CAPÍTULO 13 | NÃO VOU A LUGAR ALGUM
Rafael
Acho que nunca senti tanta raiva na vida, ver o que o Ethan pretendia fazer, e ver o estado que a Júlia está neste momento, me dá vontade de descer e terminar o que eu comecei a fazer com ele. Eu a coloquei na cama e a Lisa tirou seus sapatos, após cobri ela com uma manta que estava na cama. Ela não parava de chorar, deve ser um trauma muito grande para ser superado. Eu a abraço com o máximo de cuidado que posso, para não apertá-la de mais, porém quero que ela sinta todo o carinho e proteção que quero lhe transmitir. Escuto ela dizer com a voz fraca:
– O que eu vou falar para meus pais? Eles nunca vão me perdoar.
– Ei – Digo alisando o rosto dela, e enxugando as lágrimas que ainda caem sem nenhum esforço – A culpa não é sua, ele foi o errado Jú, apenas ele, você foi uma vítima, e ele vai pagar pelo que fez. Seus pais vão lhe apoiar em tudo, e não precisa se preocupar com ninguém agora, quero apenas que você relaxe e descanse.
– Por favor, não me deixe sozinha – Ela diz voltando a me abraçar e chorar. Até parece que eu conseguiria deixar sozinha ela depois de tudo isso acontecer.
– Fique tranquila, eu vou ficar aqui até você adormecer está bem? E quando você acordar, eu estarei lá em baixo, lhe esperando.
Depois de algum tempo ela finalmente adormece, e decido não acordá-la por enquanto, já que daqui a pouco seus pais e seu irmão chegam, e com toda certeza vão querer saber de tudo o que aconteceu, ela merece pelo menos um descanso. Além do mais, os policiais estão levando o pessoal para prestar depoimento, logo ela também terá que passar por isso.
Eu desço as escadas para ver como estão as coisas. Percebo a Lisa e a Patrícia discutindo, por quê?
– Meninas, o que está acontecendo? Acho que não é o momento ideal para discutirem, muita coisa aconteceu essa noite, e a Júlia não precisa das amigas brigando, ela precisa de apoio nesse momento.
– Então foi por isso que você não quis ficar comigo hoje? Porque vocês estão juntos? – Me questiona a Paty, sem ao menos se importar pelo o que a amiga acabou de sofrer.
– Como é? A Júlia acabou de sofrer uma tentativa de estupro e você está me perguntando o porquê eu não quis ficar com você hoje, é isso mesmo que estou escutando? – Cerro os meus punhos, não acredito que ela está mesmo falando isso da própria amiga, depois de tudo o que aconteceu hoje.
– Paty, para já com isso, a Júlia é nossa amiga, e você nunca contou a ela sobre o que aconteceu entre vocês dois, se qualquer coisa aconteceu entre eles, à culpa é toda sua, por manter um segredo dela.
– Não Lisa, a Júlia tem tudo o que quer, e eu não acredito que você está defendendo ela. Ela está roubando ele de mim – Diz a Paty, como se eu não estivesse aqui.
– Eu estou aqui Patrícia, e se eu bem me lembro, eu disse que eu não queria ficar com você. A Júlia não tem nada a ver com isso, mas se fosse para escolher entre vocês duas, eu não pensaria duas vezes, para ter certeza que eu escolho a Júlia, e você já parou para pensar que o Bruno também é meu amigo? Eu não sou fura olho não, no início eu não sabia nada de vocês, mas agora é diferente. Então se você já terminou, pode pegar suas coisas e ir embora, a Júlia não merece ter pessoas do seu tipo ao lado dela.
– Como você ousa?
– Chega Patrícia, está na hora de você ir para a casa, Rafael tem razão.
– Ual, de todos, eu achei que pelo menos você ficaria do meu lado Lisa.
– A Júlia precisa de amigos sinceros agora, e você não está merecendo estar aqui no momento, vai para casa Paty, esfria a cabeça. O que você sente pelo Rafael é atração, e isso passa, não acha que está pensando demais em você mesma, e esquecendo-se do resto? Enfim, vai esfriar a cabeça, conversamos depois – A Paty não gostou muito, mas foi para casa depois do sermão da Lisa.
– Por essa eu não esperava – Digo refletindo as palavras da Paty.
– Relaxa Rafa, ela está de cabeça cheia porque viu o Bruno com outra logo depois de você dispensar ela, mas acho que ficou bem claro hoje de quem você está afim, e com toda certeza não é ela. Mas ela vai superar fica tranquilo, agora precisamos ser fortes pela Jú, ela vai precisar de nós.
– Verdade, obrigada por tudo Lisa, a Júlia tem sorte em ter você como amiga – Ela sorri e nos dirigimos à sala para conversar melhor com os policiais, já vi que a noite vai ser grande.
Júlia
A noite foi longa, assim que meus pais chegaram eles ficarão no quarto comigo o tempo todo, dizendo que a culpa não era minha, que eu não precisava chorar, que ninguém ia mais chegar perto de mim novamente. Papai desfez os negócios com o pai do Ethan afinal, o que ele teria para investir na empresa que no momento ele só pensava em destruir.
