Capítulo 5
Passar um tempo com minha amiga ontem, e ir ao cinema, me ajudou a relaxar um pouco. Adorei a ideia da Vanessa de lançar o desafio no canal. Estou mesmo com vontade de mudar radicalmente meu visual e nada melhor do que fazer isso de uma forma divertida e produtiva. Conseguir mais inscritos significa influenciar um número maior de pessoas no universo literário e esse é o meu objetivo, também é o trabalho que escolhi e amo fazer. Aproveitei a tranquilidade da manhã e gravei o vídeo. Tranquilidade essa que foi embora no instante em que meu irmão chegou por aqui com Júlia e os meninos.
Amo a minha família, sou capaz de morrer por cada um deles, mas silêncio e tranquilidade são palavras que não existem quando todos estão reunidos. Dos três filhos do senhor João Roberto com dona Lídia, sou a mais velha e a mais quieta. Falo baixo, detesto chamar atenção e consigo ficar quase invisível (quando quero) nos lugares. Já não posso falar o mesmo dos meus irmãos... e do resto da família. E domingo é dia de reunião familiar!
Quando eu estava casada com André passei 6 anos longe de todos. Como senti falta de cada um deles! Por incrível que pareça, senti até falta das inúmeras vezes que meu pai me acordava bem cedinho, nos finais de semana (únicos dias que eu podia acordar mais tarde), para tomar café da manhã com ele. Fiquei 6 anos longe dos meus pais e dos meus irmãos. Fui morar numa cidadezinha do interior do Mato Grosso por causa do trabalho do André e perdi muitas coisas nesse período. Um tempo precioso ao lado de minha família que tento recuperar agora.
Nesse momento, estamos todos sentados, jantando, na enorme mesa redonda de madeira maciça e rústica, na cozinha. Minha mãe sempre sonhou em ter uma família enorme para encher a mesa. Por ela ser filha única e se sentir muito sozinha, queria ter muitos filhos para eles não passarem pelo que ela passou. Nesse momento a mesa está cheia... Estamos eu, Lúcia, meu pai, Beto, Júlia, Sara e Anderson comendo pizza.
- Titia, dá pedaço? – me pede Sara.
- De qual você quer, meu amor? Quatro queijos? Você ainda não provou essa e está uma delícia!
- Essa! Essa! – fala batendo palminhas.
A conversa na mesa está bem animada e como sempre, meu pai é o motivo de toda animação com as suas piadas e brincadeiras com Lúcia.
- Está faltando a mamãe aqui. – fala Júlia com um ar pesaroso. Desde que ela se casou com meu irmão, meus pais a adotaram como filha. Júlia é a irmã que não tive e sente muita falta de minha mãe. – Vamos ligar pra ela? Ela adora estar presente mesmo estando longe.
- Dona Lídia deve estar pendurada no computador nesse momento. É só o que ela sabe fazer! Fica aporrinhando meu juízo mandando mensagens o dia todo. Ela sabe que não tenho tempo de ficar batendo papo. – Meu pai fala sorrindo. A separação dos dois foi amigável e eles mantêm a amizade até hoje. Ele não perdeu o hábito de tirar minha mãe do sério e é muito engraçado ver os dois "discutindo".
- Liga aí Beto. Vamos deixar nossa mãe feliz. – Peço a meu irmão que liga imediatamente e no quarto toque, ela atende. Beto coloca o celular no viva voz e todos falam ao mesmo tempo. Falamos não, gritamos.
- Mãeeeeeee!
- Vovó!
- Mas que recepção maravilhosa! Oi meus amores. Que saudade de vocês. – responde minha mãe com um sorriso perceptível na voz. Ela adora ser o centro das atenções e adora mais ainda quando essa atenção vem dos seus filhos e netos. – Estão todos bem? E cadê o sem educação do pai de vocês que não responde minhas mensagens?
- Boa noite para você também, Lídia. Estou aqui, mas seu marido agora é outro. Graças a Deus! Tenho lá tempo de ficar respondendo mensagens? Eu trabalho. Já você... – alfineta ele.
Acho que meu pai nunca esqueceu minha mãe e os anos de separação não mudaram isso. Ela casou novamente, ele não.
- Muito engraçadinho. Você não é mais meu marido no papel, mas sabe que nunca irá me esquecer. Ninguém nunca esquece Lídia Almeida! Além disso, você é o pai dos meus filhos.
- Ai ai ai, vamos parar. Os dois! – Tento quebrar o clima tenso que começa a se formar. Se eu deixo, minha mãe falará coisas que não deve e os dois iniciam uma briga. É sempre assim. - Hoje é dia de festa. O aniversário de Sarinha está chegando e estamos aqui decidindo os últimos detalhes. Mãe, você está bem?
- Oi filha. Não estou bem não. Estou com saudade e ficar longe de vocês está me matando. Queria estar aí para ir ao aniversário da minha netinha linda. – choraminga.
- E por que a senhora não vem passar uns dias aqui com a gente? – Pergunta Beto.
