Relatórios. Relatórios. Cartas. Documentos. Aprovações que precisam ser feitas. Um convite para um baile. O batizado do príncipe herdeiro. Lizandra olhava para os papéis e tudo que queria era correr. Não estava brincando quando pediu férias para Theodore, ela realmente estava cansada. Cansada desde os treze anos, mais ainda aos dezesseis e o dobro agora. Um suspiro sôfrego escapou de sua boca quando ela se inclinou mais na cadeira do escritório e voltou a assinar e escrever mais relatórios. A vantagem que se tinha por ser uma Grã-Duquesa e mulher, era que não precisaria - Ela preferia pensar desta forma -, se juntar aos duques e lordes no parlamento. Estava feliz em fazer tudo dentro de sua própria propriedade e sentada o mais confortável possível em sua poltrona.

Pegou as pastas pesadas e começou a olhar os papéis de baixo para cima, como gostavam de colocar os de cima com os assuntos mais simples e sem extrema necessidade, ela sempre olhava os papéis que ficavam no fundo da pasta.

Usou a espátula e rasgou o primeiro envelope.

Secretaria de segurança, Ruaelly, Clover Adele.

Destinatário, Trimphord, Winter Solei.

Minha caríssima Lady Lizandra Theodora Delaroy Mallmann

Fui informado sobre o aumento de verbas para a companhia de aviação da coroa,

porém o valor sugerido parece estar acima que os valores distribuídos aos soldados do exército real,

deste modo não posso permitir a autorização da transferência de valores.

Vossa Majestade real, o rei Theodore nos escreveu informando que seu desempenho com a companhia é de total devoção e por isso fico profundamente triste em lhe negar esse pedido,

entretanto, fico contente de informar a vossa graça que um valor menor, mas ainda assim maior que o anterior, será devidamente transferido para os pilotos de Ranking A e B.

Desde já agradeço aos seus serviços,

encarecidamente, primeiro secretário de segurança

Sir Daves Seraiose.

Lizandra encarava o papel amarelado com o selo azul e brasão da coroa. Os dedos apertavam a carta com tanta força que um dos cantos inferiores começaram a rasgar nas extremidades. O Catharina pensaria se estivesse lendo aquela carta. O quanto a antiga rainha trabalhou para que essa companhia se mantivesse de pé, para que durasse e protegesse seu reino. A relação de Lizzie com Sir Daves era extremamente profissional e eles conversavam por cartas, geralmente sobre projetos e informações que precisavam ser passadas a Theodore mas que antes tinham que passar pelas mãos de Lizzie.

Não tinha nada contra o secretário, mas estava começando a guardar um pequeno ódio em sua consciência e isso fez ela amassar a carta e jogar no chão.

Por mais que estivesse fazendo todo aquele serviço naquela manhã, não conseguia nem por um minuto afastar o pensamento do capitão saltando da ponte dois dias atrás. Um arrepio correu a nuca dela só de voltar a imaginar ele saindo da água e de como ele a enfrentou como se ela não fosse mais especial que um colega.

Lizandra afastou os pensamentos e jogou uma bala de açúcar e canela, jogando na boca, voltou a pegar outra carta, essa com um selo verde com uma águia talhada na cera. Lizzie rasgou o círculo e abriu as dobras do papel, puxando a carta escrita dentro.

Diretoria da companhia de aviação, Sky Riders. Lamburg, Menphis Pearl.

Destinatário, Trimphord, Winter Solei.

Mileide,

Escrevo-lhe para informar que o senhor Clinton, nosso engenheiro mecânico

acaba de terminar seu aprimoramento em uma nova nave de combate.

Estamos bastante empolgados com os primeiros testes

mas muitos outros ainda precisam ser feitos para alcançar a perfeição de Zac Hoffman.

Como a senhorita é nossa principal patrocinadora e a nave foi totalmente construída com os fundos arrecadados de suas doações generosas,

acredito que Vossa Graça queira nos dar a honra de nos visitar para assistir aos testes de voo.

Toda forma, agradecemos seus cuidados.

Major Quentin Allmons.

— Lady Marta!

Lizandra chamou e no instante seguinte a dama de companhia estava parada na porta com uma bandeja na mão.

— Sim, Vossa graça?

— Onde está a lista de nomes para pretendentes que vossa majestade, a rainha me trouxe? — Perguntou olhando para a cara espantada de Lady Marta por cima do ombro.

Lady marta abriu a boca, depois a fechou, olhando para ela sem piscar.

— Bem...— Gaguejou.— Creio que eu tenha guardado junto de suas anotações, mileide.

Ela apontou para a caderneta em sua frente e Lizandra pegou abrindo as páginas como um leque em busca do papel.

— Obrigado, Lady Marta.

A dama continuou parada na porta como se estivesse vendo um fantasma.

— Se me permite, mileide...

— Não permito, Lady Marta — Lizandra disse sem olhar para ela, olhando os oito nomes no papel e fazendo uma careta.— Já estou me esforçando o bastante, não acha?

— Certamente, vossa graça — Lady Marta pareceu envergonhada.

Lizandra riscou o primeiro nome da lista, depois o segundo, depois o terceiro, o quarto. Soltou um suspiro com vontade de jogar o papel na lareira, mas respirou fundo.

Louis Aristov, Lorde. Havia acabado de subir de posto de cavaleiro para Lorde, mas ela pensou que seria pior se ele fosse um baronete.

Duque Ivan AshWorth, Duque Andrei Clifford e por último, Duque Sebastian Ellingston.

— Lady Marta, escreva para esses três — Ela apontou o nome dos três Duques no papel.— Os convide para um chá na próxima semana, lhes informe que desejo por livre e espontânea pressão, ser cortejada por eles.

Lady Marta tossiu em nervosismo e Lizandra se levantou passando a mão na saia do vestido.

— Certamente, vossa graça — Ela seguiu lizandra pelo corredor.

— Ah, claro — Disse parando no meio do caminho para olhar para Marta.— Peça a carruagem que esteja pronta, irei sair mais tarde, Lamburg, quartel dos Sky Riders.

— Sim, senhora — Respondeu indo rápido na direção da escada.

Seriam longas três hora, pensou.