Capítulo 20
BENÍCIO
Finalmente terei alta do hospital hoje. Já não aguentava mais ficar nessa cama deitado e tenho certeza que a equipe de enfermagem por sua vez não aguenta mais me ter aqui. Eu não me orgulho disso, mas fico insuportável quando estou doente. Sou o verdadeiro clichê do homem que não pode pegar uma gripe que já sente que vai morrer, além disso levando em conta meu passado, ambientes hospitalares não são meu lugar favorito no mundo, então ficar doente no hospital me deixa de péssimo humor. Escuto três batidas na porta e dou permissão para que entrem, minha irmã aparece com uma bolsa a tiracolo e já vai jogando sobre mim sem nenhum cuidado e falando:
– Aqui está insuportável, sua roupa para ir pra casa finalmente. E aqui está seu cartão de crédito
– Meu cartão? Mas por que você está com ele?
– Porque você foi muito gentil e comprou flores para todas as enfermeiras que cuidaram de você, além de oferecer um café da manhã especial para toda a equipe – ela fala com um sorriso.
– Ah eu fiz isso então? – falo arqueando uma sobrancelha
– Claro que fez é o mínimo por ter deixado todo mundo maluco, como um homem adulto pode agir pior que uma criança, sua filha tem mais coragem que você. – ela me encara esperando que eu a contra diga.
– Obrigada irmãzinha por pensar nisso, você é incrível – falo aceitando que ela esta coberta de razão
– De nada, eu sei que sou demais e por isso me comprei um par de sapatos. Agora vá se vestir, pois o doutor Ângelo vai vir a qualquer momento para te dar alta.
– Quero um favor seu... – falo manhoso para já ir amolecendo a Bea
– Pode falar.
– Peça a Lívia para vir até aqui quero falar com ela. – Desde o dia anterior à cirurgia que não a vejo, sei que ela pergunta todos os dias pra minha irmã como anda minha saúde, mas nunca veio aqui pessoalmente me ver. – Preciso falar com ela sobre a Larissa.
– Finalmente tomou vergonha e quer conhecer a princesinha?
– Eu quis desde o primeiro momento conhecê-la.
– Mas não foi isso que pareceu, por isso eu ando te chamando de babacão.
– Você nunca me chamou assim. – falo.
– Não na sua frente, afinal de contas você estava se recuperando de uma grande cirurgia, eu não queria chutar cachorro abatido. Mas a verdade é que você estava sendo um escroto, além de que não pudemos contar para a Lari que somos tios dela porque o Babacão, no caso você, deveria ser apresentado primeiro.
– Corta essa de criticar o Benício – falo irritado – Eu tinha meus motivos Bea. Você vai chamá-la aqui? – peço com a voz bem mais doce
– Vou sim, eu mais que ninguém quero que vocês se acertem e que você conheça sua filha ela é apaixonante Bê, ela é tão esperta e disse que quer ser médica, ou seja, puxou a tia. – Ela vem para perto de mim e me dá um beijo na testa – não vou estar aqui na sua alta, pois tenho uma cirurgia. O Bento vai te levar pra casa. Vou passar no quarto da Lari e chamar a Lívia, espero que você se comporte com ela.
Minha irmã sai do quarto e eu vou ao banheiro, ainda tenho dificuldades para andar pois o local da cirurgia ainda está sensível, tomo um banho rápido, aliás o mais rápido possível levando em conta os cuidados que tenho que tomar com o grande curativo na região do meu abdômen, me troco e quando saio para o quarto vejo a Lívia parada em frente a janela olhando distraída para o pátio em frente.
Ela está linda, parece mais leve hoje e como se a carga que ela carregava a alguns dias tivesse sido tirada de seus ombros e ela está com o semblante mais relaxado como a Lívia de antigamente o que me desperta uma certa nostalgia. Paro um pouco pra olhar pra ela seus cabelos cacheados estão domados em um coque no alto da cabeça ela usa uma blusa rosa e jeans está tão linda que me vem a vontade e de ir até lá e beijar seu pescoço desprotegido.
– Vai dizer o que tem pra falar ou vai ficar só aí me olhando. – Me surpreendo quando ela diz já se virando em minha direção. – Vamos direto ao assunto por favor.
– Oi, Lívia. Eu gostaria de falar sobre a minha filha.
– O que você tem para falhar sobre a MINHA FILHA? – ela diz com bastante ênfase no minha filha, deixando claro que não vai facilitar pra mim.
– Eu quero conhecer a Larissa – quando falo ela arregala os olhos como se não esperasse por aquilo.
– Por que? Você não quis conhecer ela antes,o que te fez mudar de ideia agora? Já vou avisando que não vou permitir que você magoe a minha menina. – É impossível não notar a hostilidade no tom de voz e no olhar que ela me dirige.
– Não mudei de ideia Lívia, sempre foi minha intenção conhecer a Larissa, eu a quis desde o momento que soube que ela era minha.
– Mas aquele dia você não quis....
– Era um momento delicado, ela não estava bem e eu estava muito nervoso, eu não ia conseguir ver ela doente, me perdoe por isso sei que não é justo nem justificável, mas eu simplesmente não ia conseguir ver ela deitada na maca sabendo que algo poderia acontecer – eu não ia conseguir passar por aquilo mais uma vez, abaixo a cabeça tentando conter a angústia no meu peito, quando me sinto mais calmo volto a falar – Sem contar que eu nunca tive a intenção de dizer a ela que eu era apenas seu amigo como aconteceu com meus irmãos, a partir do momento que nos encontrarmos quero que ela tenha conhecimento de quem eu sou.
