CAPÍTULO 17 | RELEMBRANDO O PASSADO
Rafael
Após avisar meus pais e pedir para eles avisarem o David e a Suzan, eu e a Júlia seguimos para a fila da roda gigante. Decidimos vir ao parque de diversão que ainda está na cidade, acho que ela precisa esquecer um pouco o que aconteceu, e também precisamos muito conversar. No caminho não falamos do que aconteceu, acho que ela está esperando o momento certo.
– Chegou a nossa vez – Ela diz animada. Entramos no brinquedo, quando começou a subir decido perguntar:
– Posso fazer uma pergunta?
– Isso já foi uma pergunta – Ela diz rindo de mim, o que me tira um sorriso bobo também.
– Mas sim, você pode fazer outra pergunta.
– Eu já escutei comentários de vários tipos, mas quero saber de você, o que aconteceu com você e o Dylan? – Ela parece refletir na minha pergunta, acho que ela não estava esperando por isso. Depois de um tempo ela responde:
– Quando eu tinha uns 14 anos, eu e ele ficávamos, e eu gostava muito dele e ele dizia sentir o mesmo por mim, então, contei para os meus pais, e enfim, namoramos em casa. Mas nunca aconteceu nada de mais sabe, era só um romance de colégio, uns beijos em um garoto que eu gostava na época – Não esperava tanta sinceridade, mas ainda não entendi o porquê terminaram.
– E se vocês se gostavam, por que não estão mais juntos?
– Na época, eu vivia cercada de amigas, que eu descobri com o tempo que só queriam era o dinheiro do meu pai, que sempre pagava para irmos ao cinema, boliche, e até algumas festas, ele sempre pagava tudo para nós, e a Ariane era uma dessas minhas amigas. Quer dizer, ela era a minha melhor amiga, e eu contava tudo para ela sobre o Dylan. Aí teve um dia, que eu fui para aula de educação física e vi o Dylan sair, por supostamente ter se machucado no futebol, e logo seguida ela disse que não estava se sentindo muito bem e pediu a professora para liberá-la da educação física – Ela faz uma pausa para ver se estou prestando atenção e depois continua:
– Eu liguei os pontos, mas não queria acreditar, óbvio, ela era minha melhor amiga, e ele meu namorado. Então fugi da aula quando a professora foi atender o telefone, e ao chegar atrás do ginásio vi eles se agarrando. Quando me viram, não tinham como negar o que tinha acontecido, estava bem claro, então ele simplesmente disse que eu não era a garota certa para ele. Claro, que eu fui à última a saber, e as minhas supostas ''amigas'' ficaram rindo de mim, dizendo que todos já sabiam. E partir dali, todos ficaram amigos deles, e me excluíram de tudo. Apenas a Paty e a Lisa conversavam comigo, acho que no início foi por pena, mas depois foi amizade sincera – Ela fez uma pausa e me olhou nos olhos.
– É por isso que a gente tem que conversar, eu não quero magoar a Paty, então, por favor, não conta para ninguém da gente, não até eu falar com ela primeiro – A nossa vez na roda gigante acabou, e seguimos para os bancos, precisamos terminar essa conversa hoje.
– Então, é por isso que o Dylan fez o que fez hoje. E sobre a Patty, fique tranquila, nós precisamos contar para ela sim, se ela souber por outra pessoa que não for nós, ela vai ficar muito chateada.
– Obrigada por me entender. Mas o que você quis dizer que é por isso que o Dylan fez isso hoje?
– Está na cara Jú, ele já foi muito próximo de você, agora ele está vendo o que perdeu entende? Ele estava com a Ariane, que é uma garota fácil, pelo o que eu soube ela dormiu com o Roger sábado, aí provavelmente ele descobriu hoje o que aconteceu com você. Então pensou, a garota que ele gostava, sofreu uma tentativa de estupro, e se ele ainda fosse o namorado, teria lhe protegido de algo assim acontecer, mas, ele perdeu a oportunidade de lhe proteger quando decidiu ficar com a sua amiga, que hoje está dormindo com todos os garotos do colégio, por isso o vai e volta do relacionamento deles. – Olho para ela para ver se a sua reação muda, talvez ela ainda sinta algo por ele, mas ela só está atenta ao que estou contando, sua expressão não muda. Decido continuar:
– Então ele se tocou da merda que fez há quatro anos, e que escolheu ficar com a garota errada, trocou o que era certo, pelo duvidoso e agora está arrependido, então vai tentar voltar com você a todo custo, provar que vai ser diferente, começando por lhe defender na frente de todos, como hoje.
