01 - O Início

Eu e minha irmã estávamos de madrugada na rua, lindas e bêbadas, praticamente brilhávamos para quem passasse por perto, duas jovens, inconsequentes, se achando as donas do mundo, as que nunca seriam pegas por seus erros, que nunca seriam vítimas de um erro. Um erro musculoso de olhos castanhos como avelãs, cabelos laranjas como cenouras e um sorriso que de longe mostrava o perigo que seu dono traria a partir de um só olhar.

Eu fui a escolhida, talvez por ser a menor, mais nova, com mais cara de pura, com vestimentas mais recatadas, ou porque viram no fundo da minha alma, uma escuridão que nem eu mesma sabia que ali estava. Minha irmã foi deixada desacordada no meio fio, e eu enfiada no porta malas de um sedan. A partir daquilo, minha mente tem uma lacuna, somente a escuridão do que um dia foram minhas memórias tentando sair daquele carro, ou de um sonho que não deixou vestígios.

Acordei no ano seguinte, literalmente, mas não por ter ficado tanto tempo desacordada, mas sim, porque foi em uma fatídica noite de ano novo em que minha vida mudou. Como em um passe de magica, ou até mesmo, uma virada de ano, minha vida tomou outro rumo, um destino que não estava nem nos meus livros preferidos, quem dirá em minha mente.

As primeiras coisas que me recordo, era da sensação de frio e secura, meus lábios estavam ao ponto de racharem, minha garganta mais seca que um deserto. E o metal gelado que prendia meus pulsos e me acordou da sensação entorpecente que ainda nublava minha mente.

Eu estava nua, em uma mesa de metal que se assemelhava as bancadas que médicos legistas costumam trabalhar, com pulsos e tornozelos algemados, impossibilitada de qualquer movimento, mas não é como se minha mente também estivesse presa, ah não, estava mais ligada do que quando bebi energéticos misturados á um zilhão de coisas nas festinhas que sei lá porque cargas d'água eu ia. As lágrimas quentes escorreram por incontáveis minutos até o ruivo que eu pensei ter sido uma miragem entrar naquela maldita sala, e o inferno eu verdadeiramente conhecer.

Sem comer por semanas, sem beber água por dias, somente deitada e escutando, sem nenhuma palavra á dizer. Com o corpo exposto eu acabei pegando uma gripe, sem uma alimentação adequada minha imunidade estava longe de ser o ideal, então só piorei, o que eu pensei terem sido meses, no final foram três míseras semanas. Com medo e mal me mantendo lúcida, eu sobrevivi, e aparentemente isso foi o sinal do qual precisavam para abrir o jogo.

Eu, Amira Romero, 19 anos, Argentina, uma pré universitária de jornalismo; agora tinha me tornado o início de Yeva Barkov, uma iniciada contra sua vontade em uma das maiores organizações criminosas dos últimos tempos.

Me fechei, aprendi tudo o que me ensinaram, me tornei a única e melhor em balística do grupo, boa o suficiente para sobreviver em luta corpo a corpo, e um pouco melhor com armas brancas, principalmente nas lâminas menores que, como mulher eu sou obrigada a aprender a usar.

Entrei para cursos externos, aprendi tudo o que pude, e hoje sei me defender apropriadamente. Minha família restou em minha memória e em minha pele, tatuei o nome de todos que eu amava, incluindo quem um dia eu fui, e que nunca mais voltarei a ser. Não depois de tudo o que fiz, vi e ouvi.

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