Capítulo 13


Will estava sentado no banco de espera do lado de fora do ambulatório. Não deixaram que ele entrasse, mas Dom disse que conseguiria notícias e pediu que ele ficasse sentado esperando até que ele retornasse.

Não havia mais um pedaço sequer de unha que William pudesse roer. Ele estava tão nervoso que pela primeira vez em muito tempo se sentiu com medo de algo. Medo de que algo grave tivesse acontecido a Sean e medo de ser expulso. A companhia era tudo para ele, tudo que ele sempre quis e pelo qual abdicou tantas coisas e pela qual viveu, dando de fato sua vida por ela. Will estava acostumado a levar tudo que podia com uma boa dose de sarcasmo e humor, mas ele não estava conseguindo disfarçar o nervosismo.

E também tinha aquela mulher. O estômago de Will se revirou só de se lembrar como desafiou o Major. Will podia imaginar calmamente Lizandra brandindo uma espada e indo para a guerra. Podia imaginá-la lutando ao lado de Augustus Victori na revolução. Uma guerreira em toda sua glória, uma maldita Mallmann e seus mais profundos sentimentos por quem ousasse entrar em seu caminho.

O som dos passos ecoando no corredor fizeram Will acordar e olhar Dominic empurrando uma cadeira de rodas com Sean sentado se aproximando com os braços cruzados e um sorriso no rosto, isso deixou ele aliviado, então se levantou para receber o amigo.

— E então? — Will perguntou apreensivo quando os dois pararam na sua frente.— Tudo bem, campeão?

Ele deu soquinho no ombro de Sean, mas só percebeu que o pé dele estava enfaixado na altura do tornozelo quando olhou para os próprios pés.

— Tive uma torção por causa da queda, coisa pouca — Sean disse dando de ombros e fazendo uma expressão convencida.— Daqui umas duas semanas eu vou estar novinho em folha.

Eles riram e as risadas pararam quando Lizandra parou atrás de William. Dom e Sean olharam para ele no intuito de avisar e Will se virou olhando para baixo, encarando Lizzie.

— Vossa Graça — Eles disseram em conjunto, se curvando.

— O senhor está bem, senhor Thompson? — Ela lançou um olhar preocupado para Sean que estava sentado na cadeira.

— Sim, Vossa graça — Respondeu sorrindo.— Pronto para outra.

— Espero que não tão cedo — Respondeu Lizzie sorrindo de volta.— Deixou seus colegas bastante preocupados.

Ela olhou para Dominic e para Will.

— São mais que colegas para mim, Vossa Graça.— Sean disse sorrindo de lado.

— Por favor, me chame de Lizzie, — Disse esticando a mão para que Sean a segurasse, ele sacudiu num cumprimento. — Assim como informei ao Major Allmons, mediante ao acidente com o Akouard, não irei suspender a verba para um novo teste — Os três olhavam surpresos para ela, ouvindo atentamente.— Mas não sinto que o senhor Allmons seja a pessoa mais confiável em me orientar referente as naves e gostaria, como estou pagando por isso, de saber de tudo da maneira mais crua possível, e estava pensando se o senhor Kendric poderia me ajudar.

Ela se virou para William que parecia um poste. Ele ficou parado encarando a duquesa sem acreditar no que ela havia dito. Dom tossiu chamando atenção do amigo.

— Ele vai ajudar sim, Vossa graça — Disse fazendo Lizzie se virar para ele.— Não é mesmo, Will?

— Sim, claro — William murmurou sacudindo a cabeça.— Como desejar, mileide.

— Afinal, tratei também com o Major referente a sua recente perda de título, ele me informou que o senhor agrediu um soldado do exército real, correto? — Perguntou cruzando os braços.

Sean deu dois tapinhas discretos na mão de Dom e ele apontou para frente. Dominic entendeu o sinal e começou a empurrar a cadeira, passando por eles que acompanharam os dois com o olhar.

— Nós vamos indo, eu tenho que levar o Sean para trocar a fralda geriatrica dele.— Dominic disse seguindo pelo corredor com um aceno e ela ouviu Sean resmungar algo para ele.

Lizandra voltou a olhar para Will na sua frente e percebeu que ele nem ao menos tinha desviado o olhar dela, sentiu a pele arrepiar e um frio se instalar embaixo das costelas.

— Então, senhor Kendric...

— Ele me bateu primeiro, eu só revidei — William disse caminhando e Liz o seguiu ao seu lado.— Não me arrependo.

— Muito adulto da sua parte dizer isso.— Ela disse com um tom irônico, fazendo Will olhar para ela com um sorriso no rosto.

— O que está feito está feito, arrependimentos são para pesos na consciência, Vossa graça — Ele disse voltando a olhar para frente.— E pesos na consciência é algo que eu não tenho.

— Bem, de toda forma — Lizandra pôs as mãos no bolso da calça e estreitou os olhos quando saíram no pátio e a claridade do dia lhe cegou os olhos por um momento.— O que o senhor fez hoje ao descobrir o defeito na asa...— Ela tremeu só de lembrar do som da asa se partindo.— Quero dizer que posso fazer uma indicação para que o senhor volte a ter seu título de capitão novamente.

William parou de andar e ela fez o mesmo. Ele negou com a cabeça, olhando na direção das montanhas e observando as nuvens começando a se formar no horizonte, mas ainda longe.

— Se a senhorita fizesse isso me transformaria num privilegiado desta companhia — William disse baixo mas ela escutou cada palavra.— E nesta equipe nós contamos com o esforço e não com privilégios, Vossa graça.

— Mas aquilo visivelmente foi um ato de esforço, não acha? — Ela olhou na mesma direção que ele.— Você merece o título.

Ele abaixou a cabeça, depois ergueu, o movimento fez o cabelo cair para o lado e quando ele levantou os olhos castanhos para ela, Lizandra deu um passo para trás pois por alguma razão, não confiou nela mesma.

— Eu sei de minhas responsabilidades e acima de tudo, diferente do que pensam ao meu respeito, sei das consequências de meus atos — Ele soltou um suspiro e uma risada baixa.— Meu afastamento é uma delas. E depois não quero dar mais problema para a senhorita, acho que já foi o bastante por um dia, não?

Ela sorriu e Will achou encantador os pequenos buracos fundos que se formaram em suas bochechas e nos espaços triangulares nos cantos dos lábios.

— Bem, se o senhor está dizendo, agora tenho que ir ou vai ficar muito tarde para pegar a estrada — Ela tirou as mãos do bolso e deixou que caíssem do lado do corpo, ergueu a mão direita para que ele a pegasse.— Foi um prazer, senhor Kendric.

William pegou na mão enluvada e apertou levemente, Lizandra pode sentir o calor da pele dele passando para dentro da luva.

— Ainda não, eu espero — Ele murmurou quando ela soltou sua mão e começou a se mover.

Lizandra parou ainda com as palavras ecoando no fundo de sua cabeça sem entender o significado, mas quando pensou em perguntar o que elas queriam dizer, voltou a andar.

William deu meia volta e voltou para dentro do pavilhão


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top