Chara se sentou na ponte, apesar de encharcada, ali estava sozinho, Asriel não o acharia em um dos maiores penhascos de Waterfall, escondido entre diversas sequências de cavernas e cachoeiras.

A ponte era velha, rangia cada vez que o príncipe balançava os pés em direção ao precipício abaixo de si.
As cordas estavam cheias de um musgo ciano, a mesma cor que cobria a água e as flores espalhadas por toda Waterfall, mas apesar de parecerem velhas estavam bem presas, e as madeiras não corriam risco de quebrar, Chara havia testado.

Ele tinha medo de pontes, a escuridão abaixo era enorme, as grandes cachoeiras que caiam nas laterais do penhasco batiam contra a pedra lá baixo, mas era tão distante que em vez do som estrondoso de queda d'água, o som não passava de um sussurro agradável.
Chara sempre teve medo de pontes, plataformas suspensas, principalmente aquelas que se mexiam, e ainda tinha medo.

Mas um medo infantil não era maior do que o desejo de deitar e não acordar mais, apesar dos esforços de todos ao seu redor, aquele vazio deixado por Snow e por Amiram era impossível de preencher, não importa o quanto amasse Kira, sentia falta de Snow, não importava o quanto Undyne lembrasse Amiram, ela não era a general.

O vazio se tornará insuportável a cada dia, saber que não iria mais ver Amiram sentada em frente a casa vendo Omiron brincar com a areia quando passasse por Hotland ainda era difícil de digerir, toda vez que passava lá parecia haver um buraco no cenário.

Saber que jamais iria entrar nos jardins do castelo e ver Snow perdido no labirinto de vinhas que tinham lá novamente, que sempre iria até aquela casa no centro da cidade em busca dele e ele não estaria lá.

E saber que era culpa dele essa ausência eterna dos dois tornava a dor ainda maior.
Tornava aquele vazio imenso, engolindo Chara de dentro pra fora e o sufocando.

Suas memórias da longa tortura que sofreu não doíam tanto, apesar de não conseguir dormir nem desativar a alma por conta delas o deixasse irritado, talvez elas doessem mais do que ele achava.

As marcas ao redor de seus pulsos pareciam arder, como um lembrete de sua inutilidade.
Queria descansar um pouco, mas não achava justo, era sua culpa, deveria sofrer para aprender a nunca repetir aquilo. E não podia fazer nada contra si mesmo quando a imagem de Asriel chorando ao pé da cama do laboratório de Gaster implorando pra ele acordar vinha a cabeça.

Mesmo que ele tenha feito aquelas marcas, era a razão pelo qual levantava da cama todos os dias.

O príncipe deitou pra trás, apoiando o corpo nas madeiras úmidas e balançando as pernas no precipício. Deixando a umidade entrar em suas roupas e cabelos, aproveitando o gelo que vinha com ela e as leves brisas de vento com cheiro de Echo Flower que vinham da entrada da caverna.

"Ninguém vai te achar aqui" repetia mentalmente.
Não queria companhia, precisava ficar um pouco sozinho.

Mas o universo nunca escutava seus desejos e um som de portal ecoou, vindo da entrada da caverna, no início da ponte.

Com um suspiro, Chara virou a cabeça naquela direção, sem mexer o corpo, esperando ver Gaster sair do portal e lhe dar uma bronca, mas a primeira coisa que reparou na pessoa que saiu foram os cabelos carmesim, que agora estavam relativamente escuros, do jeito que estavam quando Chara encontrou Kira pela primeira vez.

Chara não se mexeu, esperando Kira o ver, o garoto olhou em volta como se estudasse o lugar, a sombra cobria seu rosto, deixando só aqueles olhos púrpura que Chara adorava a mostra, eles encaravam o ambiente desconfiados e curiosos. Até que pararam na ponte, finalmente se encontrando com os do príncipe deitado nas madeiras.

O portal se fechou atrás dele e seu olhar se iluminou, mas ele olhou a ponte apreensivo por alguns segundos antes de ir até Chara com cuidado, encarando as pernas do príncipe que estavam pra fora e estreitando os olhos.

-- Oi Kira. -- Chara sorriu cansado, segurando nas cordas e se sentando novamente.

