Capítulo 9
— Ele enlouqueceu! — Lizandra dizia enquanto saia da banheira.
Lady Marta ajudou ela a se enrolar no roupão, fazendo o tecido colar na pele nua molhada. Os cabelos presos em grampos estavam com pequenas gotas de água escorrendo das pontas para os ombros.
— Theodore estava bêbado e você como conselheira não deveria ter bebido junto, agiu de maneira totalmente irresponsável, Vossa Graça — Lady Marta disse secando os braços e indo até o baú que o vestido estava dobrado por cima.
Lizandra abaixou a cabeça se soltando do roupão enquanto vestia as roupas de baixo com a ajuda de Lady Marta.
— Agora ele quer que eu me case! — Ela disse enquanto Lady Marta apertava os cordões do espartilho, a deixando sem ar.
Lizandra desceu as escadas segurando o vestido para que a barra não encostasse nas botas. O tecido verde musgo tinha detalhes em renda preta e pequenas pérolas negras. Não estava usando luvas, mas um anel de pedra azul no dedo do meio. Os cabelos loiros presos em um penteado que deixava parte presa, parte solta, fazia os fios dourados parecerem mais volumosos e ondulados. A casa que estava tranquila e sem muita movimentação de criados, estava também bem iluminada e arejada, as janelas abertas deixavam que a brisa e a luz do sol entrassem.
Enquanto descia de maneira decidida e rápida, Lady Marta lutava para segui-la.
— Seu leite com laranja, vossa graça — Silver se aproximou com a bandeja e Lizzie pegou a xícara de porcelana com desenhos florais.
Lizandra se sentou no sofá suspirando e dando uma golada no leite.
Um criado atravessou a sala com um jarro de planta nos braços para mudá-lo de lugar e outra que carregava cortinas limpas passou ao seu lado.
— Ela está com essa cara desde cedo, o que houve? — Cochichou o criado para a colega que deu de ombros.
— Vossa graça não está de bom humor.— Respondeu.
Lizandra deixou a xícara de lado e jogou a cabeça para trás suspirando. Lady Marta se sentou ao lado, segurando a mão dela enquanto fazia carinhos circulares sobre sua pele.
— Disse a ele que não queria se casar? — Perguntou Marta com a voz baixa.
— Claro que disse — Respondeu de maneira impaciente.— Ele está com uma conversa de que preciso me estabelecer logo com um homem, talvez juntar as terras em uma aliança, percebe o absurdo?
Lady Marta pareceu se divertir da insatisfação dela e deu um sorriso amigável, isso não acalmou os nervos de Liz.
— Sua majestade talvez tenha razão, — Começou dizendo e fez Lizandra abrir os olhos para ela.— A senhora talvez precise se casar logo, já passou do tempo.
Lizandra se soltou da mão dela, cruzando os braços e rolando os olhos para o lado.
— O que quer? que eu me case com um duque? um lorde? — Ela riu entre os dentes.— Por dinheiro e terras? Lady Marta eu sou a mulher mais rica de Ilya, tenho dinheiro suficiente para comprar Clover Adelle e Avonllea se quiser — Disse nervosa.— Nunca precisei de homem e não será agora só porque estou um pouco mais velha.
— Na verdade — Ela escutou a voz da rainha Yvanna atrás dela, o que a fez se virar para olhar sua majestade entrando no palácio com um criado que estava segurando sua valise e agora, seu casaco de pele.— Vinte e dois anos é muito acima da média, minha querida amiga, terá sorte se achar um candidato que a aceite.
Lizandra ergueu a sobrancelha e virou a cara novamente.
— Que me aceite? — Ela riu.— Só pode estar brincando comigo...
Yvanna se juntou a ela e a Lady Marta que prestou uma reverência e deu lugar para sua majestade se sentar ao lado delas.
— Vamos, Liz, eu tomei a liberdade de lhe fazer uma lista dos melhores partidos até o momento e...
Lizandra sorriu se levantando e arrumando a saia amassada, o movimento fez com que ela empurrasse a perna de Lady Marta e de Yvanna.
— Sabia que tinha dedo seu nessa estória, Yvanna — Lizandra comentou com um tom realmente magoado enquanto caminhava para fora da sala.— Só não queria acreditar.
Lizandra saiu pela porta batendo com força. Lá fora, a brisa do início do dia tinha cheiro de ervas e limão. Os patos estavam migrando para as montanhas e o verde do campo nunca esteve tão verde.
A carruagem estava estacionada na entrada, os cavalos haviam acabado de serem trocados e alimentados, o cocheiro e um criado estavam parados ao lado dela, quando notaram a presença da Grã-Duquesa, prestaram uma reverência e Lizandra esfregou as bochechas vermelhas no intuito de pôr fim a coloração, mas só as fez ficar mais rosadas.
— Preciso ir até a cidade.
O cocheiro nem esperou mais uma ordem, abriu a porta para que Liz entrasse e quando ela já estava lá dentro e acomodada, ele subiu e conduziu a carruagem para fora do palácio. Só quando já estava atravessando a ponte do lago, notou que não havia pego sua valise, nem seu chapéu, nem suas luvas. Mas encostou a cabeça na janela e se deixou ser levada.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top