E o pai do Ethan ainda teve a coragem de aparecer aqui ontem, dizendo que eu que dei em cima do Ethan, e depois na hora "H" não quis fazer nada com ele, e que ele iria provar na justiça que o filho era inocente, que estava alcoolizado no momento, que ele jamais faria isso. Não preciso dizer que meu pai, o Rick e o Rafael praticamente voaram em cima dele quando ele disse isso a meu respeito, mas ele foi rápido e conseguiu chegar ao carro e partir antes de qualquer um deles alcançarem ele.
– Como eu vou provar a tentativa de estupro? – O Rafa passa os braços por cima do meu ombro e me puxa para ele, dando um beijo leve nos meus cabelos.
– Esqueceu que eu vi uma boa parte da cena? Eu serei sua primeira testemunha, e o restante do pessoal vai confirmar a história, todos viram ele com as calças abertas, e o estado que você estava, ele não vai conseguir escapar Jú, eu prometo – Eu apenas concordo com a cabeça, ele tem razão, todos viram isso mesmo, mas denunciar ele significa que eu terei que relembrar todos os detalhes. Isso é algo que eu realmente não desejo.
– Estou cansada, vou subir e descansar um pouco – Digo e todos me abraçam. Parece que ficaram mais grudados que antes.
***
Ao amanhecer, acordo no quarto, sozinha, assustada. A noite passada foi um sonho, ou melhor, pesadelo? Meu corpo está estranho, começo a repassar aquelas imagens novamente na minha cabeça. Corro para o banheiro, preciso vomitar, lembrar-me disso não está fazendo bem.
Depois de tomar um banho, esfregando todo o corpo, e deixando mais lágrimas cair, sai do chuveiro e coloco um conjunto de moletom, tudo o que eu quero é me sentir em roupas largas e quentinhas, quero evitar pensar no que aconteceu, porque cada vez que me lembro da noite passada, minha garganta fecha e a vontade de chorar vem como avalanche.
Somente meu irmão está na cozinha quando eu desço o que é bom, pois não consegui dar muita atenção a ele ontem, e ele também estava muito transtornado, preciso assegurá-lo de que eu estou bem, pelo menos o meu corpo está bem.
– Ei – Eu digo ao meu irmão e assim que ele me veja, puxa-me para um abraço apertado, e chora muito, e mesmo eu tentando ser forte para não demonstrar o quanto a noite passada me afetou, eu acabo chorando junto com ele.
Depois de um tempo ele me solta, segura minhas mãos e diz:
– Desculpa mana, por não estar aqui, por não te proteger – Eu olho para ele com carinho e digo:
– Ei, não é culpa sua, e além do mais, eu tive um anjo da guarda na noite passada, ele substituiu você muito bem – Digo tentando melhorar o clima, só de pensar que se não fosse o Rafa ontem, hoje eu não sei o que seria de mim.
– É eu soube, não canso de agradecê-lo, agora vem aqui, preciso de mais um abraço para saber que você está realmente bem – Assim faço, deixo que ele me abrace e retribuo com todo carinho e amor que sinto pelo meu irmão.
Meus pais se juntam conosco pouco tempo depois, acho que nunca fui tão abraçada como hoje, vi meu pai chorar pela segunda vez, em menos de vinte e quatro horas, e minha mãe nem se fala, cada palavra de conforto uma lágrima solitária descia em seu rosto.
Depois de um bom tempo, recebendo carinho e atenção da minha família, eu peço gentilmente para pararmos de chorar e que eles me fizessem esquecer a noite de ontem, eu queria alegria na minha casa novamente, e essa depressão por parte de todos não estava me ajudando em nada.
Sinto-me melhor, o amor deles faz meu coração bater novamente. Eles conversam sobre tudo menos do que aconteceu, justamente, para me fazer esquecer da noite passada. Mas aí me lembro de que eu não dei o presente do Rafa, anoto mentalmente para ir levar o presente dele mais tarde.
***
No início da tarde de domingo, o Delegado veio até nossa casa para pegar meu depoimento do que aconteceu e ter que falar e relembrar de tudo o que aconteceu foi péssimo, não preciso dizer que eu chorei até não ter mais lágrimas nos olhos. O delegado afirmou que iria fazer de tudo para ele pagar pelo que fez, mas com uma família rica igual à dele, não era de se esperar que conseguisse sair fácil.
Me desesperei, como eu iria vê-lo novamente? Era uma hipótese que eu não tinha pensado ainda. Fiquei um pouco mais tranquila quando o delegado disse que iria pelo menos entregar um mandato para ele não chegar a 500 metros de distância de mim, caso ele descumprisse isso, seria preso imediatamente.
Minha cabeça estava girando, eram muitas informações ao mesmo tempo, como ele poderia escapar do que fez? Eu só pensava, eu não quero mais ficar sozinha, nem em casa, na escola, nem para tomar um sorvete aqui perto de casa.
Depois de uma tarde cansativa com o delegado, fui correndo pegar o presente do Rafa, e desci as escadas pedindo ao Rick para me levar ali no vizinho, mesmo sendo na casa ao lado. Eu estava traumatizada demais para andar sozinha na rua, mesmo que fossem apenas uns segundos, e assim ele fez, se levantando e me acompanhando até a casa do nosso vizinho.
***
É pessoal, vai ser uma jornada a superar, mas graças a Deus e ao Rafa que nada pior aconteceu!
Um beijo pessoal.
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