Kira se sentou ao lado dele, fazendo uma careta pela umidade da madeira.

-- que lugar é esse? -- ele perguntou, a voz ecoando pelas paredes da caverna.

Chara virou o olhar para baixo, apoiando os braços nas cordas e levando o rosto aos antebraços.

-- é uma caverna isolada em Waterfall, meio que o limite geral da extensão dele, do outro lado da ponte não tem nada, é só uma ponte num precipício ridiculamente fundo. -- respondeu baixo.

-- mas porque você tá aqui sozinho? -- O príncipe sentiu o peso de Kira se apoiando nele, puxando o braço esquerdo de Chara para que ele o soltasse.

O mais velho soltou o braço, e Kira o puxou para ficar ao redor de si, tirando um riso soprado do príncipe.

-- precisava espairecer um pouco, mas com Asriel e Mara discutindo e Frisk tentando convencer a Hisaky que ele não namora o Ice, mesmo depois de ter dado pra ele, não ajuda exatamente caso você queira pensar um pouco. -- "ou se culpar e desejar que sua vida acabe" completou mentalmente.

Kira fez uma careta, a sombra sumindo de seu rosto revelando aquele rostinho que Chara havia decorado os detalhes, com as manchas vermelhas espalhadas por suas bochechas, os olhos púrpura de pupilas pequenas e cílios grandes.

O lugar não era bem claro, a iluminação vinha dos fungos flosflorecentes presos nas cordas e que se misturavam na água das enormes cachoeiras, as pequenas partículas no ar não eram exatamente iluminação.
Por conta da luz azulada, os cabelos de Kira pareceram tomar uma luz arroxeada, e seus olhos brilhavam com as tais pequenas partículas.

Ele era lindo.

-- Você parece mais cansado do que a última vez que te vi. -- Kira segurou o rosto do namorado nas mãos, passando o dedo delicadamente abaixo do olho direito de Chara. -- você tem dormido?

Chara desviou as pupilas.

-- não muito, na verdade. Ando tendo uns pesadelos mais vividos, e minhas crises de pânico tem piorado por conta disso. Então dormi bem pouco, apesar de que a 4 dias, Frisk me bateu com um taco e eu desmaiei por quase 20h, acho que foi o sono mais longo que já tive em 7 meses. -- ele riu, mas Kira fechou a cara.

-- ele te bateu? -- foi só o que ele ouviu.

O príncipe deu ombros.

-- pelo menos eu dormi.

-- mas sua cabeça tá bem?

-- tá sim, não ficou nenhum galo.

Kira suspirou de alívio, abraçando Chara e o puxando contra o peito.
Chara soltou a mão direita das cordas e deslizou a esquerda até ambas se envolverem na cintura de Kira, o abraçando de volta.

-- você parece mais magro do que dá última vez que te envolvi com os braços, não andou comendo de novo? -- Chara perguntou enquanto se aconchegava no abraço, sentindo as pálpebras pesarem.

-- huum, eu não gosto de comer. -- Kira resmungou.

O príncipe fechou os olhos.

-- Podemos comer sushi juntos, que tal? Você gosta. Devíamos voltar a nossa rotina, eu e você comermos juntos, dormirmos já que nós fazemos muito bem pro nosso sono, eu te ajudar a lavar seu cabelo. -- ele disse num sussurro, como se estivesse com sono. -- senti saudades.

Chara sentiu o rabinho de Kira começar a balançar, não conseguindo segurar o riso soprado. Kira enfiou o rosto no cabelo do príncipe, esfregando o nariz entre as mechas.

-- eu também senti saudade de você. -- falou meio alto, causando um eco. -- eu te amo Chara!

Chara ficou em silêncio, torcendo os lábios.
As memórias que o levaram ali se misturando com a frase lhe deixaram um gosto amargo na boca.

-- eu também te amo Kira. -- disse num sussurro quase inaudível.

-- Parece tão difícil pra você falar isso, tem algum motivo? -- Kira levantou o rosto, curioso encarando Chara.

Mas o príncipe manteve o olhar fixo na escuridão abaixo deles, o foco no ar gelado que envolvia suas pernas.

