Capítulo 13


BENTO

          Quando eu nasci meu pai era apenas um simples artesão de vidro. Ele e minha mãe se conheceram desde o colegial e se casaram logo depois da formatura. Ambos eram órfãos. Meu pai foi criado pelo avô e minha mãe por uma tia dela, os dois não tinha uma condição financeira muito boa, mas mesmo assim eles tiveram um bebê, no caso eu.

          Meu pai tinha muito talento pra fazer peças de vidro e suas preferidas eram as taças delicadas e únicas. A popularidade das peças dele foram aumentando é assim ele abriu uma pequena fabrica. Três anos se passaram e minha mãe engravidou novamente o nome do meu irmão é Benício e eu amei aquele menino desde a primeira vez que pus meus olhos nele. Nossa infância foi perfeita. Vivendo em meio a fabrica, vendo meus pais se esforçando pra crescer e subir na vida. A raspinha do tacho, como minha mãe costumava chamá-la, foi a minha irmã Beatriz que veio quando o Benício tinha um ano.

          Anos depois minha mãe acordou sentindo- se mal, foi até o hospital, mas o medico atestou que era apenas indigestão e mandou para casa com uma receita de sal de frutas. Três horas depois ela estava morta.

          O que aquele infeliz irresponsável constatou apenas como indigestão era na verdade um ataque cardíaco que acabou sendo fatal por falta de cuidado imediatos. E assim com quatorze anos minha vida e a dos meus irmão foi tida totalmente do eixo. Nós perdemos não só a mamãe, mas o pai também.

          Ele mudou, deixou de ser um pai amoroso e presente e se transformou em um homem sisudo, fechado e ausente. Mandou minha irmã ir morar com a vovó em Belo Horizonte e se dedicou totalmente ao trabalho. Ele acreditava que minha mãe morreu porque éramos pobres e por isso os médicos não a atenderão como deveriam, ela era ninguém e por isso foi negligenciada. Meu pai não aceitava isso e jurou que iria ser alguém na vida para que nunca ninguém pisasse na gente outra vez.

          A fábrica crescia na mesma medida que o seu distanciamento da gente. Eu só tinha o Benício e ele a mim. Morríamos de saudades da mamãe do papai e da Bea. Nossa vida que antes era feliz ficou sombria e cheia de amarguras.

          "Mas sempre teremos um o outro Benício."

         A MonteGlass se tornou uma referencia em artigos em vidro meu pai ampliou a empresa em um ponto que já se produzia desde taças a vidro blindado. Tínhamos filiais em diferentes estados fazendo os mais variados produtos. Meu pai então começou a prepara a mim e Benicio para assumirmos nossas cadeiras junto à diretoria. Frequentamos o melhor colégio, fizemos a melhor faculdade; depois passamos a trabalhar na fábrica, meu pai fez questão que conhecêssemos cada setor, cada processo e cada filial. Aprendemos sobre o esqueleto da empresa para só depois começarmos na parte administrativa.

          Eu devo confessar que desde o dia que meu pai me levou a sua oficia, quando eu ainda era criança e me mostrou como manipular areia até ela se tornar uma delicada taça eu me encantei pela arte de se trabalhar o vidro, eu quis fazer aquilo e ainda muito jovem eu já dominava essa técnica milenar, o Benício não se encantou como eu. ele não levava jeito é eu sabia que seu negocio eram os números. Então para mim não haveria competição. Eu iria produzir e ele vender e administrar.

          Mas meu pai tinha outros planos, a perda da mamãe e a ganância fizeram com que ele esquecesse o que realmente importava, tudo para ele era dinheiro e mais dinheiro. Quando eu disse que queria trabalhar na produção,, que eu queria esculpir e estudar para me tornar um mestre vidreiro ele riu e me disse que agora os Monteiros não se sujeitariam a isso. Como ele pode esquecer-se de onde veio? De onde vem todo esse dinheiro e poder que ele tanto gosta? Como ele pode desprezar aquilo que já amou um dia?

          Mas eu era fraco e aceitei as condições dele de ficar na diretoria, eu nunca fui um adolescente problemático que enfrentava o pai, pra mim o cero era acatar e respeitar a sua vontade afinal ele era o meu pai. Falei para mim mesmo que era só por um tempo ate convence-lo, mas o mesmo mal que tomou o meu pai me atingiu. Eu comecei a gostar cada vez mais de ganhar dinheiro, de ir pra a farra e ver mulheres se jogando aos meus pés, de usa o nome Monteiro, que agora abria portas em qualquer lugar. Meus olhos brilhavam a cada possibilidade de alcançar um nível mais alto de poder e prestigio social.

          Eu que julguei tanto meu pai acabei ficando exatamente igual a ele, ou pior.