Tem dois anos que Beto não vê nossa mãe. Ele está tentando tirar férias no final do ano para ir com Júlia e as crianças passar o natal com ela, mas ainda não sabe se vai conseguir e isso o está deixando muito triste.
- Eu bem que gostaria de ir, meu filho, mas sua mãe não anda se sentindo muito bem e não vou aguentar fazer essa viagem.
- O que você tem, mãe? – Eu, Beto e Júlia perguntamos ao mesmo tempo.
- Deve ser coisa da idade... Tá ficando velha! Hahahaha – provoca meu pai.
- Deixe de ser besta João Roberto! Se eu estou ficando velha, você também está. Temos a mesma idade. Estou sentindo muita fraqueza e tendo umas tonturas. Essa semana eu caí e tive que ser levada para o hospital...
- O QUÊ???? Como assim? Você está mesmo bem? – Gritamos todos juntos mais uma vez.
Até esse momento nós achávamos que era exagero de nossa mãe. Que poderia ser apenas um mal estar, e que ela estava exagerando para chamar nossa atenção. Comecei a ficar realmente preocupada com ela.
- Tenham calma! – Epa! Isso é grave. Minha mãe pedindo calma? O que está realmente acontecendo? – Como eu estava dizendo. Eu fui pegar uma xícara de café na cozinha e no meio do caminho fiquei tonta, perdi o equilíbrio e caí. Não consegui levantar sozinha por causa da minha perna e fiquei no chão, esperando Rodolfo voltar do mercado para me ajudar a levantar. Quando ele chegou e me levantou, continuei com a tontura e uma forte dor de cabeça. Achamos melhor ir para o hospital. Fiz alguns exames e estou esperando o resultado sair.
- Mas que perigo, dona Lídia! A senhora se machucou? – Pergunta Lúcia com um ar assustado. – A senhora não pode ficar sozinha em casa.
- Oi Lúcia. Estou toda dolorida, mas não aconteceu nada grave. É por isso que eu queria que Maria Clara viesse passar uns dias comigo até Rodolfo sair de férias. O que você acha filha?
- Vou providenciar isso o mais rápido possível, mainha. Tenho que ver como está minha agenda de eventos para saber quando poderei ir.
- Venha o mais rápido que você puder. Quero matar a saudade e preciso que me acompanhe às consultas.
- Está bem. E a Simone, não pode te fazer companhia por enquanto? – Simone é minha outra cunhada, casada com meu irmão mais novo, o Thales.
- Simone está trabalhando e tem as crianças também. Não se preocupe, posso esperar você.
- Mãe, se eu pudesse iria junto com a Clarinha. – Fala Júlia com uma voz triste.
- Eu sei minha filha, mas você tem que cuidar das crianças e do meu filho. Depois que o Beto conseguir tirar as férias, vocês vem todos juntos pra cá. Quero que você faça comidinha pra gente comer aqui na minha casa nova. Meu sonho é ver todos vocês aqui, comigo. Quero todos os meus filhos reunidos mais uma vez, antes de eu morrer.
- Pode deixar que iremos realizar esse sonho. E pode parar de falar que vai morrer!
- Amo vocês. Agora preciso desligar que o Rodolfo chegou com nosso jantar. Beijos em todos.
- Beijosssssssss! – Falamos todos em coro.
Fiquei preocupada de verdade com minha mãe e percebi que Beto e Júlia também ficaram. Preciso ir urgente passar uns dias com ela para saber o que está realmente acontecendo. Deixo esses pensamentos de lado e tento focar nos preparativos do aniversário de minha sobrinha.
- Então Sarinha, é verdade que você vai se vestir de Darth Vader na sua festinha de aniversário? – Tento quebrar o clima pesado que ficou na mesa. Júlia e eu somos viciadas em Star Wars e como boa tia que sou, viciei meus dois sobrinhos também. Eles amam tudo desse universo.
- Simmmmm! – Responde uma Sara muito empolgada batendo as mãos abertas na mesa. – Dati Vader!!!
- A titia pode ir de Princesa Leia e seu irmão de Luke?
- Sim. Hummm... e o papai vai de que?
- Que tal se ele for de Jabba? – ela me olha com um ar inquisitivo como quem pergunta "quem é Jabba mesmo?". – A minhoca. – respondo a pergunta que ela faz com os olhos.
- Aquela minhoca feia, gorda e giganti? – fala olhando para Beto com uma cara de quem está pensando.
- Essa mesma! – Tento segurar um sorriso.
- Deixe eu pensar. – Sara coloca a mãozinha no queixo, apoia o cotovelo na mesa e analisa o pai. – Meu papai é muito lindo para ir de minhoca. Mas, vai ficar engraçado. Então ele pode ir sim! Hihihihi
- É o que menina?! – Beto quase pula em cima da mesa. – Fica colocando ideia na cabeça de minha filha mesmo! Até parece que vou me vestir dessa coisa!
- Essa é minha sobrinha!!!! – Todos caem na gargalhada.