-- eu tenho dificuldade pra falar essa frase. -- respondeu com a voz baixa. -- sempre tive, eu sinto como se estivesse mentindo, como se meus sentimentos não fossem intensos o suficiente pra frase. Tanto que perdi pessoas que nunca ouviram ela de mim, e isso me dá um gosto amargo ainda maior pra falar ela.

Kira ficou em silêncio.

-- você acha que não me ama suficiente pra falar a frase?

-- eu acho que meu amor não é suficiente por ninguém pra falar ela, Asriel deve ter ouvido essa frase de mim só 3 vezes durante nossa vida inteira. Algumas pessoas como o Frisk ou a Mara nunca ouviram. É muito difícil pra mim. -- ele suspirou.

O menor torceu os lábios.

-- eu sou melhor com ações. -- o mais velho riu baixo. -- esse penhasco é bonito né?

-- não fala assim. -- o mais novo fez bico, apertando os olhos.

-- não nesse sentido. -- Chara deu uma risada, uma risada genuína, ele até estranhou o som. -- é só bonito ver as cachoeiras caindo e batendo na pedra escura, fica tão destacado.

-- como você descobriu esse lugar? Parece bem... isolado. -- Kira enrolou os dedos no cabelo do príncipe, mexendo nas mechas devagar.

-- Frisk sempre gostou bastante de Waterfall, então quando ele veio pro subsolo a gente ficava horas explorando as cavernas, passando por dentro de cachoeiras e pulando precipícios, foi ali mais ou menos que fizemos amizade, já que ele não parava no lugar e eu era obrigado a acompanhar ele em tudo. -- Kira bufou enquanto escutava, tirando um riso de Chara. -- Frisk sempre foi bem calado, então apenas ficavamos caminhando por horas, achamos muitos buracos inexplorados, mas ele gostava bastante dessa ponte em específico, acabei tomando posse dela depois que a guerra iniciou e ele tava mais focado em matar o general humano e outras merdas do que vir aqui.

-- E ele só parou de vir?

-- agora ele tá bem focado em cuidar da Omiron e se tornar presente na vida das irmãs dele de volta, então sim. -- Chara soltou o abraço, levantando o corpo. -- honestamente eu não gosto de Waterfall, eu gosto mais de snowdin, mas aqui é maior e mais silencioso, então vim pra cá.

-- você faz isso com frequência? -- Kira perguntou, se aproximando de Chara.

-- sumir pra ficar sozinho? Sim. -- Chara murmurou. -- me sinto sufocado, todos ao meu redor parecem querer que eu fique bem logo, mas eu não consigo agora, fazem uns 6 meses que a guerra acabou eu sei, mas ainda é... sei lá, ainda tá muito vivido pra mim.

Kira apoiou a cabeça no peito dele, o abraçando e subindo em seu colo.

-- Foi tão ruim assim? É por causa daquele negócio das cicatrizes que você falou? -- Kira perguntou cuidadosamente. Até pensou que talvez o território que estivesse entrando nessa conversa fosse perigoso, mas não queria recuar, queria que Chara falasse.

-- a tortura foi... Horrorosa. Eu fiquei trancado numa cela de cristal neutro por quase 2 meses... Todo dia vinha um carcereiro, as vezes levavam dias pra aparecer, mas sempre voltavam, a rainha estava sempre junto, ela observava enquanto ele cortava minha carne diversas vezes, com aqueles olhos totalmente vermelhos ela admirava o sangue manchando o chão ao meu redor... Ela dizia que eu era uma determinação fraca, minha alma era comum e sem graça, eu só sabia usar bem essa ausência de magnitude para combate. -- ele suspirou trêmulo. -- eu ainda sinto as lâminas entrando na minha pele, sinto o olhar dela sobre mim, sinto o ar com fedor do meu próprio sangue e de poeira quando eu durmo, eu acordo sentindo quando ela puxava minha alma pra fora do meu peito e apertava na mão, derramando a determinação fraca que ainda restava nos meus pés. Eu não consigo dormir porque eu sinto que quando baixar a guarda ela vai se aproximar de mim e pegar minha alma na mão, que vou acordar naquela cela, preso, eu sinto que se eu voltar pra lá eu nunca mais vou sair de novo, consigo ouvir a voz dela sussurrando que sou fraco e que almas fracas tem que morrer.