          Foi então que papai decidiu se aposentar, a cadeira da presidência estaria vazia e eu me regozijei com a possibilidade de sentar nela e me tornar um dos homens mais importante do país, mas havia um obstáculo: Benício. Ele também queria presidência ele estudou e se dedicou a isso é apesar de ser mais novo ele achava que poderia tê-la em meu lugar. Foi então que meu pai começou uma serie de desafios, uma competição para ver qual de nós ficaria com o seu lugar.

             Eu e meu irmão começamos uma verdadeira batalha víamos um ao outro como inimigos. Dividimos a empresa em quem estava do meu lado e quem estava do lado dele. Brigávamos por cada conta com unhas e dentes. Afastamo-nos, não ligávamos um para o outro. Era como se fossemos dois estranhos. E com isso eu perdi mais uma pessoa que amava, eu perdi o meu melhor amigo e então estava completamente sozinho. Só que na época eu não enxergava isso, estava tão cego que não percebi que aos poucos fui perdendo minha outra metade e com isso me perdi de mim mesmo.

          A disputa no mesmo patamar que deteriorava nossa relação aumentava os lucros da MonteGlass, em dois anos conseguimos estar presente em toda a América: montamos uma filial nos estado unidos, ponto pro Benício; e outra no Canada, ponto pra mim. Meu pai alimentava essa disputa, nós incentivava a sermos cada vez mais ferozes. Nada mais importava para nos três.

          No meio disso tudo estava a Beatriz que não tomou lados, se formou em medicina e vivia para seu trabalho e para tentar manter uma relação equilibrada com nos três, nessa época ela era a única pessoa em quem eu realmente confiava, sabia que com o Benício era a mesma coisa. Jogamos todo o peso da nossa rivalidade nos ombros dela, ela se tornou a nossa Nêmesis.

          Até que um dia a oportunidade que mudaria tudo chegou. A chance de expandir nossa empresa e começar a distribuir os produtos por toda a Europa e Ásia eu e Benício apresentaríamos duas propostas para a diretoria, sobre uma parceria vantajosa com uma empresa russa de distribuição. Quem conseguisse fechar o contrato com a maior vantagem para a MonteGlass ficaria com a tão almejada posição de presidente.

          Meu plano era ótimo estudei todos os números para propor porcentagens vantajosas para os dois lados. A minha ideia de apresentação seria simples e objetiva: mostrar aos investidores e aos russos como nossa empresa familiar era solida no mercado e poderia trazer lucros inimagináveis para ambos os lados. Depois de muita dedicação e empenho eu tinha nas minhas mãos os resultados para uma apresentação impecável, mas naquela noite alguém da equipe do Benício veia mim para se vender, ele tinha informações sobre o projeto do Benício e para minha surpresa era superior ao meu se ele apresentasse aquela proposta eu seria derrotado com certeza.

          Foi então que ele propôs dar um jeito para que o Benício sofresse um pequeno acidente e saísse do meu caminho.

"Poso fazer o serviço de maneira discreta, pelo preço certo o senhor não vai ter que se preocupar com nada"

          Cego pela raiva e pela ganância desmedida eu topei. Paguei o preço que ele pediu para trair meu irmão. Eu não senti nem remoço. Já que o Benício estaria fora do caminho continuei o meu trabalho na mesma linha, no fim eu iria me tonar presidente de uma forma ou de outra.

          Comecei a fazer a preparação para mostrar aos russos a historia de como a empresa começou, foi então que revivi o passado, lembrei como meu pai começou de baixo, como minha mãe amava a empresa, como éramos uma família feliz. Quando fui visitar uma das fabricas que fazia peças ainda de maneira quase que completamente artesanal pude me recordar do amor que sentia em produzi, da promessa que fiz a mim mesmo que só ficaria na diretoria por um tempo e então eu voltaria a fazer o que amava, promessa essa que foi perdida no tempo e enterrada pela minha ganancia.

          Fiquei mal recordando o passado enchi a cara naquele fim de semana, tentando entender como pude chegar a esse ponto da minha vida onde eu não sabia nem quem eu era mais, onde eu planejava contra a vida do meu irmão.

          A segunda feira chegou e com ela o sentimento de que eu precisava faze alguma coisa para mudar minha vida, minhas escolhas, meu futuro....

          Cheguei na empresa naquele dia e meu pai já estava esperando na sala de reuniões, eu estava péssimo mas ele nem notou, meu irmão só me olhou com desprezo a única que parecia preocupada em algum nível foi a Bea, mas isso se limitou a um olhar. Eu estava sozinho mesmo cercado eu estava sozinho. Não tinha mais o que pensa, minha decisão foi tomada e então eu sai.

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