Apesar da preocupação que senti com a saúde de minha mãe, o resto da noite foi divertida e acertei os detalhes finais do aniversário com a Júlia. Deixei Beto, Júlia e meu pai conversando na mesa e fui para meu quarto jogar videogame com Anderson, enquanto Sara corria pela casa brincando com os cachorros para o desespero de Lúcia.
***
Finalmente o silêncio. Esses momentos que passo ao lado de minha família são preciosos, mesmo quando eles me tiram a paciência. Sempre que estamos reunidos à mesa, lembro da época em que meus irmãos eram solteiros e moravam em casa. A hora das refeições sempre foi sagrada e meus pais faziam questão de comermos todos juntos. Finais de semana, depois que os meninos cresceram e começaram a namorar, as namoradas nos acompanhavam, inclusive, André passou por isso muitas vezes. Era lei.
Minha mãe sempre amou André. Ela o tem como filho. Acho que ela nunca vai se conformar com nossa separação e tenho quase certeza de que ela não vai aceitar muito bem outro genro se, por ventura, eu conhecer outra pessoa algum dia. André sempre a chamou de mãe e cansou de me dizer que "Dona Lídia é minha segunda mãe". Depois de nossa separação eles perderam o contato. Kelly não permite que ele ligue para conversar com mainha e isso a magoa muito. Não quero pensar nisso agora. Se eu começar a pensar em André, terei mais uma noite mal dormida e preciso descansar. Amanhã irei para o programa de TV dar uma entrevista sobre literatura e a influência que os booktubers exercem sobre os jovens.
Sento à mesa do computador em meu quarto e ligo o note. Preciso conferir meus e-mails e aproveito para mandar uma mensagem para Vanessa pelo Whatsapp lembrando o horário de irmos para a entrevista amanhã. Em minha caixa de entrada tem muitas mensagens de autores, spam, e-mails de seguidores, mas não estou com vontade de responder nenhum deles agora. Hoje é meu dia de folga. Estou me policiando para não trabalhar o tempo inteiro. No meio dos e-mails vejo um de Otávio e abro.
De: Hideki Motosuwa
Para: [email protected]
Data: 16 de agosto de 2015 18:40h
Assunto: O domingo está acabando...
Boa noite Maria Clara!
O final de semana passou voando, não acha? Como foi o seu dia?
Por aqui está chovendo e passei um domingo preguiçoso. Aproveitei para assistir alguns episódios de animes, colocar minhas séries em dia e comecei a ler Inferno do Dan Brown. Você já leu? Estou achando o livro bem interessante.
Ei, sua entrevista para a TV é amanhã, não é? Te vi comentando no facebook. Está nervosa? Pena que não poderei assistir na hora. Será que consigo ver depois pela internet? Não quero perder. Se estiver nervosa, não fique. Lembre que você faz um trabalho maravilhoso e muito importante. Faça de conta que está gravando um de seus vídeos. 😉
Por falar em vídeo, assisti o último que você postou e adorei. Já coloquei as dicas dos livros em minha lista de desejados. Posso te dar uma sugestão de tema? Que tal falar sobre os benefícios de ler mais de um livro ao mesmo tempo? Não lembro se você já fez um vídeo sobre isso.
Tenha uma ótima noite e descanse bem.
Beijos,
Otávio.
PS.: Se puder, me chama amanhã pelo facebook para me contar como foi na entrevista, tá?
De: Maria Clara
Para: [email protected]
Data: 16 de agosto de 2015 22:01h
Assunto: O domingo acabou? 😲
Oi Otávio,
Boa noite. Bem que eu gostaria de ter passado um domingo preguiçoso, mas diferente de você, o meu foi bem agitado. Meu irmão veio pra cá com meus sobrinhos e cunhada e foi uma festa. Crianças em casa, você sabe como é. Hahaha
Sim, minha entrevista é amanhã. Confesso que estou um pouco nervosa, mas tentarei seguir suas dicas. Obrigada. 😊
Está lendo Inferno? Ainda não li nada do Dan Brown, acredita? Já me falaram tanto desse livro que morro de vontade de ler. Ainda não tive a oportunidade e pensando bem, preciso comprar um pra mim. Depois me conta o que achou quando terminar de ler.
Gostei de sua sugestão para o vídeo. Realmente deixei passar batido esse tema. Anotado aqui.
Estou exausta! Vou tentar ler um pouco antes de dormir. Ah, pode deixar que amanhã te chamo no chat para contar como foi a entrevista. Tomara que você consiga assistir depois pela internet.
Beijokas e bom descanso.
Maria Clara.
PS.: Por que você usa o nick Hideki em todas as suas redes? Você tem um nome tão bonito... está se escondendo de alguém? 😃
Envio o e-mail, desligo o computador e pego meu livro. Estou realmente muito cansada e nem sei se vou conseguir ler muito, mas preciso tentar. Me jogo debaixo das cobertas, chamo meus peludos para cama, abro meu livro e mergulho no universo de Anne Bishop.
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As coisas aparentemente estão calmas para Maria Clara, mas será que vai continuar assim?
Deixe seu comentário (ele é muito importante para mim) e não esqueça de votar no capítulo. Seu voto ajuda muito na divulgação do livro.
Beijokas!
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