Chara respirava pesado, sorrindo com os lábios trêmulos.

Kira o olhava com as pupilas finas, suas mãos apertavam contra as costas de Chara, segurando a vontade de enfiar as garras.

-- teve uma vez... Que ela estava impaciente... Então pegou o chicote e... -- seus olhos se fecharam com força, como se ouvisse o som. -- toda vez que vejo as cicatrizes lembro que quase morri de infeção, mas a Stephania desceu lá em baixo e me limpou, ela enfaixou minhas costas, ela disse que a Amarantha tinha mandado uma curandeira, mas ela se ofereceu pra poder falar comigo. -- Chara engoliu em seco. -- pra mudar de lado, não lembro, eu tinha perdido muito sangue, eu tava com muita dor, era tanta dor que eu não conseguia nem sentir prazer... Eu não tava vendo mais nada de tantos pontos negros na minha visão.

-- E-e porque não te resgataram? -- Kira perguntou num sussurro, ele tremia, mas não era de agonia ou tristeza.

-- Asriel e Gaster tentaram, mas o castelo humano era altamente vigiado, Frisk chegou bem perto, mas acabou topando com a própria Amarantha, e ela era forte demais... -- ele suspirou trêmulo, contando até 10 devagar. -- dormir é um desafio com tudo isso martelando na cabeça, mas acho que a pior parte é a culpa pela morte... Da mãe da Omiron e da morte do... Do cara que eu amava, antes de você. -- sua voz se tornou um sussurro quase inaudível confirme avançava nas frases.

Chara sentiu Kira ficar tenso, abaixando o rosto e escondendo da visão de Chara.

-- A mãe da Omiron, o nome dela era Amiram, ela a general da Toriel, e foi a general da Aliel, a vó do Azzy. -- Chara falava baixo, acariciando as costas de Kira. -- Ela... Ela era muito forte, mas veneno era seu ponto fraco, a Amiram que me ensinou a lutar, ensinou Undyne, Hisaky, Papyrus... Todos nós aprendemos com ela. Ela sempre começava os treinamentos falando "vamos ver como você vai apanhar hoje, pirralho" e dava um sorriso de desafio, fez isso desde que eu era criança. -- ele deu uma risada seca, com a voz tremendo. -- quando a guerra começou ela... Ela tomou a frente, nas duas guerras, mas... Em um dos ataques a cidade capital eu- -- sua voz falhava. -- eu não segui o conselho dela, não recuei quando ela mandou, e uma das lanças envenenadas do... De um dos humanos acertou a lateral da cintura dela, foi fundo, até tentamos fugir, nos escondendo na floresta, mas o organismo dela era muito sensível ao veneno, e não levou muito tempo pra ela começar a vomitar sangue e ficar pálida, suando frio. Não consegui salva-la. -- ele sussurrava, com os olhos marejados. -- dar a notícia pra Omiron foi... Foi um pesadelo se tornando realidade.

Kira sussurrava contra o peito do príncipe "não foi sua culpa", apesar da maneira que Chara havia contado demonstrasse que era sim culpa dele.

-- o Snow... Ele era um dos guardas reais, eu conheci ele quando ele me perseguia na floresta, mas ele era um péssimo espião. -- Chara deu uma risada mórbida. -- Quando ele mudou de lado, não parava de me seguir pra baixo e pra cima, isso me irritava, mas ele dizia que como príncipe humano, ele iria me seguir, e não me deixava sozinho. -- Chara tinha um sorriso triste, seus olhos encaravam o abismo abaixo de si de maneira completamente vazia. -- ele era um rabugento, mas eu também era, então estávamos quites. Ele e o Frisk viraram muito amigos, o Asriel gostava dele, ele só não se dava bem com a Hisaky, mas era como se fossem rivais e amigos. -- ele soluçou. -- não fiquei nem 6 meses com ele, não consegui me declarar sabe? Pouco depois da morte da Amiram, da minha discussão com o Asriel, eu encontrei ele na praça da cidade, ele estava sumido a horas, mas quando o encontrei lá, com a garganta aberta e o corpo destruído, meu mundo acabou.

