pois, acabara de ser apunhalado pelas costas – Patrícia venha me ajudar
Patrícia chora sentada no chão, encostada à parede, abraçando suas pernas e escondendo o rosto entre as coxas por estar tão próximo da morte, mais uma vez. Este é um dia em que a sua vida «maravilhosa» tão prezada por ela, parece não importar tanto assim para certas pessoas quanto importa para ela. É uma das situações na vida de todo ser humano em que o mesmo questionasse o valor que a sua vida realmente tem para si, para Deus e para a sociedade; independentemente do que a pessoa é, ou possui, a morte não faz distinção disso. Isso é uma lição que nenhum ser humano vivo esquece.
– Pára de sonhar e vem me ajudar – Jurelma grita para Patrícia, tirando-lhe dos seus pensamentos – Calma Dinís, você vai ficar bem
– Assim espero – Diz ele com sangue na boca e tudo.
– Estou aqui – Patrícia aproxima-se e estranha por ver Dinís naquele estado – Jurelma, vai buscar aquele kit de primeiros socorro usado pelo Reitor
– É pra já – Jurelma levanta-se e começa a andar.
– Corre – Patricia grita fazendo Jurelma correr, passando pelos corredores pouco iluminados. O sangue de Reitor ainda se encontra no chão ao longo do corredor, e é pelo mesmo que ela consegue achar o quarto em que estavam. Ela entra no quarto, mas o mesmo já está meio desarrumado pelo conflito que houve. Ela consegue enxergar as seringas no chão. Removendo o colchão de daquele lado para o outro, ela encontra os objectos espalhados no chão, então recolhe-os à todos, coloca-os na caixa e retorna ao encontro de Patrícia. Ela corre, corre e continua correndo, percebendo depois que acaba de se perder. É como se diz nos bairros: Outra maka mais!
– Jurelmaaa – Ela olha para todos os lados e não vê ninguém, apenas ouve o eco da voz de Patrícia atrás dela – Jurelmaaa, onde é que estás?
– Estou aqui próxima as escadas, acho que me perdi
– Então segue a minha voz, e venha rápido, o Dinís está muito fraco
– Continua falar
– Sobre o quê?
– Não sei, mas está a funcionar – Jurelma segue a voz da Patrícia, enquanto a mesma fala, como se fosse um sistema de GPS humano – Estou aqui. Como é que ele está?
– Mal, ajuda-me aqui – Patrícia, por ser uma menina que entende sobre os cuidados primários a se ter quando há um ferimento, instrui Jurelma a ajuda-la a cuidar de Dinís. As duas de joelhos, empenham-se nisso.
– Vocês sabem o que estão a fazer? – Pergunta ele.
– Sim – Patrícia responde enquanto trabalha. Ela percebe que o mesmo vai adormecer, então toca o rosto dele pedindo-o para não parar de falar.
– Falar o quê? – Pergunta ele.
– Qualquer coisa – Jurelma responde.
– Vocês são muito bonitas... – É a primeira coisa que veio na sua cabeça.
– Obrigado – Respondem as duas em simultâneo.
– ...Mas são péssimas médicas
– Cala a boca e nos deixa trabalhar – Patricia faz o máximo que sabe para ajuda-lo a recuperar. Com a ajuda de Jurelma, ela consegue levanta-lo um pouco e enrolar bem as ligaduras em volta dele, visto que o mesmo não tem condições para levantar-se a si mesmo, não só pela facada que levou, mas também pela queda nas escadas que causaram mais lesões ainda. Patrícia anuncia – Estamos quase a terminar, já vamos poder fugir daqui
– Espera – Diz Jurelma, parada, como se estivesse prestando atenção á algo – Vocês ouviram isso?
Patrícia abana a cabeça mostrando que não. Jurelma levanta-se devagar, vai até ao corrimão e olha para baixo avistando o corpo de Reitor espatifado no chão. Jurelma vira-se para o outro lado, pelo choque que apanha por ver o corpo de Reitor aí deitado e muito sangue em volta dele. Ela volta a olhar, por causa da luz, ela consegue ver uma sombra no chão aproximando-se do corpo e o seu coração bate mais depressa ainda quando vê a pessoa. É o general, com uma arma na mão. Depois de olhar para o corpo, conclui que o mesmo só pode ter caído de cima, então, olha para cima, mas não vê ninguém. Jurelma foi rápida ao avisar à Patrícia e Dinís, por isso, eles conseguem escapar da vista dele a tempo.
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