– Mesmo que você esteja certo sobre isso Rafa, o que eu acho impossível, já que o Dylan aturou as merdas que a Ariane fez nos últimos quatro anos, deve gostar mesmo dela, eu não sinto mais nada por ele. Não vou mentir, ele me magoou demais, eu chorei muito, sofri, mas passou, o que eu sentia por ele, morreu naquele dia, quando eu o vi com outra garota, nem por ser uma amiga minha, mas para mim, se o cara realmente gosta de você, ele não vai pensar em outra, muito menos traí-la.
– Nisso eu concordo plenamente, quando se gosta de uma pessoa, só tem ela na cabeça, o tempo todo – Ela me olha intrigada e pergunta:
– Posso fazer uma pergunta também?
– Claro, hoje é o dia para colocarmos tudo na mesa, de nos conhecermos de verdade, e sem segredos.
– Por que você me ignorava tanto? Quer dizer, eu nunca fiz nada para você eu acho, mas desde que você me viu pela primeira vez, fez questão de mostrar que não queria ser meu amigo, e de repente, aqui estamos, conversando como pessoas normais, o que eu achava impossível de ser feito – Ela ri de um jeito gostoso.
– Eu sei, eu fui um babaca, não vou negar isso, mas é que, eu tive uma namorada no meu antigo colégio, digamos que o pai dela é estilo o seu, rico, bem sucedido, enfim, deduzi que vocês seriam iguaizinhas, já que todas as garotas ricas são mimadas e acham que podem ter tudo o que querem, e eu já me iludi uma vez, não queria que acontecesse novamente.
– O que aconteceu que vocês terminaram, ou foi por que sua família se mudou para cá?
– Resumindo, ela me trocou por outro garoto, que era mais rico.
– E você deduziu que eu fosse fazer o mesmo?
– É como eu disse outro dia, eu não consigo confiar muito nas pessoas, sei que agora parece idiotice, até porque depois que dei a chance para conhecer você melhor, vi como estava enganado a seu respeito, mas no início, quando você acha que tem alguns amigos, e depois é trocado por um deles, que é mais rico que você, bem, você começa a desconfiar das pessoas. Acho que não tem ninguém melhor que você para me entender.
– Claro, mas ainda tenho uma dúvida, é algo muito pessoal, então vou entender se não quiser me falar.
– Eu disse sem segredos não disse? Então seja o que for eu vou responder.
– Porque vocês vieram para cá? Digo seus pais, porque aqui no Rio de Janeiro, porque saíram de sua antiga cidade? – Droga, por essa eu não esperava mesmo, achei que íamos falar de nós, e não da minha família, droga.
– É complicado.
– Hum – Foi só o que ela respondeu. Ela ficou chateada, lógico seu burro, você disse que ia responder a tudo, então conta.
– O que eu vou falar, tem que ficar entre nós, ninguém além da minha família sabe, e eles não querem dividir isso com ninguém – Ela assente com a cabeça, esperando eu continuar.
– Então, morávamos em Florianópolis, uma ilha em Santa Catarina, o lugar é bem maneiro, onde eu cresci, tinha amigos, namorada e tudo lá, como mencionei antes, mas aí minha vida virou de cabeça para baixo. Meu pai foi acusado de roubo, em uma empresa em que trabalhava há vinte e cinco anos. Dá para acreditar? Que uma pessoa trabalha vinte e cinco anos no mesmo lugar, uma pessoa de extrema confiança, porque se não fosse de confiança, ele não teria trabalhado tanto tempo naquela empresa. E eles simplesmente acreditaram no cliente, que dizia que meu pai era um ladrão, então demitiram ele por justa causa – Faço uma pausa, dando espaço para ela refletir, ela parece desacreditada, por isso continuo.
– E se você acha isso ruim, deixa eu contar o resto. Sabe, os donos da empresa são meus tios, irmãos do meu pai. Aqueles caras preferiram acreditar num estranho, do que no próprio irmão, então, começamos a entrar em falência, foram dívidas e mais dívidas, toda a família do meu pai e também da minha mãe, que acabaram acreditando nos meus tios, viraram as costas para nós, não tínhamos ninguém que pudéssemos contar naquele momento de crise – Faço uma pausa lembrando do quão doloroso foi aquela época para todos nós, e depois continuo:
– Meu pai já não conseguia mais pagar os meus estudos, e tinha a Katie também, ela iria iniciar o colégio, e não tinha dinheiro nem para os materiais, então ele se desesperou, começou a procurar emprego, e quando ele conseguiu um ótimo emprego aqui, ele não pensou duas vezes. Aqui estamos nós. Nossa família é muito grata a sua, quando seu pai deu um emprego ao meu irmão, nossas dívidas começaram a ser pagas mais facilmente.
– E mesmo com tudo isso, você não pensou nenhuma vez sequer, em me usar por dinheiro?
– Lógico que não, eu queria você o mais longe possível. Quando eu a vi pela primeira vez, me encantei, mas aí comecei a refletir, que você seria igual à Samanta, e que quando eu precisasse, iria virar as costas e achar um outro bobo.