"Eu não consegui proteger ele, não consegui salvar a Amiram, meu irmão estava com raiva de mim, a Omiron tinha gritado comigo que era minha culpa, eu não via mais motivo pra viver, então fui até o castelo humano e ataquei, obviamente fui preso, capturado, de início foi só uma ideia suicida, mas depois de um mês lá em baixo, eu queria ver o Asriel de novo, ouvir o Frisk resmungando que eu parecia uma sombra dele, ouvir a Mara rindo, eu só queria sair de lá por mais uns minutos, só que aí eu lembrava de quem perdi, e que a culpa era minha, e não conseguia arranjar força pra levantar, eu só queria que a Amarantha me matasse, mas ela nunca o fazia."

Kira tremia, abraçando Chara com força, soluçando baixo enquanto sussurrava palavras de consolo que Chara mal ouvia.

-- Eu não consigo mais ver aquele brilho que eu tinha antes sabe? Não depois da minha mãe... A Toriel, no caso, eu ter descoberto que ela que não deixou Asriel ir atrás de mim, que ela impediu eles de me salvarem. Ela não me visitou quando voltei e estava me recuperando, não olhou pra mim por um longo período de tempo, ouvi ela dizendo pro meu pai que eu não era o filho dela, não sei se ela quis dizer que eu não era mais o Chara dela, ou que eu nunca fui um filho pra ela, não me importa, me machuca, mas eu não vou tentar conversar com ela sobre isso, eu não precisava daquilo naquele momento, não preciso agora, não preciso mais dela. -- ele suspirou devagar, limpando o rosto na manga da blusa.

Kira o olhou, com uma expressão de tristeza, as palavras presas na garganta.

Chara retribuiu o olhar, um olhar gentil e cansado, como se ter aquela conversa tivesse tirado um peso de seus ombros.

-- eu queria morrer, o Asriel não era mais suficiente pra me prender a vida. Viver não tinha mais gosto pra mim a muito tempo.

Kira torceu os lábios, com os olhos tomando um tom de melancolia.
O menor desviou as pupilas de Chara, encarando as cachoeiras caindo em silêncio.
As lágrimas se formando devagar, porque Chara falava daquele jeito?

-- Mas aí eu conheci você.

O menor arregalou os olhos, olhando para Chara.
O príncipe sorria gentilmente, levando a mão até o rosto do namorado e acariciando sua bochecha com cuidado.

-- tenho muita coisa pra fazer comigo mesmo ainda sabe, muita coisa pra tratar na minha mente. -- Chara falava devagar. -- ainda... Muita coisa tá doendo, ainda não consigo ver meu brilho voltando. -- ele torceu os lábios, parecendo envergonhado. -- odeio palavras sabe? Sou muito acostumado a ser só negativo, mas você... Me dá um certo gosto pela vida, tipo, eu quero viver pra ver o que vai acontecer... Entre a gente, não sei se é o termo certo que eu queria, mas sei lá, nunca me imaginei me casando e tendo uma família, é estranho saber que essa possibilidade meio que existe agora, e eu tô curioso em... Em como vai ser, sei lá, você me dá vontade de viver de novo. Não sei explicar.

Kira piscou confuso, a mudança do clima foi tão repentina, mas seu rosto esquentou.

-- você... Pensa em se casar comigo? -- perguntou baixinho, começando a balançar o rabinho.

Chara riu, o som foi revigorante.

-- foi só isso que você ouviu? -- ele perguntou sorrindo, dando um beijo leve em Kira e afastando o rosto em seguida. -- mas sim. -- deu ombros. -- penso, quem sabe um dia né? Quando você tiver mais de 18 anos talvez o Guardian e o tal do Kay não tentem me espancar por te pedir em casamento.

Kira sorriu, abraçando Chara e o fazendo cair de costas na madeira da ponte.
Chara riu, abraçando ele de volta.

-- bichinho carente.

-- eu te amo Chara, eu te amo, eu te amo! -- ele falou, esfregando o rosto com insistência no peito do príncipe.

Chara riu baixo, acariciando o cabelo de Kira.

-- eu também te amo, Kira.