CAPÍTULO 12


Hoje é o meu primeiro dia de trabalho. Programei o despertador às 5:30 da madrugada. Porém, despertei às 5:00 e saí para correr por trinta minutos antes que a ansiedade me consumisse.

Às 6:30 peguei o ônibus. 

A indústria da Kongang fica a quinze minutos de distância do terminal de Ipetrópolis e é necessária uma baldeação.

Cheguei às sete em ponto e fui direto ao Departamento Pessoal. Perguntei sobre o transporte e eles não souberam me dizer em definitivo se eu teria o carro ou não e que, de início, me dariam vale-transporte.

É por esse tipo de coisa que aprendi a nunca confiar cem por cento em promessas. Sempre há uma chance delas não se cumprirem.

Apesar de decepcionado, concentrei nos benefícios que restaram. Eu não tenho que pagar aluguel e, durante o tempo em que estiver aqui, poderei poupar uma quantia em dinheiro para mais alguns investimentos a longo prazo.

O refeitório principal da Kongang é amplo, com dezenas de mesas retangulares e cadeiras. Sento ao lado de uma das janelas altas e envio uma mensagem para o Lee, contando minhas primeiras impressões.

— Oi! Você por aqui?

Olho na direção da voz. É a senhora do guarda-chuva, em uma versão mais elegante. Ela veste um terno cinza e salto alto.

— Olá.

— Mateus, né?

— Sim. E a senhora é a Sílvia.

— É, Sílvia, sim, senhora, não, pelo amor de Deus! — Sorriu, com uma caneca na mão. — Então você veio de São Paulo trabalhar aqui, que legal!

— Foi um remanejamento. Eu trabalhava perto da matriz.

— Muito bom, Mateus. Eu vou chegar ali, então… bem-vindo à Kongang!

— Obrigado.

Minutos depois de a Sílvia ter saído, fui até o meu departamento. Ao abrir a porta, todos param de conversar.

— E aí, rapaz! — Marcelo grita ao fundo. O traje formal o deixou com um ar diferente da última vez que o vi.

Ao lado dele, Sílvia está sentada.

— Então você é o novo designer!? — ela pergunta.

— Sim, so…

— Com licença. — Uma voz masculina disse atrás de mim, que por acaso estava bloqueando a porta. Saí do caminho e o homem entrou sem olhar para os lados. Ele é esguio, também usa terno e gravata. De fato, as regras de vestimenta são mais restritas que em São Paulo. O tal senhor tem os cabelos lisos, presos e aparados, a barba feita e, no pulso, um relógio dourado com uns oito centímetros de diâmetro. Ele aparenta ter entre 40 e 45 anos de idade.

— Bom dia, Seu Lauro… — os funcionários começaram a dizer.

Então, este homem é o meu novo chefe.

Em São Paulo, trabalhar com o Lee era, no mínimo, confortável. Espero não ter me acostumado mal.

O Sr. Lauro acenou com a cabeça para os funcionários e seguiu até sua sala, fechando a porta.

— Vem, Mateus — Marcelo chamou. — Essa aqui é a sua mesa. — Apontou para o espaço ao seu lado.

O ambiente é simples, mas bem planejado e esmerado. Tem a sala do Sr. Lauro, uma sala de reuniões e as mesas do restante dos funcionários ficam neste espaço principal.

— E aí, gostou? — Marcelo perguntou assim que me sentei.

— Tem o necessário. — Liguei o computador.

— Ei… — Ele se aproximou, cochichando. — O que achou do Lauro?

— Ele se parece com um chefe.

— Ah, é… — Marcelo soltou uma risada irônica. — Você vai conhecer o pessoal daqui a pouco. A gente tem uma reunião de planejamento.

— Certo. E o que eu posso fazer? Você será o meu supervisor?

— Você tá bem ansioso… Relaxa esses nervos, vai precisar. Esse é o melhor conselho que eu te dou. Mas, vem cá, como é o seu café?

— O meu café… — Franzi as sobrancelhas. — Por quê? É bem fraco se comparado ao gosto brasileiro.

Ele apenas massageia o queixo e concorda com a cabeça.

Seis minutos antes da reunião começar, fomos para a sala de reuniões.

— Enquanto o pessoal não chega — Marcelo senta na mesa e eu na cadeira mais próxima. — Tá na hora de te falar sobre todo mundo. Por onde eu começo… A Sílvia, vocês se conhecem?

— Apenas de vista.

— Ah, tá. A Sílvia é a gerente comercial. Ela é tranquila, mas você não vai querer fazer nada errado na frente dessa mulher, vai por mim. Eu fico na parte de pesquisa de mercado, tem o Cláudio, aquele de óculos, que tem os olhos azuis? Estava na sala quando você chegou. Ele é do marketing. Nunca mexa na comida desse cara. Não que eu ache que você é disso, mas, só avisando. Assim que a equipe foi formada ele disse que tinha alguém mexendo na marmita dele. Depois disso o cara até começou a etiquetar a comida. Ah! Tem outra coisa muito importante que você nunca pode esquecer, Mateus. Tem uma caneca preta do Darth Vader na copa. Costuma ficar na bancada da pia. Aquela caneca é do Cláudio. Uma vez um novato quase apanhou por causa dela. Você não vai querer encrenca, vai por mim. Viu o tamanho do homem, né? Aí tem você no design, o Lauro…

Antes que ele finalizasse sua apresentação, a equipe entra para a reunião de planejamento. Mesmo incompleta, a explicação do Marcelo será útil de alguma forma.

O chefe senta na ponta da mesa comprida. Do outro lado da sala há uma smart TV de 82 polegadas na parede.

A Sílvia está sentada do lado esquerdo da mesa, próxima ao Sr. Lauro. Ela faz uma introdução abordando o tema, mas quando o chefe ergue a mão, ela para de falar.

— Você não estava cogitando começar a reunião sem o meu café, né, Sílvia?

É cedo para entender como é a relação dele com os funcionários. Sua forma de falar é mansa, porém firme, e posso dizer que há uma boa pitada de desprezo ou desdém em boa parte das palavras que pronuncia. 

Como ninguém está sorrindo, esse também não deve ser o seu jeito de mostrar algum senso de humor.

A Sílvia não respondeu à pergunta, apenas entrelaçou os dedos sobre a mesa.

Os outros entreolharam-se e o único homem sem paletó na sala, no qual o Marcelo não teve tempo de me falar sobre, diz: — De quem é o dia de fazer o café?

— Acho que todo mundo já fez. Vamos recomeçar a sequência.

— O Mateus ainda não fez! — Marcelo exclamou e todos olharam para mim.

Pela primeira vez, o chefe também vira o pescoço na mesma direção que os outros: — Quem é esse?

— É o novo designer. Era da filial em São Paulo. Se chama Mateus — a Sílvia responde em um tom de voz baixo.

— Antes tarde que nunca. As mulheres desse andar não sabem fazer um bom café, então, vamos ver como é o seu. Quero uma xícara cheia. Pode continuar, Sílvia.

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Mas então, como é o seu café?
🤭🤭🤭🤭🤭

O cap de hoje foi curtinho, mas foi o que consegui fazer, mô 🙂
Semana que vem tem mais 💜

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