Ela não responde de imediato ponderando minhas palavras, chego a achar que ela vai criar barreiras para que eu veja a menina, mas então ela fala:
– Nunca foi minha intenção esconder da Lari que você é o pai dela. Alias ela sabe bem quem você é – me surpreendo com essa parte – Não vou colocar nenhum empecilho para que vocês se conheçam, afinal além de ser o pai dela você salvou sua vida, mas acho melhor isso acontecer quando ela sair do hospital.
– Claro, isso seria perfeito, ela sai em alguns dias não? – ela balança a cabeça concordando – eu estive sempre perguntando aos médicos e enfermeiras por ela e meus irmãos também me davam notícias.
– Ta ok. Quando ela sair vamos marcar um encontro antes da gente voltar.
– Voltar?
– É voltar para casa, não aguento mais hotel e hospital só quero voltar para Guaraqueçaba e para minha casa,
Puta merda eu tinha me esquecido que elas moravam em outra Cidade e não gostei nada daquilo.
– Lívia como será a minha convivência. Com minha filha se vocês moram em outra cidade?
– Carro tá aí pra isso - ela me responde debochada - daqui da capital a Guaraqueçaba são só duas horas de carro sempre que você quiser pode ir até lá visitar a Lari, sem contar que é uma cidade linda você vai gostar.
Antes que eu possa retrucar o medico bate na porta e entra.
– Oi Lívia, não sabia que estava aqui – o médico fala oferecendo a mão para ela.
– Oi doutor Ângelo, já estou de saída. – Ela aperta a mão do médico e sai do quarto sem ao menos me dizer tchau.
– Benício vim entregar os papéis da alta e dar algumas recomendações – ele me fala dos cuidados que devo tomar em casa, passa receitas de medicamentos e marca a data para retirada dos pontos. Ele se despede e eu agradeço por tudo. Na bolsa que a Bea trouxe coloco minhas coisas: roupas, notebook, carregadores e quando estou finalizando o Bento chega e graças aos céus vou para casa.
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Ela é linda, eu não consigo para de admirar o quão perfeita ela é: seus cabelos são cacheados como os da mãe, sua pele tem uma cor bronze um pouco mais clara que a da Lívia, sua boca parece um pequeno coração e seus olhos são tão verdes quanto os meus e do meu pai. Como eu disse perfeita descreve Larissa Koslov.
Ela está parada olhando para mim do seu lugar no meu sofá, ela é a Lívia vão passar um tempo na minha casa, tudo graças a recomendações médicas, o Gusmão recomendou que ela fique na cidade para que ele pessoalmente acompanhe o pós-operatório, como a casa da Lívia aqui em Curitiba está alugada e ficar em um hotel não é o mais adequado para uma criança que acabou de passar por um transplante que a deixa vulnerável a infecções, eu a convenci que ficar na minha casa, a minha irmã quase estragou meus planos quando tentou oferecer o apartamento dela, mas eu sei ser bem persuasivo, ela aqui seria uma boa solução então aqui estão elas na minha casa.
– Oi papai – ela fala com sua voz doce.
– Você sabe quem eu sou?
– Sei sim, a minha mãe me mostrou uma foto sua na internet, ela me disse que você é um empresário e que é muito importante.
– Serio a sua mãe disse isso? Falou de mim para você? – questiono, mas estou olhando para a Lívia que me dá as costas e vai em direção a cozinha, eu sinceramente não sei o que vou fazer para consertar a situação entre nós dois.
– Eu só não sabia por que você não ia me visitar e ficar comigo. – escuto a minha filha falar e engulo seco, tenho vontade de dar com a minha própria cabeça na parede por ser tão estupido e ter perdido tanto.
– Eu cometi um erro Larissa e por causa dele a sua mãe teve que ir para longe e aí eu não sabia que tinha uma filha assim tão linda como você.
– O tio Dimitri disse que você era um otário
– eu por acaso escutei você falando uma palavra feia, Larissa? – mesmo em outro cômodo a mãe pergunta e a menina fez uma carinha de culpada que deixo meu coração mole.
–me desculpa mamãe, me desculpe papai. Eu senti a sua falta sabia – ela fala inocente e as palavras são como adagas enfiadas em meu peito, eu não sei o que responder diante disso. – A mamãe disse que é normal sentir sua falta porque eu sou um pedacinho de você, é verdade que agora eu tenho mais um pedacinho de você na minha barriga? A mamãe me contou que você foi o meu remedinho.
– É verdade eu dei um pedaço do meu fígado para você ficar melhor.
– E agora papai? Você não vai mais querer me ver como antes?
– Amor, eu não sou de fazer promessas, mas quando eu faço são para sempre e eu prometo a você que eu nunca mais vou ficar longe.
– Jura de dedinho? – ele fala levantando o dedo mindinho em minha direção, eu enrosco meu dedo no dela e posso perceber o quanto ela é pequena em relação a mim, nesse momento eu juro que posso sentir o mais puro amor preenchendo o meu peito.
– Eu juro. – Sinto que uma já foi, agora falta a mais difícil.
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