Capítulo 11


 BENÍCIO

 Hoje faz quinze dias desde o incêndio, as coisas estão finalmente começando a se acalmar, coincidentemente nesse período não houve nenhum novo roubo de carga, não sei se foi pura coincidência ou se as novas medidas de segurança já estão finalmente fazendo efeito, o meu relacionamento com a Lívia parece ter voltado ao normal ,mas não sei ainda acho que ela anda me escondendo alguma coisa, mas sempre que eu pergunto ela diz que não é nada que só está preocupada com tudo.

Hoje finalmente foi o primeiro dia em semanas que eu tive tempo para correr e assim pude colocar minha cabeça no lugar e analisar com mais calma tudo que vem acontecendo, quando se está no olho do furacão as coisas tendem a parecer muito pior do que realmente são, sim aconteceram imprevistos catastróficos que afetaram a empresa, mas eu consegui gerenciar os danos e os prejuízos foram até que razoáveis no panorama geral.

Volto da corrida e tomo um banho gelado apesar do dia estar bastante frio nesse começo de inverno, a Lívia dormiu na casa dela hoje então sigo sozinho para a empresa, antes de subir para a minha sala vou até a produção verificar se os novos equipamentos foram instalados e só saio de lá quando me dou por satisfeito, o que é perto da hora do almoço.

– Bom dia Fernanda, onde está a Lívia?

– Ela foi ao banheiro e você tem visitas na sua sala acabaram de chegar eu ia mandar te chamar. São os investigadores e olha eles parecem animados, o tal do Santiago nem está com cara que vai tirar a arma e matar Deus e o mundo, ele parece até alguém normal.

Apenas rio da gracinha que ela faz e vou em direção a minha sala, os investigadores Santiago e Moraes estão confortavelmente sentados nas cadeiras a frente da minha mesa, ajeito meu terno e cumprimento os dois antes de me sentar ao meu lugar, e a Fernanda estava certa eles parecem bastante tranquilos o que me deixa animado e torço para finalmente terem boas notícias e respostas satisfatórias para me dar.

– Senhor Benício, conseguimos pistas muito boas – Moraes fala – nossos peritos analisaram todas as câmeras de segurança da empresa no dia do incêndio e conseguimos a imagem desse homem.

Eles me mostram algumas fotos, a principio o homem se parece com um funcionário normal da empresa, mas a foto seguinte está bem mais nítida e mostra que o azul da roupa do homem é diferente dos nossos uniformes, mas é a foto seguinte que me faz congelar.

– Pela sua cara acho que você reconheceu o sujeito. – o policial moreno fala se inclinando em minha direção observando de perto minha reação.

– Sim é alguém que faz parte do meu passado, um passado que eu gostaria de manter enterrado.

– Quer nos contar do que se trata? - Moraes questiona.

Não, eu não quero. O que eu quero é que tudo que vivi, tudo que esse homem representa em minha vida seja enterrado no mais fundo buraco com varias camadas de terra em cima para que nunca mais volte para me assombrar; mas não são essas palavras que saem da minha boca, com voz apática tentando demostrar a maior frieza possível eu conto a eles parte do meu passado eu revivo a pior dor que senti na vida, mais dolorosa que a perda da minha mãe.

- Então pelo que o senhor está nos contando ele tem motivos para tentar sabotar a sua empresa, e estamos investigando porque, pelo que parece, é esse homem que também está por trás dos roubos de carga.

– O que? Não pode ser possível? O que esse desgraçado quer de mim depois de todo esse tempo? Não pode ser vingança, pois ele foi o causador de todo meu mal. Inferno.

– Nós não sabemos, mas acho que você conhece alguém que pode esclarecer essa dúvida?

– O que como assim?

– Um dos nossos homens viu o tal sujeito rondando a empresa, resolvemos não prendê-lo para interrogatório, pois até então não tínhamos provas, mas decidimos ficar de olho nele e ontem capturamos essa imagem.

Ele abre o envelope e retira de lá várias fotos e as joga em minha direção e meu mundo desaba logo na primeira imagem, não pode ser verdade. Isso só pode ser uma montagem, está errado, eu não vou acreditar que isso é real. Não ela..

– Isso não pode ser verdade, deve haver algum engano... – sinto desespero em cada uma das palavras que sai da minha boca.

– Senhor Benício nós achamos muito curioso o fato dos seus produtos estarem sendo roubados de maneira muito pontual, no mesmo dia que a carga com seus produtos de luxo foi roubada perto da rodovia havia um caminhão de uma gigante da telefonia com problemas mecânicos, sei que seus produtos são valiosos, mas uma carga de celulares é muito mais você não concorda?

– Sim, uma carga de celulares deve valer milhões, sem contar que seria mais fácil de revender. – comento tentando manter minha cabeça focada e não surtar pelas fotos que estão em minhas mãos trêmulas.

