Capítulo 22
BEATRIZ
Mecho um pouco o corpo ainda de olhos fechados e tudo em mim dói, parece que fui atropelada por uma manada de elefantes, tento abrir os olhos e é como se areia estivesse neles além da pálpebra estar pesada, demora alguns segundos antes que eu consiga abri-los completamente. Com lentidão rolando meus olhos tentando me localizar, conheço essas paredes estou no meu hospital, eu dormi depois de um plantão?
Não, tem algo errado.
Fecho os olhos mais uma vez tentando me concentrar, a dor me deixa um pouco fora do ar, por que eu to sentindo tanta dor assim? Faço um checape mental do meu próprio corpo e a única coisa que não sinto dolorida são os meus pés, de resto até o meu bumbum dói, mas vejo pelo lado bom eu estou totalmente lúcida e me lembro bem do que aconteceu agora.
Algo quente desce pela minha bochecha e so ai percebo que estou chorando, tento levantar a mão para limpá-la mas não consigo. Uma pontada de desespero faz o meu peito se apertar, mas uma vez tento levantar a mão e nada acontece.
– não... naooo... – o desespero toma conta do meu peito de maneira esmagadora.
– Ei meu amor, fica calma. – escuto a voz do Bento, mas permaneço de olhos fechados.
– Ben...– não consigo falar direito por isso limpo a garganta e espero um pouco antes de voltar a tentar– Bento, a minha mão não consigo movê-la, diz pra mim.. que minha mão ainda tá ai, por que eu não consigo... não consigo olhar...
– Calma sua mão tá aqui – ele delicadamente pega no meu braço e um pouco mais abaixo onde eu não consigo sentir nada e a levanta e então eu vejo a minha mão cheia de curativos e imobilizada em uma tala.
– Ela funciona Bento? Minha mão vai voltar a funcionar? – ele desvia o olhar e meu desespero chega a níveis astronômicos e os monitores cardíacos que estão ao meu redor apitam – não...
– Calma e respira fundo comigo. – dessa vez quem fala é o Gregório parando do outro lado da minha cama.
– Gregorio... fala pra mim, eu sou cirurgiã, eu preciso da minha mão – falo corando –, porque eu não sinto ela, ela ta totalmente comprometida? não mente pra mim.
– sua mão foi muito machucada, você passou por uma cirurgia, os médicos disseram que sua mão iria ficar boa, eu não sei por que você não a está sentindo, mas eu vou chamar aquele ortopedista metido pra vir aqui dar uma olhada.
– Metido? – me apego a esse detalhe insignificante para não surtar com as outras informações.
– O tal de Alexandre é um mauricinho metido, até o jeito dele andar me irrita, mas ele salvou sua mão então eu engulo a metidez dele. É bom te ver sorrindo – ele fala e faz um carinho no meu rosto – se você dormisse mais um dia o Bento iria desidratar de tanto chorar.
- Ei! eu não chorei tanto assim.
– Cara você não parou de chorar um minuto sequer, até a sua mulher já estava com vergonha. – e com isso os dois entram em uma discussão o Gregório pisca pra mim e sorri de lado e percebo que ele conseguiu o objetivo de distrair o meu irmão que realmente tava chorando enquanto segurava o meu pé como se estivesse tentando ter certeza que eu estava realmente aqui com ele.
– Vamos parar com essa discursão idiota, eu vou la chamar a minha mulher ela vai ficar feliz que a Bea finalmente acordou. – E assim meu irmão sai do quarto me deixando sozinha com o Gregório.
– Por favor, agora que ele se foi me conta o que aconteceu comigo, quanto tempo eu fiquei apagada? O que ele fez comigo?
– Quando eu cheguei – ele para um pouco e limpa a garganta, puxa uma cadeira e se senta do meu lado direito onde está a minha mão boa, Gregório a pega com delicadeza, pois está com o acesso venoso, e coloca a sua embaixo é bom e reconfortante sentir o calor da mão dele. – o cara estava em cima de você eu vou te poupar os detalhes, mas trouxe você para o hospital a quatro dias, o mais preocupante eram a sua mão, uma tal de hemorragia interna e essa sua cabecinha linda, não sei explicar tudo que foi feito, mas eles salvaram você.
– Você pode pegar o meu prontuário aí ao pé da cama? – peço a ele que abre um sorriso e fico sem entender.
– Eu não posso fazer isso. – ele fala ainda sorrindo.
– Claro que pode e só soltar a minha mão e pegar esse pequeno tablet que fica ali – aponto para o lugar onde sei que vai estar o que quero.
– os médicos disseram que você iria pedir e me fizeram prometer que eu não iria entregar, aliás eles fizeram a família inteira jurar que não iremos te mostrar seu prontuário, colocaram até uma senha no aparelhinho.
– O que? por que?
– Para não preocupar essa sua cabecinha
– Eu já to preocupada, me dê o prontuário agora.
– Me disseram que eu não deveria mesmo se você usasse essa sua voz de comando e nem se você fizesse bico e nem se você fosse manhosa e dengosa. – ele vai pontuando todas as táticas que eu realmente iria tentar para conseguir o que eu quero – Você não vai ver seu prontuário mocinha.