– E agora que você já viu que não sou assim, como que fica isso que sentimos? Quer dizer, quando eu vi você pela primeira vez, também senti o mesmo, pensei que estava ferrada, porque eu não iria resistir se você tentasse qualquer coisa comigo, mas tudo o que eu queria era você longe, não queria que fizesse comigo o mesmo que o Dylan fez sabe, ele detonou meu coração, e você, bem, você é lindo, e as meninas iam cair aos seus pés, como aconteceu realmente quando você pisou no colégio, então, eu tinha certeza, que se eu ficasse com você, seria para me apaixonar e depois me decepcionar. Mas eu não resisti, e fui falar com você, mesmo sabendo de tudo isso, você foi um grosso, e por isso, nunca mais tentei puxar assunto, já que você só iria dilacerar meu coração mesmo, pelo menos era o que eu pensava– Ela dá de ombros, e ri...Ah que sorriso.
– Então eu iria dilacerar o seu coração é? – Começo a rir com ela e a puxo para os meus braços – Eu não pretendo fazer isso, mas posso dizer que eu não sou perfeito, sou muito ciumento, odiei ver o Daniel abraçando você hoje, e nem precisar falar do Dylan, já que acabou em briga.
– Percebi isso, mas não vou dizer que eu não sou, se eu vir uma menina perto de você, meu sangue vai ferver, e não vou responder por mim – Começo a rir.
– Qual a graça?
– Ver você brigando por mim seria engraçado.
– Isso não tem graça – Ela me olha brava, e até assim fica linda. Não resisto, e dou um selinho rápido nela, meu coração até dispara, tê-la assim perto, é tão bom.
– Então, como vamos fazer? Eu não quero ficar às escuras, já escondi demais meus sentimentos por você, e não quero isso, e principalmente, não quero nenhum homem dando em cima de você.
– Por mim podemos assumir para todos, mas antes de qualquer coisa, devemos falar com a Paty, não é justo ela saber por outras pessoas, ou simplesmente ver, sei que depois de hoje no colégio, ficou quase claro que estamos ficando, mas como ninguém tem certeza, prefiro explicar para ela do meu jeito. E também tem nossos pais, não sei bem como os seus pais costumam reagir a coisas assim, mas os meus, vai ser um inferno, eles são protetores demais, e depois do que aconteceu sábado, sei que eles têm medo de eu me machucar de alguma forma.
– Eu entendo, então vamos com calma, primeiro a Paty, depois a gente vê como contar aos nossos pais – Ela concorda rindo.
– O que foi? Rindo de mim?
– Ah, eu não ousaria – Ela diz rindo mais ainda – Mas, acho que já falamos tudo o que tínhamos que falar, agora podíamos fazer outras coisas. – Ela diz com uma carinha de safada... Ahh princesa... Se eu pego você...
– Tenho mais uma pergunta, antes de eu te levar para um canto escurinho – Ela ri espontaneamente, como se tivesse gostado muito da minha ideia.
– Pergunte logo, para podermos ir lá para o cantinho escurinho então.
– Calma princesa, temos tempo. Então, o Dylan foi seu único namorado? – Ela arregala os olhos, não entendendo bem onde eu quero chegar.
– Não foi o primeiro menino que eu beijei, mas sim, foi o primeiro garoto que levei para os meus pais conhecerem. Porque isso agora?
– Curiosidade, mas, se você disse que não foi nada demais com ele, então significa dizer que? – Eu olho para ela com expectativa, e ela está com as bochechas vermelhas, porque ela está envergonhada? É uma pergunta normal.
– Hã...Sim, não foi nada demais com ele, nunca passou de beijos, se é isso que quer saber – Ela desvia o olhar, envergonhada. Eu seguro o queixo dela com as pontas dos meus dedos, e o viro gentilmente para mim, assim que nossos olhares se cruzam eu pergunto:
– E não teve ninguém? Quer dizer, você nunca? – Não sei bem como perguntar, nunca precisei perguntar isso para nenhuma menina que dormi, nunca tirei a virgindade de nenhuma.
– Não – Ela diz corando lindamente. Eu sorrio para ela, preciso ir devagar, muito devagar, ela ainda é inexperiente, e não quero que ela ache que eu só quero isso. Mas ao mesmo tempo, fiquei muito feliz em saber que nenhum outro homem a teve, e que talvez eu possa ser esse cara.
– Vem, vamos para o cantinho escurinho – Ela vem, mas já não está sorrindo, será que está nervosa? Não vou tirar a virgindade dela aqui, só quero um pouco de privacidade, poder tê-la em meus braços.
– Relaxa princesa, eu não farei nada com você, eu só quero ter você nos meus braços e ficar com você mesmo que seja por uns minutos, já que está ficando tarde, e daqui a pouco seus pais vão chamar a polícia se não voltarmos.
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