– Pois bem, foi aí que percebemos que os crimes poderiam ser mais pessoais, e mesmo quando vocês mudaram as rotas os assaltantes continuaram em ação; então deduzimos que poderia haver alguém soltando informações de dentro da empresa e isso aqui. – Ele aponta para as fotos em minhas mãos – pode ser a chave que faltava e foram essas fotos que nos levaram a deduzir que os roubos e o incêndio estão ligados.

Sabe quando você é criança vai para a praia, passou horas construindo um castelinho de areia e aí de repente vem uma onda e leva tudo embora? Pois bem, é assim que eu estou me sentindo agora, como se meu castelinho fosse de areia e está ruindo pelo contato com a água. Abaixo minha cabeça e observo as fotos mais uma vez nelas a Lívia está em uma lanchonete e em sua companhia está Murilo, o homem que mais odeio na vida, ela parece bem a vontade rindo para ele e na última foto eles trocam um abraço. Minha garganta está fechada como se fosse cair no choro a qualquer instante, eu não posso acreditar que me enganei com ela, não a mulher que eu amo.

– Vamos levar a sua secretária para interrogatório – Moraes fala e eu deixo as fotos caírem sobre a mesa.

– Vocês não vão fazer isso.

- Senhor Benício, acho que o senhor não entendeu a gravidade da situação...

– Não você que não está entendendo a gravidade da situação, essa aí das fotos não é só secretária da empresa, ela é a minha mulher, a pessoa que eu amo.

– Eu sinto muito, mas não podemos interromper as investigações. – Santiago fala com frieza.

– Eu preciso de um tempo para falar com ela. – É tudo que eu consigo dizer , minha cabeça está martelando como se alguém tivesse me batido com toda a força.

– isso a gente pode fazer.– Morais fala se levantando da cadeira e indo até a porta.

Eles saem e eu fico sentado no mesmo lugar, minha cabeça fica lenta e o meu coração acelera, sei que vem uma crise de ansiedade por ai, afrouxo a minha gravata e abro os punhos da camisa dobrando até o cotovelo e vou sentindo o suor empapar a minha testa. A porta é aberta e a cabeça de Lívia aparece, eu não estou nada bem e minha respiração começa a ficar irregular. Ela vem em meu socorro e afasta a minha cadeira de perto da mesa, a rodinha da base ajudando na tarefa.

– Meu amor, o que está acontecendo?

– Não toca em mim. – eu grito e afasto as mãos dela que tocam meu rosto. – Lívia como você pode? Eu já sei de tudo.

– Benício do que você está falando? eu.. – ela não termina a frase e noto seus olhos arregalaram e aí percebo que tudo pode ser verdade ela está mesmo me escondendo alguma coisa, todo o comportamento estranho dela nos últimos dias vem a minha cabeça – eu ia te contar Benício, mas estava acontecendo tantas coisas.

– Ia mesmo me contar? – Minha voz e comedida, pois não quer fazer um escândalo – você ias me dizer que está mancomunada com o Murilo para foder com a minha vida e a minha empresa? Achei que você ia negar, mas confessou bem rápido.

– O que? do que você está falando?

– Disso aqui – falo e jogo as fotos para ela, que começa a folhear.

– o que significa isso Benício, por acaso você andou me seguindo? Você é algum tipo de namorado abusivo?

– Não estávamos seguindo você, a policia estava seguindo ele, o Murilo é o responsável por tudo que vem acontecendo, inclusive sobre o incêndio que poderia ter matado alguém dentro da minha empresa. Então agora você vai me dizer que pora você estava fazendo com ele? – a resolução de não gritar vai pelo ralo e eu termino a frase aos berros além de bater com toda a força na mesa.

– Olha aqui você não vai falar assim comigo, não tenta me intimidar, você não tem esse direito nem como meu namorado muito menos como meu chefe.

– Como você quer que eu fale com você quando descubro que a minha mulher está de complô com o homem que quer foder a minha empresa? Com o homem que já me destruiu uma vez?

– Se você se acalmar eu posso muito bem explicar, mas eu não vou falar com você enquanto tiver me tratado assim.

– Acho melhor você falar comigo, pois a policia está lá fora prontos para te levar par prestar depoimento na delegacia

– O que? eu não sou nenhuma criminosa! Achei que você me conhecesse, como pode pensar que eu faria algo tão horrível?

– Então se explique Lívia o tempo está passando

– Esse aqui – ela aponta para as fotos– é o meu primo Murilo, um dos únicos parentes do meu pai Isaque que eu conheci, a anos eu não o vejo e encontrei com ele quando sai para tomar um lanche e conversamos por alguns minutos, mas não falei nada sobre você ou sobre a empresa, só trocamos amenidades.

– certo se isso é verdade o que você está me escondendo então?

– Benício eu venho procurando uma maneira de te contar isso há alguns dias, eu sei que não é planejado ou esperado, mas aconteceu... eu estou grávida.

E assim todas as minhas esperanças de que ela é inocente e que tudo isso não passa de um mal entendido se vai como areia fina soprada pelo vento.

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