– O que estão me escondendo? – pergunto a ele, eu só levei uma surra, provavelmente tive um traumatismo craniano pela leve dor que estou sentindo na minha cabeça, obviamente meus dedos foram quebrados, e posso ter tido um sangramento interno a não ser que... – Gregório eu fui estrupada?
– O que?
- eu me lembro dele em cima de mim, lembro que implorei a Deus para me salvar, lembro dele rasgando a minha blusa; você obviamente está me escondendo alguma coisa. Então eu fui estrupada? – Minha voz sai controlada mesmo que por dentro eu esteja desesperada.
– Não, você não foi. Graças a Deus eu cheguei antes disso acontecer. – Ele praticamente rosnou essa parte, dá para notar o ódio fervendo nele. Por um momento ele aperta minha mão um pouco mais forte, mas eu não reclamo da dor.
– Então o que vocês estão me escondendo?
– Eu deveria esperar a sua família para te contar isso junto com eles, mas você tá com cara que não vai desistir – ele fala me deixando super ansiosa – por conta do que aconteceu tiveram que fazer vários exames, seus irmão exigiram e pagaram para te fazerem vários exames alguns que nem precisavam, com isso descobriram algo errado no seu pâncreas.
– O que?
– É parece que era o início de uma massa, daí fizeram uma cirurgia em você e foi retirado totalmente. Um médico queria vir te contar, provavelmente eles vão ter uma conversa sobre tudo com você em termos mais técnicos.
– Câncer no pâncreas costumam ser os piores, pois nunca são diagnosticados precocemente então quando os sintomas aparecem são tarde demais.
– Então você teve sorte? De uma maneira meio torta claro
Estou realmente chocada com isso, eu nunca poderia imaginar, um tumor no pâncreas e quase que fatal na maioria dos casos, são raros os que são diagnosticados em tempo hábil para um tratamento efetivo. A constatação do perigo que eu estava correndo me atinge, duplamente. Então eu começo a chorar e como se um tsunami de emoções me atingisse bem forte, meu corpo treme pelo choro e com isso eu sinto muita dor o que me faz ter ainda mais vontade de chorar.
percebo a cama se afundando e então sou envolvida pelo calor dos braços do Gregorio, mesmo ele sendo tão grande me abraça e me envolve com delicadeza falando palavras de conforto no meu ouvido e enxugando minhas lágrimas com um lenço de papel que nem sei de onde saiu.
– Os pensamentos de tudo que aconteceu ficam rondando minha cabeça. A imagem dele me batendo fica voltando na minha cabeça, eu senti tanto medo Gregorio achei que ele ia me matar eu pensei realmente que fosse morrer na minha propia casa.
– Eu sinto muito, por você ter passado por isso.
– Por que ele fez isso comigo? A culpa não foi minha – a medida que eu falo a dor e o choro aumentam ainda mais.
– Shiii, não chora! Eu sei, todo mundo sabe que você não fez nada de errado; ele estava drogado e fora de si.
– O que aconteceu com o Lucas? – pergunto depois de me sentir mais calma
– Ele foi preso, para a sorte dele já que os seus irmãos queriam matar o cara, como as esposas os impediram de fazer isso eles fizeram questão de ferrar o tal Lucas e agora ele vai responder por tentativa de homicídio.
– Certo – é tudo que consigo falar, esse assunto não está me fazendo nada bem – vamos mudar de assunto por favor, me diga algo para me distrair.
– O Lorran recebeu alta, agora ele está na casa da Lívia. Sua sobrinha Larissa praticamente sequestra o meu menino todas as tardes e eu não sei dizer não a ela com aqueles olhinhos verdes adoráveis. Ela me liga e fala " tio Greg o Lorran pode, por favor, vir jogar videogame comigo eu prometo que cuido bem dele e do coração dele, sabia que eu já estive doente? Vou saber cuidar dele"
– A cara dela ter dobrado você assim como fez com toda família. – comento já me sentindo bem calma.
– O lado bom é que eu aproveito o tempo para vir aqui te ver.
– Obrigada por ficar ao meu lado, mesmo que estivesse apagada.
– Eu nunca iria te deixar num momento como esse, aliás se depender de mim eu não sairia do seu lado de jeito nenhum – fala charmoso.
– Eu devo estar horrível, pálida, com o cabelo desgrenhado e cheia de olheira e curativos. Mas mesmo assim você tá jogando seu charme barato para cima de mim?
– Ei meu charme não é barato, ele vale ouro e eu não saio distribuindo pra qualquer uma não, eu tenho meu valor.
– Então quer dizer que eu devo me achar especial? – Entro na brincadeira
– Claro gatinha, você foi a felizarda em ganhar meu coração.
– Você é um bobo e muito brega, eu queria te dar um tapa agora, mas as minhas mãos estão debilitadas.
– Depois quando você ficar melhor deixo você me bater, mas já aviso que vou bater em você de volta. – Ele já não parece estar brincando, pelo contrário o olhar que ele dirige a mim não tem nada de inocente.
– Gregório eu to machucada, não mereço ficar machucada e com tesao.
– Eu não tava indo por esse lado, Beatriz você é uma safada – ele fala mas sua mão vai até a base do meu pescoço onde ele sabe que sou sensível e faz cócegas.
– Sei.. mas obrigada.
– Pelo que?
– Por me distrair, funcionou
– Estou aqui pra isso e se você permitir eu vou sempre estar aqui para você.
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